sexta-feira, novembro 17, 2006

Viagens salgadas (3)

Ainda cadete, pertenci à guarnição dum navio - aquele que, na altura, menos queria que me calhasse na rifa - o Ribeira Grande, onde tinha por mais duma vez lavado as tripas até à exaustão, nas viagens de fim de semana da Escola Naval. Era seu comandante uma das figuras mais curiosas e emblemáticas da Marinha daqueles tempos. Ou estávamos a navegar, em serviço SAR ou na fiscalização das pescas, ou estávamos a jogar bridge na câmara de oficiais. Não sei se consegui dormir duas horas seguidas a bordo daquele navio. Para variar, fui encarregado de fazer o chaveiro do navio, além das minhas funções de navegador.Fiscalizávamos a zona centro e, normalmente, pernoitávamos em Setúbal ou lá íamos passar o que restava da noite. Várias vezes fomos ver se o navio cabia entre dois cargueiros atracados ao cais comercial . Umas vezes sim, outras não. Tudo era melhor do que ir parar ao Cais do Carvão. Certa noite, no Cais do Carvão, depois duma ida ao cinema, quando regressámos a bordo, tínhamos o navio pendurado no cais, com o verdugo assente na estacaria. Tivemos que esperar a subida das águas para endireitar o navio e poder zarpar. Ainda estou a ouvir a desanda que o comandante deu ao pessoal de serviço. Sair a barra de Setúbal com a água a vazar e o sudoeste rijo, como tivémos que fazer algumas vezes, não era pêra doce. A rebentação em cima do baixio, tirava-nos a água que precisávamos para não bater com o fundo, que era de madeira. Numa acção de busca e salvamento dum avião de treino da FA que caira perto da Praia de Sta Cruz, tornou-se forçosa a presença a bordo dum outro oficial para fazer quartos e foi pedido pelo comandante um que, preferencialmente, jogasse bridge. E apareceu um. Ainda havia quem dissesse mal da gestão de pessoal! (A continuar)

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1 Comments:

Blogger taizinha said...

Deixei um desafio no post anterior. Devia ter deixado aqui. Vá ao meu. Beijos.

17/11/06 19:52  

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