quinta-feira, novembro 29, 2007

O Prazer de Bolinar


O nome deste blog, pode por vezes enganar quem faça busca temática na Internet ou na Blogosfera.
De facto, quem espere aqui encontrar notícias sobre vela, para o que o nome aponta, pode sentir-se defraudado. Quem entenda esta prática de vela, como rumar contra o vento, julgo que já poderá não se sentir tão traído nas suas expectativas.
Reconheço a minha pouca vocação para a vela como desporto, mau grado achá-lo uma escola fundamental de “endurance” para a vida, de perícias, de escolhas, de sacrifícios, de decisões, de rumar contra ventos e marés, de chegar depois de ter partido.
Impõe conhecimentos náuticos, cartográficos, meteorológicos, logísticos além de uma boa formação humana e têmpera rija.
Para mim, andar no mar, sempre o entendi como serviço. Muito raramente senti nele o prazer da prática desportiva, mesmo quando oficial de guarnição da Sagres numa viagem ao Brasil.
O melhor que me aconteceu, como marinheiro, foi chegar a um porto. Há quem diga e eu subscrevo, que navegar só tem sentido para chegar a um porto. Por outras palavras, o melhor que o marujo embarcado tem, é a chegada aos portos onde desembarca.
Mesmo que a paisagem seja lunar, como em S.Vicente (Cabo Verde) a alegria da chegada sobrepõe-se sempre à agrura da paisagem e o marujo encontra sempre razões de júbilo nas suas incursões por terra adentro.
Neste blog já se tem falado mar, da Sagres e do linguajar do marinheiro.
A vela nem sempre foi um desporto. Tempos houve em que nisso fomos mestres e pioneiros, empoleirados em cima de cascas de noz, levados por ventos nem sempre de feição, ao encontro do desconhecido. Na altura, julgo que ainda se sabia pouco sobre a designada adrenalina, mas talvez tenha sido ela que para aí nos empurrou como hoje empurra os jovens aventureiros que se lançam de avião em queda livre, se atiram de pontes e gruas com elásticos ou se fazem voar em asas delta, para só citar algumas das muitas loucuras que todos os dias vamos descobrindo na Internet ou na TV.
Fazer vela não é, nunca foi o meu forte, mas falar dela e de uma das suas “nuances”, o bolinar, é das poucas coisas que hoje me serenam.
Existe na blogosfera um blog que tem como orientação, segundo o seu autor, bolinar na República do Gerúndio. Eu diria que bolinar é sempre excitante e difícil, quanto mais naquela república.
Há alguns anos, "prestando" serviço na Direcção de Faróis, conheci um médico que ali também "estava dando" serventia. Lá guardava o seu barco que, nos quatro anos que ali estive, nunca vi utilizar. Perguntei-lhe certa vez porque o não fazia e ele respondeu-me: - Sabe, há dois bons momentos na vida de quem tem um barco – o dia em que o compra e o dia em que o vende!

Etiquetas:

segunda-feira, novembro 26, 2007

...de sequeiro, digo eu!

As coisas que um marinheiro de sequeiro se vê obrigado a fazer! Ele é fazer vinho, ele é apanhar azeitona, ele é podar a vinha, ele é…
O que é certo é que já fiz de tudo um pouco ou um pouco de tudo, não sei bem. Se me dissessem, não acreditava. Sempre me julguei incapaz ter outra actividade diferente da que, por opção, escolhi muito cedo.
Não tive uma carreira orientada para um fim específico como alguns dos meus camaradas. A culpa terá sido minha. Percorri quase todas as situações possíveis, com excepção daquela para que me sentia mais habilitado, talvez. Não me lamento, nem me censuro. Acho que é a vida que se encarrega de ditar as suas leis e julgo que, no meu caso, isso até funcionou.
Não me passeei pelo mundo tanto como sonhara, mas ainda conheci alguma coisa dele. A experiência acumulada, que não quer dizer sempre erros acumulados, permitiu-me ter do mundo e da vida uma visão alargada em relação ao comum dos mortais.
Muito cedo me terei apercebido de que a luta por um lugar ao sol não era desígnio meu. Sempre gostei mais de partilhar do que disputar, embora entenda que a vida é disputa permanente.
O meu modo de estar na vida foi sempre muito mais interveniente que contemplativo, até esta fase em que me encontro.
Sempre tive veleidades de poder, com a minha acção, alterar qualquer coisa à minha volta. Nem sempre o consegui, mas tentei muitas vezes.
Gostava de poder dizer que deixei rasto por onde passei, mas não creio que isso tenha sempre acontecido. Nunca fui muito profundo na análise das questões que me eram colocadas, mas fui sempre muito empenhado na concretização das tarefas atribuídas. Sempre tive uma natural capacidade de decisão, mesmo não dispondo de todos os elementos de informação adequados, alicerçada na convicção de que mais vale uma má decisão do que decisão nenhuma.
Isto tudo para dizer que me sinto em sintonia com a vida e aquilo que ela me reservou em cada momento. Sempre tivemos uma empatia especial. Se me castigou algumas vezes foi porque eu mereci.
Queixamo-nos, queixamo-nos mas a maior parte das vezes temos aquilo que merecemos.
Nunca baixei os braços nem virei as costas a um desafio, mas não quer dizer que sempre os tenha ganho. Mas nunca fiquei com a sensação, também, de os ter perdido. Quando ganhei nunca pensei colher disso grande vantagem.
Esta conversa toda para tentar justificar como acabo por fazer coisas agora, impensáveis há bem pouco tempo, num misto de descoberta, aventura e também contemplação, que até aqui me tinha faltado.
Vamos a isto!

