terça-feira, dezembro 01, 2009

Outros 1ºs de Dezembro

Nem todos foram de má lembrança.
Quando era menino na cidade onde nasci, a única forma de convívio e de práticas de tempos livres era participar nas actividades lúdicas da Mocidade Portuguesa, vulgo “Bufa “. A alcunha depreciativa, não sei se tinha que ver com a cor da farda (feijão com couve), ou se era pelo facto dos seus dirigentes e seguidores serem “bufos”, isto é, fazerem de olhos e ouvidos do regime instalado.
Para mim a MP, foi sempre um escape para a prática de desportos e de ar livre. Tinha uma actividade paralela à dos escuteiros, sem o ónus da religião.
Não há bela sem senão e lá tinha que gramar quase todos os anos as cerimónias comemorativas do 1º de Dezembro, com paradas intermináveis que nos deixavam exaustos e punham em causa todos os aspectos positivos já referidos.
Sempre que podia baldava-me, mas nem sempre o conseguia.
Mais tarde e já no Liceu, como membro da Tuna Académica, onde tocava viola (nunca passei da 1ª, 2ª e 3ª de dó e sol maiores e ré menor), fazíamos todos os anos a Alvorada do dia 1º de Dezembro, percorrendo as ruas da cidade tocando alternadamente os hinos deste dia e o do Liceu.
Era uma tradição académica que a cidade apoiava e sentia também como sua.
Normalmente era noite de vela, que começava com uma “ceata” perto da meia-noite numa das tascas da cidade e se prolongava com beberragens verdadeiramente despropositadas e irracionais, mas que nos davam uma sensação de liberdade para que a data apontava.
Foi a partir duma destas noites que nunca mais consegui tocar numa bebida tenebrosamente açucarada e alcoólica que dava pelo nome de ponche, comercializada numa garrafa prateada. Só me lembro de cair e de a dita garrafa se partir entornando o melaço no bolso da batina, que de manhã nem sequer permitia que a mão entrasse no endurecido bolso, impregnado que estava de açúcar cristalizado.
A ressaca durou quase uma semana com dores de cabeça e vómitos.
Noutra noite destas, a conselho dum colega mais rodado nestas andanças, comprei na Farmácia uma pastilha efervescente Alka Seltzer (julgo que se escreve assim) para o caso de me exceder nas bebidas.
Veio a acontecer o já previsível enfrascanço pelo que me lembrei da dita cuja, que de imediato tirei da embalagem e meti directamente na boca empurrando-a com um copo de água.
Só que a pastilha tinha um diâmetro grande demais para ser facilmente engolida. Julgo que propositadamente para evitar tal facto, de que me não dei conta.
Terá ficado portanto entalada no “gorgomilho” que com a água e a humidade natural do local, começou a borbulhar, saindo as bolinhas pelo nariz e quase me matavam por asfixia, não fosse uma enorme pancada nas costas que um colega assustado me deu, fazendo a pastilha soltar-se e sair boca fora como uma bala.
É uma cena que relembro sempre por esta altura, com um enorme sorriso nos lábios.

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2 Comments:

Blogger Luís Alves de Fraga said...

Obrigado pela sonora gargalhada que conseguiu arrancar-me com a estória.

2/12/09 10:00  
Blogger platero said...

1ª questão:

If merrieds, comandante?

2ª- Não será dessa expulsão balística
que nossos irmãos brasileiros passaram a designar por BALA as tais elásticas pastilhas?

Na minha Terra, no meu tempo, como não havia "balas"a rapaziada atacava as narinas com um fruto minúsculo negro metálico que dava pelo nome de "mortunhos" ou coisa muito semelhante.
o efeito era o mesmo: ameaça de asfixia garantida

abraço

5/12/09 18:45  

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