sexta-feira, dezembro 28, 2007

Benazir Bhutto

Há muitos anos, em Moçambique, a bordo do Bartolomeu Dias, embarcámos um dos primeiros destacamentos de fuzileiros que foram enviados para aquelas paragens e que iniciava a sua comissão.
O seu comandante, camarada que muito prezo, não fazia depender da sorte o destino dos seus homens e, mesmo a bordo, durante uma viagem de alguns dias até Porto Amélia, onde os largámos, nunca deixou de os manter sob instrução, fosse ela de ginástica praticada no exíguo espaço do velho aviso de 1ªa classe, fosse de palestras sob os mais variados aspectos, quer operacionais, quer de vivência em grupo.
Um dos oficiais do navio, com jeito para o desenho, ajudou a ilustrar alguns cartazes que haveriam de ser distribuídos pelas instalações onde o destacamento iria acantonar-se.
Recordo dois ou três, francamente bem ilustrados, de que destaco um:
A guerra é já de si violenta. Não a faças mais do que já é.
Serviu este apontamento para realçar a necessidade de diminuir a violência que grassa por todo o mundo e que se manifesta das mais variadas formas e muitas vezes em nome de Deus, seja este qual for.
Os homens e sobretudo os jovens, são tentados a colocar toda a sua generosidade e de alguma maneira também a sua ingenuidade ao serviço de clãs, aureolados pelo poder divino ou terreno, e que nem sempre o exercem a favor de razões ou causas nobres.
É a política que faz a guerra e, como tal, é já de si violenta. Não só porque dá legitimidade aos órgãos instituídos para exercerem o poder, muitas vezes discriminatório e sempre contestado, como também serve de escudo para coarctarem, de forma criminosa, o direito de o contrapor.
A morte por atentado de Benazir Bhutto, vem apenas dar realce ao que vai acontecendo todos os dias um pouco por todo o lado e muito no Iraque e no Médio Oriente e de que já nos habituámos a reconhecer nos noticiários como causa de morte natural.
Em África morre-se um pouco por causa de tudo, da violência também e da política certamente.
Senhores políticos, a Política já é de si violenta!
Não a façam pior e mais violenta do que já é!

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quinta-feira, dezembro 27, 2007

Encosta-te a mim

Dantes, era caso para nariz comprido durante não sei quanto tempo. Hoje, a arteriosclerose desculpa. A velhice perdoa. Ataca onde mais nos dói e onde mais sentimos. É velhaca. Traiçoeira. Oportunista.
Hoje aconteceu ou, por outra, talvez acontecesse. Não chegou bem a acontecer porque ela não esperou. Tomou a iniciativa. Dantes, esperaria.
É assim. À medida que o tempo que passamos juntos vai aumentando, vão-se construindo pontes, atirando-nos mutuamente coletes de salvação que nos vão permitindo flutuar sobre as contrariedades da vida ou, tão somente, sobre expectativas goradas. Damo-nos oportunidades, pelo muito que passámos e vencemos juntos.
São cinquenta anos de história comum, com quarenta e três de casados. Tenho dificuldades em delimitar espaços meus e seus porque, de facto, têm maioritariamente sido nossos.
É bom pensar que ao romantismo primaveril, se seguiu o companheirismo outonal, em que bastam pequenos gestos, simples olhares, para que toda uma cumplicidade cimentada e couraçada pela marcha implacável do tempo, nos ponha em harmonia total de pensamento e acção.
Gostaria, tal como Manoel de Oliveira, de abrir um dossier de trabalho para o ano que se aproxima, estabelecendo metas, que se não compadecem com a teimosia do corpo em não lhes querer dar forma.
E a meta é simples e plurianual: acompanhar-mo-nos na tarefa ciclópica de ver os nossos netos tornarem-se mulheres e homens fortes e determinados, na busca do equilíbrio humano, económico e cultural, que lhes permita estar preparados para o futuro, que a eles pertence e que poderão ajudar a moldar com o seu contributo válido, empenhado e solidário.

