terça-feira, outubro 31, 2006

As partidas que a vida nos prega

Fim de comissão.Regresso a casa e aos hábitos antigos.Tudo para trás ficou morto ou moribundo. A vida recomeça. O processo repete-se umas quantas vezes. O que ficou de tantas alegrias, de tantos desgostos, de tantos encantos e arrebatamentos, de tantas lutas e paixões, de tantas desilusões, de tantos sonhos perdidos, de tanta experiência vivida? Uns tantos recortes de jornal - A felicidade chegou na TAP; Capitão do Porto demitido - umas cópias da Ordem com transcrição de castigos ou louvores e uma pilha de fotos, a branco e preto algumas, que falam de guerra, de navios bonitos e feios, grandes e pequenos, de caras conhecidas ou nem por isso. Ao inventariar todo este espólio, acumulado em caixas, albuns desorganizados ou no fundo da gaveta, acorda-se o bichinho que nos fez tanta vez esquecer o que não queríamos ou pura e simplesmente não podíamos guardar por falta de espaço no nosso "disco rígido" ou na nossa "memória RAM". E aqui começa o drama. Aquilo que ontem esquecemos por não nos querermos ou podermos lembrar, aparece agora como situação inversa. Queremos lembrar agora o que esquecemos antes e não é fácil pôr nomes de hoje em caras de ontem ou nomes de ontem em caras de hoje. Como recordar o nome de sítios que provavelmente já não existem senão na nossa imaginação? O que é e o que deixou de ser, confundem-se. Espero que os meus amigos e camaradas de sempre, me perdoem as falhas nos nomes ou simplesmente a não referência a eles naquilo que eu trouxer a este blog. A cabeça pode falhar mas não o coração. Estão todos cá dentro com ou sem nome gravado. O "disco rígido" está desajustado à quantidade de informação que ainda é obrigado a gerir e a disponibilizar. Aos meus amigos e camaradas sem nome, um abraço apertado que leva mais do que uma tag (etiqueta) agarrada.

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segunda-feira, outubro 30, 2006

Comissão Guiné no DFE4 - Ganturé 1970

sexta-feira, outubro 27, 2006

Eles não sabem, nem sonham...

A Citação de hoje deste blog - "Nada de grande se faz sem sonho" - pertencente a um senhor, de sua graça, Ernest Renan, um desconhecido para mim, tem em si um pressuposto - é necessário sonhar. Sem isso, nada de grande é possível realizar. E aí está a dificuldade. Como é possível ter sonhos sem que, de pronto, virem pesadelo? Um dia sonhei com um país fraterno e solidário. Estupidez de sonho. Onde fui buscar tal coisa?! Existe isso porventura?! Onde?! De facto, só em sonho! O que há na realidade? Olhando em volta, apercebemo-nos de que: só não te piso se não puder; pensas que és mais esperto que os outros armando-te em defensor dos fracos e oprimidos; julgavas tu que isso de trabalho garantido, de férias pagas, de segurança social iria durar sempre; de que as mulheres não teriam mais que se preocupar com gravidezes indesejadas; e essa estória de teres que preparar as aulas, de teres que dar apoio aos alunos mais dificeis, de teres lugar numa escola ao pé casa, de precisares de descansar a cabeça durante dois meses de férias - não querias mais nada; de que para trabalho igual, salário igual; de que a hierarquia seria a da competência, que os teus vencimentos seriam os adequados ao trabalho realizado;
e nós, que temos uma empresa para dirigir e que não temos tempo nem para nos coçarmos por tua causa, que passas o tempo a reclamar sobre as condições de trabalho, sobre os lucros que a empresa tem e de que também devias ser parte interessada, porque metes baixas por tudo e por nada - sabes quantas vezes este ano estiveste doente, sabes - por acaso até só foram duas; e a tropa era melhor que fosse mas era para o Afeganistão ou para o Iraque, em vez de estar para ali sempre a falar do seu estatuto, da sua condição de empenho total com sacrifício da própria vida - eu também fiz o serviço militar e obrigaram-me a andar de rastos, a comer capim e beber água da bolanha - não queriam mais nada ter licensa de uso e porte arma sem ser preciso meter o papelinho como os outros e sujeitarem-se a ter que tirar o registo criminal - não quereriam também licensa para um missilzinho já agora; mas podes contar comigo, basta que deixes pôr o teu nome aí numa listinha sem importância nenhuma; deixa lá não te preocupes eu tenho lá um amigalhaço que vai desenrascar-te; já sabes que podes contar sempre comigo mas de facto estou agora numa fase má da minha vida e não me convinha fazer muitas ondas, sabes como é; os amigos são para as ocasiões, deixa lá se não for agora, será para a próxima.
Diriam os nossos irmãos transatlânticos: sonho lindo dji morrê!

