quarta-feira, junho 27, 2007

Adeus e até ao meu regresso...

....daqui

Etiquetas:

terça-feira, junho 26, 2007

A Rota dos Amores

É curioso.
Durante muito tempo estive convencido que o Alentejo só interessava, mesmo, aos alentejanos, aqui paridos e crestados pelo Suão.
Sempre achei que, quem como eu, não gostava de “almece” nem de sopa de beldroegas com queijo, jamais poderia considerar-se alentejano de gema, embora aqui nascido e criado até à altura de dar de frosques, antes que a cozedura do Sol ou as frieiras do Inverno lhe tolhessem os movimentos e a vontade.
Mas a verdade é que as grandes ligações não começam sempre pela paixão e muito raramente perduram para além dela.
O Alentejo tem que ser descoberto a pouco e pouco, como num striptease.
Há que retirar-lhe os véus com que cobre a sua nudez, um a um, sem avidez nem destempero.
A sua esbelta figura se projecta então no sobreiro solitário, em contraluz do sol nascente, para se espraiar diáfana pela campina alargada a todo o horizonte derredor.
A luz perpendicular veraniça tira sombras até dos olhos e da alma.
A ligação vai-se estreitando no gosto das coisas simples, do pão e do alho, azeite e coentros, rábano e “toicinho”.
A linearidade substitui a redondeza no olhar e no pensamento.
Apostamo-nos em seguir em frente guiando-nos pelas estrelas e pelos cheiros da murtinheira, do alecrim, da alfazema, do rosmaninho, do poejo e dos fenos cortados.
A entrega total torna-se compulsiva à medida que se caminha na descoberta do recôndito desta calmaria e temperança. Tempo de espera de melhor tempo, que se espelha no arrastar da fala e no cantar das décimas à padroeira de ouvidos duros de mercador.
Despojos de Roma e das suas grandezas e misérias. Despojos da sabedoria de árabes nas artes do amanho da terra e do uso da água e na cor tisnada do rosto das gentes.
Gostava que a descoberta tivesse sido só minha. Ela vai-se fazendo todos os dias por gente que tem outra cor na pele e nos olhos, que fala sem acento ou com línguas desentendidas, gente que leva mais do que traz, mas que um dia se renderá.
Ninguém pode desmerecer desta serenidade campaniça.

Etiquetas:

domingo, junho 24, 2007

Do Sal Amargo

Sou
Na gaivota que passa e grita
Um estranho que não passa nem grita
Sou
Um mar sulcado por todas as rotas
Que ninguém fixa
O esquecimento de mim também é meu
Como a solidão é nossa
E a beleza de ninguém
Sou
Um equívoco no seio de tanta certeza
De tanta fé sem esperança
Quisera fugir de mim e te encontrei
E me perdi
Porque outro não eras senão eu
Eu
Que vi tantas vezes nascer o Sol
Ali por detrás da noite sem estrelas
Eu
Que do mundo não conheço
Senão a voz adulterada da História
Sou e não sou

ZEF (1966)

Etiquetas:

sábado, junho 23, 2007

Feira de S.João

Esperávamos ansiosamente que chegasse a Feira de S.João, com os seus carrocéis, circos, o poço da morte e carrinhos de choque.
Depois começaram a aparecer uns aparatos que todos os anos mudavam que, numa linguagem actual, eram mais radicais, mas que não tinham a nossa preferência. Eram as cadeiras rolantes, montadas num estrado inclinado, cadeiras voadoras penduradas por correntes numa roda horizontal e que abriam como as varetas dum guarda-chuva quando a velocidade aumentava ou, ainda, aviões montados em tirantes articulados que subiam e desciam em saltos capazes de fazer saltar as entranhas pela boca aos mais incautos e, como no poço da morte, paredes onde nos encostávamos e a que ficávamos agarrados quando rodavam a alta velocidade, sendo-nos retirado o chão onde assentávamos os pés, por desnecessário.
Tudo isso era para experimentar uma vez e bastava.
Os carrocéis permitiam práticas que, embora proibidas, faziam a nossa alegria. Era entrar e sair com ele em andamento, ao jeito dos empregados que recebiam as senhas ou o dinheiro. Umas vezes de frente, outras de costas para os mais afoitos. Era preciso esperar que os empregados estivessem entretidos com o receber as senhas, para o poder fazer. Havia quem aproveitasse para dar umas voltas de borla.
Nos carrinhos de choque, aqueles que ainda hoje existem, "trolley cars", era divertido andar de marcha atrás, tentando não chocar com os outros, o que requeria perícia extrema. Também, por outro lado, permitiam massacrar as “belezas” que por lá se arriscavam, com choques monumentais que a testerona e a vaidade impunham.
E o circo?! A magia do circo?!
Os trapezistas e os equilibristas faziam secar a boca de emoção. Os saltadores e ginastas de tapete apresentados como artistas internacionais, às vezes com nomes estrangeiros, embora falando o português da Baixa da Banheira, encantavam com a sua destreza e arrojo. As parelhas de palhaços falando portunhol, com as suas gargalhadas estrepitosas, tropeçando nos sapatos enormes de sola levantada, com quedas aparatosas e bofetadas a fazer de conta. O palhaço rico com a sua cara de branco empoeirada, o seu fato brilhante de lantejoulas, o seu chapéu alto, cónico, contrastando com o palhaço pobre de meias às riscas e com pelos de cinco centímetros nas pernas, calças arregaçadas aos quadrados e casaco pendilhão às listas ou vice-versa, penca encarnada e cabelo azul, verde ou amarelo, com chapéu roto e um girassol na lapela. Como me ria com as suas trapalhices e com as suas músicas alegres e bem dispostas com que sempre terminavam as suas actuações.
Era também a altura de estrear uma roupinha.
Os dinheiros eram curtos e sempre tinham que se fazer algumas “habilidades” em casa, no porta moedas das irmãs ou da mãe. Coisa pouca, mas que às vezes era notada e dava direito a umas ripadas do pai. Lá calhava.
Adorava comer um bocado de torrão de Alicante. Havia duro e mole. Preferia o duro, porque durava mais tempo a comer. No final, ficava todo lambuzado do açúcar e cheio de sede, mas feliz.
A satisfação dos pequenos prazeres faz sempre esquecer os problemas maiores, que me esperavam ao chegar a casa cheio de nódoas na tal roupinha nova, a estrear.
Não é ainda assim hoje com a política? Um torrãozinho de Alicante para adoçar a boca e esperem-lhe pela penada!

Etiquetas:

sexta-feira, junho 22, 2007

Do Vento Cinzento (4)

foto daqui

abre
abre essa porta ao vento que sopra
para que ele te refresque
te consuma e te renove
aproxima-te do fogo, queima-te um pouco
e em seguida delicia-te com a água fria
colhe rosas no meio dos espinhos
para apreciar melhor o seu odor
abre
abre essa porta e deixa que o mundo em flor entre em ti
te enfeite e te perfume
ri, ouve o som do teu riso
e perceberás o desperdício de chorar
abre
abre essa porta à verdade disfarçada na voz das gentes
grita as tuas alegrias e as tuas tristezas aos sete ventos
abre
abre essa porta

ZEF(1965)

Etiquetas:

O dom da leitura fantástica

Acabei o segundo livro que leio deste escritor japonês, Haruki Murakami, estranho como o anterior, mas interessante também.
Os nossos fantasmas tornados realidade na vivência do dia a dia, lado a lado, como a nossa sombra.
No Ocidente, só as crianças têm coragem de ter amigos imaginários, com quem partilham segredos e aventuras.
Ao exaltar estes estádios de alma, levando-os a impor as suas regras, a ditar o nosso destino, o autor empurra-nos para uma plataforma mística, em que os sentimentos, sonhos, delírios e anseios se confundem, como numa prece ou num holograma, reflectindo-se e criando formas virtuais, que nos encantam ou nos apavoram.
Escrever com palavras simples e sem grandes alegorias o que nos vai na alma, não é tarefa fácil.
Faz bem, de vez em quando, navegar por águas menos claras para o nosso espírito pragmático, rectilíneo e sem magia. É gratificante experimentar vestir o casaco do avesso e atravessar a praça pública. Sentir o ridículo, na apreciação dos nossos pares, pelo trabalho que desenvolvemos e ficar feliz com isso.
Ir a Roma, propositadamente, para não ver o Papa!
Ao falarmos connosco, aprendemos coisas extraordinárias.
Ao retomar a conversa com o nosso amigo imaginário, que tínhamos deixado abandonado, nos bancos da escola, junto com o Menino Jesus, mais recentemente Pai Natal, e tudo aquilo que nos fazia feliz, rejuvenescemos.
É esse reencontro que hoje celebro, com toda a magia que encerra.

Etiquetas:

terça-feira, junho 19, 2007

Do Vento Cinzento (3)

Queria...
poder preencher esse vazio que em ti existe
com o calor que em mim fizeste nascer
Queria...
poder fazer com que te encontrasses
depois de me teres achado
Queria...
poder conseguir que risses de verdade
com a alegria que em mim criaste
Queria...
poder mandar que fosses feliz
depois da felicidade que me deste
Queria...
poder trocar o mundo que em ti vive
pelo mundo que sonhei para mim
Queria...

ZEF (1965)

Etiquetas:

O Cágado Vivaço

É chamá-lo pelo nome “Artista” e logo responde à chamada.
Vem balançando a carcaça, cabeça no ar, afundar-se numa poça que foi feita de propósito para ele, onde lhe é servido o pequeno-almoço composto preferencialmente de caracóis esmigalhados, bocado por que é perdido.
Na sua falta também lhe serve o granulado da ração dos cães, devidamente esmagado e amolecido na água da poça.
Ali fica escutando as conversas, fazendo companhia com o seu ar bonacheirão, e o seu apetite espreitando algum suplemento.
De vez em quando faz umas escapadelas até ao batatal, ao meloal, onde se queda nas horas de maior calor, beneficiando da humidade da rega e da sombra providencial. Com o “capot” ao sol de Verão não duraria uma hora. Ele lá se defende.
Quando era miúdo também tinha um cágado sem nome, mais pequeno, que me assustava, à noite, com os seus tamancos matraqueando o soalho do quarto.
No final do Outono desaparecia, para reaparecer carregado de cotão na Primavera seguinte, vindo de esconderijos que arranjava nos locais mais esconsos da casa, onde ninguém lhe punha a vista em cima, mesmo durante as limpezas.
Há dias atrás, o “Artista” e um companheiro ou companheira, não sei bem, apanharam um susto de morte. O Scrappy, cão brincalhão e de fino olfacto, foi descobri-lo não sei onde e apareceu com ele na boca.
Quando o chamava para me dar a presa, fugia com o “Artista” na boca, andando nisto uns bons cinco minutos, até que se cansou e resolveu entregar-mo são e salvo.
O outro companheiro, fui dar com ele de pernas para o ar tentando em vão voltar-se. Lá lhe dei uma ajudinha e desapareceu até hoje.
Mas o “Artista” está de todo afeito à folia de cães e humanos. Já vem comer à mão como qualquer bichinho de estimação. Estica o pescoço até ao seu limite para resgatar o prémio pela sua humilhação diária.
Como infelizmente muita gente também por aí!

