quarta-feira, dezembro 30, 2009

Portuguese Season's Greetings


É costume nalguns lugares atirar pela janela todos os cacos velhos, ao virar do calendário anual.
Será uma espécie de arrumar a casa, de arranjar espaço para as coisas novas, para a esperança, para a surpresa.
Outro hábito, muito antigo e muito estranho, é o de pagar as dívidas, entrando o novo ano com os bolsos eventualmente vazios mas a alma cheia. Cheia de vergonha na cara, de palavra confiada, de honra defendida.
Nalguns casos, a impossibilidade do cumprimento deste compromisso poderá levar mesmo ao suicídio.
Calculem o que aconteceria neste país se as pessoas tivessem este mau hábito? Quantos suicídios?
Provavelmente atingiriam alguns órgãos de soberania pelo incumprimento de promessas expressa e publicamente formuladas.
Mas descobri hoje um hábito de muitos portugueses e portuguesas nesta quadra festiva. Trocar as prendas de Natal por um cartão de crédito no valor da prenda, que dá para comprar duas iguais, com os descontos de 50% agora verificados nos saldos.
Boa! Desta não se lembraria o Menino Jesus ou o Pai Natal, nem lembraria ao Diabo!
Que mais nos trará o Novo Ano?

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sábado, dezembro 19, 2009

Uma prenda de Natal diferente

Já lá vão uns anecos bons desde a primeira vez em que tive um aquário com peixes tropicais que muito gozo me deu.
Tudo começou a bordo do Bartolomeu Dias. Salvo erro, na África do Sul aquando da nossa docagem em Durban, um camarada lembrou-se de arranjar um aquário que construiu com vidro acrílico colado com acetona a que juntou uma geringonça do mesmo material onde havia sido fixado um suporte de lâmpada fosforescente para iluminação, que servia de tampa.
Escusado será dizer que a navegar era necessário reduzir a água do aquário a metade por causa do balanço não a entornar e, com ela, os peixinhos.
A moda pegou e já não sei quantos de nós adoptámos a ideia e construímos também o nosso próprio aquário, melhorando cada vez mais não só o processo de fabrico como as técnicas de tratamento da bicheza, com sistema de filtragem muito artesanal, constituído essencialmente por um compressor de ar, tubagem plástica transparente que passava por reservatório sifonado onde colocávamos algodão que mudávamos com frequência, que servia de filtro. Adicionámos também um difusor de ar através duma pedra porosa, que servia para oxigenar a água que com o calor ia perdendo o ar dissolvido, necessário para os peixes.
Mais tarde, acrescentámos um aquecedor de água com termostato para garantir que a temperatura se mantivesse mais ou menos constante, à volta dos 75ºF.
Com a descoberta de que alguns dos peixes se reproduziam e que os nascituros eram papados sistematicamente pelos outros, introduzimos uma maternidade no próprio aquário, que consistia numa caixinha de perspex mais fino toda esburacada com orifícios pequenos que não davam para os alevins saírem, mas garantiam a renovação da água.
A introdução de plantas naturais foi um passo fundamental no equilíbrio do meio, pois que contribuíram para a oxigenação da água e utilizavam os detritos dos peixes para o seu desenvolvimento. Apesar de muitos esforços nunca consegui ter plantas em quantidade e qualidade como desejava. Umas, porque morriam rapidamente, outras porque eram demasiadamente caras.
Meses depois de chegar de comissão e já com o aquário instalado na casa para onde fomos morar, tivemos que socorrer-nos dos cuidados médicos a que as duas filhas obrigavam do único pediatra da zona de residência.
A primeira vez que entrei no seu consultório chamou-me a atenção um enorme aquário que tapava a quase totalidade duma parede, com peixes lindíssimos e sobretudo com uma vegetação luxuriante, que fazia dele um espectáculo de cor e animação.
A minha admiração não foi estranha ao médico que de imediato passou a explicar-me a razão de toda aquela exuberância vegetativa.
Segundo ele, estava relacionada com uma ampola de raio X, que tinha na sala e que se destinava a radioscopia.
Nunca antes conseguira um tal desenvolvimento de plantas quando o aquário se encontrava noutra sala que não aquela.
A partir dali tornámo-nos comparsas neste passatempo trocando peixes e plantas.
Foi um tempo curioso. Ainda não havia programas televisivos que nos desviassem doutros interesses culturais ou de entretenimento, tendo o aquário servido também de mostruário de vida para as minhas filhas que embora pequenas e muito dispersas em termos de atenção, não deixavam de ter pelo aquário e pelos peixinhos um carinho que terá eventualmente custado a vida a alguns, dando-lhes a comer pão e outras coisas não muito consentâneas com a sua dieta.
Quarenta anos depois, vou presentear um dos meus netos com um miniaquário, comprado com todos os apetrechos que fazem dele uma máquina perfeita para a criação e desfrute de peixes e plantas, um mundo de silêncio e calma que tanto precisamos nestes tempos atribulados. Espero bem que ele o aprecie tanto, quanto o prazer que me deu oferecer-lho neste Natal.

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sexta-feira, dezembro 18, 2009

Uma música mais própria dos natais que vivemos

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sexta-feira, dezembro 11, 2009

Horta de trazer por casa

Hidroponia dos pobres, como lhe chamaria o meu amigo e companheiro destas artes bloguistas António Saias, não é mais do que um manancial de possibilidades para quem tem pouco espaço e pouca vontade de curvar a espinha.
As fotos abaixo são de agriões de água, cultivados num tabuleiro de esferovite, com um suporte de turfa para as plantas mas que poderia ser de pedrinhas, areia, terra colocado num tanque de água, que bem poderia ser um alguidar.
Deste tabuleiro já sairam agriões para dezenas de saladas e várias sopas.
De fácil acesso sem necessidade de grandes cuidados estes agriões são óptimos.
Experimente em casa, na casa de banho se não tiver mais espaço.
Agora de Inverno nem são precisos tantos banhos, não é?
Abraços invernosos e pouco lavados e muitas saladas de agrião.

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terça-feira, dezembro 01, 2009

Outros 1ºs de Dezembro

Nem todos foram de má lembrança.
Quando era menino na cidade onde nasci, a única forma de convívio e de práticas de tempos livres era participar nas actividades lúdicas da Mocidade Portuguesa, vulgo “Bufa “. A alcunha depreciativa, não sei se tinha que ver com a cor da farda (feijão com couve), ou se era pelo facto dos seus dirigentes e seguidores serem “bufos”, isto é, fazerem de olhos e ouvidos do regime instalado.
Para mim a MP, foi sempre um escape para a prática de desportos e de ar livre. Tinha uma actividade paralela à dos escuteiros, sem o ónus da religião.
Não há bela sem senão e lá tinha que gramar quase todos os anos as cerimónias comemorativas do 1º de Dezembro, com paradas intermináveis que nos deixavam exaustos e punham em causa todos os aspectos positivos já referidos.
Sempre que podia baldava-me, mas nem sempre o conseguia.
Mais tarde e já no Liceu, como membro da Tuna Académica, onde tocava viola (nunca passei da 1ª, 2ª e 3ª de dó e sol maiores e ré menor), fazíamos todos os anos a Alvorada do dia 1º de Dezembro, percorrendo as ruas da cidade tocando alternadamente os hinos deste dia e o do Liceu.
Era uma tradição académica que a cidade apoiava e sentia também como sua.
Normalmente era noite de vela, que começava com uma “ceata” perto da meia-noite numa das tascas da cidade e se prolongava com beberragens verdadeiramente despropositadas e irracionais, mas que nos davam uma sensação de liberdade para que a data apontava.
Foi a partir duma destas noites que nunca mais consegui tocar numa bebida tenebrosamente açucarada e alcoólica que dava pelo nome de ponche, comercializada numa garrafa prateada. Só me lembro de cair e de a dita garrafa se partir entornando o melaço no bolso da batina, que de manhã nem sequer permitia que a mão entrasse no endurecido bolso, impregnado que estava de açúcar cristalizado.
A ressaca durou quase uma semana com dores de cabeça e vómitos.
Noutra noite destas, a conselho dum colega mais rodado nestas andanças, comprei na Farmácia uma pastilha efervescente Alka Seltzer (julgo que se escreve assim) para o caso de me exceder nas bebidas.
Veio a acontecer o já previsível enfrascanço pelo que me lembrei da dita cuja, que de imediato tirei da embalagem e meti directamente na boca empurrando-a com um copo de água.
Só que a pastilha tinha um diâmetro grande demais para ser facilmente engolida. Julgo que propositadamente para evitar tal facto, de que me não dei conta.
Terá ficado portanto entalada no “gorgomilho” que com a água e a humidade natural do local, começou a borbulhar, saindo as bolinhas pelo nariz e quase me matavam por asfixia, não fosse uma enorme pancada nas costas que um colega assustado me deu, fazendo a pastilha soltar-se e sair boca fora como uma bala.
É uma cena que relembro sempre por esta altura, com um enorme sorriso nos lábios.

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