sábado, março 31, 2007

Apelos em Dó Maior

A filarmónica primaveril abre o seu concerto matinal com ternos de melros alcoviteiros, do harpejar melódico das andorinhas em tarefas domésticas, entrecortado pelos acordes monocórdicos do arrulhar das rolas turcas empoleiradas nos fios eléctricos, acabando em crescendo harmónico de pintassilgos, tentilhões e pardais do telhado, nos seus bailados e correrias nupciais.
O apelo do Sol subindo em latitude tem resposta sinfónica adequada. Ao lado, o mesmo apelo nos gritos lancinantes dos pavões, limitados na escolha e no espaço, quais trompas dando início à grande caçada.
Mais longe, porém, outro apelo nos chega no coro furioso de ladridos e uivos de dezenas de cães famintos, encarcerados pelo único crime que cometeram – o terem nascido duma raça usada para dar caça a javalis e outras espécies maiores. Obrigados a dieta rigorosa, terão no terreno boas razões para procurar satisfação duma necessidade básica – comer.
Parece duma desumanidade atroz, nos tempos actuais, manter naquelas condições de higiene e trato dezenas de animais, com o fim único do negócio.
O apelo destes infelizes animais, além de reflectir o seu mal estar físico e temperamental, são também razão de mal estar e preocupação para quem vive nas redondezas, pelo barulho infernal e permanente a que sujeitam os seus ouvidos e pelo risco que constituem em caso de evasão.
Chegam notícias de que o próprio tratador terá sido mais do que uma vez vítima de ataque por parte deles, tendo tido necessidade de os abater a tiro.
Os apelos são feitos para serem ouvidos e correspondidos. Infelizmente, nem todos chegam aos destinatários certos.

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sexta-feira, março 30, 2007

Rotas paralelas

Recebi, com dedicatória do autor, amigo que muito prezo,o livro “Histórias Vividas e contadas”, de sabor acridoce e de gengibre e com cheiro a jasmim.
É o retrato duma data de anos de convívio amistoso com o Oriente, temperado no trato e no jeito, de quem é especialista em ouvir e a contar.
O prazer esquecido da tertúlia e do bilhar, do café e das palavras cruzadas, em lugares onde os cheiros têm que ser aprendidos como a entoação dos monossílabos, para se não confundirem e mal julgarem, volta direitinho até nós, que tudo isto conhecemos e vivemos.
Os ventos de borrasca do Tufão, fizeram esvoaçar até mim, mil memórias partilhadas, outras tantas sem o terem sido.
Obrigado amigo! Havemos em breve de falar sobre outros lugares e outras gentes, que nos são comuns também!
Somos tão poucos, que nos cruzamos em toda a parte!

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quinta-feira, março 29, 2007

A Memória da Terra

Até era uma aldeia simpática, onde se podia respirar ar limpo, onde o silêncio se fazia ouvir e onde as pessoas eram quase todas parentes, de alguma forma. Havia uma bomba de gasolina desactivada por falta de fregueses, sendo necessário meter combustível a pelo menos 8 Kms de distância.
Sentia-me como um intruso, tratado como forasteiro, apesar das minhas raízes alentejanas.
As pessoas, se bem que simpáticas não queriam misturas, ou por falta de à vontade ou por desconfiança.
A rusticidade ainda é patente nos rostos, nas ocupações, na pele gretada das mãos e dos lábios, mas começa a perder-se nos hábitos, com o aparecimento de gente que aqui se veio radicar, por ser perto da cidade onde as rendas são caras, por opção de vida como é o meu caso, ou simplesmente porque aqui comprou uma segunda casa, para fins de semana.
Os mais jovens já usam “brinquinho”, “piercings” e cabelos compridos - eles - apanhados em rabo de cavalo. Já existem internautas e companheiros de blogosfera entre os filhos da terra.
Embora cada vez se sinta menos, o calendário ainda se vai regendo pelo pulsar das tarefas do campo, com as sementeiras e as colheitas como balizas temporais.
O Borda d’Água ainda dita as suas leis e ainda se acredita nos poderes da Lua.
As mezinhas caseiras e as coseduras de carne quebrada e nervo torto, continuam a fazer concorrência às práticas médicas modernas, cada vez mais longe e mais caras.
Mas tudo corre o risco de se perder no esquecimento da vida moderna, que vem chegando ao ritmo de cada óbito, de cada urbanização, de cada aterro ou desaterro.
Chamam-se ainda trazes, às ruas só de quintais nas traseiras das moradias, que deixaram de ser unifamiliares e de um só piso, para começarem a organizar-se em dormitórios suburbanos da cidade.
O silêncio já se não houve. Durante o dia camiões basculantes carregados de brita ou de materiais de construção, fazem adivinhar o pior.
A bomba de gasolina já não tem mãos a medir.
É o progresso dizem alguns.
Era bom que fosse. Era bom que fosse possível fixar as gentes da terra, para deixarem de procurar na Suíça o sustento da família ou duma razão para viver.
Eu temo pela aldeia! Eu temo por mim!

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O Borda d'Água

Existem doenças sazonais que aparecem com o rebentar e o cair das folhas.
Seguem o calendário do desenvolvimento vegetativo. Provocadas por bactérias, eventualmente. Ou provocadas por coisa nenhuma. Porque sim!
Havia uma doença, que se pensa erradicada, que acontecia sempre por esta altura e que mereceu de Stau Monteiro uma atenção cuidada – Todos os Anos, pela Primavera.
Também foi pela Primavera que as coisas aconteceram em Portugal. Mas Portugal continua à espera de acontecer.
As mudanças de temperatura com a subida do Sol no hemisfério Norte, até se cansar por alturas do Solstício, são as principais causas.
Fazem fervilhar a massa encefálica e aceleram o bioritmo no Reino Animal e Político. Depois, a circulação dos ventos, que passam a soprar mais do quadrante Norte, reduzindo a humidade e aligeirando o aquecimento provocado pelo Sol.
Exposições prolongadas são arriscadas. Com as Manifs que tem havido ultimamente, não custa acreditar num reacender de gripes e insolações.
Mas as coisas complicaram-se este ano. Os ventos fortes de circulação conjunta de baixas e anticiclones têm secado o que a chuva humedecera. As culturas de Primavera têm-se feito, mas podem sofrer estragos das geadas anunciadas.
Só nos impostos parece não parece haver perigo de congelamento nem sequer de abrandamento.
O próprio abrolhar das videiras está em risco. Os preguiçosos, que só há pouco tempo as podaram, estão beneficiados.
O afogar as mágoas num tintol de 2007, pode por isso vir a estar prejudicado.
Até o Borda d’Água anda baralhado!
Primavera de doidos!

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quarta-feira, março 28, 2007

Bel Canto

Dedico este espaço a alguns camaradas e amigos que apreciam este género musical. Peço desculpa pelas escolhas, mas fica a intenção! Valeu?

Renee Fleming Exultate Jubilate de Mozart

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O Fluviário

Mais do que um aquário, pretende ser o espelho, ou melhor, uma réplica dos habitats naturais, que se encontram ao longo dum rio, desde a sua nascente até à foz na orla marítima, com as espécies piscícolas próprias de cada um.
Infelizmente, do meu ponto de vista, nem sempre o objectivo é conseguido, sobretudo na reconstituição dos habitats, que me pareceu fraca.
A outra face do Fluviário, a dos animais aquáticos exóticos, está organizada ao jeito de aquário, em tanques separados, com poucas espécies mas interessantes.
Daqui a alguns anos, se o projecto se concretizar plenamente e com a aprendizagem que se irá fazendo, é natural que venham a compor-se alguns aspectos que me pareceram menos conseguidos.
As ferramentas pedagógicas instaladas, são curiosas. Em termos de interactividade, e utilização pareceram-me amigáveis, mas talvez pouco robustas e fiáveis, correndo-se o risco que, com o uso que certamente lhe será dado, possam vir a estar frequentemente fora de serviço.
O Fluviário tem também condições para se expandir, se necessário, e o enquadramento ambiental é excelente. O Açude do Gameiro é um local de inegável beleza e garante uma adequada e bonita moldura ao conjunto.
Por enquanto, para o que há para ver, pareceu-me um pouco elevado o custo da visita, já que impõe uma deslocação grande e cara, para a maioria dos possíveis visitantes.
Não é, no entanto, nenhum exagero!
Mas não há como ver, para crer!
Como diria o Eusébio, aproveita como eu!

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segunda-feira, março 26, 2007

Ginopheles

O navio demandara vagarosamente o fundeadouro, por nós inventado, na Baía de Palma, encostado a umas pedras, onde sempre havíamos feito boas pescarias, sobretudo à noite.
O ferro foi largado, sob guincho, para não correr o risco de unhar nalguma rocha e termos problemas ao suspender.
Depois de chegar ao fundo, largámos mais uma quartelada de amarra do que as necessárias, para evitar ir à garra.
Num bote de borracha, de imediato arriado, deslocámo-nos a terra onde o cabo de mar nos aguardava, juntamente com o chefe de posto e dois cipaios.
A troca de galhardetes do costume, a combinação duma caçada aos javalis, em abundância na zona, e uma jantarada a bordo, sempre bem recebida por aquela gente que poucas oportunidades tinha para conviver.
Ao jantar, entre os convivas, encontrava-se um homem de negócios da zona, que esperava a vinda dum cargueiro que lhe levasse o mangal que tinha já cortado, aguardando embarque.
Era um homem enorme, quase redondo, das muitas tardes passadas à espera que os trabalhadores africanos cortassem o mangal de ninguém, fazendo a sua fortuna, bebendo gins tónicos, uns atrás dos outros.
Segundo dizia, era a única profilaxia do paludismo que sempre fizera e, até ao momento, com resultados positivos.
Explicava ele que era um azar enorme apanhar a doença. Primeiro era preciso ser mordido por um Anopheles, entre as milhares de espécies que por ali abundavam. Dentro dos Anopheles, havia que ser mordido por uma fêmea, que já diminuía a probabilidade. Por fim seria necessário que a dita estivesse infectada. Era muito azar! Segundo ele!
Acredito que os mosquitos morressem ao beber aquele gin com algum sangue, que corria nas suas veias.

Nota: São mais de 300 milhões de pessoas afectadas pelo paludismo em todo o Mundo, com um milhão de óbitos por ano.

