quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Dos Fantasmas da Escrita e da Palavra

Esta imagem foi retirada deste site
Durante anos estive esquecido que as palavras servem para outras coisas que não somente para fazer relatórios, estudos, redigir processos disciplinares, elaborar programas e projectos, estabelecer planeamentos e orçamentos.
Que não servem apenas para punir ou para louvar.
Que não servem apenas para suportar a necessidade de comunicação utilitária, mas também para expressar sentimentos, emoções, estados de alma, coisas que os pintores colocam nas telas, que os músicos transportam para as pautas com sustenidos e bemóis.
Coisas que não se vêem, que não se ouvem, que se não tangem, mas que se expressam assim! Num suporte físico como a palavra escrita ou falada.
Que tanto servem para as endereçarmos aos outros como a nós próprios.
Que como um corpo vivo, se alimentam e se depuram.
Que se constroem e se desmoronam.
Que tanto agridem como acariciam, que tanto gritam como sussurram, que protestam e aplaudem, que mordem e sangram da dentada.
A palavra que nos pesa cá dentro e que, quando sai, se evola imponderável.
A palavra que nos arde cá dentro e que, quando sai, a todos congela.
A palavra que nos dói cá dentro e que nunca sai.
A palavra do nada que em nós existe.
A redescoberta da palavra!

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Ponto ao Crepúsculo Vespertino

A Democracia mede-se, essencialmente, por dois indicadores. O acesso à Saúde e o acesso à Justiça.
São dois direitos, que só por si decidem um pouco de todos os outros que consideramos direitos fundamentais.
Como vão eles neste País? Os recentes ataques à saúde um pouco compensados pela melhoria nalguns aspectos relativamente à justiça. Mas ambos preocupantemente deficitários.
Os salários e as pensões muito baixas eram de algum modo equilibrados com os gastos pequenos da saúde. Hoje, com as taxas moderadoras, com os cortes nas comparticipações medicamentosas e a necessidade de deslocações maiores para aceder em tempo útil aos cuidados de saúde primários e de urgência, as coisas complicaram-se substancialmente, sobretudo para aqueles para quem a vida já não era pêra doce.
Continua a assistir-se a uma impunidade manifesta para crimes económicos e de fugas ao fisco, obrigando à sobrecarga fiscal indirecta, cega e abjecta em termos sociais, para compensar a incapacidade de atacar os verdadeiros criminosos de colarinho branco. Abre-se a economia aos predadores que, logo que se sentem ameaçados nos seus interesses, chantageiam com deslocalizações ou pura e simplesmente declaram falências fraudulentas, perante a incapacidade da justiça em lhe tolher o passo e os intentos.
Ao lerem-se os tópicos dos jornais de maior circulação e credibilidade, diariamente, deparamo-nos com manchetes que atestam muitos dos pontos referidos.
A Justiça só é efectiva, quando é célere, senão torna-se ela própria uma fonte de desigualdades e de injustiça.
A Saúde só serve os cidadãos quando lhe é próxima, eficaz e humanizada. De contrário, torna-se discriminatória, quando não assassina.
O Sol hoje escondeu-se entre nuvens,sem horizonte de contornos bem definidos,não permitindo observar as estrelas.
Mantém-se, assim, a rota estimada, com tristeza e sobressaltos.

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domingo, fevereiro 25, 2007

As Bósnias dos Militares

Hoje num noticiário, a propósito da saída próxima das tropas portuguesas da Bósnia, o repórter em campo, entrevistava um bósnio, que aprendeu Português com os militares portugueses e que servia de intérprete destes junto da população.
Na conversa, ficou o registo de que alguns portugueses se casaram com mulheres bósnias, num relacionamento, que o repórter se fartou de frisar de exemplar, com a concordância do já referido intérprete.
Adiante na conversa com o bósnio, mais em monólogo que em diálogo, acrescentaria o repórter que a saída dos portugueses daquele território, era vista com alguma preocupação pela população, a que não seria estranho o facto de se perderem cerca de quarenta postos de trabalho, aliada também à questão da Bósnia ter um défice acentuado de homens por causa da guerra e da matança que por lá ocorreu.
Agora sim! Agora percebo-te! Tanta conversa para dizeres que os galãs portugueses despedaçaram por lá corações em barda!
Até me apeteceu ir a correr oferecer-me para a Bósnia!
Mas depois lembrei-me da anedota e” ‘tá queto”! Não é que a minha mulher poderia querer ir ver o que é que eu lá ia fazer?!
As vergonhas devem ficar em família!
Brincar, como vêem, não custa! O que custa é brincar muitas vezes!

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Tecla Branca

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Julgo que dá para entender porque prefiro bolinar de sequeiro, não dá?

sábado, fevereiro 24, 2007

Venham Mais Cinco

Não gosto das sextas –feiras. Lembram-me as de Paixão! Gosto mais dos sábados. Lembram-me os de Aleluia! - Zeca?....Presente! Sempre presente!

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Pandemia ou Pandemónio

Ontem estive a ver um programa na RTP2 sobre as consequências duma eventual pandemia do vírus H5N1. O único problema que parece colocar-se é quando começará, porque já ninguém tem dúvidas de que irá acontecer mesmo.
De facto, só se espera que, numa primeira fase da doença, possam morrer entre 130 e 150 milhões de pessoas. Coisa pouca, se comparada com o raio da Terra!
A doença terá depois tendência a tornar-se mais infecciosa e menos mortal. Que bom! Sobretudo se eu, os meus familiares e amigos já tivermos morrido todos devido a esses malditos galináceos, que já nos andavam a matar de muitas formas, mas devagarinho.
No princípio do Século passado, foi a Pneumónica, que fez uma razia pela Europa e que terá tido a sua origem num vírus aviário.
Depois, foram as “hormonas do Freixial”, que nos foram tirando as poucas “alegrias de vida”, a que ainda tínhamos direito.
Ultimamente é a porra dos antibióticos usados para prevenir e tratar as doenças dos frangos, que nos vão criando resistências, tornando-nos vulneráveis a imensas bactérias.
Não chegavam estas e os sacanas dos frangos viraram-se outra vez para os vírus. Razão tinha o meu filho da escola, o RR, quando se negava a engolir o que quer que fosse de gado de bico.
Mesmo assim, naturalmente não se safa!
Mas, vistas as coisas pela óptica do nosso Governo, até que nem tudo é mau! É muito possível que a Caixa de Aposentações possa finalmente equilibrar a balança, já que não haverá muita a gente a quem tenha que vir a pagar pensões.
Vejam lá se comem os frangos todos, antes que eles nos acabem por comer a nós!

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Brincas e dichotes em tempos de ressaca

Aproveitando uma "brinca" sobre um post num blogue de um amigo, a que recomendo uma visita

Mais nua que vestida
Assim vai a mulher séria
Alternando a sua vida
Com a vida da galdéria


O político de gravata
Do alto do pedestal
Não ata nem desata
O qu’está bem, não‘stá mal

O palhaço vai à frente
De mil cores trajado
Ri-se para toda a gente
Para trás e para o lado

O cortejo não tem meio
Nem princípio nem fim
Porque tudo é muito feio
E também muito ruim

Carnaval é mesmo assim
Cada um vai como pode
De columbina ou arlequim
De cornos ou com capote

O bêbado tropeça e cai
Sem um grito nem lamento
Será que ele também vai
Dissolver o Parlamento

Ouve-se um grito estridente
Que o Rei Momo vai nu
Com uma mão à frente
E outra a tapar-lhe o ..

Fim de festa e das brincas
Com tudo já acabado
Não o cheiras nem o trincas
Qu’o nabo foi hoje enterrado

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terça-feira, fevereiro 20, 2007

E o Carnaval continua!...

Imagem retirada daqui
Pensei eu que a época carnavalesca era para dar folga ao Rei Momo, tão solicitado tem sido o ano todo, mas não!
Continua o Carnaval e promete ser ainda mais forte este ano, pelo menos lá para as bandas da Madeira!
Não vou queimar muito mais linhas deste blogue, que quero divertido e verdadeiramente carnavalesco, com coisas de outros Carnavais, bolorentas e com cheirinho a Santa Comba!
Vai daí, vou falar do meu Carnaval! O capitalismo tem destas coisas! A gente quer e a gente pode!
Tinha eu dito que, ou o Carnaval vinha ter comigo, ou pura e simplesmente não havia para mim Carnaval!
Então não é que o Chifrudo tem ouvidos e me aparece diante da porta, com tambores e apitos, sem que fosse convidado?!
Em dia de funeral antecipado do Nabo, entrou-me o cortejo fúnebre portas adentro, rezando missa perante altar de oferendas.
A bênção foi bem regada com Courela das Rosas 2006, a pedir um conduto rodelado de paínho de porco preto e fatiado de queijo de ovelha curado, acompanhado do magnífico pão azedo de trigo puro.
Acabado o frugal repasto, encomendada a alma do finado pecador, seguiu o cortejo o seu destino de morte antecipada dos nabos deste País e do Carnaval em que temos vivido!

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

...Da Silva

Já desconfiava, mas agora tive a certeza! Bacalhau e samba andam de braço dado e com razão.
Depois de abanar a “bundjinha” três dias e três noites, como se pode ficar, senão seco e teso que nem um bacalhau?
Para já não falar do cheiro, é claro!
Uma das escolas de samba, que vai desfilar no Sambódromo do Rio, tem como tema o Sal e o Bacalhau. Perfeitamente ligados, na vida e na morte, como nas promessas de casamento. Diria, que é mais uma ligação de facto.
De facto, quem poderá usar bacalhau sem primeiro o demolhar? Há que tirar-lhe o sal quanto baste, para que o paladar não fique assim tão alterado. Mas há quem goste de caras e rabinhos de bacalhau bem salgadjinhos, né?
No Alentejo havia quem fizesse uma açorda só com a sombra do rabinho de bacalhau! Bons tempos, não eram? Não porque a gente gostasse do que então fazia e como fazia, mas apenas porque era jovem.
Mas também a notícia chega do Rio e também não parece novidade! Os brasileiros são dos maiores consumidores de bacalhau do Mundo! Quem não sabia isto? E comem-no de todas as maneiras até das que, nós Portugas, lhes ensinámos – à Braise, à do tal de Gomez dji Sá e um que não conheço de todo e que foi novidade “Bacalhauzinho da Silva”.
Morô malandro?

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domingo, fevereiro 18, 2007

Julgo que dá para entender porque prefiro bolinar no Alentejo, não dá?

sábado, fevereiro 17, 2007

Tecla Preta

E o Lambão adormeceu...

A propósito duma referência feita num artigo publicado por um amigo num periódico regional, onde faz crónicas frequentes, de uma acutilância e sarcasmo inimitáveis, lembrei-me de uma cena passada a bordo da Sagres numa viagem de instrução de cadetes.
A referência a que aludi e passo a citar - “Deixe de lamber os dedos quando dá as cartas!” – fazia nota à prática corrente ao dar as cartas na bisca lambida ou na sueca, por parte de uma boa parte dos jogadores destas modalidades, muito ligadas à ruralidade e a estratos sociais menos favorecidos.
E isso devia-se, essencialmente, ao muito uso que as cartas tinham, que dificultavam o deslizar umas sobre as outras para a contagem correcta. Impunham portanto uma forma de colagem do dedo à carta, conseguida através do cuspinho no dito antes de cada contagem, de dez, no caso da sueca.
Mais cuspo...mais cola, num nunca mais acabar, a não ser quando as pintas nelas se não adivinhavam já.
Pois bem, dada a explicação prévia da referência, tentarei passar à estória que me propuz transpor para este fórum, relacionada com uma magnífica viagem no Navio Escola Sagres, já lá vão uns anitos passados.
Viagem longa à vela, nem sempre à bolina como este blogue poderia sugerir. As calmas tropicais, a necessidade de entreter trezentos jovens a bordo, sem “boites” (leia-se discotecas), sem televisão, sem videogames (leia-se jogos de vídeo), sem salões de 1ª classe com variedades, sem salas de cinema nem tão pouco uma máquina de projectar, mas com um Capelão Militar a bordo, esforçado e directamente importado duma aldeia qualquer serrana, onde lamber quereria dizer comer tudo e não apenas deitar algum cuspo no dedo para dar cartas.
À falta de melhor, aos domingos, depois da missa campal que não deixava de ministrar, organizava jogos entre cadetes e membros da guarnição do navio, mais tarde imitados pelos Jogos Sem Fronteiras, como corridas de sacos, corridas com uma batata na colher, divertidos devido ao balanço do navio que dificultava os participantes. Outros havia de que já não tenho memória. Nas noites serenas, sem vento nem balanço, o nosso amigo capelão arranjava sessões de slides, com historietas tiradas das colecções da Disney ou das aulas de catequese da paróquia onde certamente seria um padre cura de mão cheia, que legendava com voz sonante, a que não faltava o “xibilar” de origem.
Mas a bordo da Sagres, com um carrego de trezentos jovens oriundos na sua maioria de grandes centros urbanos, alguns de cultura acima da média, com malandrice que chegava para carregar um TIR, falar da história dos três porquinhos e do Lobo Lambão (leia-se que tudo comia)?
- Tenha paciência Capelão!
- Caia na real, bom homem de Deus!
- Devia ter passado era uns slides de gajas nuas, com ou sem lambão!

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Julgo que dá para entender porque prefiro bolinar em terra, não dá?

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Vai a cima....vai a baixo!

Tem chovido bastante. Não há aparentemente relação entre o que dizem e o que se está passando em termos de precipitação.
Pode não ser a quantidade ideal, mas não deve andar muito longe.
Sobretudo tem sido uma água bem caída. As terras têm-na tragado suavemente como quem saboreia um bom vinho. A paisagem robustece-se de verde. Nas baixas já aparecem os malmequeres brancos, sintoma de que a água ali se queda, há já algum tempo.
As pequenas charcas já estão cheias e as barragens começam a atingir bons níveis. Mais uns dias assim e o gado tem comida garantida pela estiagem fora.
A vida alada já se agita em bandos numerosos, sintoma de que as coisas lhe correm de feição. Os melros residentes já se perseguem em jogos de amor primaveril antecipados. Os criadouros já verdejam com as novas plantas à espera de oportunidade para o transplante.
A Natureza debate-se desesperada contra a cegueira e surdez humanas.
É a ela que hoje brindo! Estou solidário com a sua luta que também devia ser a nossa!
Vai a cima… bota abaixo!

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Bolinando por outros blogues

De vez em quando faço umas digressões bloguistas,que me deixam maravilhado com o muito e bem que se escreve e pensa por esta blogosfera fora.
Uma das minhas últimas descobertas foi um blogue escrito em dialeto alentejanês puro com sonoridade e tonalidade jenuínas, a que não falta o paladar dos co...entros políticos, tão ao jeito da açorda que o Diabo amassou por estas terras, ao longo dos anos.
Recomendo vivamente, um saltinho a este blogue para descomprimir.
Se não entenderem o dialecto, eu traduzo.
Hoje faz-se eco do discurso dum embaixador mexicano, a propósito da dívida do seu País ao velho continente, publicado num periódico do Recife, em 2002, mas que mantém toda a actualidade.
E mais não digo! Deixo-vos crescer água na boca, para um prato que se deve degustar enquanto quente, para não enregelar o céu da boca, bem regado com um tinto da região, que recomendo da Courela das Rosas, 2006.

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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Ser do Benfica....

Não é fácil ser-se do Benfica! Chiça!
É sofrer até mais não! Um verdadeiro desespero! Eu que pensava que já estava vacinado…
Qual quê?!
Ele é o Rui Costa….
Ele é o amelinha do Nuno Gomes…
Ele é o barata tonta do Nelson…
Os matraquilhos do Léo, do Karagounis, de certa maneira do Micolli e do Simão ainda foram os mais ousados.
A falta de confiança da equipa é notória e sobretudo a “juventude” de grande parte daquela rapaziada não ajuda muito.
Não sei se alguém espera alguma coisa deste balneário…incluindo o treinador - penso eu de que!
Não queiram meter a equipa de juniores a substituir alguns daqueles pequenos e qualquer dia as receitas não chegam para pagar as fraldas de incontinência…

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

O que gostaria de ser, se fosse pequeno...

Não tenho dúvida que gostaria de ter uma profissão ligada à música. Não sei se intérprete, instrumentista, compositor, maestro ou simples DJ. Radialista ou produtor de espectáculos musicais.
Acho que a música é uma bênção caída dos Céus entre cânticos gregorianos e "gospel".
A música moveu-se das vozes para os instrumentos e passeou-se entre cordas e metais, entre”pianíssimo e allegro”, largando os mosteiros, lugares de culto e salões selectos para se aventurar pelas ruas, travessas e becos, entre suaves balanços, batuques e ritmos frenéticos.
Acertou o passo aos militares em marchas heróicas e descompassou o coração de jovens apaixonados.
Cantou a dor e a liberdade. Soletrou a exclusão e gritou a supremacia.
Inspirou poetas e escritores, deleitou artistas e encantou cobras.
Também nos embalou no colo maternal.
Muito do que hoje somos o devemos à música que nos habituámos a ouvir, aos tangos que dançámos, ao samba que nunca soubemos dançar e ao fado que nos obrigaram a gostar e.....a viver!

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

E foi aqui...

Esta imagem foi retirada daqui
E foi aqui, no designado Banco Gorringe, que a coisa se deu!
Portugal "tremeu de coragem" a pensar no Marquês de Pombal, não por aquilo que ele foi, mas mais por aquilo que ele fez. E fez muito!
Fez a baixa lisboeta destruída pelo Terramoto. O tal! Aquele em que toda a gente pensa, mal a terra treme!
Como aquele, em que muita gente pensa, quando as coisas da política não estão de feição! Não, não é esse! Esse está morto e bem enterrado!
O outro, o do nevoeiro!

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domingo, fevereiro 11, 2007

Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma

As incongruências do ser civilizado, democrata, ímpio, moderno numa palavra.
Ter a expectativa de vida aumentada com os avanços da ciência, dos conhecimentos médicos e das novas tecnologias postas ao seu serviço. Se não for aqui, no estrangeiro, que é já ali ao lado, numa viagem de horas por avião, nesta aldeia global.
O acesso a esses meios está, no entanto, cada vez mais complicado, com a falta de emprego, consequente falta de dinheiro, com o envelhecimento generalizado da população, com as despesas da saúde cada dia mais elevadas e os recursos financeiros resultantes das comparticipações da população activa menores. Logo, a resposta do Serviço Nacional de Saúde, que disso só tem o nome, ser cada vez mais pequena e estou em crer, que muito em breve será nenhuma.
Convenhamos que não será fácil gerir este drama.
Logo a expectativa de uma vida mais longa, perdeu-se.
Outra incongruência resulta do facto de sermos diariamente bombardeados com radiações dos ex-libris da nossa modernidade – televisores, telemóveis, computadores, microondas, para falar só dos mais generalizados, porque outros há de efeitos, porventura, mais nefastos, embora atingindo uma parte diminuta da população. Como consequência, imediata ou nem tanto, a infertilidade, a impotência masculina, a surdez, as arritmias cardíacas e outras sequelas, que fazem com que nos reproduzamos menos, com que tenhamos menos prazer nas relações que estabelecemos.
Não esgotando a panóplia de incongruências, não poderia deixar de referir aquela maravilha com que a indústria nos contempla e que se chama automóvel.
A velocidade a que nos deslocamos, poupa-nos imenso tempo nos transportes públicos que nos permite estar mais tempo com a família, que também tem o mesmo problema e que portanto também terá que dispor doutro carro para se deslocar. Para pagar este encargo acrescido há que arranjar um part time e lá se terá ido o tempo com a família. Além disso há dois seguros, duas revisões, etc, etc, etc. Os miúdos lá ficam entregues à ama, no jardim escola, na escola da rua. A melhoria de vida corre o risco de levar o casal ao divórcio, por discussões permanentes sobre o uso e abuso dos carros.
O sermos incrédulos permite-nos olhar a vida e a modernidade como um bouquet de oportunidades, onde não tem cabimento o escrúpulo, o remorso, a consciência pesada da moral ofendida. Pisar os outros na escalada passou a ser prática incrementada nas escolas, em que só “os fortes” sobrevivem. Não há lugar para os normais.
A democracia dá-nos,no entanto, a possibilidade de constituirmos uma minoria com voz activa, mas sem audiência.
Não importa se fazemos um médico interessado, humano, atento e de sentido prático. Há que garantir que aquele que tirou medicina está apto a ganhar o Prémio Nobel, mesmo que não saiba ou não queira curar uma gripe.
E lá vamos de sonho em sonho perdido, de pesadelo em pesadelo andando, no caminho mais longo para a alegria de viver, mas mais coerente com o que desejámos: viver de forma moderna como os outros, democrática à nossa maneira, stressada quanto baste e curta quanto possível, porque a vida tornou-se uma grande chatice e uma grande complicação.

Já não há espaço para sermos nós.

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sábado, fevereiro 10, 2007

Desculpa de Grumete

Al Gore veio dizer o que ninguém esperava ouvir dum americano, comprometido como todos os americanos no processo de aquecimento global do planeta azul, que terá decuplicado as quantidades de dióxido de carbono na atmosfera no último centénio, muito à custa da riqueza poluente americana.
Como é possível a pessoa directamente corresponsável pela não assinatura do Protocolo de Quioto por parte do país mais poluente do mundo, vir agora dar lições de comportamentos morais e de ética social perante as ameaças que se abatem sobre toda a humanidade?
A Marinha de Guerra tem uma designação para o tipo de desculpa, apresentada pelo Sr.Al Gore quando confrontado com a questão, “porque não foi o Acordo de Quioto assinado pelos Estados Unidos” a que terá respondido, que “apenas um senador deu o seu voto favorável” e que se chama desculpa de grumete.
Disse uma coisa que, não me espantando e que deve ser o que lhe é mais grato, poderá por nós ser ouvido como uma lição de quem sabe e está habituado a usar em benefício próprio esse conceito – em vez de chorarmos sobre o molhado, era bom que víssemos nesta crise, como em todas, uma oportunidade de negócio e de alterar o que está mal pela positiva.
Os governos, os empresários, os autarcas e toda a gente poderá ver nesta situação não apenas o seu lado negro, como nós portugueses costumamos, mas também aquele que nos aponta a saída com benefício.
Havia um amigo meu que costumava dizer que “a água é escassa e poluída e por isso só bebo vinho!

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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Praguejando no deserto anunciado

Deus a engrosse que é para amparo das minhocas!
Era assim que na minha juventude glosávamos a chuva que nos aprazia e que ainda hoje mexe comigo quando cai em quantidade.
Não é a mesma, a reacção dum açoreano ou dum minhoto, pois de chuva estão eles fartos!
Passei a manhã a desfrutar a chuva que caía copiosamente. O bater nas vidraças da janela faz sentir o conforto do resguardo e convida a pensar em coisa nenhuma.
Só existe outra situação que me aliena do mesmo jeito. A pesca. Não dá para pensar em mais nada. A espera da picada do peixe, deixa-nos numa expectativa que ocupa completamente o espírito.
É o tempo do nada.
As perspectivas em termos de futuro não são as melhores no que à quantidade de precipitação se refere.
Acho, no entanto, que existe um alarmismo excessivo, que esperemos não tenha efeitos contrários aos previstos.
Já se fala em regar os campos de golfe do Algarve com águas residuais, recicladas.
Pelas mesmas razões os jardins de S.Bento também deveriam sê-lo, porque as águas dali, recicladas, devem ser riquíssimas em compostos azotados, constituindo um adubo não sintetizado, natural, muito abundante naquela área.
Se o deserto avançar pelo Alentejo dentro, é bom que traga petróleo, já agora.
Camelos ….não obrigado!

