terça-feira, maio 29, 2007

Partilha consentida

A existência de água em abundância permite manter uma flora equilibrada, dividida entre o pomar, a horta e o jardim.
As árvores de fruto, sobretudo figueiras, ameixeiras e cerejeiras chamam a passarada, não só para nidificar mas, sobretudo, para se banquetear.
As nogueiras e figueiras também dão bom refúgio de Verão às inclemências do calor alentejano, nelas se resguardando rolas turcas e outros pássaros mais pequenos.
Com uma presença permanente e em quantidade superior à desejável, os pardais do telhado e os melros, pontificam no espaço aéreo da courela, a que se juntam as andorinhas durante o período estival.
Nidificam nas árvores de maior porte de folha permanente - laranjeiras, limoeiros e oliveiras -
assim como na madressilva, que cobre boa parte da cercadura de rede, os melros, os verdelhões e os pintassilgos.
São visita frequente as felosas e os chapins. Já têm sido vistas arvéolas, piscos de peito ruivo e, mais raramente, rouxinóis.
As esquadrilhas de caça dos estorninhos costumam massacrar as figueiras, ameixeiras, videiras e tudo o que escape à vigilância montada sobre frutos de qualquer espécie.
Já começam os seus voos de reconhecimento, com os assobios estridentes com que se fazem acompanhar nas investidas.
Estes pequenos intrusos fazem a alegria do espaço com a sua chilreada variada, o movimento e a cor que lhe emprestam.
Apesar de impertinentes, por vezes, não deixam mesmo assim de contribuir para o equilíbrio ambiental, comendo as minhocas, os insectos mas também as cerejas e os figos, espenicando as ameixas, os morangos e as framboesas.
Não escapam também à sua voracidade as uvas e amoras.
As manhãs agitadas da courela, alegram-se com a sua insolência, desafiando a nossa paciência, mas roubando sorrisos prazenteiros de quem disfruta a sua companhia desinibida e confiante.
São simpáticos, mas de muito alimento.
Fazem lembrar algumas pessoas, que todos conhecemos…

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segunda-feira, maio 28, 2007

Os Donos da Guerra

A Guerra é,ela só,violenta que baste! Para quê brutalizá-la ainda mais?

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A Festa do Barro

A Festa Ibérica da Olaria e do Barro, que teve lugar este fim-de-semana em Reguengos de Monsaraz, reuniu artesãos dos dois países, com especial relevo para as olarias de S.Pedro do Corval e de Salvatierra de los Barros.
A recriação das peças antigas usadas nas lides caseiras ou do campo para recolha e transporte de água, confecção de alimentos, assim como outros objectos utilitários e de ornamentação, atingiram níveis muito aceitáveis de fidelidade nos materiais e técnicas genuínas usadas, assim como de imaginação e arte.
As formas e o cheiro do barro levaram-me a um tempo perdido na memória, dos “Paneleiros do Redondo”, como eram designados entre a miudagem os vendedores ambulantes que, para além das loiças e panelas penduradas nas albardas e alforges do burro, vendiam também mel e água-mel.
O seu pregão cantado com aquele acento carregado, que sempre distinguiu os naturais daquela terra alentejana, ainda me enche o ouvido com o seu “ Meliáguaméliiiloiça – arre burro”.
Palmilhavam a cidade de lés a lés com a sua lenga-lenga e a sua arte feita de barros vermelhos ou vidrados.
Longe vão os tempos, em que muita gente mandava gatear os alguidares de barro rachados, pôr varetas nos guarda-chuvas avariados ou amolar as tesouras e facas cegas.
Seria a necessidade que muitas vezes a isso obrigava, mas não havia esta doença maluca do consumismo, que nos faz atirar coisas para o lixo que, com um pouco de paciência (que não existe de todo), poderiam ser reparadas e ainda servir por mais algum tempo.
O desperdício tomou conta das nossas terras, sobretudo das cidades, tudo invadindo, tudo empestando.
A sua recolha e destruição-recuperação é hoje uma operação cara e delicada, que levanta polémicas e opõe governos a autarquias. Ninguém sabe já o que fazer de tanto lixo, de tanta espécie, de tão variadas periculosidades.
A água que recolhíamos e carregávamos em bilhas (quartas, cântaros, enfusas, etc) já só existe na nossa memória.
Hoje, já só pode beber-se de garrafas de plástico descartáveis, mais cara que a gasolina e de origem nem sempre garantida.
Amanhã, corre-se o risco de ter que beber a da chuva, quando e onde cair. Aí, vai ser necessária ou conveniente, no mínimo, uma ânfora de barro para a sua recolha.

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sexta-feira, maio 25, 2007

A Deus, o que é de Deus...