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quarta-feira, dezembro 26, 2007

O Natal de Pom Pom


Veio de Jeep, melhor de SUV, no aconchego do ar condicionado e embalado pela música da rádio, naquele horário com pouco palavreado e poucos anúncios.
Lá fora o frio, começava a anunciar a chegada do Alentejo, que já se ia vislumbrando nas silhuetas dos sobreiros recortadas no céu enegrecido pelo cair da noite. Apenas algumas réstias de vermelhos, lá para as bandas do mar.
À chegada, saiu correndo,enfiando-se nas palhinhas que já o aguardavam havia tempo. Pom pom ronronava sereno, ao abrigo de todas as intempéries. A sua vida de fantasia, faziam dele herói e vilão, pai, irmão, talvez namorado irresistível.
Esta época era especialmente marcante para ele. Fazia anos, quase ao mesmo tempo que Jesus. Por um lado era bom, porque conseguia sempre o calor humano tão pródigo nesta quadra festiva.Por outro, arriscava-se a ter uma única prenda de anos e natalícia em simultâneo. Ainda por cima os tempos não estão nada por aí além para estas coisas de prendas e festejos…
Mas não, os anos foram festejados com arroz doce, o habitual cantar dos anos e um cachecol de prenda, à maneira, listado de azul, vermelho e verde, como se fosse adepto dos três clubes mais conhecidos dos portugueses.
Estava feliz de todo, com tanta gente à sua volta.
Mas não há bem que sempre dure!
Na noite de Natal, em que se preparava para abrir as suas prendas e que o haviam trazido de tão longe, tão feliz se encontrava que se não apercebeu do que à sua volta ia acontecendo. A música deixara de se ouvir, lá fora o sino da Igreja deixara de repicar e as suas batidas pareciam agora dobradas.
Ouvia pessoas a gritar que já não havia Natal, porque o Menino Jesus nascera morto!
Não podia ser estarem a estragar-lhe a festa! Era maldade demais!
Que raio de galo! Só a ele lhe aconteciam destas!
Começou a suar e o coração parecia que lhe ia saltar do peito tão rápidas e tão fortes eram as batidas!
De súbito, bateram à porta e acordou em sobressalto. Tudo não passara dum terrível pesadelo.
Rita pegou no Pom Pom e sentou-o ao lado dos outros bonecos de peluche e começou a distribuir-lhes as prendas!
Para ti, Pom Pom, a minha prenda de Natal! – disse ela, dando-lhe um grande beijinho, no seu focinho felpudo.

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Tréguas Natalícias

Foto daqui
Na minha guerrilha contra a injustiça, na minha guerra santa contra as guerras, na minha cruzada contra os novos cruzados, eu vou, sem contrapartidas, conceder umas tréguas natalícias.
Não vou calar-me, mas não atirarei basucadas, apenas árvores de Natal.
Quedar-me-ei pela posição de franco-atirador, escolhendo alvos muito específicos e atingindo-os nas partes sensíveis. Não sei se ainda as terão?!
Julgo que o Natal merece isso da minha parte. Não, porque acredite no Menino Jesus, mas sim, porque acredito no Pai Natal. É que este já tem barbas longas, faz "HO,HO,HO" e não se deixa enganar facilmente. O Outro, está muito dependente do leite materno e dos presentes dos Reis Magos.
Mas o Natal, com palhinhas ou sem elas, deverá ser sempre uma época de serenidade, de boa vontade e de esperança. Que a criança se faça homem! Que o Homem corra definitivamente com os vendilhões do Templo! E, por favor, que se não deixe crucificar por nós!
Nós não queremos esse supremo sacrifício! Basta de pregos espetados nas mãos e nos pés! Nesta época de paz e de tréguas – minhas – digo, não ao Calvário! Não, aos sacrifícios que Ele fez e faz por nós! Queremos ser nós a decidir! Por nós!
Bom, amigos meus e companheiros de bolina, desculpem estes momentos de fra(n)queza e arrebatação!
Que a consoada seja de paz, calma e serenidade com, pelo menos, pensamentos positivos e, se possível, um bacalhauzinho que, se não puder ser com todos, que seja com alguns!
Não somos santos, mas às vezes, até parecemos!