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Ponto de Encontro com a Música

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Trabalhar a terra ou não a trabalhar, eis a questão!

Não é a primeira vez que me espanto durante este “Cursilho de AgroBio para jovens abaixo dos noventa anos” que frequento, integrado na Escola Sénior para o Mundo Rural, sob a égide da “Associação Monte” de Arraiolos.
Já tive oportunidade de o manifestar aqui (A História do Futuro contada em Alentejano) e uma vez mais me vou disso fazer arauto.
Sempre ouvi falar em trabalhar a terra, como o acto de a preparar para receber a sementeira ou o plantio, por forma a que germinação ou o desenvolvimento radicular das novas plantas se fizesse duma forma natural, sem interferência prejudicial de terceiros, entendendo-se estes como a erva daninha e a bicheza residente.
Havia também que facilitar o arejamento da terra através da cava ou da lavoura. A quebra da crosta produzida pela escorrência das águas pluviais, era também outro motivo destas práticas agrícolas, normalmente acompanhadas de estrumagem ou adubagem, já para não falar da aplicação de herbicidas, proibidos de todo em Agro Bio.
Pois bem. Tivemos ontem a presença de um cotado e prestigiado professor destas matérias, ligado à Universidade de Évora, que para espanto de todos (os jovens alunos, claro!), veio dizer que todos eles andaram uma vida inteira enganados a trabalhar a terra com charruas, arados ou com os equipamentos que normalmente são utilizados, mais modernamente, nos tractores e motocultivadores para virar, cortar e gradar.
A cobertura vegetal deve ser mantida para evitar a erosão pelas águas, para sustentar toda a vida subterrânea necessária ao arejamento natural e à transformação pela via biológica dos componentes químicos da terra, tornando-os naturalmente utilizáveis pelas plantas, neste caso, das culturas ali estabelecidas.
Não há o direito, nem é desejável em termos de equilíbrio ecológico, desalojar esta bicharada, que cava, aduba e é feliz!
Convenhamos que não é fácil aceitar estas coisas, assim do pé para a mão, que é como quem diz, da mão para a enxada.
Porra, dizia um deles! Tanto que eu suei toda a minha vida e para nada?!
Pois é! Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades!
Quem tem hoje em dia vontade de cavar? Só eu! Que assim que vejo uma enxada, cavo logo!
Fiquei preocupado com várias coisas. Primeiro, coitadinhos dos fabricantes e vendedores de alfaias agrícolas. Que vai esta gente fazer? Máquinas de costura? Depois, porque também me senti enganado com o slogan, em que sempre acreditei, de que a terra devia ser de quem a trabalha!
Percebo agora, porque Diabo não é!

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

D.Camilo e o seu diabólico Mundo

Um dos filmes que terá marcado uma época, baseado num livro deslumbrante e demolidor em sarcasmo, de Giovanni Guareschi, foi certamente Don Camilo.
Fernandel, na figura do padre-cura de aldeia, anticomunista primário, exacerbado opositor de Peppone, chefe local da célula comunista que, em tempo de guerra, também cometia os “seus pecados”, terá encarnado prodigiosamente a personagem de ficção.
Feio como o pecado, forte como um touro e inamovível nas suas convicções até mesmo quando interpelado pelo seu Patrono do alto da cruz sobre o Altar da Igreja, D.Camilo ressuscitou nesta peça romanesca, que se desenrola nos palcos portugueses, sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Este D.Camilo, com ou sem sotaina rota e desbotada, reclama também o direito de dar um pontapezinho no traseiro de cada cidadão ou cidadã que no próximo referendo se manifeste nas urnas pelo SIM, apesar da Conferência Episcopal Portuguesa, em Manifesto sobre esta temática, se ter declarado neutra no que ao processo jurídico-político concerne, remetendo-se para a posição assumida e divulgada de Jesus, ao perdoar os pecados da mulher adúltera.
Já não me lembro bem como acabam o livro e o filme, mas julgo que consigo imaginar o fim desta telenovela, quer este tombe para um lado quer tombe para o outro.
Os médicos que se mostram tão relutantes em matar formas embrionárias de vida, não são os mesmos que o fazem nas clínicas, onde se pagam balúrdios?
Podem não ser as mesmas caras, mas são as mesmas mentes, são regidos pelas mesmas normas ético-profissionais, os mesmos juramentos, os mesmos embustes!
Quantos doentes morrem por negligência médica? Quantos por erro de diagnóstico, ou por medicação inadequada?
A ética não é a mesma?
Quantos “crimes de aborto” tiveram, em confissão, o perdão de padres que hoje se negam a perdoar quem vote SIM?
Pois bem, na minha óptica, a única vantagem de votar SIM é a de acabar com a ignomínia e a hipocrisia. Porque a Lei que hoje existe, não funciona. E se não funciona, não existe!
Não funciona, porque não há coragem nem vontade de a tornar efectiva. Por isso, risque-se! Apague-se!
Quanto ao efeito de abolir os abortos clandestinos, não acredito nisso porque não parece existirem condições socioculturais para que uma adolescente possa recorrer ao serviço público de saúde para abortar. Como reagiria a família?
A família prefere que ela o faça clandestinamente para poder ignorar o facto e não ser com ele confrontada.
Depois os serviços de saúde sempre poderão aconselhar, por falta de meios, o recurso às clínicas privadas, como solução.
E quem não tiver dinheiro vai ao vão de escada e, se sobreviver, confessa-se.
Aí, também se arrisca que, desta vez, lhe não seja concedido o perdão!

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sábado, fevereiro 03, 2007

Semear para mais tarde colher

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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

"De Como Opinar..."

Quem me conhece irá pensar e provavelmente não se engana – Este gajo passou-se, coitado!
De facto, ao ler o primeiro duma série de artigos que certamente terão a mesma qualidade deste e que irão escalpelizar a problemática das Forças Armadas, no âmbito mais alargado da Defesa Nacional, de forma sistematizada e tecnicamente impoluta, como seria de esperar do camarada em questão, fiquei a pensar o que me terá acontecido a mim, de há uns anos a esta parte.
Por obrigação de trabalho também eu já tive que abordar, em âmbito táctico nunca estratégico, alguns assuntos e temáticas que me pareciam da maior relevância para as questões que se colocavam. Elaborei relatórios com a minúcia que entendi adequada, com o pragmatismo que me pareceu necessário e com a sensatez que julgo reconhecida. Sobre alguns deles nunca houve despacho, sobre outros foram colocadas questões para empatar e ganhar tempo. Dos que mereceram aprovação de princípio poucos foram os que tiveram concretização de facto.
Não basta ter razão e explicar de forma correcta. A força da razão é muita, mas não chega. O autismo é uma forma de estar e de governar, politicamente correcta.
O abanar a cabeça não quer dizer sim nem não, mas também.
O meu cepticismo atingiu um grau muito elevado no que respeita a expectativas de ordem política, profissional e até pessoal.
Não recomendo este estado de espírito a ninguém, porque também não leva a nada de bom. Mas não descortino alternativas.
Sem querer desencorajar ninguém e muito menos quem eu tenho a certeza que nunca o permitiria, faço apenas uma pergunta que espero seja entendida na sua devida intenção – Quem, além dos militares e das pessoas mais chegadas a eles, irá “ler a lição”?

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Gostaria...

Escrevo por prazer, de mim e para mim.
Gostaria um dia de ser capaz de escrever para os outros. Sem falar de mim, falando de outros. Mas de outros sem nome. Sem cara. Só com virtudes e defeitos, em vivências fictícias, intemporais.
De coisas de sempre e de nunca. De verdades inventadas e mentiras certificadas. De gentinha insignificante e de gentalha petulante.
De gente que tem a coragem de dizer que tem medo! Medo do nada! Medo de tudo!
Gostaria um dia de ser capaz...

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