Imagem daqui
Ampla, em anfiteatro, com representações diárias da Última Ceia, a que hoje não faltou uma Maria Madalena, não a do Da Vinci, mas a de Pádua, parece.
Na frente, nada no lugar do Altar Mor, a não ser um Cristo do Terceiro Dia, o que sobe aos Céus, imagem bem menos plangente do que a de Cristo Crucificado. Uma pede Aleluias, enquanto a outra se regozijava com coroas de espinhos, cravos e sangue.
As encenações ritualistas têm vindo a sofrer modificações, mas não se conseguem vislumbrar inovações apelativas ao culto. Há partilha de tarefas com diáconos e beatas, a puxar ao Carmelo, nas leituras dos evangelhos, nas orações e cânticos. Desapareceram os Meninos do Coro, substituídos por estes espantalhos assexuados, que metem medo às criancinhas. Esquálidos, em dieta rigorosa de uma comungadela por dia, sem vida e sem alma, já entregues ao Criador.
Na sala arejada, umas três dezenas de assistentes e uns quantos devotos participantes, em cerimónia encomendada pelos familiares de uns tantos mortos recentes.
Quem conheceu um deles, sabe bem que ele preferiria estar no Inferno, onde facilmente encontraria os seus parceiros e amigos, do que no Céu a que sempre se mostrou alheio, enquanto vivinho da silva. Pura maldade, esta, que lhe fizeram!
O padre, cingiu-se a uma prédica vazia de conteúdo e simbolismo e quase de palavras. Para além disso, pouco mais fez do que celebrar a eucaristia e dividir com o diácono-seminarista, a distribuição das hóstias sagradas pelos devotos praticantes, que não eram muitos.
Trabalho leve.
Será que o sindicato assim o impôs, ou trata-se apenas de alijar a carga, a quem já tem que transportar em cima dos ombros o peso dos pecados do Mundo, cada vez mais afastado das virtudes proclamadas por Cristo e tão pouco observadas pelos seus seguidores?!...

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quarta-feira, maio 23, 2007

De Coimbra a Braga passando por Castelo de Vide

A Igrejinha já foi palco de várias peças no designado teatro da vida.
Tempos houve, em que as suas terras férteis ao longo dum extenso vale da Oliveirinha à Cerâmica, davam trigo e cevada com fartura e apascentavam grandes rebanhos de ovelhas, nos restolhos e pousios. Nas manchas de montado, varas de porcos engordavam a boleta.
Os latifúndios, nas mãos de meia dúzia de famílias, impunham as regras, os horários de trabalho, as jornas e definiam o destino das famílias dos trabalhadores, que se acantonavam nos montes isolados ou na aldeia.
Quando a maioria da campina alentejana produzia analfabetos, em quantidade assustadora, a Igrejinha aparecia como um oásis nesse imenso deserto.
Alguém a intitulou, por laracha, de “Coimbra do Alentejo”. Também a glosar este tema, se comenta por cá, que até a professora sabia ler.
Com a construção da Barragem do Divor e com o estabelecimento do regadio, alteraram-se práticas agrícolas . A propriedade dividiu-se e foi introduzida a vinha.
Foi construída uma fábrica de descasque de arroz e de transformação de tomate. Mais tarde, acrescentou-se à sua linha de produção, a transformação doutros produtos de regadio.
Os trabalhos rurais mecanizaram-se e foram criados postos de trabalho especializado, ligados ao manejo destas novas ferramentas, mais bem pagos, mas em menor número.
Nasceu um proletariado rural e criou-se alguma estabilização nos postos de trabalho.
Parte dos trabalhadores, que não abraçaram estas inovações tecnológicas, viram-se na necessidade de procurar noutros países, trabalho não qualificado, com melhores remunerações e garantia de trabalho todo o ano. A Suiça apareceu como destino preferido, mas também a França acolheu alguns dos filhos desta terra.
O 25 de Abril e a designada Reforma Agrária alteraram temporariamente a divisão fundiária da região, rapidamente reposta.
A entrada na UE e os "dossiers" comunitários para a agricultura, em vez de fomentarem o desenvolvimento e revitalização do sector, antes tiveram efeitos perversos, contribuindo para o estagnar da actividade, através de subsídios para não produzir ou para arrancar!
A fábrica do tomate foi fechada, atirando com uma porção de gente para o desemprego, sem alternativas.
Além da vinha e da criação de gado vacum, só o arroz e milho de regadio, entregues a seareiros de fora ,se quedaram como actividades agrícolas locais com alguma expressão.
Com os subsídios fizeram-se charcas para o gado, por todo o lado. Essas águas dantes escorriam por riachos e ribeiros, levando a humidade a muitas terras, hoje sentidas da sua falta.
De qualquer forma, a Igrejinha é uma terra privilegiada. Existe humidade bastante ao longo de todo o vale e a temperatura média no Verão é bastante mais baixa do que na vizinha cidade de Évora. Esta diferença levou-me a designá-la também como a “Sintra do Alentejo” à semelhança de Castelo de Vide.
Mas o clima está em transformação profunda. O ano passado nevou como já não acontecia há mais de cinquenta anos. Este ano choveu com grande regularidade ao longo de todo o Inverno e a Primavera conheceu já uma série de trovoadas com chuvas torrenciais e granizo, fazendo lembrar tempestades tropicais.
Além de darem cabo dos meus “árduos trabalhos” de jardinagem, têm fustigado rudemente quem ainda se envolve em práticas agrícolas, desafiando a ira da Natureza e dos governos deste país.
Espero bem não vir a ter que apelidar também a Igrejinha de “Penico do Céu”, em compita com Braga.

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terça-feira, maio 22, 2007

O Infinito

Desapareceu alguém que me fora muito próximo por laços familiares e também por ter determinado o meu gosto por uma coisa que normalmente ninguém aprecia – a Matemática.
Não sei se ele alguma vez gostou de Matemática ou do que quer que fosse.
Lembro-me, no entanto, quando dava os primeiros passos na aprendizagem daquela disciplina, de ter tido algumas dificuldades sobretudo por não conseguir relacionar os seus conceitos com coisas concretas.
Ele teve a virtude de estabelecer essa ponte.
O paralelismo de duas rectas parecia-me coisa irrefutável, até me ter sido por ele demonstrada a sua convergência no infinito, através da imagem indesmentível das linhas do caminho de ferro.
Ao olhá-las, temos de imediato essa percepção. Por mais que nelas avancemos, tanto mais longe elas se cruzam, deixando-nos a dúvida sobre a nossa sanidade visual.
A partir desse momento a Matemática tornou-se mágica e acabei sempre por nela descobrir os segredos guardados, como um detective as pistas do crime ou um investigador os mistérios da ciência.
Pergunto-me como seria a nossa vida, se fosse alterada a relação que estabelecemos com os números e com as formas geométricas, desde sempre gravadas na nossa memória e no reconhecimento que fazemos do mundo que nos rodeia.
A harmonia vital baseia-se em algoritmos genéticos, que buscam as melhores soluções para as funções que nos dirigem e fazem evoluir ao longo de gerações e nos hão-de garantir a sobrevivência para lá dos inúmeros obstáculos que o processo civilizacional nos vai colocando permanentemente.
A fórmula é a mesma, mas os parâmetros que cada um de nós lhe impõe são diferentes e os resultados, obviamente, sê-lo-ão também.
Amigo, as nossas trilhas divergiram, mas hoje voltaram a estar paralelas e, muito provavelmente, cruzar-se-ão no infinito.

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sábado, maio 19, 2007

Pequenos prazeres em declínio

(Continuação)

A pesca, também ela em crise e também ela em risco de ser "desordenada".
Por razões, que só a razão não conhece.
Porque, tal como a caça, começa a ser negócio.
Os acessos à água começam a ser dificultados, embora a lei o proíba.
A fiscalização das actividades poluentes não se exerce de forma regular, com acções penalizantes dissuasoras, deixando que as águas de rios e barragens sejam invadidas pela morte e devastação dos recursos piscícolas. E não só, porque muitas povoações dependem da qualidade dessas águas para uso doméstico.
O meu peixe favorito, o achigã, tem também sofrido este tipo de ameaças e começou a desaparecer. Uns anos houve em que se apanhava com abundância, em qualquer rio, barragem ou mesmo charca.
Hoje, é com dificuldade crescente que se capturam alguns com a medida ou sem ela.
Porque não existem. Porque não lhes foram garantidas condições de sobrevivência, face a outras espécies ou pela captura desordenada, ela sim.
Apesar de se não cumprirem,em Espanha, as regras de proibição de capturas desta espécie durante os meses de desova, protecção de ninhos e alevins, continua a encontrar-se este peixe em abundância para pescar, na maior parte das barragens.
Porquê? Porque os pescadores, depois de os capturarem, os largam outra vez para a água, permitindo desta forma a prática sadia da pesca e não devastando os contingentes que garantem a sua reprodução e desenvolvimento.
Cá, é uma prática obrigatória em concursos, mas não no dia a dia.
Com as carpas vai-se fazendo, porque não são apreciadas para alimentação, mas com o achigã, já assim não se passa.
Pior, os pequenos barcos a motor vasculham sem cessar as zonas de acantonamento da espécie, não lhe permitindo sossego e usando, muitas vezes, redes de emalhar para a sua captura e posterior venda.
Se esta situação se alterasse, garantidamente haveria peixe para proporcionar grandes alegrias aos pescadores desportivos, que poderiam dessa forma fazer jus a essa designação.
Deixem-me gozar este pequeno prazer da velhice!
Já não tenho muitos…

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sexta-feira, maio 18, 2007

Bocas Abertas

Livre-nos Deus de bocas abertas!
Esta, era uma expressão que ouvi várias vezes à minha avó. Não me lembro, ou nunca percebi bem, qual o contexto em que ela a utilizava. Não sei se se referia a bocas abertas com fome, se a bocas abertas dizendo asneiras, se a bocas abertas de espanto ou de medo ou ainda a bocas abertas por lhes não ser permitido fechá-las.
A primeira sugere bocas famintas que, sendo responsabilidade directa nossa, obrigariam a tudo fazer para as fechar, o que naqueles tempos e nos que correm, não era nem é tarefa fácil. Sendo resultado de políticas erradas governamentais, de que seríamos potenciais vítimas indirectas, obrigava a que nos precavessemos contra amargos de boca. Parece que temos boas razões para, com isso, nos preocuparmos cada vez mais.
A segunda, aponta para eventuais prejuízos causados pelos desbocados, pelas chamadas línguas viperinas, pelos discursos políticos em épocas eleitorais, pelos contos de vigário com que diariamente somos brindados nas rádios e nas televisões públicas e privadas. Verdadeiros despautérios como os discursos do Dr. Alberto João ou os balanços governamentais do Eng.º Sócrates.
Para bocas abertas de espanto por encantamento, não ía a minha avó pedir a intervenção divina para as evitar.
Restam, portanto, as razões que nos fazem cair de costas, patas ao ar e boca aberta de espanto ou pânico, como passarinhos caídos do ninho, sem saber para que lado nos voltarmos. São geradas por coisas tão estranhas como a economia estar melhor e nós piores, obrigar a eleições na Madeira para ganhar aquele que já se sabia iria ganhá-las ou ver o Dr. Júdice ser o mandatário ou o apoiante mor do Dr. António Costa à Presidência da Câmara de Lisboa.
Por último, não calculo que a minha avó tivesse ingenuidade tamanha, ao ponto de acreditar na existência de pessoas a quem não fosse permitido fechar a boca, sendo obrigadas a, diariamente, dizer coisas que não interessam a ninguém, coisas que não fazem sentido ou que, mesmo fazendo, não levam a lado nenhum, não servindo para mais nada do que para manter a boca aberta.
Só pode ser maquinação minha!
Ela não estava, certamente, a pensar em mim!

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quinta-feira, maio 17, 2007

Os Donos da Guerra

Black Sabbath

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segunda-feira, maio 14, 2007

Pequenos prazeres em declínio

Primeiro foi a caça. Agora é a pesca.
Se acreditasse em coisas do outro mundo, diria que todas as forças do mal se juntaram para fazer da minha velhice e situação de reforma uma chatice, retirando-me os “hobbies” de que mais gosto.
A caça é uma prática mágica, que descobri ainda de tenra idade, quando acompanhava o meu pai, pela campina alentejana, que assim aprendi a amar.
Começava invariavelmente pela escolha do local. As suas características de acesso, de abertura de vistas, a capacidade que tinha de oferecer boas perspectivas de encontro com as espécies, quer se tratasse de rolas, de perdizes, coelhos, lebres ou codornizes, de pombos torquazes ou patos. Mais tarde de tordos também.
Cada uma destas espécies cinegéticas buscava terrenos próprios, que era preciso conhecer ou descobrir. Necessário se tornava deles guardar segredo, para que as nossas jornadas se tornassem merecedoras de respeito e cobiça.
Havia que carregar cartuchos, inicialmente de cartão, que tinham que dar pelo menos dois tiros. Recalibrá-los depois do primeiro tiro, era obrigatório, para que continuassem a caber na câmara de explosão e se soltassem facilmente ao abrir as espingardas de canos laterais, não originando encravanços capazes de comprometer a jornada.
Era tarefa de importância, que o meu pai guardava para si, assim como dosear a pólvora e o chumbo. As outras de escorvar, pôr buchas e rebordar cartuchos, tocavam-me a mim, no Verão e de férias, que odiava, talvez, por isso. Obrigavam-me a ficar noites inteiras em casa, a alinhar cartuchos como se fossem exércitos, prontos para a guerra, que só se iniciaria em meados de Agosto.
A recompensa aparecia mais tarde, com o cheiro dos junquilhos pisados, das estevas ao romper do dia, da ansiedade da espera ou do sobressalto da caça ao sair. Depois o tiro, a recompensa ou talvez não.
Os cães buscando, o parar da caça. Um espectáculo de elegância e de perícia. Uma beleza para os olhos.
Tudo isto se foi perdendo, com o passar dos tempos. As motorizadas primeiro. As carrinhas de nove lugares depois. Mais recentemente os todo-o-terreno, desbravando montes e vales, matas e pauis, retirando escapatória à caça. A falta de terrenos de cultivo para a alimentar, a melhoria das espingardas e pólvoras, o número de praticantes, a falta de civismo e de fiscalização, tudo contribuiu a pouco e pouco ou a muito e muito, como se queira, para o seu extermínio.
O designado ordenamento da actividade cinegética, mais não retrata do que a incapacidade para trazer de volta, os perdidos tempos de prazer desta prática, a que não chamo desportiva, mas de contacto com a natureza e de combate ao marasmo da vida quotidiana.
Também ela não tem escapatória!
Porque caçar é muito mais do que ter caça para atirar e matar. Não se faz isso no quintal! Não é ordenável!
(A continuar)

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domingo, maio 13, 2007

A Redescoberta da Linguagem do Marujo

Todas as profissões têm uma linguagem própria, ou, no mínimo, alguns termos característicos, que a distinguem das demais.
A linguagem do marinheiro é, eu diria, hermética. É, praticamente, um dialecto que não só o distingue, como o identifica.
Porquê assim tão diferente? Não sei bem, mas julgo que se trata de uma forma de selecção natural.
A vida a bordo dos navios, sobretudo os de vela, não era fácil de todo. Tanto assim, que começou por ser imposta.
Os navios não tinham grandes condições de habitabilidade.
Embora rodeados de água, não era fácil garantir água potável em quantidades necessárias e suficientes para a sua tripulação(guarnição).
A higiene a bordo não era das coisas mais importantes, tendo em conta a sobrevivência. Sobrevivência em termos de mar – tempestades, orientação – em termos de luta contra piratas e inimigos, em termos de doenças provocadas pelos alimentos ou sua escassez, pela contaminação da água, por parasitas e pestes.
As longas permanências no mar, nessas condições, originavam doenças do foro psicológico, que terminavam muitas vezes em lutas e mortes a bordo.
Com mau tempo havia que chamar as coisas pelos nomes, para que não houvesse enganos funestos.
A aprendizagem era longa e severa. A linguagem acompanhava-a, indicando claramente o nível em que o aprendiz se encontrava.
Os sinais de apito acompanhavam muitas vezes as ordens verbais por se fazerem ouvir melhor, sobretudo em navios grandes ou em situações de tormenta.
Os cabos (cordas) a bordo, a navegar, tinham mais valor do que o oiro que para nada serviria, se o navio não chegasse a bom porto.
Cada um recebia designações diferenciadas de acordo com o uso que lhe era dado. Só aí, a linguagem do marujo enriqueceu o dicionário linguístico com um sem número de nomes.
Só para que conste e enfatizando esta última afirmação, apresentam-se a seguir algumas designações de gacheta, que é um entrançado de cabo, com várias aplicações a bordo:
- coberta, de cus- de- porco, de duas faces ou fluvial, de espinha, de impunidouro ou cadeia de impunidouro, de meia cana, de meias voltas, de nós direitos, de nós tortos, de nove, de nozinhos, de pato ou cadeia dobrada (francesa dobrada), de quatro faces, de rabo de raposa, de rabo de cavalo, de quatro faces dum cordão ou quadrada, de tear, de três faces, de volta da ribeira, espalmada ou simples de quatro, francesa, plana inglesa, plana ordinária ou portuguesa, prismática, redonda, rectangular, Sagres, e simples de três. (In Linguagem do marinheiro do C.te Marques Esparteiro)
Não sei qual a necessidade duma tão grande variedade de nomes, de que hoje só a memória resta para muitos deles.
Mas é isso, resta a memória, coisa que vai faltando para a maioria do que hoje se fabrica, se faz e, sobretudo, se promete.
O vento já não faz andar navios, antes lhes retarda a marcha.
Mas nada abranda os ventos da História.

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sábado, maio 12, 2007

Ele chamava-se assim...

Este postal é dos Açores, nos finais dos anos sessenta, em que se ouvia na rádio e se dançava no Solar da Graça música dos BeeGees, do Adamo, dos Beatles. O Twist e o Hully Gully estavam no fim e o Shake arrancava em força.
Casado, embora geograficamente solteiro, tinha algumas dificuldades de relacionamento com a juventude da terra.
Era, pois, complicada a vida para um jovem segundo tenente.
Frequentava um café muito na moda, o Gil, onde se juntava todo o pessoal mais jovem, durante as tardes de chuva e vento, do interminável Inverno açoreano.
Foi lá, que travei conhecimento com dois continentais, como eram designados todos os não indígenas, um deles que trabalhava no Emissor Regional da Emissora Nacional e o outro que ali cumpria o serviço militar, como furriel miliciano.
Eram bons companheiros e, sobretudo, abriram-me as portas, até então fechadas, da sociedade feminina local, com quem mantinham um bom relacionamento.
A partir daí tive a vida facilitada, integrando um grupo de gente jovem, bem para a frente nesta época e neste lugar.
Iniciei aquilo que já designei, neste blogue, como os meus tempos loucos dos Açores.
O nosso amigo furriel miliciano, era um característico alfacinha de gema, com a verbeagem e os trejeitos próprios. Tratava-me com uma cerimónia desajustada à situação vivida e procurava mostrar publicamente que o honrava a minha companhia, o que me incomodava sobremaneira.
Era jogador de futebol dum clube inscrito na distrital de Lisboa e usava marrafa ao meio.
À paisana, vestia calças de boca de sino, camisa com grandes virados ao bom estilo Elvispresliano e calçava sapato afiambrado.
Parafraseando o refrão duma música em voga, do designado nacional cançonetismo, antecessor da actual música pimba, dizia ele que o seu nome era Josef com efe no fim.
Tinha alguma saída com as garotas e não deixava nunca de referir que era meu amigo, facto que lhe devia granjear alguma credibilidade no meio.
Um dia, estou no navio e vem o cabo de quarto dizer-me que estava ali um senhor, que queria falar comigo.
O senhor entrou no meu gabinete e disse-me que desejava colher algumas informações sobre o nosso amigo Josef, com efe no fim, pois que, namorando ele uma filha sua, me tinha indicado como seu amigo de longa data, que podia muito bem atestar da sua condição de pessoa íntegra e da seriedade dos seus propósitos.
Respirei fundo três vezes, disse ao senhor que, tanto quanto o conhecia, me parecia uma boa aposta da sua filha.
O homem saiu encantado e eu fiquei em completo desespero de causa, porque sabia de antemão o que esperava a moça em questão.
Durante uma semana não lhe pus a vista em cima. Fugia de mim como de gato a bofe. Quando finalmente nos confrontámos, agarrou-me no braço e abanou-o obrigando a minha mão desprevenida a dar-lhe uma bofetada com alguma força.
À segunda vez, já com a minha mão prevenida, andou uma semana de cara à banda.

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quarta-feira, maio 09, 2007

Expressão Curiosa

Existem expressões curiosas que definem de forma clara algumas situações, embora com termos que não são os normalmente utilizados.
Uma filha minha, referindo-se a uma dor que tinha no globo ocular, dizia que era dor de nódoa negra.
Outra expressão que se ouve com alguma frequência é ter a boca a saber a papéis de música.
Duvido que alguém conheça o sabor da pauta musical dos nocturnos de Chopin, ou duma ópera de Wagner.
Talvez seja exactamente essa a razão da expressão. Ninguém sabe definir bem o modo como as suas papilas gustativas expressam os sabores, depois duma noitada de copos.
Olhar vazio, é também uma forma de definir a vacuidade de interesses do mundo que rodeia o seu portador.
Estar vidrado em alguém ou nalguma coisa, dá ideia da fragilidade em que a pessoa se encontra em relação ao objecto do seu afecto.
Há outro tipo de referências que têm que ver com ideias feitas que todos temos sobre determinados lugares, ou determinadas pessoas.
Surgem assim designações como a árvore das patacas, significando dinheiros fáceis, relacionados com Macau, onde a moeda corrente era e julgo que ainda continua a ser, a pataca.
Não percebo bem porquê, pois estive em Macau quatro longos anos e as patacas que lá ganhei, mal chegaram para cobrir as despesas.
Ainda ligadas a Macau aparecem expressões como dar ar ao passarinho, de cariz brejeiro, embora naquela terra dar ar ao passarinho esteja directamente relacionada com o dito, levado a passear em gaiolas por jardins ou outros locais arejados, e raspas de corno, esta relacionada com uma prática terapêutica chinesa para tratar a impotência sexual masculina, significando coisa nenhuma. Estas fazem sentido.
Todo este tipo de enfeites linguísticos representando, embora, lugares comuns, dá à conversa escrita ou falada uma precisão que raramente se consegue sem o seu recurso.
Falar, falar e não dizer nada, foi exactamente o que hoje aqui aconteceu.
Uma expressão curiosa.

terça-feira, maio 08, 2007

A Borrasca

Sentia-se ao longe um permanente troar, como um bombardeamento ininterrupto.
Foi-se aproximando como uma música em crescendo, o dia transformado em noite, as grossas pingas de chuva agredindo a terra agradecida.
Acabara de guardar a gaiola com a rola turca, protegendo-a da intempérie anunciada.
A chuva caiu em torrentes, lavando o empedrado, invadindo as salas mais expostas por baixo das portas e janelas.
Lá fora, os relâmpagos tracejavam os ares enegrecidos e os trovões ribombavam quase de seguida, anunciando trovoada em cima. O cheiro do oxigénio cindido em ozono, fez-se sentir.
Já nada segurava a água, que tomou conta de canteiros de flores do jardim, arrasou os alçados da horta onde se empoleiravam batatas, couves, alfaces, tomateiros e pimenteiros, tudo transformando em regueiras transbordantes.
Mas não bastava a chuva, veio o granizo, primeiro como bagos de chumbo lançado contra alvos indefinidos, depois como bagas de azevinho, por fim como ovos de codorniz ou amêndoas de Páscoa tardia, contra tudo o que teimava em manter-se de pé.
As favas e ervilhas tombaram feridas de morte, para logo se seguirem as batateiras, o cebolo recém plantado, as videiras que mostravam as suas promessas de cachos.











Num instante, com duração de pesadelo, tudo se esboroou, em mil pedaços cortado, em desilusão instalada.
Não é o prejuízo, que já era bastante, é ver morrer o que foi semeado ou plantado com carinho, o que prometia beleza ou fruto e se transformou de novo em espera e incerteza.
Os desígnios da natureza uma vez mais se cumpriram.
Não vale a pena chorar no molhado.

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domingo, maio 06, 2007

Linguagem Perdida do "Marujo"

Massame
Todas as cordas de bordo se chamam cabos excepto a do sino, a dos cronómetros e a do acorda que são horas.
O conjunto de todos os cabos de bordo constitui o massame.
Cocha do cabo é o intervalo entre os cordões que o constituem, podendo ser direita ou esquerda, segundo o sentido em que foi feita a sua torção.
Descochar constitui a operação inversa de cochar ou torcer.
As cocas de um cabo são as torções do cabo, em sentido contrário ao da cocha.
Desbolinar um cabo é eliminar-lhe as cocas.
Cabos de laborar são os destinados a dar movimento à mastreação, vergame e velame.
Cabos de cabeça e cadeira são os usados para amarrar uma embarcação de proa e popa.
Cabos das pinhas eram cabos estendidos ao longo do costado de um bordo e do outro, junto à linha de água, utilizados para amarrar as embarcações ao navio.
Cabo sangrado é o cabo ferido, inadvertidamente, nos cordões.
Aguentar o socairo é aguentar o cabo com volta, enquanto se ala à lupa, isto é, se puxa o cabo aos sacões.
Colher um cabo é enrolá-lo em aduchas, isto é, em voltas circulares sobrepostas e sucessivas, formando, quando colhido, um pandeiro.
Colhido o cabo, sobra-se o pandeiro, para ficar o seio do cabo para cima, pronto a servir.

In Linguagem do marinheiro (C.te marques Esparteiro)

Inhaca

Em 1993 integrei uma equipa técnica que se deslocou a Moçambique para avaliar as condições de laboração e sobrevivência económica duma empresa de transportes marítimos de passageiros e carga, que operava nos portos de Maputo, Inhambane, Beira e Quelimane.
Essa deslocação confrontou-me com a memória que eu tinha de anos passados naquelas paragens, com outros propósitos, com outras gentes, com outra realidade.
Foi-me dada a possibilidade de retornar à Ilha da Inhaca, à entrada da barra de Maputo, antes Lourenço Marques, fazendo a viagem numa embarcação da tal empresa a auditar.
Foi muito curioso.
A viagem foi longa, apesar da embarcação andar bem. O custo da viagem para a empresa, era elevado dado o pequeno número de passageiros a transportar. Não podia praticar tarifários adequados, sob o risco de não ter passageiros, tendo optado por preços dos bilhetes quase simbólicos.
Era o custo social.
Na Inhaca, não havia pontão para atracação de embarcações com o calado daquela, sendo a mesma obrigada a ficar fundeada a cerca de 150 metros da praia, onde existia uma pequena plataforma assente sobre bidons vazios, que flutuava ou não consoante as marés, onde podiam atracar embarcações a remos ou com motor fora de borda, sem quilha. Assim que fundeámos, mais duma dúzia dessas pequenas embarcações se aproximaram, negociando com os passageiros o preço para os porem em terra. Nalguns casos, o preço a pagar triplicou o preço pago à empresa transportadora que nos trouxera do Maputo e, como foi o caso, fui despejado a cerca de 20 metros do areal, fazendo o resto do percurso com água pelo joelho e com a trouxa às costas.
A Inhaca é um espectáculo de colorido humano e paisagístico.
A água duma transparência total, com os cambiantes que os corais e o reflexo da vegetação lhe emprestam.
Uma empresa sulafricana explorava uma instalação hoteleira de reduzida dimensão, fazendo transportar os turistas, na maioria da sua nacionalidade, em helicópteros, de e para o Maputo.
Na redescoberta, ficou a certeza do futuro turístico da Ilha e a incerteza da operação da embarcação em que nos fizemos deslocar para lá.
O nosso compatriota Pestana, descobriu lá o Paraíso.
Não sei como hoje é feito o transporte, mas que merece uma visita, isso merece!
Na impossibilidade de o fazerem doutra forma, façam-na como eu aqui

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sexta-feira, maio 04, 2007

Ponto Carteado, por rectas de direcção e velocidade

Há muitos anos, na distante mas sempre próxima terra africana de Moçambique, era vê-los em Lourenço Marques e na Beira, a passear, na praia, nos hotéis e nas boites, a divertirem-se, a dançar, nos copos, a curtir a idade e a reforma, como ouse dizer-se hoje. Eram os “Bifes” da Àfrica do Sul e da Rodésia.
Os tais do Mapa Cor-de-Rosa mais os Boers.
Que, já nessa altura,tinham direito a desfrutar de uma velhice despreocupada e “feliz”.
E nós assistíamos, naquela época, com um misto de incompreensão e vergonha, pelas posturas por eles assumidas, pela alegria que só reconhecíamos, verdadeira e própria, na juventude.
Não tínhamos inveja porque, culturalmente, nos tinham incutido a imagem dum velhinho sentado nos bancos de pedra das aldeias ou nos bancos dos jardins das cidades, a jogar dominó ou a dar miolos de pão duro aos pombos.
Hoje, a cultura liberal/consumista dominante enfia os velhos em asilos a que chamam lares, não lhes dando hipótese de beneficiar dos seus muitos anos de trabalho produtivo em favor da comunidade, ali os enterrando vivos.
Os tempos mudaram, mas não para os nossos velhos. O prolongar da vida por uma melhor assistência na doença, apesar de tudo, não corresponde a uma velhice mais calma e desassombrada.
Os patrões começam por não os querer a trabalhar, mais cedo do que seria desejável. A Segurança Social quere-os a descontar, mais tempo do que seria justo, os filhos não os querem em casa, mesmo ajudando, porque ocupam espaço, porque cheiram mal, porque têm vergonha deles, porque qualquer coisa.
As relações de amor são sempre mais vigorosas e arrebatadas do que as outras.
Em termos náuticos, o”Quartinho” e o “Quarto da Prima”, devendo ser os mais serenos e simpáticos, acabam por ser os mais dolorosos e difíceis.
Só lhes resta esquecer-se que existem e esperar que o próximo porto lhes não seja tão penoso quanto este.
O Sol de Inverno brilha, mas não aquece.

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quinta-feira, maio 03, 2007

A Pluma Doirada

Um amigo meu, homem de muitas e bonitas letras, reconhecido pelas estórias com que brinda, há alguns tempos a esta parte, os leitores de alguns jornais regionais alentejanos(Aqui), costuma dizer que há imensa gente a escrever bem por essa blogosfera fora. Acredito. Também já tenho constatado.
Não pode isso, porém, fazer com que as pessoas desistam do seu projecto pessoal de se encantar a si mesmo e aos outros com o seu verbo fácil e fecundo de imagens e emoções, que transportam como uma doença.
É bom que acalentem a esperança da descoberta. Que deixem a fantasia transpor o portal do recolhimento e recato. As suas memórias, as suas experiências, as suas estórias, o seu verso, deve ser espargido, como de água benta ou perfume se tratasse. Mesmo que escondido no recôndito das prateleiras e estantes de livrarias e bibliotecas, mas tendo conhecido o esplendor solsticial da lombada de papelão ou carneira, como timbre pessoal de talento reconhecido.
O livro pode ser negócio, mas é também remédio e alento. É palco de paixões e ódios, de enredos e artimanhas, de ternuras e desejos, de lutas e de paz.
De desassossego.
Eu, escrevo na água. Para que a prosa me lave. Para que corra para o mar, numa torrente imensa, que a todos inunde de limpidez. Para que por fim se afunde no negro do abismo ou se espraie no branco doirado do sol.

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quarta-feira, maio 02, 2007

Linguagem Perdida do "Marujo"

Mastreação

Cada mastro compõe-se de mastro real, mastaréu de gávea e mastaréu de joanete
Um mastro real compõe-se de com mecha para a carlinga, romã para curvatões e vaus reais, calcês e mecha para a pega real
Gurupés - Mastro que sai pela proa do navio, prolongado pelos paus da bujarrona e da giba
Arrufamento - A inclinação do gurupés em relação à horizontal
Vergas - São peças do arvoredo, cruzadas nos mastros e mastaréus, para receber as velas
Arvoredo - Conjunto de mastros e vergas

In Linguagem do Marinheiro (C.te Marques Esparteiro)

terça-feira, maio 01, 2007

Carteira de Desemprego

Tão importante como ter uma carteira de títulos bem gerida é para os patrões e de certa maneira para os governos, ter uma carteira de desempregados ou de trabalhadores estrangeiros, ou ainda de trabalhadores com contratos a termo, “adequada às necessidades” de boicotar a acção dos sindicatos, retirando-lhe força e capacidade de mobilização.
É incrível como no Portugal saído da Revolução dos Cravos, se mantêm trabalhadores, nacionais e estrangeiros, sem vínculo, sem assistência social ou de saúde, sem seguro, sem garantia de mínimas condições de higiene e segurança no trabalho e com salários muito abaixo dos pagos a trabalhadores cobertos por contratações colectivas de trabalho ou acordos de empresa.
Muitos são sujeitos a condições verdadeiramente incríveis, no que respeita a alojamento e alimentação.
Inconcebível como por parte de membros do Governo, dito socialista, se faz propaganda aos baixos salários praticados para captar investimentos. Que investimentos? Que investidores? Que Governo?
Não sei o que as Centrais Sindicais disseram hoje aos seus associados, nem que promessas de lhes defenderem os interesses, fizeram!
Mas era bom que as cumprissem!
Era bom que a solidariedade social não fosse palavra vã!
Era bom que Maio fizesse cumprir Abril!
Como seria bom que se gerisse uma carteira de emprego, em vez de uma carteira de desemprego!

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