Etiquetas:

domingo, junho 17, 2007

Do Vento Cinzento (2)

fecha os olhos
dá-me a tua mão
e juntos corramos contra a memória
pelos verdes prados da imaginação
deixando que o Sol te encha a noite
os pardais façam amor por cima das nossas cabeças
as flores desabrochem na palma da mão
a música suave do meu carinho te entre pela pele
os teus olhos distribuam ternura
os lábios murmurem promessas
a alma sorria feliz
vem
vem comigo passear na Primavera

ZEF (1965)

Etiquetas:

sábado, junho 16, 2007

World Wide Web ou World Wild Web

É incrível o que corre na Net em termos de informação, notícias, correio electrónico, blogosfera, publicidade, negócios, jogos vídeo, música, cinema, vídeo, chats, pornografia e todo um mundo de legalidades e ilegalidades.
Não há muitos anos, pouca gente era capaz de alvitrar tantas utilizações para a WWW.
Em 1994, integrei um grupo de trabalho, em representação da Transtejo, que procurava dar solução a uma preocupação, ainda hoje existente, de colocar ao serviço do clientes dos transportes públicos da zona metropolitana de Lisboa, informação integrada (dos vários modos) sobre itinerários, horários, tarifários, tempos de percurso, explorando a possibilidade de escolha por critérios de preço, de tempo de percurso, de zonas monumentais.
Este projecto tinha como meta temporal a Expo 98 e integrava informação concernente àquele evento em termos de espaço interno, de acessos, de animações.
Outras funcionalidades poderiam ser pedidas ao projecto, como compra de títulos de transporte ou acesso a informações adicionais sobre espectáculos, museus, etc.
A ANA, na altura ainda Aeroportos e Navegação Aérea, pretendia dar, em tempo real, informação de partidas e chegadas e toda a outra que normalmente disponibilizava nos aeroportos nacionais.
Foi efectuada consulta a várias entidades públicas e privadas, no sentido de apresentarem propostas para suporte informático deste projecto.
Apareceram várias propostas com aplicações informáticas de autor susceptíveis de poderem ser ajustadas às necessidades formuladas.
Só uma, duma entidade privada ligada à Universidade de Coimbra, se propunha utilizar a WWW, que dava os primeiros passos como veículo generalizado de informação, para dar resposta às questões colocadas, com a vantagem anunciada de ser a ferramenta do futuro, com potencialidades enormíssimas.
Razões de ordem económica não deixaram que fosse essa entidade a responsabilizar-se pela concretização do projecto, que foi entregue a uma outra, na altura pública, que não emprestou a dinâmica exigida e fez gorar expectativas criadas em todas as empresas envolvidas.
Os quiosques, onde era previsto ser disponibilizada a informação aos clientes, ainda foram adquiridos, mas somente os da Expo 98 funcionaram com informação própria, desenvolvida internamente.
Assinalo aqui a espantosa capacidade de antever as potencialidades da Web demonstradas por aquela entidade conimbricense.

Etiquetas:

sexta-feira, junho 15, 2007

Do Vento Cinzento


Foto daqui

Em tempo de arrumações, fui encontrar uns papeis, velhos de quarenta anos, onde de forma pretensiosa, ensaiava alguns passos na poesia, tal como reza a letra da última música do Pedro AbrunhosaTirem-me os meus fantasmas e digam-me onde é a estrada.
Valem pela tentativa.

Segue o primeiro.

A pluma que o mundo arrasta da memória
e o vento agita
Escreve cruzes na testa dos mendigos
Tatuagens no coração das donzelas
Pinta estrelas no Céu do meio dia
Rouba as vísceras dos poetas que cantam e choram
Grita nos olhos dos vivos o horror dos mortos
e lapidifica a sua eternização
O Sol que afaga a face com o seu travo de sal
Rebita nos espíritos a luz da razão
e indica para sempre a sua esteira
Da pluma sai
e da espuma se liberta
Como a alegria dos olhos
O Homem do seio dos homens
A fé das bocas que oram e se desejam
O sal das lágrimas
A esperança das mãos que se apertam

ZEF (1965)

Etiquetas:

quinta-feira, junho 14, 2007

Um Lusitano na terra dos Vikings (a)

Corria o ano de 1996.
Voei para Bergen na Noruega para participar numa reunião do grupo de trabalho encarregado de dar expressão a um projecto de formação a distância, usando as novas tecnologias da informação, sobre segurança do trabalho.
A aproximação ao aeroporto desta cidade é qualquer coisa de espectacular e dramática em simultâneo para quem tenha, como eu, medo de voar. É feita a baixa altitude, sobrevoando miríades de pequenas ilhas e ilhéus, sem que nos apercebamos da existência de qualquer coisa parecida com uma pista de aterragem grande ou pequena.
Já com as rodas do pássaro a tocar a copa das árvores dos ilhéus, onde se situam magníficas residências com escadarias até à água e embarcações atracadas a pequenos cais, sentimo-lo guinar quase noventa graus para a direita e do meio das vivendas, jardins e parques salta-nos de repente uma pista, não muito extensa, a escassos metros, onde pousámos placidamente.
A ideia que a Noruega dá para quem chega assim, vindo do ar, é a de uma enorme pedra de gelo, que já foi picada num dos lados para preparar uma caipirinha.
Apesar de ser Junho, a temperatura máxima nunca ultrapassou os treze graus centígrados. As montanhas ainda apresentavam nalguns pontos restos de gelo e neve. De quando em vez, umas manchas negras e outras esbranquiçadas com alguma dimensão, de lagoas resultantes do degelo, cavadas na rocha como se fossem chícaras de chocolate ou café com leite, bem visíveis quando o avião perdeu altura, na procura da pista de Bergen.
A reunião, que decorreu nas instalações da STATOIL, empresa norueguesa de petróleo, processou-se de forma verdadeiramente exemplar, em termos organizativos, técnicos e sociais.
A agenda era pesada, o tempo para a cumprir escasso, mas o empenho total. Dois aspectos marcaram-me especialmente. O primeiro, à chegada, ainda no átrio do edifício, quando um técnico da empresa fez conhecer as primeiras instruções sobre a segurança das instalações, indicando numa planta enorme existente ao centro, a localização das salas onde decorreria a reunião, os acessos, as escapatórias em caso de sinistro, os locais de encontro, os sinais de alarme, as práticas proibidas e as zonas protegidas para fumadores.
As refeições, frugais, foram tomadas no local dos trabalhos e tiveram a duração de trinta minutos.
A segunda surpresa foi para mim o ser obrigado a fumar numa espécie de aquário, todo em vidro, com aspiração de fumos, onde me senti um macaquinho enjaulado. Foi ali que decidi deixar de fumar, embora só uns meses mais tarde o tivesse concretizado.
Foi-nos oferecido um jantar num restaurante situado nos fiordes a cerca de uma hora de distância, em embarcação rápida. Estimo que tenhamos percorrido à volta de trinta milhas até lá. Cais de atracação com escadaria pela encosta suave acima, até um edifício que havia sido residência da realeza local, em tempos passados.
Ementa repleta de iguarias características, que não são propriamente do meu agrado, mas que nem por isso deixei de apreciar, à base de peixe cru, fumado e cozido em vapor, do arenque ao salmão e bacalhau, passando por outros desconhecidos de todo.
A reunião acabou com uma visita a uma plataforma petrolífera junto a Trondheim, que me foi de todo impossível acompanhar por razões de ordem familiar, incontornáveis.
No Hotel, uns pedidos simpáticos, práticos e económicos - Se achar que o pode fazer, use as toalhas mais do que uma vez. Poupa detergente, agressivo do ambiente, e água que é um bem escasso e precioso. Se usar o creme de banho que se encontra na embalagem hermeticamente fechada, em vez de champôs e cremes comerciais, ajuda-nos a proteger a floresta pela contaminação das águas por produtos que não respeitam o ambiente.
Na rua um trânsito moderado. De vez em quando uns carros com matrícula verde, que são os que estão autorizados a utilizar gasóleo verde, ou seja gasóleo agrícola ou de outra forma subsidiado.
Resumindo: Noruega um país organizado, com dinheiro, com preocupações ambientais e com educação acima da média.
Por outro lado, pareceu-me um povo triste e que bebe bastante, em certos dias.

(a) Todos os nórdicos são de alguma forma identificados com os Vikings, embora estes sejam oriundos, especialmente, da Suécia

Etiquetas:

terça-feira, junho 12, 2007

Os bons camelos ao deserto tornam

A OTA parece que já era, assim como a crise também parece que já era, tal como a teimosia do 1ºMinistro parece que já era também. Mas atenção porque isto é um país do parece.
Parece que estamos na Europa, mas para a maior parte das coisas, sobretudo as boas, não estamos.
Parece sempre que vamos ganhar o campeonato da Europa e do Mundo de Futebol e, depois, não vamos.
Parece que temos um Serviço Nacional de Saúde que a todos serve, mas afinal não é bem assim, porque a alguns serve pior do que a outros.
Parece que a Marinha iria ter submarinos, mas afinal deve quedar-se pelos patrulhões.
As lutas dos trabalhadores durante anos e anos parecia ganha, com horários de trabalho de 48 horas semanais, 45 depois, atingindo mesmo as 40 e até se chegando a falar nas 35. Pois isso tudo, parece também que já era. Como a reforma aos 65 anos. Como o cálculo das pensões, como as deduções da saúde para o IRS.
A única certeza que parece termos, é não termos a certeza de coisa alguma.
A não ser, claro, que todos nós não somos eternos.

Etiquetas:

segunda-feira, junho 11, 2007

Cheiro a esturro

Parada militar, com grande destaque para a Marinha, com a fragata Vasco da Gama e helicóptero, com a Sagres, com os Fuzos, Polícia Marítima e tal e coisa. Brigada não sei quantos aerotransportada, de intervenção rápida ou coisa do género.
Não sei se havia Força Aérea, porque apanhei a missa, já a mais de metade.
De qualquer forma, as referências do PR às FA e à sua modernização, os comentários do militar que acompanhava a locução, tudo isso fedia a elogio fúnebre, para não dizer que cheirou a outros dias, designados da Raça, na mesma data e com cerimónias semelhantes, a que só faltou a entrega de medalhas a título póstumo.
A alusão do PR, aquando das comemorações do 25 de Abril, de que o figurino necessitava ser mudado, faz pensar que talvez se queira projectar a imagem dos militares do 10 de Junho em detrimento da imagem daqueles que fizeram a Revolução dos Cravos.
Convenhamos que em termos de imagem, a destes últimos deixa muito a desejar. A juventude pesa-lhes no cabelo, nas rugas, nas articulações, no ácido úrico, na humidade da bolanha e do cacimbo que se lhes exala da alma.
O cumprimento da promessa faz deles zeladores incómodos do processo democrático, que com eles pesa alterar. Querer dar-lhes honras fúnebres antes de tempo, parece maldade imensa para quem imensamente se empenhou, se expôs, se arredou de carreirismos e honrarias.
A pátria honraram! Deixai que a Pátria os contemple!

Etiquetas:

sexta-feira, junho 08, 2007

The Answer is Blowing in the Wind

quinta-feira, junho 07, 2007

Anda Mouro na Costa

Imagem Aqui
Tem-se falado ultimamente muito de sul, deserto, camelos e portanto será natural falar-se também de mouros.
Já lá vão muitos anos.
Já nessa altura os Mouros, os Árabes, os Muçulmanos, hoje os Povos do Islão, como se queira, cada nome designando uma realidade diferente embora, se davam em fazer raids-relâmpago na costa algarvia, vindos do Norte de África em barcos, caçando mulheres e também crianças, que iam encher os haréns ou engrossar o número de escravos.
Quando o perigo rondava, dava-se o alarme de “mouro na costa” e toda a populaça do Al Garb , se dirigia rapidamente para a serra, onde aguardava, que a ameaça passasse.
Os tempos mudaram mas, pelos vistos, não tanto assim.
Continua a andar “mouro na costa” e na do Algarve. Só que os mouros já não são obrigatoriamente tão escuros, não usam adaga nem arvoram bandeira com o crescente nem essas coisas assim. Mas são piratas na mesma.
Parece também não se interessarem muito por mulheres, quedando-se o seu interesse pelas criancinhas. Bom negócio nos novos mercados de escravos, que alimentam uma nova ou velha, não sei, enfermidade sadocompulsiva que dá pelo nome de pedofilia.
Que é desumana. Que é revoltante. Que é nojenta, Que mata por dentro e por fora. Que oferece e imola nos altares do desvario sexual, crianças indefesas às vezes de colo.
De nada serviram anos de desenvolvimento tecnológico, de acentuado aumento do nível cultural da humanidade e de aproximação dos povos através da comunicação.
O mundo tornou-se pequeno, de facto, deixando as crianças mais vulneráveis e ao alcance fácil desses novos-velhos mouros na costa.
Há que arranjar um sistema que permita assinalar estes predadores, se conhecidos, e pôr a salvo as crianças, em tempo útil.
Não sei bem como, sem correr o risco de me autoconotar de xenófobo ou racista. Mas parece-me que a esterilização, a inoculação de um produto inibidor permanente da libido ou, no mínimo, uma pulseira de identificação e localização, como as usadas pelos indivíduos sob controlo judicial, seria um mal menor.
Funcionaria a modos como o “anda mouro na costa” dos tempos modernos.

Etiquetas:

Ponto ao Crepúsculo Vespertino

O tempo vai acabando com tudo, apagando tudo. Às vezes rapidamente, outras a pouco e pouco, suavemente, como se nada estivesse a acontecer. A isso devemos o sobreviver a um grande amor traído, à morte de entes queridos, mas também às coisas más que nos aconteceram e que de outro modo nos tirariam o sono.
Vivi a Marinha com a intensidade de um adolescente a fazer amor, com a tenacidade do aço de que são construídos os navios, com o apego do filho único à mama materna, com a serenidade dum fim de tarde de Outono.
O que resta disso tudo? Uns quantos camaradas que, de quando em vez, se reúnem e forçam recordações em torno duma mesa de restaurante mediano, umas visitas esporádicas ao site oficial da Armada e troca de correspondência electrónica com os amigos mais próximos.
Os cabelos brancos e as carecas não conseguem resgatar a energia e a fé que nos animava. A alegria da descoberta perdeu-se na tristeza do marasmo. As vidas são repetição quando deveriam ser mudança, experimentação, atrevimento.
O tempo vai desbastando arestas, arredondando-as ao jeito de não magoarem, de não ferirem. As dúvidas vão tomando conta das certezas e o ficar trocando o lugar com o partir.
A memória corroída já não reconhece caras, lugares, nem situações, com nitidez. O relato de factos, de historietas, de opiniões esbarra com as barreiras da conveniência, do politicamente correcto, da moralidade bacoca e basista em que assentou a construção da personalidade, ao longo dos anos vividos.
Resta apenas a esperança de que um pouco da loucura libertadora, que às vezes ataca na velhice, nos force a de novo partir, em bolinas cerradas, para porto-aventura.

Etiquetas:

terça-feira, junho 05, 2007

A Linguagem Perdida do "Marujo"

Poleame e Talhame (A continuar)

O poleame é o conjunto de peças de madeira ou metálicas que, a bordo, servem para a passagem dos cabos. Pode ser de laborar se dispõe de rodas e surdo no caso contrário.
O surdo compreende bigotas, sapatas e cassoilos principalmente.
O de laborar é constituído por moitões, cadernais e patescas.
Para facilitar a utilização, o poleame é alceado, isto é, é provido de alça de cabo ou de metal.
O poleame de laborar compõe-se sempre de três peças: caixa, perno e roda; a caixa dispõe de uma ou mais aberturas, gornes, onde trabalham as rodas em torno de eixos, pernos.
A roda tem uma uma gola ou goivadura na periferia, onde labora o cabo. A caixa tem uma cavidade ou goivado que a abraça e onde se passa a alça.
O moitão é poleame de um só gorne e o cadernal de dois até ao máximo de quatro.
A patesca difere do moitão por ter uma abertura lateral, fechada com dobradiça e chaveta, para receber o cabo pelo seio. Serve, em especial, para retorno de cabos, isto é, para os desviar de uma direcção para outra.
Gornir um cabo é enfiá-lo nos gornes do poleame.

(In Linguagem do marinheiro do C.te Marques Esparteiro)

domingo, junho 03, 2007

Scheherazade e Xeriar

Espanta-me e encanta-me em simultâneo. A quantidade de livros que se publicam. A enormidade de coisas que vão ficar, atestando a passagem dos seus autores por este mundo de loucos.
Mas, penso também os que se terão perdido desde que começou a expressar-se a opinião, ou apenas a registarem-se factos, por esta via. Nas guerras, nos incêndios, nos dilúvios, por todos os desmandos do Homem ou da Madre Natureza.
As feiras do livro fascinam-me. Nunca compro muitos livros, mas gosto de ver os títulos. A maior parte dos livros que compro, faço-o porque gosto do nome pelo qual o seu autor o recomenda.
Sempre gostei de ler, mas só há pouco resgatei esse privilégio, por ter agora tempo para o fazer.
Gosto de ficção, mas era incapaz de ser ficcionista. Não sei inventar. Nunca me deixaram. Sempre me disseram que era feio mentir e mais tarde obrigaram-me a fazer da verdade o meu credo, a minha fé e profissão.
Mas adorava ser capaz de fazer de conta. Deve ser bom vestir a pele do vilão de vez em quando, que mais não seja para poder avaliar o comportamento da outra parte. Daquela a que sempre me acostumei a chamar de minha.
O mundo deve ser diferente visto do lado de lá. Tal e qual, como se andássemos com as mãos no chão em vez dos pés, ou fôssemos anões, ou gigantes, africanos ou árabes. Ou seja, marginais! À margem das regras da mediania, não da natureza!
Um dia, vou experimentar nem que tenha, para isso, de me fazer político!

Etiquetas:

sexta-feira, junho 01, 2007

Num rasgo de...avô

Talvez seja doença, ou talvez não.
Estou a pensar na escrita. Dizer coisas para o papel. Para que conste. Para que fique. Para que perdure para além da efeméride duma vida vivida, nem sempre da melhor forma, nem sempre da forma mais fácil, nem sempre do lado certo, mas sempre, sempre, com uma grande vontade de viver. E de acertar. Não nas coisas certas, mas nas devidas. Naquelas em que acreditamos, ou melhor, naquelas em que vamos acreditando, porque isto do acreditar, também muda. E é bom que mude. Para melhor. Para que seja possível evoluir. Para quê? Para onde? Não sei. Para melhor. Para que as crianças possam ter meninice. Para que os pais das crianças possam desfrutar das suas traquinices, possam testemunhar o seu crescimento, possam indicar destinos, sinalizar rotas, mas nunca impor caminhos. Para que as deixem aprender, errando, mas que se encontrem, querendo.
Não devia haver dia das crianças, porque todos os dias deveriam sê-lo. Para quem as tem e para quem espera que sejam elas um dia a mudar o mundo. Que nós não conseguimos. Que não fomos capazes. Que não quisemos. Que não soubemos.
Escrever pode ser doença, mas também pode ser cura. Pode ser esperança como pode ser desespero. A escrita faz de nós caracóis ou lesmas, se se quiser. Vamos deixando rasto. Vamos, às vezes, deixando odores bons a frutos silvestres, perfumando a esteira. Outras, apenas delimitamos o espaço, excrementando-o como os animais, com o cheiro do nosso orgulho ferido, das penas que nos vão na alma, com a raiva que nos range os dentes.
Em dia, de calendário universal, da criança, aceno apenas com um traço de luz, uma réstia de esperança, uma nesga de ternura.
Faço um voto sincero: - não cresças, podendo!

Etiquetas: