quinta-feira, janeiro 29, 2009

Ainda o Milagre das Rosas

- Que levais nessa pasta, Senhor?
- Rosas que são para o meu bem…
-
Rosas em Janeiro, Senhor? Podeis mostrar-mas por favor?
- Senão tenho alternativa, pois claro que as mostrarei…
- Mostrai-mas lá então, que incrédulo eu sou!

E a pasta se abriu. E dela se soltaram e espalharam pelo chão as mais desbotadas rosas que o mundo alguma vez vira…

Etiquetas:

terça-feira, janeiro 27, 2009

A crise dos bancos ou talvez não!

Nem em todos os bancos parece estar a crise instalada, pelo menos por agora. Será o caso do recém-criado e ainda por inaugurar, banco de leite humano.
À semelhança de outros já existentes como o banco de olhos e o de esperma, vai arrancar, no princípio de Fevereiro na Maternidade Alfredo da Costa, o designado Banco de Leite Humano, que pretende dar resposta às carências cada vez mais sentidas por uma parte substancial das mães actuais de conseguirem amamentar os seus filhos.
Muitas razões são apontadas para o facto, desde a idade tardia de ter filhos, o stress da vida moderna como o trabalho ou a falta dele, os transportes nos grandes centros urbanos, os noticiários televisivos, acrescento eu, e ainda uma infinidade de outras razões invocadas, para que as futuras mamãs não possam ou não queiram alimentar os filhos com o seu próprio leite.
Vai daí, em vez das antes designadas amas de leite ou amas de peito, criou-se agora uma espécie de selfservice de leitinho desnatado e pasteurizado, a servir em doses terapêuticas aos nascituros prematuros e não só, como se de leite Nestlé ou Ovomaltine se tratasse.
Tudo isto dependente da $boa vontade$ de dadoras que ali deverão ser convenientemente ordenhadas, e que para isso deverão ser da confiança, esperemos que só sanitária, da Instituição.
Desejamos que este novo equipamento, verdadeiramente Social, permita que algumas das futuras mamãs possam continuar a dispor da harmonia aprazível dos seus seios para seu próprio gáudio ou de terceiros e os seus filhos dum leite classificado, capaz de lhes garantir um sistema imunitário e um desenvolvimento físico adequados.
Fazemos daqui votos sinceros para que este banco não entre em crise, como parece estar a acontecer com a restante banca, em geral.

Etiquetas:

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Em busca da elegância perdida

O tropel dum bando de idiotas, a que não sou alheio, sapateando em cima de passadeiras rolantes, de geringonças que abanam alternadamente braços e pernas que fingem que sobem para logo descer ou rolam sempre no mesmo sítio quilómetros, que dariam para atravessar o deserto da alma.
Maquinetas que esticam, que dobram que torcem os esqueletos, que retesam a frouxidão muscular ou entumescem os músculos já trabalhados, preparando-os para as árduas tarefas quotidianas de sobreviver.
Suor que pinga não servindo sequer para adubar a terra. Esforço despendido em coisa nenhuma, com fim algum que não seja, e não é, o perder peso que se não perde.
Enquanto o trabalho deverá servir para produzir alguma coisa, independentemente das calorias que nele se invistam, nesta espécie de emergente profissão para velhos e para novos também, o trabalho produzido mede-se pelas calorias que nele se desinvestirem.
No final, de regresso ao futuro, um banho turco para relaxar de tanta canseira desperdiçada, com a suave consciência do dever cumprido, de ajudar este país a sair do atoleiro em que imergiu, não muito depois da saída dos mouros, que bem podiam por aqui ter deixado a par do “al”garbe e “al”modôvar, de “al”cácer e “al”cantarilha, uns quantos pocitos de “al”petróleo, que muito jeito davam nos tempos que correm.

Etiquetas:

sábado, janeiro 17, 2009

O Crepúsculo Vespertino

Uma correria, um ver se te avias à procura da estrela que está para “nascer”.
A Bombordo, a Estibordo, pela Proa, à Popa...nada.
Não há horizonte nem estrelas. Está tudo nublado. Só, de quando em vez, se conseguem vislumbrar alguns planetas, sem brilho nem luz própria que gravitam à volta do Deus Sol Todo Poderoso, que os ofusca ou ilumina a seu belo prazer. Tão depressa parecem acender-se para logo se apagarem, como pontas de cigarros já fumados.
E, quando algum se atreve, logo uma nuvem negra lhe desvanece a ousadia.
Os próprios sextantes têm as lunetas desfocadas pela ansiedade e nervosismo militante de quem os usa. Nada de bom se enxerga com eles para além da ponta do nariz.
A marcha do cronómetro foi alterada para o emparelhar pela hora ilegal do Relógio de Sol. Ainda que se conseguissem as alturas dos astros, a posição não seria fiável nem segura.
O ponto assim tomado, não serviria nunca para guinar para rumo safo de escolhos nem para aterragem de jeito a porto seguro.
Mais vale manter a estima e adiar a guinada. O crepúsculo matutino ainda demora, mas vai chegar.

Etiquetas:

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Este livro, que eu amo


Quem teve o privilégio de aprender a ler e de que lhe oferecessem livros pelo Natal, em vez de PSP (leia-se Play Station Portable ou qualquer coisa assim), pelo aniversário e sempre que alguma coisa de importante acontecesse ou o justificasse, obviamente que teve a possibilidade de descobrir, de fantasiar, de amar e de odiar pelo olhar e pela palavra de quem escreveu.
Ainda hoje tenho de memória excertos de leituras feitas ao longo dos anos, que me marcaram pelo encanto, pela expectativa e surpresa ou simplesmente pelo deleite que em mim despertaram.
Nomes que me acompanharam no despertar da minha curiosidade literária, que ao longo dos anos fui perdendo por imperativos profissionais e familiares, aparecem-me hoje como companheiros reencontrados.
Um dos factos mais marcantes da minha infância, terá sido um prémio atribuído pelo catequista da Escola de S. Mamede, em Évora, um pouco à revelia da família que não era muito dada a essas coisas, constituído pela Bíblia contada às crianças.
Adorava o Antigo Testamento, uma estória empolgante de mistério e aventura. A fantasia substituindo a ciência na tentativa de explicar o Princípio, a Criação – a Genesis.
Do Novo Testamento só gostava do escorraçar dos vendilhões do Templo e da cura do Lázaro.
A introdução à Fé, ao Sagrado, aos Dogmas. Tudo num livro de duzentas e tal páginas de letra gorda e com muitas gravuras. Um espanto!
Mais tarde vibrei com as Aventuras de Sandokan. Odiei as Pupilas do Sr.Reitor e adorei alguns dos sonetos de Florbela Espanca. Os Lusíadas fizeram nascer em mim uma aversão pela poesia, que só consegui compensar com a autoestima que em mim fez criar de pertencer a um país de marinheiros e aventureiros, que puseram fins e deram nomes a esse interminável e desconhecido Oceano.
Já nas rotas de Gama, em águas cálidas de Moçambique, li de tudo um pouco numa ânsia de tudo saber e de tudo entender. Os franceses que marcaram uma época, Gide, Camus e Sartre. O grego Nikos Kazanyzaki e os seus Cristo Recrucificado e Liberdade ou Morte. Morris West e As Sandálias do Pescador. O teatro político de Brecht e o anti-teatro ou teatro do absurdo de Ionesco com a sua Cantora Careca.
Lia na língua original, sempre que possível, para não perder o sentido do autor, muitas vezes refeito por tradutores pouco escrupulosos ou de fraca qualidade.
Foi uma época empolgante para mim, que relembro com a saudade que a idade acrescenta e a sensação de liberdade, nessa altura conquistada.
De lá para cá tenho tido altos e baixos neste romance que mantenho com o Livro. Não sou amante de fim de semana, mas não dou a assistência que este amor merecia, porque tenho agora muito pouco tempo para fazer quase tudo.

Etiquetas:

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Pirâmide Invertida

É do conhecimento geral que a “Pirâmide de Necessidades” ou “Hierarquia de Necessidades de Maslow”, varia da base para o vértice de acordo com o crescente bem-estar social das pessoas, quedando-se as necessidades de topo aos mais afortunados que já viram todas as outras satisfeitas.
Entre estas últimas contam-se as ligadas à realização pessoal – moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceitos, aceitação dos factos.
Acontece que em situações como as actualmente vividas por nós, tudo se esboroa como num castelo de cartas, regressando as pessoas a níveis mais baixos, já esquecidos ou, por muitos, nunca conhecidos.
Dificilmente as pessoas se sujeitam a satisfazer as necessidades, sobretudo as básicas, de forma pacífica e respeitadora dos valores que antes defendiam, com a agravante de não terem sido treinadas para sofrerem as provações, muitas vezes necessárias, para as satisfazer. Daí, recorrerem com frequência aos meios que normalmente lhe eram facultados como o crédito e outro tipo de soluções mais ou menos artificiosas, não raro acabando na falcatrua e em criminalidade mais gravosa. Esta inversão da sua pirâmide de necessidades faz com que a sua pirâmide de valores se desmorone também.
Julgo que será possível comparar a situação, por muitos, vivida, com um jogo de poker em que não se joga de acordo com as cartas (na gíria do jogo, mão), mas se aposta contra as pessoas, ou seja, se faz bluff intimidando, fingindo, mentindo, ao fim e ao cabo e numa palavra, burlando.
Até o Procurador-Geral da República já classifica os designados “crimes de colarinho branco”, como os mais difíceis de investigar e levar a julgado.
Acrescento eu, provavelmente, não tanto pela dificuldade da execução técnica que a investigação implique mas, provavelmente, pelas sensibilidades que desafia e fere.
Não adianta lamentar. Não adianta constatar o facto. É preciso reinverter as pirâmides de necessidades e de valores.
Para espectadores e jogadores de poker, já bastamos nós.

Etiquetas:

domingo, janeiro 04, 2009

Ano da Opinião

Tenho tido grande dificuldade em arranjar disposição para escrever o que quer que seja.
Com tudo o que se passa à nossa roda, não se pode dizer nada que não esteja impregnado desse mal-estar envolvente, dessa ameaça atroz que sobre nós todos paira e nos amofina e ensombra.
Já não bastava a crise, para nós coisa intrínseca e rotineira, como agora o espectro duma guerra que sobre nós se abate e que nos entra pela porta dentro como um "reality show", às horas mais impróprias com as imagens mais brutais e chocantes.
Que poderei dizer a um neto que me pergunta o porquê destas coisas? Como poderei dissuadi-lo de ver programas TV violentos e aliciá-lo a ter do mundo uma visão de fraterna e responsável partilha?
Como poderei fazê-lo entender que os protagonistas desta contenda estão apoiados pelas superpotências e pelos seus mentores espirituais e religiosos?
Como explicar-lhe que um dos beligerantes está usar meios desproporcionados e práticas semelhantes às usadas contra si pelos agressores nazis na 2ªGrande Guerra, que criaram na opinião pública mundial uma onda de solidariedade que condenou e derrubou esse regime brutal?
Que dizer-lhe da passividade e inocuidade do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que não consegue ir além de um blá, blá, blá conivente?
Desculpem-me a indisposição para dizer e desejar coisas bonitas neste novo ano tão mal começado!
Fica a impressão de que estão todos interessados em resolver rapidamente e sem tréguas um assunto pendente, antes que a opinião pública, sobretudo a americana, possa ser alterada a partir da tomada de posse do novo presidente eleito.
Segundo as palavras deste, os Estados Unidos só têm um Presidente. Tudo bem!
Esperemos que não tenham apenas uma opinião.

Etiquetas: