segunda-feira, outubro 23, 2006

Reencontro

O meu reencontro com a Marinha através das memórias recolhidas em papel fotográfico,tem-me obrigado a reviver situações que eu julgava já perdidas, ou melhor de que nem me lembrava terem existido. Tem servido também para me compatibilizar comigo próprio. As coisas vistas a uma distância confortável permitem uma apreciação mais isenta, desprovida de paixões e dos tons fortes do desespero, da malquerença ou tão somente da angústia do momento. Quase me havia esquecido de que fora fuzileiro, de que tenho dessa época, mais de três mil quilómetros nas pernas, andados por matas, trilhos e bolanhas. De que sabia chorar de medo, raiva e desepero. De que pesei uns meros setenta quilos. Do sabor da cavalinha de conserva com arroz branco. Dos estilhaços de vaca guisados com esparguete.Do matraquear das costureirinhas e do ribombar das bazucas e ALG's. Dum grito lancinante na noite escura e do silvo ritmado do heli ao romper da aurora. Das bazucas de seis decilitros para afogar as mágoas... às vezes...quentes. O preto e branco das fotografias, retrata fielmente os verdes escuros da mata, o vermelho dos trilhos e das estradas, o castanho pardacento das águas dos rios e bolanhas e o clarão laranja do capim a arder por dias a fio, no final da época seca. A ressaca duma garrafa de Dimple, bebida a meias sem que disso se desse conta. As apostas sobre quem iria enfardar nessa noite: Bissum, Bissorã, Olossato? Das noites mais longas da minha vida. Dos momentos mais solidários e cheios de calor humano que possam imaginar-se. Numa palavra... a guerra. Nojenta, desumana...gloriosa!

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1 Comments:

Blogger gongas said...

Tb gostava de saber pôr um vídeo, quem me ensina?
Ainda bem que já consegue fazer comentários!!!!
Beijinhos............

27/10/06 09:26  

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