sexta-feira, dezembro 29, 2006

Zé Cacilheiro

Devo à Transtejo parte daquilo que hoje sou, por razões que estão para lá do aspecto financeiro, muito importante para quem andou sempre a contar os tostões, e que se relacionam com uma nova visão do mundo pela óptica empresarial e pelos relacionamentos que me foi proporcionado estabelecer e que muito prezo. Permitiu também que me atrevesse pela área informática, onde dei os primeiros passos e que, por ironia do destino, haveria de ter feito de mim, a par de outros colegas dos transportes, dos primeiros em Portugal a utilizar uma coisa, que se chamava teleconferência (hoje, corriqueira) e que nos ligava, num projecto de formação profissional modular a distância, a dezanove participantes de quase todos os países da UE.
Aqui deixo um tributo ao profissionalismo de quem tem por missão garantir uma ligação fácil, segura e tão cómoda quanto possível, entre as duas margens do Tejo.
As imagens não acompanham as mudanças entretanto verificadas na frota. Alguns navios desapareceram, outros ainda lá não estão.

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Réveillon

Não sou muito deste tipo de coisas por feitio ou por defeito. Entendo que as festas somos nós que as fazemos, quando temos vontade, quando existe oportunidade, quando o local e a companhia são apelativos. É tal e qual como fazer amor! Dizem os brasileiros que é quando pinta… Talvez não seja exactamente assim. Por que para eles fazer amor…parece que pinta sempre. Mas o que é facto é que, por via da profissão, tive oportunidade de passar o ano das formas mais variadas possíveis. O meu último réveillon na Guiné, foi passado a cerca de cinco quilómetros dum aquartelamento em construção para alojar uma unidade do Exército. Fazíamos a defesa afastada, enquanto outras forças especiais faziam nessa noite a defesa próxima. As informações que haviam chegado, uns dias antes, davam conta de grande ajuntamento de forças do PAIGC, comandadas pelo Nino, reforçadas com dois bi-grupos de armas pesadas e basucas, que pretenderiam juntar-se à festa de fim de ano das forças portuguesas estacionadas naquele local, preparando um fogo de artifício de se lhe tirar o chapéu. À distância a que nos encontrávamos do aquartelamento era possível ouvir a algazarra provocada pela festança brava que por ali corria, a que não faltava música ao vivo, provavelmente regada com uns decilitros a mais de reforço. Pelo menos em direcção não seria difícil apontar as armas e pela afinação das cantorias, a aproximação também permitiria assestar a pontaria em alcance. Estavam pois reunidas as condições ideais para o Nino abrilhantar a festa. O grupo que eu comandava nessa noite era de cerca de quarenta homens e ocupava a previsível zona de aproximação do inimigo, emboscando os trilhos. Eu ouvia o coração a bater nas têmporas, só de pensar o que seria ter um encontro com uma força de algumas centenas de homens bem treinados e profundos conhecedores do terreno, que certamente viriam carregados de material para atacar o aquartelamento e que, na impossibilidade de o fazer, descarregá-lo-iam em cima de nós, para garantirem liberdade de movimentos na retirada. Foram longas e penosas horas de espera, felizmente infrutíferas. O Nino terá resolvido ir fazer a festa para outra freguesia e ainda bem. Quando os macacos finalmente se juntaram à festa com a sua cantoria matinal e a passarada fez coro, demos por terminado o nosso réveillon e a folia de uma passagem de ano para não esquecer.

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quarta-feira, dezembro 27, 2006

A LA MINUTA

Não nos damos bem conta do tempo que gastamos em orgias gastronómicas e muito menos daquele que se esvai em sonos bem ou mal dormidos. Como todo esse tempo me fazia jeito agora! Curiosamente, é das comesainas que guardamos mais recordações fotográficas. Quando busco nos dossiers e álbuns, fotografias que possam ilustrar a estadia em qualquer local que importaria recordar, só me saltam fotos de paisagens desbotadas pelo tempo ou pela memória ou de almoçaradas e jantaradas. Raramente aparece uma imagem que retrate um episódio, uma cena, um momento digno de registo. Aquele que hoje gostaria de recordar e partilhar convosco está longe de ter tido uma cobertura fotográfica capaz de me avivar a memória, mas está marcado indelevelmente por uma vivência de quarenta e dois anos em comum. Com o Atlântico e Índico a separar-nos, nada impediu a sua concretização. As fotos que recordam o evento estão registadas em dois continentes. Recordo com saudade esses tempos, unicamente pela juventude que os animava, porque de resto não representam mais nem menos do que todos os outros que partilhámos, nem sempre bons nem bonitos, mas sempre ao alcance dum “desculpa”, dum beijo, duma carícia. Era esta a herança que gostaria de deixar a filhos e netos.

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Notas de ...Música

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Ano Velho, Ano Novo

Imagem tomada do site
Os anos não têm idade, têm história!
No dizer dum amigo meu - são como a minha prima Georgina, ninguém lhe conhece a idade, mas todos lhe conhecem a história -
E a história deste último, não é bonita de contar.
As guerras arrastaram-se de anos anteriores, porventura de forma mais
violenta.
O Papa comete gafes. O presidente do país mais poderoso do Mundo é, ele próprio, uma gafe.
As facções religiosas degladiam-se à volta de questões menores, em vez de se unirem na busca de soluções que roubassem menos vidas e engrandecessem a alma.
A despenalização do aborto que deveria ser um acto de justiça por todos reconhecido, é apresentado por quem o pratica sem risco nem pudor em clínicas especializadas, como a liberalização do aborto, que ninguém de mente sadia deseja nem quer. Este governo, que não se coíbe de atentar contra direitos adquiridos e expressos em forma de lei, nas mais variadas áreas da vida dos cidadãos que o elegeram, contrariando em muitos casos, de forma grosseira, promessas eleitorais, este governo, dizia eu, precisou de recorrer ao referendo para tratar um assunto que podia e deveria ser da sua inteira responsabilidade e competência.
Não é o problema do referendo em si. É o problema de não ter utilizado o mesmo critério para assuntos de igual importância para a vida dos cidadãos como as reformas em curso no âmbito da Segurança Social, da Saúde, da Educação, da Reforma Administrativa, entre outras.
Têm sido pedidos sacrifícios aos Portugueses, muito para além daquilo que um governo de um partido socialista deveria ser tentado a pedir. Nunca os governos anteriores de partidos de cariz liberalizante ousaram enveredar por esse caminho.
E os resultados onde estão?
As empresas nacionais vão à falência e fecham. As multinacionais deslocalizam-se.
E o País fecha ou deslocaliza-se?

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sábado, dezembro 23, 2006

O Natal lá no sítio

Imagem tomada do site

O Médio Oriente e a Mesopotâmia, são palco de eventos trágicos e religiosos desde há milénios. É estranho, que havendo lugares na Terra bem mais aprazíveis que os citados, quer pela paisagem envolvente, quer pelas civilizações estabelecidas e desenvolvidas, quer pela situação estratégica, ali se tenham travado e se mantenham dos mais duros combates político-religiosos da História da Humanidade.
As razões de hoje não terão sido as de outrora, mas não há dúvida de que algo especial faz com que as tensões espirituais e materiais se conflituem naqueles locais, tão perto e tão fora da Graça dos Deuses.
Deus uno com várias faces ou a face de vários Deuses? Na mesma área, na mesma cidade se congregam e se entrelaçam as vidas e os destinos de três diferentes religiões que no seu conjunto arregimentam a maioria de fiéis em todo o Mundo.
Por aquelas bandas se guerrearam egípsios, filisteus, hebraicos, assírios, babilónicos, persas arqueménidas, ptolomaicos, selêunidas e romanos. A região integrou o Império Bizantino. Esteve debaixo do jugo turco. O mundo islâmico dividiu-se após guerra civil entre Sunitas e Xiitas e outras confissões menores dissidentes, que se espalharam do Iraque, à Síria, ao Irão, Afeganistão e dali ao restante espaço muçulmano.
Por ali se cruzaram durante os séculos XI a XIII as hostes cristãs nas suas cruzadas contra turcos e árabes, com o intuito de reconquistar a Terra Santa e Jerusalém.
Das sete cidades sagradas do Islão, cinco situam-se entre o Iraque e o Irão, com Jerusalém de permeio, cidade reclamada por Cristãos, Muçulmanos e Judeus como sua.
Em Maio de 1948 é criado o Estado de Israel, pela mão dos Ingleses.
Por ali se estendem quilómetros de “pipelines” que fazem andar as economias de todo o mundo, enchem os cofres das petrolíferas e doiram os palácios reais dos novos califas.
Judeus americanos e Judeus israelitas unidos na nova cruzada contra a hegemonia árabe da região, os primeiros a tomar conta dos “pipelines” e a pagar a segurança dos segundos.
Por aquelas bandas deu à luz Maomé!
Por ali nasceu Jesus!
Por ali já houve Natal!
Por acaso?

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quarta-feira, dezembro 20, 2006

O Presépio frio

Finalmente o frio chegou, saído da minha infância e adolescência, com geadas nas zonas viradas a norte, placas de gelo nas taças das fontes e chafarizes e sol quentinho nos cantos abrigados de sul. O meu passeio matinal com os cães, enregelou-me as extremidades dos dedos, trazendo-me de volta o termo engadanhado. As ervas das bermas da estrada estavam brancas e estaladiças. Foi um passeio “crocante”, para utilizar um neologismo.
Até os cães mal punham as patas no chão para não enregelarem. As charcas resultantes das últimas chuvadas estavam com gelo de um centímetro de espessura, o que os obrigava a patinar, e a estatelarem-se de seguida, animando a jornada. Nem o canto dos pássaros se fazia ouvir.
O meu bafo condensava de imediato, como se tivesse retomado hábitos antigos de fumar. Deu-me na fraqueza e tive uma vontade louca de fumar um cigarrinho para aquecer as mãos e a alma. Ainda bem que não havia ninguém em redor a quem pudesse recorrer, permitindo-me regressar ao meu juizinho habitual.
Quando comecei a fumar, muito jovem ainda, às escondidas dos meus pais, por mais de uma vez tive que meter a mão com o cigarro a arder no bolso, para não ser apanhado em flagrante delito. Agora teria dado imenso jeito.
Lembro-me, também, de ter visto homens e mulheres do campo com perneiras de jornais velhos para se protegerem das friezas matinais, nos trabalhos do campo. Era talvez a única serventia que esse “papel sujo” tinha, pois a maioria não conhecia uma letra do tamanho dum chaparro. Às vezes tinha uma segunda utilidade, que alguns ainda hoje lhe dão, embora por razões diferentes.
De volta ao conforto da casa com o lume aceso, penso como será doloroso para muitos portugueses, o frio que agora se faz sentir, sem os meios adequados, nem dinheiro para os adquirir, para minorar os seus efeitos tão gravosos para as crianças e idosos.
Jesus, na sua ingénua mas santa sabedoria, soube escolher um burro e uma vaquinha para o aquecerem.
Nós, na nossa pérfida mas santa ignorância, comemos a vaquinha e pusemos o burro no poleiro.

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segunda-feira, dezembro 18, 2006

OH!OH!OH!

Imagem tomada do site
O Natal tem sempre as leituras religiosa e social, que para a maioria das pessoas se confundem, mas que para mim estão muito bem separadas. Separadas pela memória e separadas pelo sentir. A memória fala-me de Menino Jesus, de Missa do Galo à revelia do meu pai, de toda uma noite escura de ansiosa espera pelos modestos presentes do Menino. Da manhã de todas as alegrias ou desilusões. Do olhar de inveja dos outros miúdos menos afortunados, do olhar vazio de lágrimas de muitas mães. Não me lembro de ceias, de patos estufados, de bacalhau com couves nem de outras iguarias que a tradição recomenda. Entre os farrapos da memória, há brinquedos de madeira ligados a beatas de xailes negros, babujando o pé descalço do Menino, exposto à entrada da Igreja do Convento Novo, para a única cerimónia pública do calendário litúrgico. Tenho também do Natal uma memória doce de bolo-rei e de broas de mel. Hoje, a memória baralha-se entre pais e mães natais do HOHOHO, os action-men e as barbies, os nitendos e as playsations, os MP3 e os Ipod. O Natal de plástico não fala do Deus-Menino, mas antecipa a última ceia, juntando parentes e amigos em comesainas do Diabo. Publicitam-se como um produto comercial nas televisões públicas e privadas, as oferendas migalhentas e farisaicas, ao mesmo tempo que se anunciam novos despedimentos. Se “Deus quiser” para o ano o “Bodo aos pobres” será maior. As ruas engalanadas tocam hinos em honra não se sabe bem de quem e as iluminações abrilhantam a miséria que nos vai na alma. As famílias que são o último elo da solidariedade e união, estão desfeitas pelo casamento, pelo desemprego, pela incompreensão e pela desesperança. A vida não está para netos, nem para filhos que barbas tenham, como diziam os mais antigos. Resta-nos acreditar que o Pai Natal existe e que nos vai pôr no sapatinho a prenda que todos nós mais desejamos! Brindemos e decilitremos, como diria um amigo nosso!

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Era uma vez...

A vantagem de contar estórias é podermos dar-lhes um pouco mais de colorido qb, sem no entanto lhe alterar o conteúdo ou, pelo menos, subvertê-lo. Quando conto uma estória não deixo nunca de lembrar-me do meu saudoso amigo e companheiro de muitas guerras - o Eloi. Ele conseguia emprestar a tudo o que contava um sabor inigualável. Nunca o ouvi contar duas vezes a mesma história da mesma maneira. De cada vez que a contava, acrescentava-lhe mais sal, mais pimenta, mais gosto, divertia-se a contá-la e divertíamo-nos a ouvi-la. Não é a mesma coisa passar uma qualquer estória para o papel ou contá-la directamente a uma audiência. Ao escrever, podemos imaginá-la as vezes necessárias até lhe encontrarmos o paladar. É como confeccionar um acepipe com receita. Com técnica e algum jeito tudo se consegue. Mas o dom de manter audiências agarradas e de todo envolvidas numa narrativa ao vivo e a cores, não é para simples aprendizes de feiticeiro nas artes de bem contar. Será como inventar um acepipe, que toda a gente degustará com prazer. O que o Eloi se divertia a pôr na boca de outros aquilo que ele queria que eles dissessem ou tivessem dito.
- Oh Jr, conta lá aquela em que tu estiveste quase a bater num polícia, mas…
- Eh pá, não me lembro bem, quando é que isso foi?
- O Jr. ia uma vez…
Era espantoso! Eu não fazia a mínima ideia do que ele queria que me tivesse acontecido! Claro! A história não era minha, era dele!
A vida muitas vezes também nos conta estórias. Estou a lembrar-me duma que começava assim:
Era uma vez… um jovem Guarda Marinha…

sábado, dezembro 16, 2006

Na senda de Camões

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sexta-feira, dezembro 15, 2006

Listen to the Music

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quinta-feira, dezembro 14, 2006

Estórias de Caçadores, Pescadores e outros...

Imagem tomada no site
A caçada era aos patos. Tinha chovido imenso de véspera e os caminhos que conduziam aos tanques do arroz, onde tencionávamos esperá-los, estavam quase impraticáveis. Mesmo fazendo uso de um todo o terreno não me teria arriscado se não fora a presença dum outro carro do mesmo tipo, mais potente e mais alto, que poderia em caso de atascanço, dar uma ajudinha. E lá fomos por becos e travessas que eu, noviço nestas áreas, desconhecia por completo. Chegámos a um local donde nos seria impossível prosseguir. Armámos o estojo e cada um seguiu para os tanques de restolho de arroz, que melhor entendeu. O Sol estava a esconder-se, era preciso ser célere. Eu e mais dois companheiros afastámo-nos uns bons quinhentos metros e lá procurámos posicionar-nos por forma a que os tiros não pusessem qualquer de nós em risco. Mal acabara de tomar posição, quando junto à ribeira onde tinha ficado um dos companheiros, se ouviu um tiro, a que outro se seguiu, sem que se vislumbrasse a razão de tal. Entretanto o atirador começou a correr ao longo da ribeira e a gritar para mim que corresse também apontando-me um vulto, que depois percebi tratar-se dum javali, que se movimentava com alguma dificuldade. Ainda fiz uma tentativa de correr em cima do combro em que me encontrava, mas depressa percebi que morreria de cansaço primeiro do que o porco. O javali acabou por tombar uns trezentos ou quatrocentos metros para além do local em que havia sido atingido. A caçada prosseguiu, finalmente aos patos. Terminada que foi, dirigimo-nos para os carros, onde já nos aguardavam os outros dois parceiros que haviam ficado mais perto. E um deles contou uma estória que não resisti a reproduzir, por tão inverosímil me parecer, mas contada com a convicção de ter sido vivida. O nosso comparsa é um calmeirão aí dum metro e noventa ou muito perto disso. Tinha-se colocado num dos tanques perto do local onde deixáramos as viaturas, esperando que o lusco-fusco trouxesse os patinhos. Já o Sol se escondera havia algum tempo quando sentiu um esvoaçar que se aproximava, mantendo-se hirto com a arma bem aperrada, pronto a disparar quando o pato se mostrasse. Sentiu uma brisa na nuca e nas orelhas e depois as patas duma coruja aterrando na sua cabeça. Deu um salto que nem corsa mordida por um leão, tentando atingir a fera com a coronha da arma pombeira. Põe-se agora a questão. Será que a coruja tentou pousar num poste alta tensão ou banquetear-se com um tal ratão?

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terça-feira, dezembro 12, 2006

Décimas Natalícias

Peço desculpa a todos os poetas populares alentejanos e especialmente Igrejinhenses que se exprimem neste tipo de rima, pelo atrevimento de o utilizar desta forma. Mas faço-o como um tributo à mestria e encanto com que o fazem. ZJ

Mote:

Em bom estilo da Igrejinha Umas décimas vou dedicar Nesta quadra que se avizinha A quem nos está a governar

Nas festas da Padroeira, Desta terra os devotos Expressam os seus votos Agradecem desta maneira Fazendo disso bandeira À sua Santa Madrinha Na rua fazem altar E diante do seu Pendão Mostram a sua devoção Em bom estilo da Igrejinha

Também assim eu quero Desta forma expressar Dizendo a versejar O quanto de vós espero O quanto eu sofro e tolero E como sou capaz de aturar Mas eu vos quero lembrar Tomai pois atenção Em jeito de sermão Umas décimas vou dedicar

Lá longe na Nazaré Jesus numa gruta nasceu No Céu uma luz se acendeu Par’aqueles que têm fé E para os pais Maria e José. Era bom, penso eu na minha, Da forma como isto caminha Que todos pudéssemos ver No Céu uma luz aparecer Nesta quadra que se avizinha

Mais importante que dizer Diz o povo e tem razão Sem rancor, mas com emoção, É certamente o fazer No Céu uma estrela aparecer Que nos ajude a reencontrar E a dignidade ganhar É um presente que merecemos E um repto que fazemos A quem nos está a governar

ZJ 12.12.2006

segunda-feira, dezembro 11, 2006

O Rapaz e o Cão


Rosa branca desmaiada…

Rosa branca desmaiada…
Onde deixastes o cheiro?
(Versos de música popular alentejana)

A alquimia política transformou cravos vermelhos do nosso encanto, orgulho e esperança, em rosas vermelhas, que têm vindo a desbotar com o tempo.
Hoje, não passam de rosas brancas, desmaiadas, sem cheiro e sem vida e que são espelho do nosso desapontamento.

Outra vez um país adiado?

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sexta-feira, dezembro 08, 2006

Netos & Cia

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quarta-feira, dezembro 06, 2006

Militares à Bolina Cerrada

Um título deve dar indicação do conteúdo. Bolina é um termo náutico e é natural que este blogue privilegie as coisas ligadas ao Mar. Mas bolina quer dizer em linguagem náutica de vela, dar amura ao vento, navegar cingido à linha de vento, por outras palavras, navegar contra o vento. Todas as línguas utilizam esta expressão, para retratar situações de grande dificuldade na progressão, seja ela económica, política ou de outra natureza. Bolina cerrada será uma situação extrema na arte de navegar à bolina, em que qualquer pequeno salto de vento ou distracção do timoneiro pode determinar o ficar com o pano às costas, isto é, em perda de seguimento ou mesmo sem ele. Quem ontem assistiu ao debate sobre a situação dos militares apercebeu-se de imediato, se ainda o não entendera antes, de que navegamos à bolina cerrada, há já algum tempo, em risco sério de ficarmos com o pano às costas, o que poderá obrigar a manobra de emergência ou a uma arribada forçada. Os timoneiros militares têm graves dificuldades em manter o leme firme. A orçada está rija! Os ventos sopram fortes. Os sacrifícios até agora suportados não fazem antever porto seguro como, pela estima, já seria de esperar. É suposto haver erro de navegação e não parece fácil a alteração de rumo. Sacrifícios acrescidos são mais fáceis de exigir a quem está mais habituado e obrigado a suportá-los. Mas já se entrou na fase de "pôr sola de molho", porque a "bolacha capitão" está no fim. É bom que mudem os ventos ou o rumo para que nos seja permitido folgar a escota. Bolinar é duro e não pode suportar-se por muito tempo!

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Viagens salgadas ( Epílogo)

Não terá sido uma epopeia marítima, nem tão pouco uma experiência ímpar esta que ficou expressa neste blogue, mas foi concerteza um testemunho, uma forma de manifestar a minha nostalgia pelas coisas do mar ou com ele relacionadas. No meio ficaram imensas coisas por contar, porque não estou a fazer história, mas a contar estórias. As mais alegres ou as mais picarescas. As que pelo menos façam sorrir. A minha vida no mar foi longa, se bem que repartida e entremeada com situações de "sequeiro". Um pouco por culpa minha, que evitei sempre uma especialização, não me foi dado experimentar uma carreira operacional nos navios, mas sinto que fiz o que na altura me pareceu correcto e que de alguma forma me satisfez pessoal e profissionalmente. Acabei por me especializar, diria eu, em ideias gerais e em fazer amigos. É para eles que vão estas memórias em jeito de abraço! Todas as histórias de amor acabam normalmente aos beijinhos e aos abraços, mas esta vai acabar de forma diferente. Como está muito na moda imitar, plagiar ou tão somente aportuguesar, eu diria que ….
Amor é…..fazer o que se gosta!
Amor é…..tentar fazê-lo de forma correcta!
Amor é…..dar o máximo, mesmo que lhe não seja pedido!
Amor é…..não ceder em questões de princípio!
Amor é…..esquecer os maus momentos!
Amor é…..lembrar os melhores!
Amor é…..vestir sempre a camisola, mesmo quando se está a perder!
Amor é…..desejar ter tido um comando no mar e não se importar de ter sido sempre imediato!
Amor é….respeitar as opiniões e as decisões, ainda que com elas se não concorde!
Amor é…..partilhar convosco este desabafo!

domingo, dezembro 03, 2006

Caixinha de Surpresas



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sábado, dezembro 02, 2006

Viagens Salgadas (9)

Por fim, o São Gabriel. Noites de paquete. Nunca antes havia experimentado tamanha calmaria em termos de balanço. Como é bom navegar. Aqui sim, aqui sinto-me marujo a corpo e tempo inteiros. Primeiro o “PAB”, depois o “Contex”, por fim o “Open Gate”, expoente máximo da minha carreira operacional, com termos esquisitíssimos que aprendi num curso rápido para comandantes e imediatos analfabetos na linguagem das siglas. Dividia-me entre o “Probe” e o “Nato Bravo”. Num dos “Contex”, houve a participação de duas fragatas brasileiras, de que não recordo os nomes. Depois de termos acordado o reabastecimento através dos procedimentos adequados, com um dos navios, passámos a linha de distância, o cabo de suspensão e por fim lá enviámos o fálico “Probe”. Chegado que foi este ao navio brasileiro, começou a notar-se uma faina tremenda que não percebíamos. Perguntadas várias vezes se o dito cujo já estava engatado, foi-nos respondido que estavam a desengatá-lo do cabo de envio para o levarem para o tanque. Pela fonia foi dada ordem para cancelar de imediato a operação. De facto os navios brasileiros não podiam utilizar este equipamento nem estavam muito familiarizados com esta linguagem “NATO”. Acabámos por fazer um reabastecimento de sólidos, simbolicamente representado por uma trança de pão, cuidadosamente fabricada pelo nosso padeiro, que era um artista. A trança tinha um feitio parecido com o “Probe” e duas bolas na ponta. Aguardámos ansiosamente a resposta que os nossos amigos e camaradas brasileiros costumam ter sempre pronta. Azar o nosso. Ela não veio logo, queria eu dizer. Uns dias depois no Funchal, numa recepção a bordo de um dos navios da força, o imediato do referido navio brasileiro, abordou-me e pediu-me desculpa pelo atraso na resposta, mas tiveram que esperar por terra para comprar a prenda adequada, que consistia no último exemplar da PlayBoy. E concluiu o sacaninha "Cada um oferece o que mais gosta, não é mesmo?" Fez-me lembrar a figura imortal do “amigo da onça”. Nesta comissão realizámos também uma viagem de instrução de cadetes, que iam distribuídos pelas fragatas Hermenegildo Capelo e Sacadura Cabral. Entrámos em Brest e em Portsmouth. Aqui, salvámos à terra e prestámos homenagem ao Almirante Nelson através de continência ao HMS Victory, à entrada do porto. Fomos a Las Palmas, Palma de Maiorca, Ponta Delgada e Sines, onde participámos nas festividades do Dia da Marinha. Toquei mais portos estrangeiros nesta curta passagem pelo S. Gabriel, do que em toda uma carreira naval, que incluiu sete navios e muitos milhares de horas de navegação. Não corri os “sete mares” nem todos os portos toquei, mas cumpriu-se um desejo de adolescente, de conhecer novas terras e novas gentes, não para as conquistar e cristianizar, mas para as apreciar mais de perto. Piratas nunca encontrei, pelo menos com perna de pau, olho de vidro e cara de mau. Mas não faltaram as imitações!

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sexta-feira, dezembro 01, 2006

Hoje é um dia triste

Hoje, não vou falar de mim.
Presto homenagem a uma pessoa boa que nos deixou e que fazia o favor de ser meu amigo. Com ele percorri metade do Alentejo atrás das perdizes, das lebres e dos malditos pombos, que raramente encontrávamos. A isso chamava eu turismo rural.
Mais do que caçar era calcorrear planuras e cabeços, com o ferro na mão, ultimamente mais como bordão do que como arma.
As histórias antigas de caça enchiam de inveja quem, como eu, pouco tempo lhe poude dedicar na altura em que elas foram escritas na memória, com mais ou menos enfeites que cada caçador gosta de lhes emprestar.
Com ele aprendi a ética de caçar. Dar oportunidade à caça de poder escapar-se, era um lema que nunca deixou de honrar, mesmo quando a vista já não o ajudava e que o poderia ter tentado a não cumprir.
Amigo do seu amigo e até mesmo de quem se comprazia a explorar essa sua fraqueza de não saber dizer não.
Hoje estás finalmente sereno, como infelizmente há muito não conseguias estar!
Até sempre amigo!