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Hello Portugal

Li agora num blogue recomendado pelo Público Online, que o nosso amigo e aliado do peito, Winston Churchill, que procurou refúgio na Madeira, onde se entreteve a escrever memórias e a fazer sabe-se lá mais o quê, ter-se-á referido a Portugal, ao mesmo jeito de Lord Byron, dizendo que era um “País de tuberculosos, governado por um tuberculoso (Salazar)”.
Confesso que já tinha ouvido chamar muitos nomes, quer a um quer a outro, e sobretudo à mãe do outro, mas tuberculoso, não!
Mas registo.
País de tuberculosos, porquê?
De facto Portugal, viveu uma época negra da doença, que matou muita gente e definhou a raça.
A sua erradicação nunca terá ocorrido, mas foi conseguido um controlo sobre ela bastante eficaz, que parece estar agora em risco.
Mas voltando ao insulto do grande estratega da vitória aliada na 2ª Grande Guerra, aceito-o como um desafio, a que nunca gostei de fugir.
É capaz de ter razão o nosso estimado amigo ao chamar-nos de tuberculosos, que o éramos, muito provavelmente sem querer e por culpa também do outro tuberculoso a que se referia.
Mas se eu disser que metade dos ingleses são pederastas e a outra metade alcoólicos, também não devo errar muito e aí, meu caro, existe uma diferença substancial - é que se o são, é porque quiseram!

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domingo, março 25, 2007

Memória excedida

Imagem recolhida aqui.
Saltam-me excertos de peças teatrais em que participei, quando ainda jovem, e não me consigo lembrar bem do que fiz hoje de manhã.
Sinal de velhice e de arteriosclerose a funcionar, ou agitação interior no mais recôndito da alma, querendo transformar-me em actor que nunca fui a não ser nos palcos da vida, ocupando-me o disco rígido como memória virtual, não deixando abrir as aplicações do dia a dia?
- Eh Rei-Capitão, soldado ou ladrão?
As aplicações diárias são pesadas, com inovações absurdas e não amigáveis, do ponto de vista do “usuário”, ocupando totalmente a memória RAM.
Hoje resolvi dar-me umas férias televisivas. Estou convencido que é esse tormento diário dos noticiários, que me está a ocupar o espaço de que necessito para ter uma velhice descansada, aproveitando os poucos anos que me restam na pacatez do meu retiro espiritual e do que sobrou de discernimento social e humano.
- Ouve o Povo inteiro que te diz que não!
Vou aproveitar o pouco espaço disponível em jogos prazenteiros da escrita e da leitura, alienantes e fantásticos, fictícios e amistosos, capazes de mudar o curso da estória, mas infelizmente impotentes para alterar os desígnios da História, cada dia mais amarga, mais intolerante, mais incapaz de ser mudada.
- Morto, já nada resta, oh Rei!

Excertos de El-Rei Sebastião de José Régio

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sexta-feira, março 23, 2007

Morte por simpatia

Armas e munições matam mesmo depois de “mortas”.
Penso não me enganar muito ao afirmar que os “post” guerra têm feito, em todo o mundo, milhares ou mesmo milhões de vítimas. Não serão todas mortais, mas mesmo assim vítimas, que já não havia razão para o terem sido.
Se durante as guerras há justificação, embora cruel, para que vítimas aconteçam, já não é facilmente entendível e aceitável que fora desses períodos conturbados da vida dos povos, o mesmo aconteça.
Mas infelizmente é assim.
A seguir à segunda guerra mundial, milhares de pessoas, muitas delas crianças, foram vítimas do rebentamento de granadas de mão perdidas, de granadas de obuses não deflagradas, de minas terrestres e marítimas não levantadas.
Durante anos, as flotilhas de draga minas dos Países Baixos passaram a pente fino as rotas do Mar do Norte, incluindo o Canal de Inglaterra, tendo procedido ao rebentamento de muitos milhares de minas.
Da maior parte era conhecida a posição, mas muitas delas devido a correntes fortes e mau tempo, haviam sido desviadas dos seus locais e arrastadas para longe. Algumas chegaram mesmo a dar à costa e a encalharem nos areais das praias de veraneio do norte da Europa.
Se pensarmos nas centenas de conflitos armados que depois desta Grande Guerra estalaram por toda a parte, desde a Europa (Balcãs), África (Quase toda), Médio Oriente (Israel, Palestina, Afeganistão, Irão, Iraque), Extremo Oriente (Índia, Paquistão, China, Coreia, Vietname, Cambodja, Laos, Birmânia, Timor) e todas as que me não lembro ou tiveram expressão menor, quantas armas abandonadas, quantas minas por levantar, quantas ainda à espera duma vítima!
Mas pior do que isso! As armas nucleares! Mesmo as que não estão em uso, ou que foram desmanteladas! Quanto urânio enriquecido por aí espalhado, por não se sabe onde!
E os desperdícios nucleares? E os reactores dos submarinos nucleares desmantelados? Para onde vão?
Não sendo um especialista em armamento, sei um pouco por obrigação de profissão. Sei também que munições e explosivos requerem um tratamento muito cuidadoso quer quanto ao seu manuseamento, quer no seu armazenamento e custódia.
Os perigos, mesmo com explosivos convencionais, são enormes por incorporarem substâncias instáveis, muito sensíveis a temperaturas elevadas, humidades, choques, correntes eléctricas, radiações, campos magnéticos, etc.
Grande parte destas substâncias rebenta por simpatia, isto é, rebentando uma rebentam todas as que se lhe juntam em redor.
As regras a vigorar para cada um dos aspectos focados são variadas e do rigoroso cumprimento resultará a maior ou menor segurança de quem com eles é obrigado a conviver.
O “facilitismo”, a indisciplina, a ignorância tecnológica, levará necessariamente à ocorrência de acidentes graves que poderão pôr em perigo a vida de centenas ou milhares de pessoas.
Não sei o que se terá passado no Maputo, mas certamente aconteceu uma falha provocada por um dos três aspectos focados.

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quinta-feira, março 22, 2007

Os Novos Alcaides

- Sabes tu Gonçalo Nunes de quem é esse Castelo?
- Sei sim meu pai. É de nosso Rei e Senhor, D. Fernando de Portugal.
- Pois se sabes, cumpre o teu dever até ao fim. E maldito sejas tu, se o inimigo entrar nesse Castelo, sem tropeçar no teu cadáver!
Era assim que, nos meus tempos de menino e moço, nos era incutido este espírito, revivido em Aljubarrota, para que fosse mantida acesa a chama que nos defenderia dos Castelhanos e de Castela.
E agora?
Nacionalismos exacerbados não funcionam numa Europa que se deseja uma federação (ou confederação) de estados unidos, mas a descaracterização completa e absoluta dum país pequeno na área, mas grande pela língua que fala, intercontinental por ambição e descoberta, humanista por coração, também não me parece muito curial.
De Castela não acredito em ameaça, mas dos Castelhanos já lhe sentimos a garra e o poder. Poder que lhes advém do querer, da tenacidade e do empenho, mas também da falta de luta de, quem por cá, lha deveria dar na defesa do património, da economia, do tecido empresarial e que, por inépcia, incompetência, incúria ou simplesmente por interesses económicos imediatos e mesquinhos, o não faz .
Já sei que a Europa, réu béu béu béu béu. Mas só existe um sentido? De lá para cá?
Não percebo então por que têm as estradas duas faixas de rodagem! Bastava uma!
Nada neste país se come, se veste, duma maneira geral se consome, que tenha etiqueta portuguesa. As empresas e as propriedades urbanas e rurais começam a ter nomes e dísticos em várias línguas, de que a castelhana é de longe maioritária.
Parece que até os mercados abastecedores já falam espanhol.
A própria língua se enfraquece com a falta de uso que lhe damos. Os neologismos necessários numa sociedade tecnológica, em vez de a enriquecerem têm efeito inverso, pelo facto de os incorporar sem os obrigar a sofrerem ajustamentos ortográficos ou só de pronúncia, que seja.
Não faltará muito para que o Inglês ou o Espanhol se torne em língua mãe e o Português passe a dialecto.
O que diria hoje Nuno Gonçalves ao seu filho Gonçalo Nunes?
- Pois se sabes, cumpre o teu dever até ao fim e maldito sejas tu se não deixas que os castelhanos tomem sem luta esse castelo.

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quarta-feira, março 21, 2007

Sopros de alma

O vento corre-me as têmporas
Em arremedos de Novembro
Num esvoaçar de folhas caídas
De cansaço
A paz perdida em novelos
De coisas pensadas
E esquecidas
E relembradas
E sofridas

A vida toldada
Em cinzentos matizados
De dor e encanto
Tempero da vida
Rescaldo de fogos e mares
De pertos e de longes
De luz reflectida
Qual Sol de Inverno
Em tempo de espera
O vento que seca e foge
E apaga a vida

ZEF

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segunda-feira, março 19, 2007

Dia do Pai


Ultrapassando o espaço, tudo o que nos resta é Aqui.

Ultrapassando o tempo, tudo o que nos resta é Agora.

In Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach

Só muito recentemente me lembro de ser festejado o Dia do Pai. O da Mãe, sim! Lembro-me bem que era festejado a 8 de Dezembro. Eu também não era muito chegado ao meu pai.
Respeitava-o. Era amigo, mas nunca fomos muito próximos. Talvez só na parte final da sua vida. Quando terá perdido grande parte da couraça, que sempre usou, contra aquilo que considerava de fraqueza e lamechice - a ternura.
A dureza da vida vacinou-o contra esse tipo de moléstia urbana e efeminada de presentear as pessoas que amamos com mais do que um beijo na testa na rotina diária e um abraço para as celebrações e efemérides.
Os homens queriam-se longe de tudo o que pudesse ser sinal exterior de cedência, tolerância ou simples partilha.
Não queria isso dizer falta de sensibilidade ou solidariedade social. O Homem, especialmente o Pai, era feito para mostrar o caminho mas não para o trilhar em conjunto. Era feito para enfrentar as contrariedades com vigor e temperança, nunca mostrando receios ou dúvidas de permeio, coisas essas, incompatíveis com a manifestação expressa de fraquinhos ou afectos, mesmo que no seio da família.
Cá fora, fazia fé nos destinos dos filhos, que cuidara, preparando-os para as agruras da vida!
Nem sempre correspondemos a essa certeza e nunca dela tivemos conhecimento de viva voz!
Mas sabíamos que era assim! Que tudo perderia para que ganhássemos! Que nada teria para que tivéssemos!
Percebo-o hoje, mas já não posso manifestar-lho, como gostaria de ter feito!
Revejo-me nele, mas espero ter tido junto dos meus filhos uma proximidade maior que permitisse a cumplicidade e o carinho manifesto, que julgo terem existido.
Brindo a isso, como o meu pai brindaria ao contrário. Com o mesmo amor e calor humano manifestados, embora de forma diferente.

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Piano Bar

Mário Moita

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domingo, março 18, 2007

Primavera descolorida

Imagem recolhida daqui

O jardim amanheceu com uma lavoura brutal, que deixou com as raízes à mostra os goivos e as anémonas e pôs ao sol todas as bolbosas enterradas - gladíolos, túlipas e lírios.
As galerias subterrâneas mais pareciam do metropolitano, correndo ao longo de uns bons dez metros com várias ramificações.
A toupeira aproveitou a terra recentemente mexida para se deleitar em corridas prazenteiras, desfazendo o meu trabalho de alguns dias e as expectativas da Primavera, por mim imaginada, em cores berrantes de vermelho e amarelo.
Não lhe perdoei por isso! Construí armadilhas no seu Kartódromo, esperando encurralá-la, mas nos dois dias que se seguiram, ela conseguiu iludir a trama montada, fazendo mais galerias por cima, por baixo, ao lado.
Em cada dia passado, mais flores de pantanas. Menos Primavera.
Ao terceiro dia foi-lhe fatal o atrever-se às horas diurnas, permitindo seguir-lhe visualmente a senda e esperá-la na curva do traçado.
Uma enxada barrou-lhe o caminho e a luz do dia a cegueira da vida.
A Primavera acabou, afinal, para os dois.
Hoje, sinto a falta do jogo em que entráramos.

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sábado, março 17, 2007

Teimoso que nem um.....Sócrates

Na Guiné, havia um oficial general, que designarei por Comodoro, que tinha entre os seus comandados a alcunha de Jerico, se quiserem “Burro”.
Resultava este epíteto, das suas decisões inteligentes, da sua atitude perspicaz e reveladora, das suas dúvidas pertinentes.
Um comandante duma unidade operacional, conhecido pelos seus atributos de irreverência e coerente discórdia, tanto da guerra que se travava em África como das políticas que se seguiam em Lisboa, depois de algumas pequenas querelas com o citado oficial, designado de Comodoro, resolveu comprar um jumento em Farim, único lugar na Guiné onde existiam.
Fê-lo transportar para todos os locais em que a unidade que comandava era colocada e, segundo rezam as crónicas, chegou mesmo a fazer operações nele transportado. Com pompa e circunstância, reuniu a unidade e encenou a crisma do asno, que passou a chamar-se de “Comodoro”.
Imaginem a confusão quando solicitava transporte para o “Comodoro” que, depois esclarecia, se tratava de um “Burro”.
Nunca mais ninguém se entendeu na Guiné quando se falava em Burro ou Comodoro.
Vem esta história a propósito de algumas, para não dizer muitas, medidas inteligentes que têm vindo a ser tomadas por este Governo chefiado por Sócrates, de que a última não terá sido certamente a da Ota. Outras haverá que ainda não conhecemos!
A sua casmurrice e determinação começa a fazer escola e séria concorrência à do designado “Comodoro”. Não, não é esse. O outro! O tal de asinino!
Desculpem, já não me entendo!
Sim! Esse mesmo!

O Jumento é nosso Irmão (Extracto)
autores: Luíz Gonzaga e José Clementino

É verdade, meu senhor
Essa estória do sertão
Padre Vieira falou
Que o jumento é nosso irmão
..........

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quinta-feira, março 15, 2007

Sexo, Mentiras e ......Caça

A caça em Portugal sempre foi um direito reconhecido a todos os cidadãos, que chegou a matar a fomeca a muita gente, nos Invernos do nosso descontentamento, quando o trabalho rareava, como agora também vai acontecendo.
Pretende-se, hoje, que seja um negócio para alguns, em vez de um entretenimento salutar de contacto com a Natureza e de convívio sadio entre pessoas que partilham a alegria de estar juntas.
As caçadas tornaram-se encontros sociais, onde se espalha mais vaidade que chumbo e onde se apanham mais “individualidades” que caça.
Prometeu-se às populações locais o direito de caçar em zonas cinegéticas especiais, designadas de Municipais, mas foi apenas um engodo fraudulento para calar insatisfeitos, e enganar os incautos.
Impôs-se, na altura, aos proprietários a cedência dos terrenos para criação das municipais, criando mais atritos a juntar aos que do passado ainda não estavam sarados.
Decorridos seis anos, que foi o “tempo de festança”, acabaram-se os compromissos assumidos.
Municipais? Onde estão ou para onde caminham? Para o fim anunciado, há muito, com o termo da actividade venatória a quem não tiver a capacidade financeira para o exercer nos moldes, que “interessam”.
Já se falou de caça e de caçados, de mentira e de mentirosos.
Só falta falar de sexo! Ou não?

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segunda-feira, março 12, 2007

Um, dois, três...

