sexta-feira, dezembro 21, 2007

Conversas com "bala na câmara"


Imagem daqui
Hora de largada de Santos de regresso a Lisboa, depois de termos visitado o Rio de Janeiro também, numa viagem de instrução de cadetes da Escola Naval, a bordo da Sagres.
Amena cavaqueira na câmara de oficiais, em que se contavam as últimas da estadia neste porto, antes do toque para a faina.
Chega de repente um camarada, de olhar gaseado, perguntando pelo oficial imediato, dizendo quase a gritar que o navio não podia sair sem primeiro ele ir a terra, pois tinha um assunto gravíssimo e urgente a resolver.
Estranhando este comportamento, de todo arredio da pessoa em questão, pedimos que se acalmasse e nos contasse o que lhe acontecera.
Saiu esbaforido em busca do imediato e não apareceu mais até tocar à faina, o que se verificou dois ou três minutos depois. Do meu posto, conseguia vê-lo no cais a falar exaltadamente com o oficial de ligação brasileiro, não se percebendo o que dizia, mas adivinhando-se no gesticular o nervosismo e o descontrolo que o tomavam.
Reentrou a bordo, com ar de para quem o mundo rodava ao contrário.
O navio largou com muitos “adeuses” de bordo e do cais. Os senhores cadetes tinham mesmo partido corações por essas terras de Santa Cruz.
À hora de jantar, estranhámos a falta do camarada em questão e resolvemos, depois de tomada a refeição, saber o que se passava.
Descemos ao seu camarote e fomos dar com ele num desespero completo. Palavra puxa palavra e ele lá se foi descosendo.
“Tinha por hábito nos portos estrangeiros”, colocar tudo o que eram objectos de valor, numa gaveta da secretária, dentro duma caixa de madeira, que já o fora de charutos.
Terminada a estadia, ao retomar a rotina de os recolocar nos seus respectivos lugares, estes haviam desaparecido.
Entre eles, encontrava-se a aliança de casamento.

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