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sábado, dezembro 22, 2007

A "Guerrita"

A série documental “A Guerra” da autoria do jornalista Joaquim Furtado, pretende fazer uma leitura imparcial dos factos mais marcantes daquilo que foram os treze anos da guerra colonial, em Portugal, nos vários teatros de operações e de acordo com a sua cronologia.
É difícil, apesar de já haver alguma distância temporal, garantir depoimentos e leituras desapaixonadas e isentas.
No teatro de operações que melhor conheço, a Guiné, e que acompanhei com maior atenção, achei que houve demasiada serenidade na abordagem dos assuntos e situações, como se tivesse havido acordo prévio para não levantar grandes querelas. Foi-me dado ouvir relatos surpreendentes de acções militares que fizeram vários mortos e feridos, com sorrisos nos lábios de alguns intervenientes.
Fez-me lembrar a história do João Ratão, morto e cozido no caldeirão, que servia para fazer as criancinhas comerem a sopa, ou vomitá-la.
Mas mesmo assim, foi possível ter duas leituras da operação da Ilha do Como. Igualmente válidas e igualmente triunfantes.
Este programa, que não desvalorizo pelo seu conteúdo factual, temo que se fique por aqui, pelas razões que levaram à guerra e por ela própria, na visão dos antagonistas, com os seus êxitos temporários e que nada de bom trouxeram às partes envolvidas.
Gostaria, antes, de o ver descobrir as razões e as acções empreendidas por todos os intervenientes e pela comunidade internacional, para evitar que tivesse sido necessário recorrer à guerra para estabelecer um clima de são convívio entre colonizadores e colonizados, numa perspectiva diferente.
Que fosse avaliado até que ponto, terão sido esgotados os meios disponíveis para que fossem encontradas plataformas de compromisso que pudessem serenar os ânimos e permitir que em conjunto e em diálogo se apontassem saídas consentâneas com os legítimos interesses em jogo.
A guerra não foi nem nunca será solução para resolver questões, sejam elas de que natureza forem. Existem fóruns específicos para isso.
As grandes potências da altura e de sempre, têm certamente uma boa quota parte de responsabilidade, primeiro na manutenção das situações e depois nas formas que encontram para sair delas, quando lhes convém por razões económicas, estratégicas e políticas.
Vista neste prisma em que a Televisão Estatal a apresenta, a guerra parece ter sido a única saída, as descrições das acções militares que custaram, no seu conjunto, milhares de vidas, parecem estórias de escárneo e maldizer, em que não houve vítimas mas apenas baixas, não ficaram traumas mas apenas más recordações. Numa palavra, uma guerrita, sem importância de maior.
Porque será que não nos esquecemos de Aljubarrota e festejamos o 1º de Dezembro?
E já passou tempito, não foi?

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sexta-feira, dezembro 21, 2007

Conversas com "bala na câmara"


Imagem daqui
Hora de largada de Santos de regresso a Lisboa, depois de termos visitado o Rio de Janeiro também, numa viagem de instrução de cadetes da Escola Naval, a bordo da Sagres.
Amena cavaqueira na câmara de oficiais, em que se contavam as últimas da estadia neste porto, antes do toque para a faina.
Chega de repente um camarada, de olhar gaseado, perguntando pelo oficial imediato, dizendo quase a gritar que o navio não podia sair sem primeiro ele ir a terra, pois tinha um assunto gravíssimo e urgente a resolver.
Estranhando este comportamento, de todo arredio da pessoa em questão, pedimos que se acalmasse e nos contasse o que lhe acontecera.
Saiu esbaforido em busca do imediato e não apareceu mais até tocar à faina, o que se verificou dois ou três minutos depois. Do meu posto, conseguia vê-lo no cais a falar exaltadamente com o oficial de ligação brasileiro, não se percebendo o que dizia, mas adivinhando-se no gesticular o nervosismo e o descontrolo que o tomavam.
Reentrou a bordo, com ar de para quem o mundo rodava ao contrário.
O navio largou com muitos “adeuses” de bordo e do cais. Os senhores cadetes tinham mesmo partido corações por essas terras de Santa Cruz.
À hora de jantar, estranhámos a falta do camarada em questão e resolvemos, depois de tomada a refeição, saber o que se passava.
Descemos ao seu camarote e fomos dar com ele num desespero completo. Palavra puxa palavra e ele lá se foi descosendo.
“Tinha por hábito nos portos estrangeiros”, colocar tudo o que eram objectos de valor, numa gaveta da secretária, dentro duma caixa de madeira, que já o fora de charutos.
Terminada a estadia, ao retomar a rotina de os recolocar nos seus respectivos lugares, estes haviam desaparecido.
Entre eles, encontrava-se a aliança de casamento.

