quinta-feira, dezembro 13, 2007

Bom Dia, Alentejo!

Finalmente as geadas fizeram a sua aparição, deixando os campos como se tivesse nevado. Nos nossos passeios matinais pelos campos, as pontas dos dedos já ficam completamente enregeladas, sem possibilidade de segurar o que quer que seja. Por aqui diz-se que temos os dedos “engadanhados”.
O Sol brilhante em céu azul depressa “derrega” o gelo e coloca pérolas cintilantes nas ervas e sementeiras já nascidas, que a pouco e pouco vão deslizando e empapando a terra, como se fosse uma rega gota a gota.
É o que vai safando a onça, já que a chuva não tem aparecido por estas bandas. As albufeiras e charcas estão a níveis proibidos nesta altura do ano.
Se o tempo assim continuar, os fenos e pastagens não vão chegar à Primavera em condições de sobreviverem aos rigores do calor que lhe sucederá.
As reservas do ano passado não são suficientes e haverá o problema de outros anos, com importações forçadas de palhas e rações.
Os agricultores e criadores de gado alentejanos lidaram desde sempre com o rigor do clima, embora se encontrem em desvantagem em relação a outros parceiros comunitários com climas mais húmidos e terras mais férteis.
A luz horizontal da manhã
põe sombras brancas por entre o riscado verde das searas nos montados, desenhando a copa dos sobreiros.
A passarada com as penas eriçadas pelo frio, empoleira-se nos galhos secos das oliveiras mal cuidadas, como se fossem azeitonas enormes à espera de ser varejadas.
Dum lado e doutro das estradas cercas com gado. Porcos pretos correndo por baixo dos sobreiros em busca da bolota, como crianças à procura de rebuçados. Além, um rebanho de ovelhas rabiscando o que verdeja por entre os carapetos e mais longe uma vacada, já parida e com fortes indícios de mestiçagem - entre o Mertolengo e Charolês – no meio do “pastagal”, bramindo por causa da friagem.
É o acordar do coro campesino, a voz da terra, música celestial para os meus ouvidos já meio emperrados.

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