Etiquetas:

domingo, novembro 25, 2007

Veja bem onde põe os pés

Li isto num blog a propósito da merda de cão espalhada por tudo quanto é sítio.
Pois bem, noutro sentido poderia querer dizer, calminha, não se apresse, veja bem onde coloca os seus pezinhos não vá tropeçar e cair, não vá fazer coisas de que depois se arrependa, não vá para o seu blog gritar aos sete ventos que tudo está mal, pela simples razão de que toda a gente já sabe disso.
Veja bem onde põe os pés, porque ainda se arrisca a que lhe falte o mundo debaixo dele, da forma como é tratado por si, por mim, por todos.
Veja bem onde põe os pés porque qualquer dia acontece-lhe o que já vai acontecendo a algumas pessoas muito bem enfarpeladas mas que, se colocarem o pé em cima duma ponta de cigarro acesa, dão um pulo do caraças, porque já têm as solas dos sapatos rotas.
Apesar de tudo antes isso que a consciência, que o espírito crítico, que a paciência. Veja bem onde põe os pés para que não seja apanhado desprevenido com as andanças da política.
Eu cá por mim tenho sempre um muito bem assente no terreno, para me possibilitar, em qualquer altura, ter o outro livre para poder chutar ou pontapear.

Etiquetas:

Provas de Fundo (do copo, da panela e da travessa)

Decorreu a quinta prova de vinhos amadores, a 4ª de sopas e a 3ª de doces da Igrejinha, cada ano com mais gente e com uma organização mais cuidada.
Começa a impor-se como evento mobilizador das forças vivas da terra, trazendo muita gente de fora e constituindo oportunidade não dispensável pelas forças políticas instaladas, que têm possibilidade de exibir as ajudas prestadas e sentir o calor que a pinga sempre põe nestas coisas.
Esteve bem em termos de oferta e procura no que respeita a comes e bebes e a separação, este ano intentada, da parte de animação cultural da zona de repasto foi parcialmente conseguida, diminuindo francamente o barulho que não deixava ouvir os grupos de danças e cantares que ali se apresentavam, em anos anteriores.
Este ano, a falta de participantes na prova de vinhos foi compensada pelo número e qualidade das participações na mostra de doces e sopas.
Não foi um bom ano de uvas e portanto de vinho, este que decorre. As geadas tardias, granizos e chuva na altura das vindimas, já haviam sido aqui assinaladas como factor muito comprometedor desta safra.
O facto levou a que muitos dos “fazedores de vinho amador” não quisessem arriscar e com razões de sobra.
Ainda assim, arrisquei e perdi. De facto a pinga não ficou, este ano, ao nível a que eu já me habituara a mim e aos meus amigos.
Como convidado, assisti às provas e apreciei bem as caretas e comentários depreciativos dos enófilos provadores, atestando dessa forma, sem margem para qualquer dúvida, a má qualidade dos vinhos em prova.
Mas o vinho correu em quantidade apesar disso, entre os convivas, já que a organização pôs à sua disposição três pipas com vinhos das adegas da zona, com provas dadas no mercado nacional e internacional.
Parece mentira que uma região tão pequena, junte cinco produtores de nomeada como a Tapada de Coelheiros, Monte do Pintor, Herdade da Calada, Outeiro da Esquila e Monte das Ânforas. Que à sua volta ainda se produzam outros néctares, conhecidos também dos apreciadores do Vinho Regional do Alentejo, nas herdades da Comenda Grande, da Ravasqueira e das Moiras.
Quanto às “sopas da nossa terra”, como é a designação da prova, contou com paladares bem diversos mas bem conhecidos dos gastrónomos alentejanos, desde os feijões com batata, com espinafres e com nabos, passando pelas sopas da horta com vegetais variados, caldo verde, até ao creme de favas.
Os doces regionais distribuíram-se pelos mais variados sectores da guloseima, desde os de requeijão, aos de gila, não esquecendo os de amêndoa e ovos, de noz, de torresmos, de vinagre. O arroz doce não faltou.
A festa impôs a inviabilidade do acesso directo a uma estrada nacional durante dois dias e o corte de energia eléctrica durante três horas, mobilizou mais de cinquenta pessoas, obrigou à montagem de duas tendas, com uma área coberta de cerca de 600m2.
Foram transformados em matéria assimilável pelo comum cidadão, um novilho, um veado, uma ovelha, mais duma centena de frangos, além dumas dezenas de quilos de febras. A música tradicional e etnográfica esteve presente a nível aceitável, com especial melhoria na prestação do grupo de cantares local.
Palmas para organizadores e participantes e água da pedras para mim.

Etiquetas:

quinta-feira, novembro 22, 2007

O preço das coisas e dos coisos

Um “calla te real “, quanto vale no mercado de opinião? Não sei, provavelmente invectivas da parte ofendida (agredida segundo “suo versión”), sorrisos trocistas da parte de alguns, milhões de dólares na exploração televisiva e Internet.
Quanto vale um bom treinador de futebol, tipo Mourinho, no mercado da bola? Muitos milhões de euros ou libras.
Quanto vale uma entrevista à Visão? Apenas e só a alteração da proposta de Lei que pretendia dar aos magistrados um estatuto semelhante ao dos funcionários públicos.
Quanto valem manifestações de militares, sejam do activo, da reserva ou reformados? Castigos disciplinares para os primeiros e um "governativo manguito" para os outros.
Es así la vida”.
Quanto mais me bates, mais gosto de ti!

Etiquetas:

quarta-feira, novembro 21, 2007

Defesa e Tecnologia

Ao olhar para este gráfico retirado dos Anais do Clube Militar Naval (Abr/Jun de 2007), também disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Image:WorldMilitirySpending.jpg, dá para entender o desnível de gastos com a defesa, entre os Estados Unidos e o resto dos países com expressão no conserto ou desconserto das nações.
É curioso verificar que provavelmente a soma dos gastos em todos os países referidos é inferior ao valor da despesa americana, para o período indicado.
Muito possivelmente também, grande parte das despesas desses países, assenta em compra de material de guerra aos EU.
Com uma despesa como a verificada, é natural que a economia americana logo se sinta se a indústria de guerra não tiver mercado para colocar o material e equipamento que produz.
Por outro lado, os EU não vão vender, nem aos amigos do peito, as inovações tecnológicas que se vão verificando, a cada momento, nas armas e equipamentos militares, pondo no mercado apenas aquele que já não constitui ameaça de maior.
A vanguarda neste campo é garantida por equipas de investigadores ligados directa ou indirectamente aos Departamentos de Defesa e de Estado e à Indústria. Dessa investigação resultam aplicações também noutros campos, que a indústria americana não descura e que a vai mantendo no top tecnológico.
As multinacionais só trazem para o exterior aquele "Know How", que já não é de primeiras águas, mantendo sempre uma "décalage" entre o que se faz em casa e fora dela.
Não quer dizer que a indústria militar seja o único motor de desenvolvimento e inovação naquele país, mas é certamente importante.
Também é importante que se façam guerras para usar e testar as armas e equipamentos e para que se vá arejando paióis.
Como se vê, os militares ainda vão servindo para alguma coisa, pelo menos nos USA.