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quarta-feira, dezembro 19, 2007

País Sénior

Imagem retirada daqui
Se alguém tinha dúvidas deixou de as ter. Os idosos são quase maioria neste país de reformados e de pseudoreformas.
Dantes eram chamados de velhos, depois de terceira idade, mais tarde de idosos e hoje de seniores. Acho este termo mais perto da verdade, que é senilidade. Não sei como acabará, com o acordo ortográfico em vias de ratificação. Talvez “doctô”, não sei.
Pessoalmente prefiro sénior, pois que toda a vida tenho sido júnior.
Mas será complicado – aqui o sénior, senhor Júnior – bom, não interessa isso.
Penso de facto, que estamos senis se acreditarmos que toda esta solidariedade à volta dos seniores recentemente montada, com pompa e circunstância, não tem que ver com aquilo que se aproxima, a alta velocidade, e que será a incapacidade total deste grupo etário de arcar com as despesas inerentes à sua própria sobrevivência.
Julgo que para muitos morrer, será a solução mais caridosa e menos onerosa para o Governo, que já não consegue, sequer, manter o nível de compra dos trabalhadores, quanto mais dos reformados e seniores.
É curioso anotar que neste “ranking” estamos atrás de países como a Eslovénia, a República Checa, a Grécia, Malta e Chipre, para só falar de alguns.
E eu que pensava que o 25 de Abril tinha acabado, de vez, com os chás de caridade, com festas para angariação de fundos, com os peditórios nacionais e com os serões para trabalhadores.
Tenho uma sugestão: porque não chamar os nomes às coisas e não voltar a chamar FNAT ao INATEL, porque não chamar às associações patronais de grémios e não chamar aos seniores, velhos do caraças, que nunca mais morrem!

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terça-feira, dezembro 18, 2007

Mamãe Nöel

Não consigo disposição para escrever ou para fazer o que quer que seja. Julgava que “já não tinha dentes” mas, afinal, tenho e a darem-me cabo do juízo.
Já me obrigaram a duas idas a Lisboa e estou a ver que não vai ficar por aqui.
O tempo está com carrancas de Natal, de céu cinzento e frio. Julguei que a chuva anunciada fosse de neve, face a estas condições, mas afinal caíram apenas algumas pingas. Para completar o quadro não me importava duns flocos, ainda que ligeiros.
Esta foi a imagem que nos venderam de Natal, apesar de a nossa terra não ser muito pródiga deste tipo de situações meteorológicas.
Os brasileiros que têm um Natal quentinho, em vez de mandarem cartões de Boas-Festas com “Mamães de Ipanema”, em biquinis arrojados em pranchas de Wind Surf, teimam em enviar os ditos com “Papa Nöel de encomenda” em trenó puxado por renas.
Não dá de todo para entender!
De qualquer modo, tenham o Natal que o nosso primeiro nos deixa ter.
Podemos sempre colori-lo um pouco mais com a nossa imaginação.
E na minha, não desgrudo das Mamães Nöel de Ipanema!
Topou?

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quinta-feira, dezembro 13, 2007

Bom Dia, Alentejo!

Finalmente as geadas fizeram a sua aparição, deixando os campos como se tivesse nevado. Nos nossos passeios matinais pelos campos, as pontas dos dedos já ficam completamente enregeladas, sem possibilidade de segurar o que quer que seja. Por aqui diz-se que temos os dedos “engadanhados”.
O Sol brilhante em céu azul depressa “derrega” o gelo e coloca pérolas cintilantes nas ervas e sementeiras já nascidas, que a pouco e pouco vão deslizando e empapando a terra, como se fosse uma rega gota a gota.
É o que vai safando a onça, já que a chuva não tem aparecido por estas bandas. As albufeiras e charcas estão a níveis proibidos nesta altura do ano.
Se o tempo assim continuar, os fenos e pastagens não vão chegar à Primavera em condições de sobreviverem aos rigores do calor que lhe sucederá.
As reservas do ano passado não são suficientes e haverá o problema de outros anos, com importações forçadas de palhas e rações.
Os agricultores e criadores de gado alentejanos lidaram desde sempre com o rigor do clima, embora se encontrem em desvantagem em relação a outros parceiros comunitários com climas mais húmidos e terras mais férteis.
A luz horizontal da manhã
põe sombras brancas por entre o riscado verde das searas nos montados, desenhando a copa dos sobreiros.
A passarada com as penas eriçadas pelo frio, empoleira-se nos galhos secos das oliveiras mal cuidadas, como se fossem azeitonas enormes à espera de ser varejadas.
Dum lado e doutro das estradas cercas com gado. Porcos pretos correndo por baixo dos sobreiros em busca da bolota, como crianças à procura de rebuçados. Além, um rebanho de ovelhas rabiscando o que verdeja por entre os carapetos e mais longe uma vacada, já parida e com fortes indícios de mestiçagem - entre o Mertolengo e Charolês – no meio do “pastagal”, bramindo por causa da friagem.
É o acordar do coro campesino, a voz da terra, música celestial para os meus ouvidos já meio emperrados.

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quarta-feira, dezembro 12, 2007

Encontros e encontrões

Imagem daqui
A Cimeira de Lisboa, promoveu o encontro de europeus e africanos, não devendo ter promovido mais nada.
O entendimento mútuo parece impossível face ao desnível sócio-económico em presença, mau grado as potencialidades de alguns estados africanos e a fragilidade da economia de alguns países europeus, além de sequelas antigas entre colonizadores e colonizados.
No tempo do colonialismo, havia quem fizesse piadas racistas, dizendo que o Salazar era um democrata, que tratava os brancos da mesma forma que os pretos.
Glosando este tipo de piadas, diria que o EngºSócrates trata melhor os pretos do que os brancos.
Não é que os brancos não mereçam, pois que votaram nele maioritariamente. Agora que o aturem.
Neste tipo de encontros, pululam as manifestações dos donos da verdade universal e da fórmula mágica que a todos tem que servir – a democracia – esquecendo-se por vezes de a pôr em prática nos próprios países, mas querendo impô-la aos outros.
Eu diria que a democracia está para os africanos como a água de colónia para a maioria dos que a usam – cheira bem, mas é cara como o caraças e cada um prefere uma marca diferente.
Já toda a gente se esqueceu de Tien An Men e ninguém levanta mais a voz contra o sistema político que a China encontrou para se desenvolver, condicionando as liberdades individuais aos interesses colectivos e nacionais.
Os reais interesses dos promotores deste tipo de encontros, além de protagonismo pessoal e político, perseguem igualmente objectivos economicistas, claramente expressos nas reuniões dos empresários com representantes dos países africanos, no sentido de garantirem negócios fáceis, onde a tecnologia não é primordial.
O seu resultado, mesmo nessa perspectiva, terá ficado muito aquém das expectativas, chegando alguns líderes africanos a bater com as portas antes do seu encerramento, face a exigências “nonsense”, de alguns desses promotores.
Nunca fui muito bom em negócios, mas entendo que os ditos são para ser acordados e não impostos. Só dessa forma poderão ser entendidos como tal. Só interesses mútuos servirão as partes neles envolvidas.
Salve-se, no entanto, o espavento do Sr. Muammar Kadafi, que não deixa de “armar a tenda” onde quer que se encontre.

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sexta-feira, dezembro 07, 2007

"Quiero ser Papa de Roma"


Ontem fui ao teatro no âmbito do 5º Encontro de Teatro Ibérico. Uma peça denominada “I love Clint Eastwood”, de Miguel Morillo.
Já há muito que não ia ao teatro, por razões de ordem vária, a que não era alheia a minha falta de ouvido. Em castelhano ainda por cima, não vos digo nada!
Fiquei com dores de cabeça pelo esforço maluco de tentar apanhar qualquer coisa que me desse o fio da meada.
A peça não me pareceu nada do outro mundo, com uma encenação abaixo de sofrível, uma interpretação a dar no bom, por parte dos dois protagonistas do mesmo personagem. O ritmo não foi mau inicialmente para decair no final, o texto é capaz de ter sido aceitável, para quem entendeu. Ouvi muita gente rir, o que faz bem à saúde. Confesso que, do pouco que ouvi direitinho, não pareceu nada de especial, apesar da boa presença dos actores em palco e da sua grande expressividade.
A história bem urdida à volta dos sonhos e pesadelos dum sortudo a quem havia saído o jack pot do Euromilhões.
Perdi-me muitas vezes no embrulho da linguagem, enquanto divagava sobre as minhas próprias conjecturas, no caso de ter sido a mim que tal ocorrera.
Que loucuras intentaria?
Nunca coloquei a questão de me poder sentir mais feliz do que sou agora, mas calculo que algumas das preocupações que hoje me atazanam eram capazes de se escapulir.
Já me tenho perguntado qual será o preço de não ter que reflectir sobre aquilo que se pensa e se diz. Um amigo meu dizia que medo, tinha ele de pensar, não de o expressar dizendo.
Voltando ao teatro e à peça, de uma ocorrência ímpar não foi conseguida uma resolução teatral do mesmo quilate.
Mas foi bom ir ao teatro. Foi bom sentir o frenesi do palco e do fazer de conta.
No final, ficou-me uma das alusões de loucura do felizardo (mais ou menos assim) – “quiero ser Papa de Roma, para poder decir todas las tonterias, todo en nombre de Dios “

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quarta-feira, dezembro 05, 2007

A semente à terra


A terra úbere espera ansiosamente a semente que regenera a vida.
Nunca percebi porque razão a maioria das sementes tem que passar pelo estágio da secura, para poder germinar e retomar as características da planta mãe.
Tão diferente da “semente” humana, que quando seca já não consegue cumprir a sua missão criativa e renovadora.
É tempo de semear os alhos, favas e ervilhas e de fazer o criadouro do cebolo. É tempo de podar a vinha e as roseiras.
O calendário biológico natural assim ordena ou ordenava, porque o homem que tudo manipula, altera-o a seu belo prazer, com as modernas técnicas de que se fez rodear. O Borda d’Água para pouco mais serve do que para garantir uns cêntimos aos seus vendedores, constituído na sua maioria por deserdados da mãe natureza.
Fico muitas vezes a pensar se este blog não deveria ter esse nome, em vez do pomposo Bolina.
Não há frio este ano. Será o tal de aquecimento global a mostrar-se em toda a sua dinâmica devastadora? A chuva substituída por nevoeiros, que duram quase o dia inteiro!
E os lábios gretados do cieiro? E as frieiras nas mãos e nas orelhas? E as cabras nas pernas das mulheres de se sentarem à braseira? Onde está o frio seco característico deste Alentejo?
Acendo a lareira apenas porque gosto de ver as chamas tremelejando, sentir o cheiro do azinho queimando, assar umas boletas ou umas castanhas no brasido.
É uma companhia que não dispenso mesmo que o tempo a não imponha. Já não faço acompanhar este prazer dum outro que não dispensava de todo – um cigarro bem fumado, eventualmente, em simultâneo com um bagacinho caseiro.
Fica a imagem, sem saudade!

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terça-feira, dezembro 04, 2007

Coro sem cor


Nunca gostei de fazer coro em torno fosse do que fosse. Acho que os movimentos de opinião são duma maneira geral conduzidos e que as pessoas de forma inadvertida tendem a fazer coro, sem disso se darem conta.
Como as claques defendem a clubite irracionalmente, assim os coros seguem a música sem reparar na letra.
Não excluindo os grupos de todo, que julgo fundamentais na organização social e político-partidária, gosto, sim, de escutar atentamente as vozes que se levantam, analisar as questões ou a situação e reagir solidariamente ou não.
Ultimamente, sinto-me a engrossar o coro da insatisfação política, de forma quase visceral, porque existem coisas que tocam profundamente comigo, nomeadamente a falta de qualquer ponta de humanismo na determinação das políticas económicas e sociais, tanto mais sendo o partido do governo o partido socialista, em que este tipo de preocupações deveria constituir trave mestra.
Reduzir todas as questões de governo a gestão de números, faz pensar que podem facilmente riscar-se números que signifiquem pessoas, como se de erros se tratasse. Se para reduzir o défice houver que riscar do mapa X pessoas, pois então que se risquem.
Como? Reduzindo o seu poder de compra, colocando-as no desemprego, reduzindo os apoios sociais e de assistência na doença, aumentando-lhes os impostos indirectos nos bens essenciais.
Empobrecendo-as física e moralmente. Obrigando-as a aceitar tudo como se de uma “benesse” se tratasse. Recolocando-as na base da pirâmide de necessidades, não as deixando ver mais longe do que à distância dum braço estendido à caridade.
Se a Europa custa isto, que se lixe a Europa! Se a democracia que nos querem impor é esta, que se lixe a democracia! Se socialismo é isto, que se lixe o socialismo!
Por outras palavras, se isto é conduto antes quero pão seco!

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domingo, dezembro 02, 2007

…que a Pátria vos contempla”

Que Pátria? Não devo estar na minha.
É engano ou alguma piada de mau gosto. A avaliar por aquilo que ultimamente tem vindo a público, já não digo nada. Tudo pode acontecer neste país da treta.
Militares de espada? Nem pensar! De canivete, talvez, desde que a lâmina não exceda os dez centímetros.
Está certo! Julgo que a próxima cerimónia de entrega daquilo que deveriam ser espadas, será entrega de mísseis! Da Play Station ou da Nintendo, claro!
É o novo equipamento das tropas especiais que irão para o Afeganistão, para a Bósnia e não sei mais para onde, brincar às guerras!
Com armas, cá, só os gangs e as polícias. Quem andar fardado, em princípio, é polícia!
Estou mesmo em crer que o novo programa naval deverá incluir a recuperação das fragatas do Tejo, pois claro!
Não sei de facto o que é preciso mais para que os chefes militares digam alguma coisa! Não dá para entender! Depois admiram-se das manifestações de rua. Ninguém defende os seus interesses, a sua dignidade. Que pena não haver um PGR que desse uma entrevistazeca aí a umas revistas semanais, quanto mais perto das cores do Governo, melhor.
Não faço ideia o que terá o Engenheiro Sócrates contra os militares para os tratar tão mal!
Ainda bem que só já tenho que me preocupar com a pensão de reforma e com a assistência na doença o que, diga-se de passagem, já é demais para quem deu o coiro ao manifesto durante uma data de anos a uma instituição que dava pelo nome de Armada e que tinha por lema “A Pátria honrai…

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sábado, dezembro 01, 2007

As jornadas de luta e consumismo

Não ponho minimamente em causa as razões que terão estado na base desta jornada sindical contra os aumentos salariais impostos pelo executivo de Sócrates, pois a perda de pé nestas águas profundas dos aumentos causados por mil e uma artimanhas, desde os impostos indirectos, à redução de apoios sociais, há muito que vem retirando flutuabilidade à gestão familiar dos portugueses.
Para sobreviver, grande parte dos portugueses foi-se agarrando a falsas bóias, que não só não garantiram a desejada emersão como estão agora em vias de os afundar de vez e com elas toda a esperança e estoicismo de que têm dado provas.
Ao mesmo tempo que tudo isto acontece, nesta quadra de consumismo exacerbado, multiplicam-se as solicitações para o aumentar, com apelos a pagamentos diferenciados, com a banca a dar créditos a quem os já não pode assumir.
Existe em todo este processo uma incoerência inexplicável para um leigo nestas andanças. Os bancos não param de falar em créditos mal parados. A DECO tem há muito um departamento de apoio aos sobrendividados. O Governo, através da Direcção Geral do Consumidor, estabeleceu um protocolo com o Instituto Superior de Economia e Gestão, criando o designado Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores no sentido de evitar o aumento desta praga e depois mantém-se esta guerrilha, esta corrida entre os bancos e os comerciantes num apelo à sua manutenção e até aumento?!
Em que ficamos? Quem põe um fim a isto? O mercado, quando já não houver portugueses com carro, com casa própria, com família minimamente organizada, com sonhos não desfeiteados?
Tenham dó!
O liberalismo económico não tem regras e não pode garantir o funcionamento normal duma democracia que se quer regida pelos normativos que a atestam como um Estado de Direito, tão apregoado, em que as relações entre os agentes económicos e restantes parceiros sociais se devem pautar entre baias de respeito mútuo.
Os atropelos são tantos e tão graves que se teme pela sua sobrevivência como democracia e como estado.
Quando se deixa de acreditar nas instituições, a tendência é para se procurar apoio e pôr crédito em pessoas. É normalmente nestes casos, que aparecem os salvadores da pátria.
Era bom que, sobre isto, se reflectisse um pouco!

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