Todos os dias nos espantamos com qualquer coisa ou facto, que nos faz acreditar que nem tudo está perdido.
A Natureza renova-se em cada Primavera numa explosão de cor e num hino à vida, como cada madrugada prometendo um novo dia.
Hoje, a manhã encheu-se com o milagre da vida. Uma ovelha pariu três borreguinhos, que, depois de bem lavados por ela, logo se empinaram, na busca da teta salvadora. Só dois tiveram essa sorte.
O terceiro, encontrará no biberão a teta que lhe não coube em rifa.
Erro da natureza ou continuação da saga da procura da teta, a que permanentemente nos obrigamos.
Uns encontram, outros nem por isso!
Estranho, sendo todos filhos de Deus, borreguinhos incluídos!

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domingo, março 11, 2007

Onde ao branco imaculado se junta o mau gosto

Até que podia ser um local prazenteiro para um fim de semana de ripanço total e absoluto.
Mas não é, muito por força da falta de gosto nos arranjos interiores.
Os exteriores são de encanto natural, com uma ou outra borrada.
Mas o pior ainda foi no restaurante, onde a par de algumas ementas de sabor regional, se juntam outras de sabor de plástico, como as massas italianas e quejandas. Houve algum acerto na escolha das toalhas brancas de linho, deixando faixas laterais sem cobertura, onde escurece o xisto, para se colocar em prateleiras, bem concebidas, o alinhado duma baixela chinesa indefinida, com honras de iluminação indirecta.
O serviço e os preços são “franceses”.
O Bar de concepção inovadora e simpática de autoserviço e registo confiado, com o sugestivo nome de “Honesty Bar”, é um desastre completo de decoração e arranjos, com tulhas giras de mercearia antiga misturadas com umas cadeiras incríveis de “come e bebe” da CP, cinzeiros manufacturados, em plástico ou fibra com tampas de latas de cerveja e outros desperdícios de sociedade urbana, transformados em arte discutível, de mau gosto indiscutível.
Uns arranjos meio conseguidos em pedaços de cortiça crua, material nobre, rústico e tradicional alentejano sobre paredes brancas, afagadas a colher, que correm o risco de se transformar em mostruários de rolhas.
Cá fora, o encanto da Primavera a espreitar, a cada olhar, no branquear dos malmequeres e boninas entre os verdes dos prados e o sombreado dos sobreiros. Em baixo, ainda se sente o sussurro da água corrente no ribeiro, ensombrado de choupos.
A vista alarga depois por montes e valados nesse Alentejo de poucos e de ninguém.

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Bolinando por Oceanos antes conhecidos

Imagem daqui
Num blogue colectivo, que há já algum tempo não visitava, surpreendeu-me o tom pessimista, ou melhor derrotista, que encontrei em quase todas as leituras que nele fiz.
Quer-me parecer que ultrapassavam já aspectos conjunturais da sociedade portuguesa contemporânea, subindo na memória colectiva em busca de aspectos deprimentes e, porventura, inglórios.
Desculpem-me, mas a isso chama-se masoquismo pestilento, para usar um termo muito comum nessas leituras.
Não somos bons? Provavelmente não! Mas onde estão eles?
Cada vez me convenço mais que as coisas que de bom ou de mau nos acontecem na vida, estão directamente relacionadas com as expectativas que criamos ou que com os objectivos que fixamos. É bom quando acontecem de acordo, é mau quando assim não é.
Ou seja! Tudo é relativo! Não podemos nem devemos formular juízos de valor definitivos em relação a pessoas singulares, quanto mais a grupos ou a povos ou nações, como se entenda.
As oportunidades hoje não são as de Quinhentos, nem as expectativas são por nós unicamente formuladas ou escamoteadas.
Existe toda uma envolvência conivente.
Ainda há pouco li que a Argentina tinha ultrapassado a crise económica em que se afundara, com base numa inflacção elevada e duma moeda fraca, contrariando todas as recomendações do FMI.
Pois bem, tentemos nós uma solução deste tipo a ver o que nos acontece, nesta Europa dos já não sei quantos?
Não teremos muitas razões para cantar de galo! Mas também não me parece que elas existam, para nos considerarmos os piores do mundo e arredores!
A não ser, a cantar! Poupem-me lá com esses concursos e esses descantes!

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sexta-feira, março 09, 2007

"Pincelada Brasileira"

Aquando da estadia da "Sagres" no Brasil em 1969, vivia-se naquele país o flagelo da ditadura militar, com uma repressão diabólica, as cadeias cheias de presos políticos e uma inflação maluca. Os preços das coisas chegavam a aumentar mais de uma vez por dia. Assistiu-se pela TV, praticamente em directo, a um ataque bombista a essa estação emissora.
Num desses dias, no Rio de Janeiro, houve um assalto a um Banco na Avenida Rio Branco, em pleno dia, com desvios de trânsito provocados pelos assaltantes, que assim evitaram a perseguição policial,
atrapalhando o tráfico.
Tudo isto se fazia em nome da revolução e com o propósito do seu financiamento.
A Sagres, atracada num cais da Praça Mauá, foi visitada por milhares de pessoas, na grande maioria Portugueses, saudosos da Pátria.
Impressionou-me, no entanto, uma professora brasileira do ensino básico, que com os seus pequenos alunos visitou o navio e não perdia oportunidade para lhes fazer acreditar na grandeza do Brasil, nas suas potencialidades e nas suas especificidades de país multirracial, que ela considerava o melhor da herança portuguesa.
Falava dela com verdade e sem respeito.
A propósito, referiu uma piada que se contava nos bastidores da política, que por força ainda da referida herança, o Brasil crescia de noite enquanto os políticos dormiam.
Acredito piamente nisso. Julgo que teremos que pedir a receita.

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quinta-feira, março 08, 2007

No Lilliput, está-se mal...

Imagem de Zachari Logan
Gulliver
Graphite on paper
Ser do Benfica tem destas coisas. Ganhar e perder quando menos se espera.
Há algum clube em que isso esteja institucionalizado? Só no Benfica!
Está em segundo na Liga dos Pobres sem saber ler nem escrever e perde com o penúltimo da mesma Liga só que francesa, para a Liga dos Remediados.
Decididamente, não sabe para onde cair e ainda corre o risco de ganhar as duas, calcule-se!
Só no Benfica é que se vivem destas emoções!
Se já parecia uma equipa de matraquilhos, agora sem o Luisão e sem o Katsouranis (não sei se é assim que se escreve), é que se assumiu de todo como uma equipa de Lilliputianos.
A fé num benfiquista é a última coisa a morrer, porque a esperança, há muito que andou! Mas vamos vencer os gigantes!
Nem que tenhamos que os agarrar....bem!

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Dia Internacional da Mulher

Em Dia da Mulher, o que se poderá dizer?
As grandes conquistas e mudanças trazidas pelo 25 de Abril, tiveram na Mulher talvez a sua expressão mais conseguida em termos de resultados efectivos.
Todas as outras têm a pouco e pouco indo desaparecendo ou desvanecendo-se. A mulher tem sabido, com a sua reconhecida capacidade de esperar e a sua perseverança, levar a água ao seu moinho.
A última vitória, a da interrupção voluntária da gravidez, em tempos de interrupção obrigatória de benefícios e liberdades, espelha bem essa sua tenacidade na luta, o nunca esmorecer perante as dificuldades e adversidades.
Hoje as mulheres estão em todo o lado, disputam, eu diria de “homem para homem”, lugares de destaque nas mais diversas actividades políticas e económicas, a par das que já tradicionalmente dominavam, como o ensino e solidariedade social. Se a tudo isso juntarmos os afazeres domésticos e familiares, sempre importantes na perspectiva feminina, embora com o apoio crescente do companheiro, eu diria que estamos a entrar em época de matriarcado.
A Mulher impera! E de que maneira!
Se alguém tem agora que reivindicar os mesmos direitos e a igualdade, são os homens.
Eu diria que o Homem, com todas as prerrogativas que se lhe conheciam e reconheciam, é um animal em vias de extinção.
Parabéns às mulheres, mas cuidado! Tratem bem deles!
Não os deixem extinguir!

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terça-feira, março 06, 2007

Numa Banda Só

Hoje, finto eu..

Imagem retirada daqui
Hoje confrontam-se duas equipas de futebol para a Liga dos Campeões, que têm muito que ver connosco, Portugueses, e com o que se passa no Futebol Internacional, em vários aspectos.
Continuar a chamar desporto a este tipo de actividade profissional recreativa é quase insulto. Não para o Desporto! Para ela! Porque envolve muitos milhões em termos de cifrões, em termos de espectadores directos e indirectos e, sobretudo, em termos de paixões clubistas e nacionalistas.
Não se trata de competir. Trata-se de ganhar. Sempre!
Os clubes ganham e sobrevivem, ou perdem e apagam-se quase por completo. Fala-se em resultados desportivos. O que é isso? Se é ganhar, tudo bem!
E para ganhar e sobreviver, vale tudo! Comprar resultados, comprar influências para comprar resultados, comprar estatuto para comprar resultados, comprar adeptos para influenciar a compra de resultados!
Obviamente que, dizer que todas estas coisas se fazem em nome do desporto, é insulto. E não é pequeno! Então chamar desporto a um negócio destes? Ninguém anda ali pelos lindos resultados desportivos, caramba! Brincamos, ou quê?
Estádios de não sei quantos milhões, jogadores de não sei quantos milhões, treinadores (alguns) de não sei quantos milhões, dívidas de não sei quantos milhões!
E ainda teimam em insultar as pessoas chamando-lhes desportistas? Artistas, vá que não vá!
Já chega de tocar esta tecla! Toquemos noutra!
O Porto, digno e único representante deste cantinho à beira-mar plantado nesta competição, vai jogar contra a equipa do Chelsea, representante, não única, dos nossos indignos aliados de quase nunca. Vão bater-se (é o termo), para continuar na prova dos milhões.
As duas equipas vestem de azul, o que é uma pena.
À frente de cada uma das equipas, está um treinador Português. À frente de cada uma das equipas, está um ex-treinador do Benfica.
Em cada uma das equipas há pelo menos três jogadores portugueses.
Caramba! É obra!
Como a equipa do Porto não tem nenhum jogador inglês, vou nitidamente torcer por ela!
Pensando melhor, não sei se sou capaz.
Carago!
Canudo!

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segunda-feira, março 05, 2007

A Relógio da Vida

O tempo que nos vai matando, é por nós contado de forma muito diferente de acordo com as situações em que nos encontramos, da idade que temos, dos sonhos que nos animam, dos projectos que queremos ver concretizados, das angústias que nos afligem e sarrazinam. Nas minhas situações de embarque, quando a navegar, desejávamos ansiosamente a chegada ao porto. Achávamos por isso que a contagem do tempo a navegar era lenta e no porto imensamente rápida.
O mesmo aconteceu com a minha estadia na Guiné, em situação de guerra. O tempo era pegajosa e perigosamente vagaroso. Contávamo-lo num rolo de papel higiénico que previamente tínhamos desenrolado e onde anotáramos, em contagem decrescente, a data do termo da comissão, a partir do momento da chegada. Cada dia, com pompa e circunstância, como na cerimónia de içar ou arriar da bandeira, lhe arrancávamos uma folha numerada.
Lembro-me, quando menino, de ir com a minha mãe a Lisboa de camioneta. Chegados à bilheteira a minha mãe pediu um bilhete e meio. O senhor apontou para mim e perguntou à minha mãe que idade tinha eu, respondendo ela de acordo com a necessidade de pagar meio bilhete, que eu tinha seis anos, ao que retorqui que estava a minha mãe enganada porque eu já tinha quase oito. A exactidão do tempo que nunca mais tive.
Quando se aproximava um exame, daqueles determinantes, o raio do tempo corria desalmadamente, provocando arritmias cardíacas e angústias existenciais progressivas. Os momentos de espera, nos encontros amorosos, intermináveis e desesperantes, que nos faziam passar pela cabeça as coisas mais estrambóticas em relação ao objecto do nosso afecto.Os momentos de ternura que depois partilhávamos, pareciam-nos desajustadamente curtos. Resumindo e concluindo, o tempo que nos falta para atingir um objectivo que nos agrada, que nos perturba de forma positiva, que nos empolga e galvaniza é sempre lento, enquanto aquele que nos aproxima de situações desagradáveis, de momentos de grandes decisões ou de risco evidente, de situações desconhecidas ou terminais, é sempre implacavelmente acelerado, na nossa perspectiva.
Adivinhem, pois, como será, neste momento, essa contagem para mim.

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domingo, março 04, 2007

O Eclipse

Estas coisas ainda hoje me impressionam.
A Lua teve esta noite um eclipse total. O alinhamento dos astros, no caso o Sol, a Terra e a Lua, determinou-o. O cone de sombra da Terra apagou-a, como se apaga uma lâmpada. Melhor, como se apaga um erro. Um erro chamado Lua. Não será por acaso que quando se fazem asneiras, se diz que foi por andar na Lua. Em sentido figurado é certo, mas apontou-se para a Lua e não para a Terra ou para o Sol.
Tudo previsto. Tudo cronometrado ao segundo. Tudo certo.
Após 13,7 mil milhões de anos do “Big Bang”!
Quantos astros por esse Universo fora se alinharam do mesmo modo que estes referidos, à mesma hora? Quantos eclipses?
O Homem é fantástico! Sabe tudo, ou quase! Qualquer dia já poderá haver o eclipse de Deus! Para quê um Deus? Estará tudo explicado, pode perfeitamente eclipsar-se!
Se pensarmos, que houve quem fosse queimado, só por dizer que era a Terra que andava em torno do Sol e não o contrário?! E tudo isto, por desafiar a sabedoria divina!
Haverá mais seres inteligentes no Universo ou em Universos Paralelos, como já se fala? A blogarem como estou a fazer agora? Naturalmente há! E a fazerem guerras como as que cá se fazem? Se são inteligentes, provavelmente!
Com os avanços da ciência e das tecnologias se não houvesse uns tipos espertalhões a fazer umas guerras de vez em quando, como haveria lugar para todos nesta bolinha azul que, de vez em quando, se alinha com outras bolinhas e dá origem a eclipses?
Mas tenhamos esperança, porque se ainda se vão vendo eclipses em Portugal, é porque Portugal ainda não se eclipsou!

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sábado, março 03, 2007

A pretexto de pescar

A primeira jornada de pesca deste ano não podia ser muito pior em termos de resultados piscatórios, mas também não se pode ter tudo.
A água do Alqueva está perto de atingir o nível mais alto, alagando a campina, diminuindo o Alentejo em área terráquea, mas conferindo-lhe a característica surrealista de um Alentejo líquido por oposição à sua característica milenar de um Alentejo de sequeiro.
As estevas floridas exalavam um perfume doce, intenso que apetecia saborear.
O nevoeiro matinal foi dando lugar a um sol primaveril, inclinado, que completou este quadro de etérea serenidade.
Só os patos bravos entre danças e contradanças promíscuas de acasalamento esvoaçavam e grasnavam, quebrando o silêncio envolvente.
Nem brisa se fazia sentir, reflectindo a água, na sua quietude, o azul cinzento do céu e os verdes e brancos das colinas em redor.
Pequenos malmequeres amarelos nasciam da água, olhando-se e multiplicando-se nela. Azinheiras e sobreiros que perderam o pé e se banharam prazenteiros.
De vez em quando, mais longe, o matraquear dos bicos das cegonhas, quais castanholas, fazendo lembrar a vizinha Espanha, ali do outro lado.
A terra, onde nascia o pão que o diabo amassou, lavou-se do sangue, suor e lágrimas que a regou e adubou, abrindo-se em flores e aromas.
Foi esta tela que hoje me ofereci e que guardarei na minha galeria de recordações, como peça delicada e frágil, a par dos meus sonhos e ilusões.

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quinta-feira, março 01, 2007

Outras Bolinas

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Julgo que dá para entender porque prefiro bolinar nestas águas, não dá?