Etiquetas:

terça-feira, novembro 20, 2007

Mornas, cachupa e grogue

Um almoço mensal, a que nem sempre dou a minha presença, não porque não queira, mas porque me esqueço às vezes e ninguém me lembra, porque acontece de vez em quando ter algum compromisso inadiável ou, e já aconteceu, não me apetecer deslocar a Lisboa.
Este almoço, reúne um grupo alargado de camaradas de curso, com caras enrugadas, testas mais amplas e cabelos grisalhos. Já pouco resta, além da memória do que já fomos.
Mesmo assim, sabe bem relembrar momentos marcantes das nossas vidas, nem sempre concordantes, nem sempre entrecruzados, muitas vezes paralelos e às vezes opostos. Mas agora estamos unidos na semi-ociosidade melindrosa da terceira idade, no prelúdio da apoteose final.
Nem todos para lá deslizam com a mesma velocidade, com o mesmo ritmo.
Há quem se preocupe com o físico e frequente assiduamente o ginásio, quem prolongue o “castigo”, repetindo rotas antigas à bolina dum meio cruzeiro.
Quem viva obcecado por relembrar aquilo que o organismo teima em esquecer.
Alguns coleccionam achaques e doenças, enquanto outros desfrutam a calmaria dum repousante pôr-do-sol no conforto duma casa de campo, bolinando por águas mais calmas.

Hoje, relembraram-se no Espaço Cabo Verde mornas e coladeiras cantadas a bordo da Sagres por uma miúda que, na altura, dava pelo nome de Cesária.
Amanhã, tentaremos lembrar-nos do dia de hoje.

Etiquetas:

segunda-feira, novembro 19, 2007

Os Equilíbrios

Imagem daqui

Tudo na vida precisa de equilíbrio, senão há descontrolo e queda, em sentido lato. É assim com os seres vivos, é assim com a própria Terra no seu equilíbrio gravitacional.
Houve um despertar para os equilíbrios necessários, que levou à reciclagem de produtos e resíduos industriais ou caseiros.
Existem movimentos ecológicos e de preservação da natureza, que têm dado combate às atrocidades cometidas contra animais e certos tipos de flora raros ou em vias de extinção. Apela-se à defesa da floresta, combate-se a poluição atmosférica, dos rios e dos mares. Tenta-se exercer um controlo dos efluentes e resíduos tóxicos, com vista a melhorar a qualidade do meio ambiente.
Diz-se não à energia nuclear e fazem-se esforços para viabilizar e incentivar o uso das energias renováveis em substituição das resultantes de combustíveis fósseis. Faz-se guerra, um pouco às cegas, aos OGM (Transgénicos).
Arrancou-se, há já algum tempo com a designada agricultura biológica ou numa sua variante, a agricultura biodinâmica, tentando devolver à terra a sua fertilidade e equilíbrio, através da biodiversidade e da rotação de culturas, em substituição da agricultura industrializada visando apenas o lucro e que descura os equilíbrios naturais.
Talvez a maior fonte de poluição do planeta se situe exactamente neste aspecto tão disfarçado e tão pouco visível, aparentemente.
Quem se queixa de ver lindos milharais, searas de girassol, extensíssimos pomares de citrinos, de maçãs ou de pessegueiros? E os vinhedos, a cobrir boa parte deste país? Quem não se delicia ao olhar para pinhais imensos e eucaliptais perfumados? E as searas ondulantes que a pouco e pouco vão desaparecendo da nossa paisagem?
Pois é! A monocultura! Anos consecutivos, nos mesmos locais, forçando a Natureza com adubações específicas, cada ano reforçadas, com pesticidas cada vez mais fortes para combater as resistências dos insectos e parasitas dessas culturas!
A floresta uniforme de resinosas, impõe tratamentos que lhe não damos, hoje! Falta-lhes a pastorícia que a mantinha limpa de ervas e arbustos! A praga hoje existente nos pinhais, demonstra bem como estão feridos de morte! Para quê, neles, insistir? Os eucaliptos roubam água aos terrenos onde se instalam, tornando-os mais vulneráveis ao terror incendiário, apesar de serem as áreas mais bem tratadas de floresta, a cargo das indústrias do papel.
Os pesticidas e resíduos dos tratamentos e adubações forçadas das monoculturas, conjuntamente com os resíduos dos incêndios, infiltram-se ou escorrem com as chuvas e vão contaminar os lençóis freáticos que alimentam as nascentes, ou os rios para onde correm.
Os produtos directos dessas culturas ou indirectos através das regas com a água dos furos e rios, acabam por incorporar boa parte desses resíduos tóxicos que ingerimos todos os dias na nossa alimentação, afectando a saúde.
Enquanto a poluição resultante da indústria afecta muito as zonas contíguas, a poluição da agricultura entra-nos diariamente em casa, estejamos onde estivermos! Vinda da Nova Zelândia ou do Vale do Tejo!
Os movimentos ambientalistas têm ganho algum espaço, até político, mas descuram este aspecto fundamental do equilíbrio natural da terra que, a ser reposto, levaria certamente a muitos dos outros mais visíveis.

De resto, todos nós temos um pacto sagrado com a terra! Do pó nascemos e para lá caminhamos!

Etiquetas:

sábado, novembro 17, 2007

Na rota dos vinhos

Lá fui gastar algum dinheiro. Não muito, que o frio aperta a bolsa.
A falta de GPS, levou-me directamente ao sítio desejado sem mais delongas.
Entre pilhas de pedra mármore à espera de melhores dias, lá se descortinaram as barracas de lona com a indicação de que ali era o local em que a festa do vinho e da vinha, deveria ter lugar.
Cá fora, alguns expositores mostravam algum material e equipamento para tratamento das vinhas e para uso nos lagares e adegas.
Rumámos para as tasquinhas onde as iguarias que fazem a desgraça de quem vive por estas paragens, se apregoavam em cartazes e menus.
Optámos pelo coelho à caçador, para fazer as honras ao dito cujo. Comeu-se bem acompanhado com uma pinga da adega cooperativa local, de encher a boca e mastigar. Pouco, por môr do balão mas, ainda assim, o suficiente para alumiar a senda.
Depois duma volta ao redondel, com cortesias para os doces conventuais, queijos de ovelha e cabra e enchidos de porco preto, lá deparámos com a mostra de vinhos regionais alentejanos com destaque para os das adegas locais.
Depois dumas mercas sem grande significado, demos de frosques antes que as cantorias começassem e a barulheira tomasse conta do espaço exíguo para tanta gente, muita dela já animada.
O regresso foi penoso, com a soneira a tomar conta do timoneiro.

Etiquetas:

sexta-feira, novembro 16, 2007

"Pele de coelho ou de lebre"

Ver site de origem da foto, aqui

Era assim que na minha meninice apregoavam, pelas ruas da cidade, os poucos e pobres compradores deste tipo de produto da época.
Uma pele de coelho podia render cinco tostões e a de lebre, desde que bem esfoladinha e sem estar maltratada pelos cães, poderia chegar aos dez tostões. Mais tarde, esses valores variavam entre os vinte cinco tostões e os cinco escudos..
Penso, que por um lado é positivo não haver necessidade de recorrer a este tipo de actividade a que eram dados os mais carentes. Por outro, penso que se desperdiça uma quantidade apreciável de material que a indústria poderia aproveitar na confecção de roupas de abafo, sem ter que recorrer à criação e abate de animais para esse fim específico..
Claro que existe um movimento internacional de combate a este tipo de actividade, que se esquece, contudo, que o fazemos de forma cada vez mais sistematizada e selectiva para suprimento diário das nossas necessidades alimentares..
A hipocrisia chega ao ponto de haver legislação específica que fixa os moldes do “bem estar animal”, antes e durante a sua passagem pelo açougueiro. Temos que o tratar bem para que o possamos matar melhor..
Não se podem fazer “matanças do porco”, tão características da nossa tradição rural, que durante tantos anos terão sido das poucas fontes de proteína animal a que aquelas gentes tinham acesso, em conjunto com algum franguinho em dia de festa ou umas gemadas quando as febres lentas apertavam.
Pele de coelho ou de lebre, lembra-me sempre aqueles ou aquelas que já errei esta época de caça e que, em vez de me deixar triste, muito me alegra porque ainda teimam em existir e eu em os perseguir por esses campos, cada vez mais aramados tal como um cão açaimado, que mal pode ganir quanto mais morder.