segunda-feira, outubro 23, 2006

Reencontro

O meu reencontro com a Marinha através das memórias recolhidas em papel fotográfico,tem-me obrigado a reviver situações que eu julgava já perdidas, ou melhor de que nem me lembrava terem existido. Tem servido também para me compatibilizar comigo próprio. As coisas vistas a uma distância confortável permitem uma apreciação mais isenta, desprovida de paixões e dos tons fortes do desespero, da malquerença ou tão somente da angústia do momento. Quase me havia esquecido de que fora fuzileiro, de que tenho dessa época, mais de três mil quilómetros nas pernas, andados por matas, trilhos e bolanhas. De que sabia chorar de medo, raiva e desepero. De que pesei uns meros setenta quilos. Do sabor da cavalinha de conserva com arroz branco. Dos estilhaços de vaca guisados com esparguete.Do matraquear das costureirinhas e do ribombar das bazucas e ALG's. Dum grito lancinante na noite escura e do silvo ritmado do heli ao romper da aurora. Das bazucas de seis decilitros para afogar as mágoas... às vezes...quentes. O preto e branco das fotografias, retrata fielmente os verdes escuros da mata, o vermelho dos trilhos e das estradas, o castanho pardacento das águas dos rios e bolanhas e o clarão laranja do capim a arder por dias a fio, no final da época seca. A ressaca duma garrafa de Dimple, bebida a meias sem que disso se desse conta. As apostas sobre quem iria enfardar nessa noite: Bissum, Bissorã, Olossato? Das noites mais longas da minha vida. Dos momentos mais solidários e cheios de calor humano que possam imaginar-se. Numa palavra... a guerra. Nojenta, desumana...gloriosa!

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sexta-feira, outubro 20, 2006

Comissão no Bartolomeu Dias

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quarta-feira, outubro 18, 2006

O Velho Solitário

Cai o pano sobre o calor alentejano. Para trás ficam os amarelos e castanhos e o verde parece agora tomar conta das planuras, desdobrando-se em mil tonalidades. O céu embrulhado em cinzentos ameaça fazer desabar sobre a campina a sua ira molhada, alagando prados e restolhos. É uma fúria cada ano renovada. Um carpir de mágoas antigas, em que o suor empapava a terra, na esturrina das colheitas de Verão ou das lavradas para as sementeiras de Inverno. Hoje, os charnequeiros, pegas e gralhas abanam as caudas nas vedações de arame, substituindo os trigueirões, as cotovias e os picanços. Mas o Alentejo continua sempre bonito, pelo menos para os olhos saudosos de vastidão, de larguras e comprimentos só igualadas no mar. Tal como no mar, tem a planura as suas conhecensas, as suas marcas, que permitem uma navegação segura aos arrojados que enfrentem a aspereza das vagas ou as dobras rijas das colinas e valados. O sobreiro – a sobreira no dizer das gentes – lá está como um farol que alumia a rota , que mede a singradura do caminhante e lhe dá a paz e a frescura na jornada, para além da sombra que lhe possa vir do Céu. Só mais um pouco, mal um bocadinho até àquele "chaparro". Haverá por ventura maior elegância de linhas? Mais belo que um sobreiro solitário… talvez… uma mata de castanheiros!

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segunda-feira, outubro 16, 2006

Intervalo

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terça-feira, outubro 10, 2006

Coisas das tecnologias

Aqui há uns dias, fiz aquilo que eu julgava ser uma melhoria para o meu blog, migrando para a versão beta. Resultado: não consigo agora fazer comentários nos blogs das pessoas que me são próximas e que ainda não aderiram ao Beta.
Azar o meu, pois ainda não desfrutei das vantagens do novo sistema e já estou a conhecer as desvantagens!
Não há problema, porque isto, mais tarde ou mais cedo, vai ser possível e, entretanto, vou abrir um novo blog só para poder fazer os comentários que tanto prazer me dão e que sei são apreciados ou, pelo menos esperados, por alguns dos seus titulares.
As tecnologias evoluem a uma velocidade que já tenho alguma dificuldade em acompanhar, mas têm-me permitido estar mais perto das pessoas de quem gosto.
Os velhos, a que já pertenço, não podem, ou melhor não devem, perder a oportunidade, que estas coisas novas proporcionam, de expressar as suas opiniões, a sua experiência, os seus conhecimentos e simultaneamente partilharem da experiência alheia.
A globalização da informação garante que grande parte dos conhecimentos são divulgados e, eventualmente, utilizados ou integrados em áreas ou projectos mais abrangentes.
Ninguém hoje é dono da verdade universal e, cada vez menos, da sua própria verdade. As verdades mudam a uma velocidade muito maior do que seria desejável, sobretudo nos discursos políticos, mas também na vivência diária.
Lembro-me de que há alguns anos atrás, não muitos, ao analisar uma colectânea de legislação temática sobre pesca, verifiquei com alguma surpresa e constrangimento, que desde o início do século passado até ao 25 de Abril, a colectânea, registava em termos de títulos e resumo de duas linhas da legislação publicada, cerca de metade das páginas das que correspondiam ao período que mediava entre aquela data e a sua edição, uns dez anos passados.
Estamos em época de mudanças e é bom que nós, os velhos, tenhamos consciência disso e não nos deixemos surpreender com mudanças que possam fazer da nossa já curta esperança de vida, um inferno, que em breve vamos conhecer em todo o seu esplendor, quer queiramos quer não.
Isto tudo, porque me enganei na mudança do blog.

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terça-feira, outubro 03, 2006

O Cão e...os cães

O amigo fiel, companheiro de caça, de guarda, cão de fila, de busca de feridos e perdidos na neve, desaparecidos em escombros, derrocadas e outros cataclismos, polícia para perseguição de foragidos, para detecção e localização de estupefacientes, de guerra em defesa de instalações, como pisteiro, para detecção de minas ou auxiliar de patrulhamentos, braço articulado do pastor na condução de rebanhos e na sua defesa contra predadores, olhos e bengala para muitos invisuais, terapia para muitas crianças com carências afectivas ou perturbações psicomotoras ou tão somente lulu de estimação ou símbolo de poder.
Tantas são as áreas em que este animal, por vezes tão mal tratado, se dedicou a servir os interesses do Homem, que bem merecia que este não vilipendiasse a sua generosidade e dedicação, levando cada vez mais longe a sua exploração através do apuramento artificial das raças, criando-as e recriando-as, fazendo deste companheiro fiel e amigo, um fruto de experiências laboratoriais e um produto comercial.
Não contente com isso, ainda escolheu para classificar alguns actos menos dignificantes da Humanidade, ligados ao não cumprimento de contratos, de pagamentos e outros compromissos assumidos, em que que o nosso fiel amigo melhor os simboliza, a expressão "ferrar o cão".
Bom seria que os cães lhes ferrassem os dentes, quando assim maltratados.