quarta-feira, janeiro 14, 2009

Este livro, que eu amo


Quem teve o privilégio de aprender a ler e de que lhe oferecessem livros pelo Natal, em vez de PSP (leia-se Play Station Portable ou qualquer coisa assim), pelo aniversário e sempre que alguma coisa de importante acontecesse ou o justificasse, obviamente que teve a possibilidade de descobrir, de fantasiar, de amar e de odiar pelo olhar e pela palavra de quem escreveu.
Ainda hoje tenho de memória excertos de leituras feitas ao longo dos anos, que me marcaram pelo encanto, pela expectativa e surpresa ou simplesmente pelo deleite que em mim despertaram.
Nomes que me acompanharam no despertar da minha curiosidade literária, que ao longo dos anos fui perdendo por imperativos profissionais e familiares, aparecem-me hoje como companheiros reencontrados.
Um dos factos mais marcantes da minha infância, terá sido um prémio atribuído pelo catequista da Escola de S. Mamede, em Évora, um pouco à revelia da família que não era muito dada a essas coisas, constituído pela Bíblia contada às crianças.
Adorava o Antigo Testamento, uma estória empolgante de mistério e aventura. A fantasia substituindo a ciência na tentativa de explicar o Princípio, a Criação – a Genesis.
Do Novo Testamento só gostava do escorraçar dos vendilhões do Templo e da cura do Lázaro.
A introdução à Fé, ao Sagrado, aos Dogmas. Tudo num livro de duzentas e tal páginas de letra gorda e com muitas gravuras. Um espanto!
Mais tarde vibrei com as Aventuras de Sandokan. Odiei as Pupilas do Sr.Reitor e adorei alguns dos sonetos de Florbela Espanca. Os Lusíadas fizeram nascer em mim uma aversão pela poesia, que só consegui compensar com a autoestima que em mim fez criar de pertencer a um país de marinheiros e aventureiros, que puseram fins e deram nomes a esse interminável e desconhecido Oceano.
Já nas rotas de Gama, em águas cálidas de Moçambique, li de tudo um pouco numa ânsia de tudo saber e de tudo entender. Os franceses que marcaram uma época, Gide, Camus e Sartre. O grego Nikos Kazanyzaki e os seus Cristo Recrucificado e Liberdade ou Morte. Morris West e As Sandálias do Pescador. O teatro político de Brecht e o anti-teatro ou teatro do absurdo de Ionesco com a sua Cantora Careca.
Lia na língua original, sempre que possível, para não perder o sentido do autor, muitas vezes refeito por tradutores pouco escrupulosos ou de fraca qualidade.
Foi uma época empolgante para mim, que relembro com a saudade que a idade acrescenta e a sensação de liberdade, nessa altura conquistada.
De lá para cá tenho tido altos e baixos neste romance que mantenho com o Livro. Não sou amante de fim de semana, mas não dou a assistência que este amor merecia, porque tenho agora muito pouco tempo para fazer quase tudo.

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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A leitura dos escritos deste blogue continua a ser um encanto, pela arte, pela poesia, pelo sonho que encerram.
Bem haja ao autor e que o tempo não lhe falte para o quase tudo que lhe povoa a cabeça.
Um abraço.
Nunes da Cruz

16/1/09 16:12  
Anonymous Anónimo said...

A leitura dos escritos deste blogue continua a ser um encanto, pela arte, pela poesia, pelo sonho que encerram.
Bem haja ao autor e que o tempo não lhe falte para o quase tudo que lhe povoa a cabeça.
Um abraço.
Nunes da Cruz

16/1/09 16:12  
Blogger JR said...

Eu diria que os amigos são para as ocasiões.
Quanto ao tempo já vai faltando para quase tudo mas há quem lhe tenha faltado mais. Não me queixo muito. Tenho pena de não poder, eventualmente, fazer mais.
Abraço

16/1/09 22:04  

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