Etiquetas:

domingo, novembro 11, 2007

Etiquetas:

Caldinhos e mezinhas

Retomar o convívio como arma contra a solidão, como remédio contra o tédio e a sensaboria, como elemento vitalizante da rotina em que nos deixamos normalmente cair, como reanimador sócio-cultural. A propósito disto, daquilo ou daqueloutro. Sempre que possível, a distância o permita e o interesse mútuo o aponte.
Ontem, a propósito do S. Martinho, aconteceu. Cada um participou com géneros, com trabalho, com alegria, com partilha de vontades.
Não foi preciso o néctar da quadra para que as vozes se soltassem e houvesse animação. Houve música e da boa, com os mais jovens a tocarem as que gostamos de ouvir em viola acústica, braguesa e eléctrica e também em cavaquinho.
Houve vozes afinadinhas e outras nem tanto, houve canções com letras propositadamente alteradas, em arranjos de amizade e bem dizer.
O almoço prolongou-se até às dez da noite, com a meteorologia, o Zeca Afonso, o Jorge Palma, Tribalistas, Calcanhoto, Cesária Évora a darem uma ajudinha. As cantigas populares e as musiquinhas de Tuna não faltaram.
Só a singeleza da vida num meio pequeno permite encontros fáceis, convívios sadios, vontades convergentes de boa vizinhança e amizade franca, sem necessidade de recorrer a interesses ou afinidades político-partidárias, a simpatias clubistas ou a crenças religiosas. Apenas e tão só companhia fraterna.
Vale bem a pena estar por cá.

Etiquetas:

quarta-feira, novembro 07, 2007

Deixem ouvir os rouxinóis

Figura daqui

Este ano juntou-se o Verão dos Marmelos com o Verão de S.Martinho. Não será propriamente um bom casamento, já que no meio não tinha perdido se houvesse chovido algumas pinguinhas.
As sementeiras de arvenses agradeceriam. O gado apreciaria.
Mas está um tempo lindo. Uma luminosidade, que me apeteceu retirar a máquina fotográfica dos entrefundos e bater chapa por aí a fora.
O Sol inclinado dá sombreados dramáticos aos objectos e pessoas. À tarde, põe tonalidades acobreadas nos brancos do casario.
Os pássaros andam baralhados e não sabem porque razão têm agora uma segunda Primavera.
Os marmelos já viraram marmelada quase todos, mas ainda me parece cedo para ir à adega e provar o vinho.
A coisa não parece muito má para os malolácticos, mas será preciso agora umas friagens para o robustecer e não deixar os acetatos tomarem conta dele.
Daqui a um mês se o tempo correr de feição, já se poderá ver no que deu este ano. É isto que dá largar a floresta de betão para voltar a sentir o cheiro das coisas simples, que aí nos escapam.
Ouvir o rouxinol cantar à noite, é coisa que nem acreditava, mas é sinfonia para os ouvidos e para a alma, toda ela embrulhada em silêncios.
Não dá para acreditar que existe quem prefira a barafusta do destempero televisivo, mesmo com a animação dos sketches, não sei se ensaiados, a propósito do debate do orçamento.
Neste momento, impus-me tolerância zero, nesse campo.
Deixem-me ouvir os rouxinóis.

Etiquetas:

segunda-feira, novembro 05, 2007

O Cieiro Outonal

Já não me lembrava dele, desde os meus dezasseis ou dezassete anos.
Acontecia com a pontualidade do calendário meteorológico. Um pouco depois do início do ano escolar, começavam os ventos de Espanha, secos e frios, que faziam gretar os lábios e mãos e punham o nariz a pingar e vermelhudo.
Procurávamos os cantinhos soalheiros, onde se não fizesse sentir esse vento frio e cortante, aquecendo as mãos com o bafo ou com o calor do cigarrito fumado à sorrelfa, longe da vista dos “contínuos”.
À noite é que eram elas, sobretudo quando criança, em que a minha mãe me obrigava a pôr glicerina nas mãos e na cara, que ardia como o diabo.
As modificações climatéricas, o resguardo a que as pessoas se obrigam, as roupas e adereços adequados, os cosméticos sofisticados generalizados, tudo isso faz com que os ventos do nordeste já não castiguem como o faziam a não ser para quem, como eu agora, anda a redescobrir todas essas maravilhas perdidas pelo sótão da memória.
Descobrir, tem a excitação do desconhecido, a expectativa do diferente, o orgulho e o prémio de conseguir. Lança adrenalina no corpo.
Redescobrir, tem o sabor da renovação, a serenidade do conhecimento relembrado das coisas, a oportunidade de o usar de forma diferente e prazenteira, o fascínio de reviver na forma desejada. Lança paz no espírito.
Consigo esquecer, quando quero, o mal por que passei, lembrando o bem que isso me fez ou a experiência que me trouxe.
Antes as mãos e os lábios gretados que a alma.

Etiquetas: