segunda-feira, novembro 27, 2006

Viagens salgadas (8)

Só regressei aos navios uns anos depois. O Almeida Carvalho e os cruzeiros BT na costa atlântica continental.O triângulo acústico dos Açores e a cobertura sonar da Costa Portuguesa impuseram durante anos a realização de testes para verificação do estado de propagação das frequências sónicas, com o estabelecimentos de perfis em função da época do ano que ditava a temperatura e salinidade da água nas diferentes profundidades. Eram os chamados perfis batitermográficos. Além destes, o navio oceanográfico fazia também estudos relacionados com a fauna piscatória da plataforma continental, embarcando para o efeito equipas de técnicos do IH e do antigo Instituto de Biologia Marítima. Depois de realizadas análises físico-químicas e biológicas da água, determinadas cargas e distribuições de zooplâncton e fitoplâncton, era possível calcular efectivos piscatórios, orientar e estimar capturas. Recebemos um dia a bordo a visita dos nossos chefes militar e técnico, que connosco fizeram parte do cruzeiro. Numa prova de boa camaradagem e amizade um deles trouxe-nos um presente que lhe haviam enviado expressamente de França, mas que connosco quis partilhar. Quando embarcávamos uma tão grande quantidade de técnicos, obrigávamo-nos a fazer duas mesas ao almoço e ao jantar, porque não cabíamos todos numa só. Normalmente na primeira comiam os oficiais mais modernos e os técnicos que iam entrar de serviço e na segunda os restantes.
Pela primeira vez os navios de guerra embarcaram mulheres, com muitos problemas de adaptabilidade a esta sua nova utilização. Foi pois nesta segunda mesa que foi servido o presente no final do repasto do almoço. Foi pedido ao criado que trouxesse a sobremesa e foi trazido um embrulho que estava no frigorífico e que o nosso conviva e chefe abriu, colocando-o no centro da mesa. Ainda aí o não tinha pousado e já saíam disparadas duas das técnicas que tomavam connosco esta refeição. De facto, o embrulho continha uma bomba chamada queijo Camembert, que tresandava e que só por vergonha não nos pôs a todos dali para fora. Confirmou -se que os cheiros a bordo, sobretudo com balanço, ofendem. Num outro cruzeiro, algures junto às Berlengas, cerca das cinco horas, ainda muito escuro, o navio em estação, a pairar, com patim de trabalho arriado, projectores apontados para o local onde se içava “uma garrafada”1 muito comprida porque era uma zona de águas muito profundas. O radar estava repleto de ecos de embarcações de pesca, mas o navio encontrava-se com as luzes de posição e de trabalho adequadas, estava estacionado havia tempo no local e eu encontrava-me na asa da ponte assistindo à faina que era executada por técnicos do Instituto de Biologia Marítima. Às vezes acontecia ser necessário meter leme ou mesmo actuar com o hélice do leme por forma a manter a linha de suporte das garrafas em posição favorável de manobra. De repente fez-se de dia. À nossa volta projectores potentíssimos faziam do branco do costado do Almeida Carvalho, um espelho reflector que irradiava luz como um farol na noite escura. Dum bordo e doutro uma força naval soviética, deixara o "black out" em que navegava, para nos iluminar à sua passagem. Considerámos isso uma homenagem ao nosso trabalho, mas só não molhámos a roupa interior porque não calhou. Soubemos depois que a força era acompanhada a distância por uma fragata ou corveta nossa. Ficámos, pois, muito mais descansados. Mas foi neste navio que tudo aconteceu. Um dia, pouco depois de ter acabado o meu quarto da alva e baixado ao camarote para a minha higiene matinal, antes da formatura, fui violentamente interrompido nestes meus aprestos, por um toque de telefone interminável, quase um grito de alarme. Atendi e do outro lado, a voz do oficial de quarto que me havia rendido, um oficial RN, gritava a plenos pulmões - Imediato é a revolução! Venha para a Ponte! Meu Deus! Como eu a tinha esperado na noite anterior e ela não tinha vindo! Como foi bom ouvir aquele grito de alegria do Almeida! Benvindo a bordo amigo! (Continua)

1 Termo que designava um equipamento de recolha de amostras de água do mar a diversas profundidades, que era arriado e içado sob guincho próprio

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domingo, novembro 26, 2006

Era o vinho...

Era o vinho, meu Deus era o vinho
Era a coisa que eu mais adorava
Só por morte meu Deus, só por morte
Só por morte o vinho deixava
(Letra e musica popular)
Imagem retirada do site
Entre as coisas, que nesta fase da minha vida, me dá mais gozo e me deixa feliz, é o ver crescer os meus netos em perfeito equilíbrio físico e mental e desfrutar da salutar pacatez a que me remeti, há cerca de dois anos. Nessa pacatez cabem as tarefas básicas de jardinagem, pesca e caça e as outras de natureza mais pragmática relacionadas com a manutenção do espaço em que me movo. Para completar o ramalhete e dar algum sentido, sabor e colorido a esta vivência, guardo memórias, ainda que truncadas e corroídas pelo tempo e, com a ajuda de amigos, tento fazer uma pinga, a partir de uvas próprias e adquiridas a produtores de reconhecida qualidade da região. Pelo quarto ano consecutivo, temos vindo a fazer um vinho, cuja qualidade tem vindo a melhorar, ao ponto deste ano ter granjeado o mais alto galardão atribuído a vinhos amadores nesta freguesia, entre trinta e oito concorrentes, numa festa que teve início precisamente há quatro anos. Veio depois juntar-se no ano seguinte uma prova de sopas e de há dois anos a esta parte, uma prova de doces regionais do Alentejo. Os duzentos e cinquenta litros desta pomada, já têm endereço. Destinam-se a apaladar a vida aos meus familiares e amigos. Com eles brindarei a um futuro mais risonho, mais justo e fraterno, à imperatividade de ser feliz, ao direito a dizer não, à liberdade de dizer sim!
Peças de bombordo…..Fogo!....PUM!
Peças de estibordo……Fogo!...PUM!
Enquadrou!... PUM!PUM!PUM!
Vai a cima, vai a baixo…
Vai a cima, bota a baixo…

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sábado, novembro 25, 2006

Viagens salgadas (7)

Imagem retirada do site
Ainda a Sagres e ainda o Brasil. Não é todos os dias que se vai ao Brasil, para que nos fiquemos por meia dúzia de palavras atiradas para um blogue que pouca gente lerá, mas que mesmo assim impõe um tratamento mais adequado a esta circunstância excepcional. As telenovelas ainda não nos tinham invadido e, só a batida cantante daquele Português falado do outro lado do Atlântico nos fazia alegrar. Quando a isso se juntava um rebolar sambista de cabocla do Rio, o mundo parecia perfeito. Por circunstâncias felizes convidaram-me para fazer esta viagem como chefe do serviço de comunicações do navio, coisa para a qual não teria as habilitações técnicas próprias, uma vez que não era especializado. Por minha alta recreação fiz um estágio de dois dias na Escola de Comunicações, fui ao Centro de Comunicações da Armada fazer uma visita e conversar com o camarada que o chefiava na altura, conversa essa que me foi de uma utilidade fantástica. Assim me falou ele na altura. Leia o ICA2 e o ICA10, leve esta previsão de propagação ionosférica para a zona onde vai navegar e não se preocupe mais. O meu antecessor tinha-me feito umas recomendações sobre algumas preocupações do comandante, nomeadamente nas fainas, relacionadas com o içar e arriar do jaque e lá fomos. Nesse dia ou no seguinte, já não consigo precisar, fui pedir ao comandante para fazer uma chamada telefónica para casa. A sua reacção foi quase de agressão. Não tive bem a certeza de que não voltássemos para trás, naquele preciso momento, para me fazer substituir. Perguntei ingenuamente qual era a razão de tal alarido, uma vez que era uma prática prevista e autorizada pelas publicações antes mencionadas e que eu tinha lido até os olhos me doerem. Quis ver isso escrito, preto no branco, e, só depois, a muito custo, autorizou a chamada que fiz sem problemas, recorrendo a Lisboa Rádio. Quis ele também experimentar e nunca mais me vi livre das malditas chamadas enquanto foi possível ouvir Lisboa e o Funchal. Perguntou-me um dia por que razão nenhum dos anteriores chefes de serviço, especializados, lhe haviam falado nessa possibilidade, ao que respondi que os percebia agora perfeitamente. Mantive em segredo, até certa altura da viagem, a posse do mapa de propagação das radiofrequências na ionosfera, o que me granjeou entre o pessoal técnico de comunicações – telegrafistas – um certo prestígio. Quando o sargento telegrafista vinha ter comigo a dizer que se estava a ouvir mal a radiodifusão, eu dizia-lhe para experimentar a frequência tal e normalmente funcionava. A meio da viagem contei-lhe e estudávamos em conjunto as melhores soluções. Éramos obrigados a escutar todos os períodos da radiodifusão para três operadores, o que inviabilizava, nos portos, licenças diárias para os telegrafistas. Quando chegámos ao Rio de Janeiro, “começámos a ter grandes dificuldades” – QRM’s – na recepção e transmissão de serviço para Lisboa pelo que passámos a recorrer aos serviços da embaixada para envio de tráfego não classificado, ficando o outro para quando saíssemos. Assim se disse, assim se fez! (A continuar)

Caixa de Música

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sexta-feira, novembro 24, 2006

Imaginário, encantador de patos...

Era vê-los rodopiar e atirarem-se decididamente para o tanque de arroz donde vinha o grasnar de chamamento. Pouco antes de atingirem a água um tiro certeiro ou nem tanto alterava-lhes os propósitos entre manifestações de júbilo ou o praguejar de quem ganhou um troféu ou perdeu essa oportunidade. Hoje são troféus, ontem era a sobrevivência. Imaginário, desde cedo teve que fazer pela vida, ou nos trabalhos pesados do campo ou acompanhando o pai nas jornadas de caça, que este fazia para tapar a boca duma série de filhos, seis ou sete, com uns coelhotes agarrados em armadilhas de laço, uma lebrita morta a tiro, porque justificava o custo do cartucho, ou umas perdizes apanhadas com rede nos bebedouros ou por chamamento na altura do acasalamento. Desde novo treinou o chamamento das perdizes primeiro, dos patos depois, das raposas também e da restante passarada a seguir, por prazer. Esquecia nesses momentos os pés enregelados enterrados na lama ou o frio que lhe trespassava as calças esfarrapadas e encharcadas e que já subia pela camisa de flanela encardida e puída. O queixo tremia-lhe, não sabia se de frio ou excitação. Hoje recorda esses tempos com respeito e emoção. Os trinados de chamamento, diz ele, têm que ser de acordo com aquilo que os animais estão ou querem fazer. Para comer será um, para acasalar outro, para juntar o bando, um terceiro. Imaginário tem um compromisso de sangue com a bicharada e só dá oportunidade de partilha a uns quantos que elege segundo os seus critérios de escolha. Diz ele que apesar destes patos serem de arribação e portanto virem de países longínquos, falam todos a mesma língua. Não precisa de saber ler nem escrever para com eles falar e com eles se entender perfeitamente. Percebe-se agora, digo-o eu, porque caímos como patos, assim que nos aparece pela frente um qualquer Imaginário, encantador de patos e enganador de sonhos…
Imagem retirada deste site

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Viagens salgadas (6)

Mais uma vez na Sagres, agora no caminho de Cabral. Terras de Santa Cruz. Baía de Guanabara, provavelmente onde se situa a cidade mais bonita do mundo. Aí imperavam na altura Wilson Simonal e Seu Jair Rodrigues - Jair de Todos os Sambas. Os alíseos marcaram de novo encontro connosco. Depois de refazer a aguada no Mindelo, lá singrámos para a zona das calmarias, com os olhos atentos nos "paspalhões", que de quando em vez nos punham quase o pano às costas. Toda a gente ansiava por lançar o motor, mas o "velho casmurro" teimava em manter singraduras de duas milhas. Lá descobriu umas bufas tiradas da cartola que nos puseram fora, regressando a velocidades simpáticas que nos deram a oportunidade de gastar dois dias, antes de entrar a Baía de Guanabara, a lavar a cara ao navio. Pranchas no costado e chata na água e lá se pintou o costado e até a linha de água. Depois,a entrada naquela baía de encantar com um vento de feição que nos permitiu largar todo o pano. A embarcação dos pilotos só nos agarrou muito perto do fundeadouro onde inicialmente ficámos. Mais tarde atracámos na Praça Mauá, onde meio Brasil nos visitou. Era a primeira vez que a Sagres voltava ao Brasil com aquele nome. Antes,"se chamava dji Guanabara". Foi uma viagem sofrida, porque morosa e feita em condições que não foram as melhores. O navio foi aprestado um pouco à pressa para estar no Brasil aquando da visita do Chefe do Governo Português (Presidente do Conselho), Prof. Marcelo Caetano em 1969. Havia trabalhos aprazados de mastros e mastaréus que foram apressados, uma andaina nova que não chegou a tempo, uma guarnição pouco treinada. É claro que tempo para treino não faltou durante a viagem. O Director de Instrução dos cadetes da Escola Naval que com connosco realizou esta viagem era e é uma personalidade muito prestigiada na Armada, inteligente e dotada dum sentido de humor extremamente mordaz. Era a primeira vez que embarcava num navio à vela e não perdia uma oportunidade de assistir às manobras de pano do navio. Durante uma delas, o vento não era muito forte e o comandante havia dado ordem para se largar todo o pano. Depois desta manobra estar praticamente concluída, o nosso camarada com o ar de quem nada percebia do assunto e utilizando uma linguagem altamente imprópria em termos marinheirões, perguntou ao comandante se se “enrolasse as pontas” da vela grande o navio não andaria mais. De pronto lhe respondeu o “lobo do mar” que não e que lhe iria de imediato demonstrar isso, tendo dado ordens ao Mestre, para a manobra de ferrar o punho amurado ao vento do “Papa Figos”. Pouco tempo passado e o navio aumentava a sua velocidade em cerca de nó e meio, deixando o comandante um pouco perturbado, sem atinar com resposta para o sucedido. Foi então que o camarada director de instrução comentou, com o seu tom jocoso e mordaz, de que não percebia nada de vela mas sabia umas coisas de cálculo vectorial. E assim navegámos pelas águas turbulentas da convivência institucional, até à “cidadje” maravilhosa. (A continuar)

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quinta-feira, novembro 23, 2006

Hoje, cavo eu!

Esta imagem foi retirada deste site
Este meu retiro para o Alentejo, tem-me devolvido a serenidade e a calma que me devia a mim e aos outros, na medida em que voltei a ter contacto com as coisas simples. Não há mais que fazer de conta, não existem mais constrangimentos. A vida passou a ter o ritmo normal, sem filas de espera, sem corridas nem paragens forçadas. O bioritmo estabilizou. Faço coisas que nunca havia imaginado. Estou quase um artesão. Reparo portas e janelas, conserto candeeiros e tomadas, manejo com alguma facilidade ferramentas, que há algum tempo atrás constituíam para mim equipamentos de tortura. E não me irrito quando tenho que repetir o trabalho ou a mão me falha. A minha mãe costumava dizer que onde eu punha a mão, tirava Deus a virtude. Deus passou-se para o meu Clube e às vezes já peca. Há quatro anos que fazemos vinho, que já começa a ter fregueses certos entre familiares e amigos. Não dá para mais, nem era intenção que desse. Mas diverte. Mas faz a gente querer melhorar e, sobretudo, esperar pelo ano seguinte com ansiedade. Agora estou metido num grupo que se propôs tentar uma incursão pela agricultura biológica de subsistência. Não se aprende muito, mas trocam-se impressões e experiências, ouvem-se estórias de pasmar. Neste grupo, todo ele de idade avançada e de experiências de vida distintas, há vontade de estar, de ouvir e de falar. Não acredito que haja muita vontade de mudar o que quer que seja, mas o facto de as pessoas terem ali um local e uma hora de encontro duas vezes por semana, é importante. Fala-se da vida vivida e também daquela por viver. E também se sonha! Que hoje somos mais ricos que ontem e provavelmente menos do que amanhã! Dali quase seria possível governar melhor o País, porque se acredita nas pessoas mais do que nos números. Porque se não faz da experiência letra morta!

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quarta-feira, novembro 22, 2006

Viagens salgadas (5)

(Esta imagem foi tirada deste site

Depois de África, o Atlântico.

Os Açores a bordo do Navio Patrulha Fogo em nove sofridos meses de enjoo e incomodidade. Pode ser que haja navios mais duros para o mar que estes patrulhas franceses, mas deve ser difícil. Tinham um momento endireitante diabólico conseguido à custa dum balanço inconcebível. Acabei a comissão com dois calos nos cotovelos de me apoiar nas anteparas para não cair. Entrámos uma vez na Praia da Vitória com o cromato de zinco à mostra em todo o costado do navio. A tinta havia sido tirada pelo mar, assim como duas antenas de vara de radiocomunicações, as coberturas em lona das peças, do ouriço e do guincho do ferro cortadas em tiras e a balaustrada arrancada. Mais parecia o "Yellow Submarine" dos Beatles do que um vaso de guerra. Transportávamos uns soldados que iam “à terra” de licença e que já punham em causa o regresso às fileiras no final das curtas férias. Outra vez fomos às Flores buscar uma criança com uma apendicite aguda para ser operada no Faial. A mesma era acompanhada por uma enfermeira para a assistir na viagem. Quando chegámos à Horta, a criança estava bem e a enfermeira quase precisou de ser internada, pois pouco faltou para entrar em coma, devido ao enjoo. Cada vez que íamos para o mar, com bom ou mau tempo, a rotina cumpria-se religiosamente: enfermeiro à prancha com os comprimidos para o enjoo e toda a gente obrigada a engolir um. Havia os que diziam que os ditos lhe tiravam aquilo que, pelo menos a bordo, lhes não fazia falta de todo. Paciência! Apesar do “enjoo ser serviço”, havia que garantir que todos estavam em condições de poder realizar o trabalho que lhes competia. O Inverno em S.Miguel no final da década de sessenta não era fácil. Os filmes chegavam a estar uma semana seguida em exibição, por falta de avião, numa terra que não tinha grandes alternativas para gente nova. O café, à tarde, era o local de encontro. Aí se juntava toda a gente jovem da terra. Aí se trocavam olhares, se combinavam encontros e se planeavam festinhas. Com o chegar do bom tempo, as coisas melhoraram em termos de mar e em termos de terra. Só então foi possível apreciar a maravilha que constitui este arquipélago atlântico, de origem vulcânica, onde ainda é possível assinalar essa actividade. A Lagoa das Sete Cidades, as Furnas, a Lagoa do Fogo, a Lagoa do Congro entre outros, são lugares maravilhosos, onde naquela época, praticamente, não havia exploração turística. Mas foi o Pinhal da Paz, o local em S.Miguel que mais me enfeitiçou pela beleza da sua flora exuberante, com as azáleas e as buganvílias em flor formando cachos de pétalas de cores garridas que depois caiam para as veredas, atapetando-as de cor e silêncio. Parecia que toda a paz e beleza do mundo ali morava, numa calmaria que enchia a alma e punha luz nos olhos. Lá em baixo, o mar agora sereno e muito azul, à espera dum mergulho. Não podia deixar de registar um aspecto muito curioso de insularidade radical, que naquele tempo se vivia nas ilhas do Grupo Ocidental. Os Franceses tinham uma estação de rastreio nas Flores, tendo ali construído um heliporto e mais tarde um aeródromo para pequenas aeronaves militares. Mesmo assim era o Patrulha que prestava socorro em emergências com temporal já que os meios aéreos não podiam ser utilizados. Virada para esta ilha e à sua vista fica o Corvo, onde tive o privilégio de desembarcar, já que raramente isso era facultado pelo estado do mar ou pelas tarefas agendadas para o navio. Era domingo, não havia ninguém na única rua da terra, mas ouvia-se uma espécie de cantilena que vinha do lado da Igreja. Para lá nos dirigimos. Então assisti a uma cena que não sou capaz de reproduzir na íntegra por me faltar a arte e o engenho. Parecia uma cena saída directamente dum filme do Manoel de Oliveira, com a cor laranja de um pôr do Sol de Verão como fundo, um átrio de Igreja pouco cuidado, mas onde se desenrolava um espectáculo teatral sobre Inês de Castro, num Português arcaico, com sotaque açoriano, de que se não percebia patavina. Só me ficou no ouvido, qualquer coisa como - “Ei Senhô! Pobre Inâs! Qiuen la matou?”
(A continuar)

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segunda-feira, novembro 20, 2006

Mergulho à "Tio Patinhas"

Esta é uma brincadeira para testar a capacidade de fazer composições, tipo vídeo, com imagens fotográficas, para variar um pouco a forma de as colocar em blogue. Não serão propriamente as imagens mais brilhantes nem as que melhor retratam as actividades subaquáticas mas podem dar uma ideia pela cara de sofrimento do visado, do esforço a que terá sido sujeito neste curso de mergulhador sapador, no final da década de 60.

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Jukebox

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domingo, novembro 19, 2006

Viagens salgadas (4)

"A quem Neptuno e Marte obedeceram..."
África outra vez. No Bartolomeu Dias (1964-1967) demandei Bissau, Luanda, Saldanha Bay, dobrei o Cabo das Tormentas, fui a Durban e corri vezes sem conta toda a costa de Moçambique desde a Ponta do Ouro até ao Rovuma. Ali conheci os temporais do Canal de Moçambique! Ali casei! Aí tomei pela primeira vez contacto com a música dos Beatles, tocada e cantada pelos “I cinque di Roma”, na Boite do Polana. Aí contactei e convivi com camaradas muito mais antigos, que muito me fizeram aprender sobre o Mar e a Marinha. Algumas vezes, pelo método de redução ao absurdo. Nunca em toda a minha vida profissional tive tantos "encargos" - Chefe de Serviço de Armas Submarinas, Chefe do Serviço de Educação Física e Cte da Força de Desembarque do Navio. As ihas Quifuqui e Metundo, "nunca antes navegadas", foram visitadas por esta força, na busca de "turras", que teriam realizado o primeiro ataque do género em Moçambique, ao Posto do Chai, e naquelas ilhas teriam procurado refúgio. Encontrámos um atol lindíssimo, com teias de aranha que pareciam véus, caindo da copa da vegetação envolvente, como um manto que protegesse as águas transparentes, onde miríades de peixes do coral de todas as cores e feitios se compraziam em danças e volteios. Entre inúmeros registos destes três anos de navio, alguns merecem-me reparo especial. Fomos encarregados de ir desactivar ou rebentar uma antiga mina Vickers Armstrong, que dera à costa, na foz do Rio Lúrio. Saímos de Porto Amélia, na lancha da Capitania, eu, o Comandante da Defesa Marítima e um marinheiro torpedeiro-detector, que havia tirado um curso rápido de manuseamento de cargas de demolição. Desembarcámos num local paradisíaco, depois da entrada da barra duma pequena enseada, chamado Mecúfi. Águas azuladas e transparentes, um palmar interminável debruçado sobre elas e uma pontecais com passadiço de madeira que desembocava directamente na casa do Chefe de Posto, em estilo colonial, de varandim corrido em toda a volta. Daí seguimos em viatura todo o terreno até ao local onde se encontrava o engenho, uns bons dez quilómetros percorridos entre palmares e o areal da foz do rio. Ali chegados e depois duma inspecção, foi entendido que a sua destruição seria a acção adequada. Preparou-se o material com duas cargas de demolição focais, ligadas com cordão detonante e rastilho para cerca de três minutos, suficiente para garantir à equipa atingir um abrigo adequado a uma explosão de cerca de 200 Kgs de trotil. Foi iniciada a ignição do rastilho e procurado o abrigo mencionado. Aí aguardámos a explosão que não mais se fez ouvir. Decorridos uns cinco ou seis minutos angustiantes, dirigi-me sozinho ao engenho, a “tremer de coragem”. Lá, depois de verificado que o rastilho ardera na totalidade, houve que determinar a razão de não rebentamento das cargas. Para isso foi retirado o cordão detonante das ditas e só nesse momento foi possível respirar fundo. Verificada a causa, repostas as cargas, foi finalmente feito o rebentamento das mesmas, já que a mina estava oca e possivelmente a servir de bóia de amarração num porto qualquer do Índico. Em Durban, estivemos cinquenta e cinco dias a docar. A limpeza do fundo e do costado em doca seca era feita por presos, na sua grande maioria ou mesmo totalidade de raça negra, que todos os dias vinham com escolta policial, que ficava nas muralhas da doca enquanto eles realizavam estes trabalhos. Um desses dias, estava eu debruçado a vê-los trabalhar no costado, quando ouvi uma voz que a mim se dirigiu – Ei signori! Una cigarretta, per favore! Perguntei – Italiano? Resposta – Sicciliano! Na Beira brincámos às guerras com os Ingleses, por causa da Rodésia. O "Yoanna V" que furou o bloqueio entrando na Beira, onde descarregou petróleo para o Ian Smith. Nos intervalos de mar lá íamos fazer a ronda das “capelinhas”. As músicas que se ouviam eram italianas e francesas, muito puxadas ao sentimento. Os “singers”, oleosos e empastados, espremiam-se todos para imitar o Gianni Morandi ou o Aznavour. Os jogos do Campeonato do Mundo de Futebol em Inglaterra, ouvidos na rádio. O desafio aos navios ingleses por fonia - encontramo-nos na final! (A continuar)

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sábado, novembro 18, 2006

Loucuras e fantasias em dó menor

Algumas vezes me pergunto se de facto existo, ou se é apenas impressão minha. Que as coisas não são o que parecem, ou são apenas porque parecem ser. A família será uma abstracção nossa ou existe de facto com vínculos sanguíneos, cromossomáticos, afectivos, de leite?! Talvez seja só imaginação nossa, porque seria impensável o neto bater na avó e às vezes acontece. Se a minha avó me batia era porque era avó e a avó bate por bater, ou porque eu merecia? Será que ela alguma vez me bateu ou continua só a ser impressão minha? A mãe bate para castigar, bate para educar ou bate por amor? Mas que disparate! Os pais batem porque são grandes, porque se fossem pequenos também as levavam, ou não? Confesso que estou confuso! Será que eu existo ou sou apenas a lembrança de quando era pequeno e a minha avó me batia? Ou a minha mãe me amava com a colher de pau quando não lhe obedecia, ou as minhas irmãs me chegavam a roupa ao pêlo, porque as denunciava quando estavam a namorar à janela, ou o meu pai me dava uma tosa de se lhe tirar o chapéu, só porque eu saltava por cima do gargalo do poço? É bom a gente bater quando ama, bater na mulher, bater na irmã, bater na tia, bater na sobrinha, bater, bater! Bater até a mão doer! Adoro bater! Ou será que é apenas impressão minha? Será que existo ou apenas penso que existo?! Bato, logo existo! Hoje sou ou não sou?

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sexta-feira, novembro 17, 2006

Viagens salgadas (3)

Ainda cadete, pertenci à guarnição dum navio - aquele que, na altura, menos queria que me calhasse na rifa - o Ribeira Grande, onde tinha por mais duma vez lavado as tripas até à exaustão, nas viagens de fim de semana da Escola Naval. Era seu comandante uma das figuras mais curiosas e emblemáticas da Marinha daqueles tempos. Ou estávamos a navegar, em serviço SAR ou na fiscalização das pescas, ou estávamos a jogar bridge na câmara de oficiais. Não sei se consegui dormir duas horas seguidas a bordo daquele navio. Para variar, fui encarregado de fazer o chaveiro do navio, além das minhas funções de navegador.Fiscalizávamos a zona centro e, normalmente, pernoitávamos em Setúbal ou lá íamos passar o que restava da noite. Várias vezes fomos ver se o navio cabia entre dois cargueiros atracados ao cais comercial . Umas vezes sim, outras não. Tudo era melhor do que ir parar ao Cais do Carvão. Certa noite, no Cais do Carvão, depois duma ida ao cinema, quando regressámos a bordo, tínhamos o navio pendurado no cais, com o verdugo assente na estacaria. Tivemos que esperar a subida das águas para endireitar o navio e poder zarpar. Ainda estou a ouvir a desanda que o comandante deu ao pessoal de serviço. Sair a barra de Setúbal com a água a vazar e o sudoeste rijo, como tivémos que fazer algumas vezes, não era pêra doce. A rebentação em cima do baixio, tirava-nos a água que precisávamos para não bater com o fundo, que era de madeira. Numa acção de busca e salvamento dum avião de treino da FA que caira perto da Praia de Sta Cruz, tornou-se forçosa a presença a bordo dum outro oficial para fazer quartos e foi pedido pelo comandante um que, preferencialmente, jogasse bridge. E apareceu um. Ainda havia quem dissesse mal da gestão de pessoal! (A continuar)

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quinta-feira, novembro 16, 2006

Natureza em fúria

As agressões ao meio ambiente pagam-se caras. A poluição do ar que respiramos, da água que bebemos, a contaminação dos vegetais e dos animais que constituem a base da nossa alimentação, fazem com que a nossa vida se tenha transformado num pesadelo de doenças e sofrimento. Não satisfeitos, educamos os nossos netos (já não falando dos filhos) a regerem-se por padrões de consumismo e elitismo, que nada favorecem uma saudável interiorização de valores como o uso equilibrado dos recursos naturais, do companheirismo, do espírito de entreajuda e da contemplação do maravilhoso mundo que nos rodeia e que tanto menosprezamos. A competição desenfreada desumaniza as relações, relegando-as para lugar secundário na hierarquia de valores a defender. Como fazer prevalecer o casamento como união de interesses que deixaram de o ser? Como fazer vingar a harmonia e concórdia entre povos que são confrontados com as suas diferenças em vez das suas semelhanças? Como estabelecer a paz onde a guerra campeia? Se em vez de termos utilizado os desenvolvimentos tecnológicos no sentido de criar mais armas mortíferas, incluindo nestas o controlo dos meios de produção dos países mais desfavorecidos, a impossibilidade de todos os povos poderem aspirar à sua autonomia e desenvolvimento, a manipulação genética, a falta de controlo das indústrias e resíduos industriais perigosos, o efeito de estufa, os tivéssemos utilizado para criar condições de apaziguamento de tensões políticas e sociais um pouco por toda a parte, talvez hoje o mundo fosse mais calmo, mais em harmonia com a Mãe-Natureza e não despertasse da parte desta uma reacção tão violenta como a que temos vindo a assistir nos últimos tempos. Os tornados, os tremores de terra, os tsunamis, as tempestades tropicais, a erupção de vulcões, as cheias e as secas têm vindo a manifestar de forma violenta a fúria da mãe que vê os seus filhos seguirem por maus caminhos sem nada por eles poder fazer, e que se torna por isso madrasta.

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terça-feira, novembro 14, 2006

Viagens salgadas (2)

Esta imagem foi tirada deste site
No final da Escola Naval, fomos fazer tiro às Selvagens na Corte Real, que navegava em companhia da Pacheco Pereira, onde os nossos camaradas AN e EMQ se encontravam embarcados. Viagem cheia de peripécias, em que os observadores de tiro em terra, desembarcados do navio num bote de borracha e comandados pelo então 1ºTen Metzner, um dos primeiros oficiais especializados em Fuzileiro, tiveram que ser abastecidos a partir dum avião saído de Lisboa. O mau tempo obrigou-os a permanecer na ilha muito mais tempo do que inicialmente previsto, não lhes dando hipótese de reembarque. Se bem me lembro, durante os exercícios de tiro com as peças de "127" (Se bem me lembraram), eu dava saltos cada vez que o navio disparava. Era eu e o cão do navio. Não sabíamos onde nos havíamos de meter. Aí decidi que nunca seria artilheiro. Era muito barulhento para o meu gosto. O melhor desta viagem acabou por ser a passagem do ano ao vivo e a cores no Funchal. As festas nos hoteis, o fogo de artifício, os pseudo engates das bifas. Ao fim e ao cabo era sempre o mesmo a safar-se – “Ah! Ganda Stefan!” Na viagem de regresso, na PP, um dos nossos camaradas AN foi mordido num lábio, enquanto dormia, por uma ratazana esfomeada. O navio tinha embarcado em Durban, durante docagem que ali fizera, uma porção muito razoável daqueles passageiros clandestinos, que pareciam cruzados com as vaquinhas holandesas dos nossos amigos Boers. Eram malhados de preto e branco. Durante as refeições a bordo, segundo descrição dos nossos camaradas, sempre que o pessoal da taifa, que servia à mesa, pousava as travessas em cima do móvel de apoio, ainda que momentaneamente, era vulgar ver um dos daqueles parceiros descer pela antepara e vir roubar um naco do que estava a ser servido. Na Corte Real, o flagelo eram as baratinhas navais, que na coberta de vante e no refeitório das praças, onde tomávamos as refeições, partilhavam connosco o repasto. À noite, o pessoal da copa deixava um panelão, dos da sopa, com umas migalhas no fundo em cima duma das mesas do refeitório com uma espécie de ponte da mesa para a panela. De manhã o panelão estava praticamente cheio das nossas pequeninas companheiras de viagem, que eram de seguida postas em cima do fogão, onde crepitavam "bastamente". É por isso que ainda hoje gosto de crocantes. (A continuar)

Coffe Break

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segunda-feira, novembro 13, 2006

Tempo de nós

No final da linha, julgo que todos procuramos, mas poucos têm o privilégio de conseguir, um equilíbrio que sempre nos faltou ao longo da nossa vida activa profissional, familiar, social. As razões para que tal acontecesse terão sido muitas e variadas, mas provavelmente estariam ligadas à velocidade a que vivíamos esses dias, sem tempo para olhar para trás como agora fazemos, com uma lista infindável de coisas para fazer e prazos a cumprir. Lembro-me de desejar viver tão depressa o tempo de comissão na Guiné, que se fosse possível, tê-lo-ia riscado do meu calendário vital, isto é, desejava ter envelhecido a toda a brida, sem que disso na altura me tivesse dado conta. Hoje, gostaria de poder recuperar esse tempo retardando-o o mais possível, porque continuo com a minha agenda muito preenchida e com muito pouco tempo para executar todas tarefas nela inscritas. Só existe uma pequena diferença entre os assuntos agendados: estes, foram-no por mim. São para tentar realizar com o tempo que eu lhes disponibilizar, com a prioridade que lhes atribuir, com os meios que eu puder afectar, com a coragem que eu conseguir reunir, depois de alguma esbanjada sem grande resultado e, finalmente, com o carinho que poucas vezes tive oportunidade de emprestar às coisas que fazia. Já que estamos em época de orçamentos, nunca tinha atribuído uma dotação tão elevada de tempo para a família. Como tem sido bom descobrir debaixo das rugas que a idade nos vai esculpindo, os recantos dantes descurados do carinho e da ternura. A redescoberta da nossa irreverência juvenil, nos desvarios dos mais novos, na sua insatisfação, na sua busca permanente de soluções mais ou menos loucas, mais ou menos difíceis de por nós serem entendidas. É tempo de reconciliação connosco e com os outros. Não é decididamente o nosso tempo, mas é o tempo de nós!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Viagens salgadas

As Aventuras de Sandokan, O Tigre da Malásia, alimentaram o meu imaginário juvenil e atiraram-me definitivamente para a Marinha. O Oriente fascinava-me e queria muito conhecer-lhe os contornos, descobrir-lhe as rotas, esventrar-lhe os mistérios.
Na Escola Naval, um curso acabara de fazer a volta ao mundo. Partiram no Afonso e chegaram no Bartolomeu. O meu chefe de camarata, um desses felizardos, obrigava-nos a chamar-lhe entre outras coisas - Imperador da UMO UMO NUCO NUCO APUALÂNDIA. Sabe-se lá onde isso ficaria ou se existiria de todo. Mas existia na nossa imaginação. Indígenas com penas na cabeça e ossos a atravessarem-lhes as orelhas e o nariz. As nativas de cabeça florida a rebolarem as ancas. Seria aí? Era de certeza.
Mas comecei por África. Na Sagres, senti pela primeira vez a força dos alíseos empurrando-nos para oeste."Seilô, seilô, ê barca Sagres". Não sei se se escreve assim, mas foi assim que eu ouvi e de que guardo memória. Mindelo, o Monte Cara, as mornas, as coladeiras, as crioulas, as noites quentes, os mergulhos nocturnos e as picapadas na Matiota. As cabras a comer papel, o John Paris a beber gins tónicos.- Você se tiver juízo nunca beba Gin, ouviu? Mata mesmo, faz mal ao coração! - Terá sido isso que te matou John? Ou as mulheres que tinhas espalhadas pelas ilhas todas do arquipélago e ainda por Dacar?
- Qué que bô crê?
(A continuar)

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quinta-feira, novembro 02, 2006

Comissão Guiné no DFE4 - Ganturé - 2

De entre dezenas de fotos fiz uma selecção que ilustrasse a vivência de todos os que comigo partilharam estes momentos nem sempre tão serenos como as imagens parecem sugerir

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quarta-feira, novembro 01, 2006

Tempo de Recreio

Para o meu amigo Ruas, que nos obrigou a todos quantos estavam em Ganturé, a cantar esta música, mas especialmente a decorar a letra da canção, pouco tempo antes de vir de férias.

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