sábado, dezembro 22, 2007

A "Guerrita"

A série documental “A Guerra” da autoria do jornalista Joaquim Furtado, pretende fazer uma leitura imparcial dos factos mais marcantes daquilo que foram os treze anos da guerra colonial, em Portugal, nos vários teatros de operações e de acordo com a sua cronologia.
É difícil, apesar de já haver alguma distância temporal, garantir depoimentos e leituras desapaixonadas e isentas.
No teatro de operações que melhor conheço, a Guiné, e que acompanhei com maior atenção, achei que houve demasiada serenidade na abordagem dos assuntos e situações, como se tivesse havido acordo prévio para não levantar grandes querelas. Foi-me dado ouvir relatos surpreendentes de acções militares que fizeram vários mortos e feridos, com sorrisos nos lábios de alguns intervenientes.
Fez-me lembrar a história do João Ratão, morto e cozido no caldeirão, que servia para fazer as criancinhas comerem a sopa, ou vomitá-la.
Mas mesmo assim, foi possível ter duas leituras da operação da Ilha do Como. Igualmente válidas e igualmente triunfantes.
Este programa, que não desvalorizo pelo seu conteúdo factual, temo que se fique por aqui, pelas razões que levaram à guerra e por ela própria, na visão dos antagonistas, com os seus êxitos temporários e que nada de bom trouxeram às partes envolvidas.
Gostaria, antes, de o ver descobrir as razões e as acções empreendidas por todos os intervenientes e pela comunidade internacional, para evitar que tivesse sido necessário recorrer à guerra para estabelecer um clima de são convívio entre colonizadores e colonizados, numa perspectiva diferente.
Que fosse avaliado até que ponto, terão sido esgotados os meios disponíveis para que fossem encontradas plataformas de compromisso que pudessem serenar os ânimos e permitir que em conjunto e em diálogo se apontassem saídas consentâneas com os legítimos interesses em jogo.
A guerra não foi nem nunca será solução para resolver questões, sejam elas de que natureza forem. Existem fóruns específicos para isso.
As grandes potências da altura e de sempre, têm certamente uma boa quota parte de responsabilidade, primeiro na manutenção das situações e depois nas formas que encontram para sair delas, quando lhes convém por razões económicas, estratégicas e políticas.
Vista neste prisma em que a Televisão Estatal a apresenta, a guerra parece ter sido a única saída, as descrições das acções militares que custaram, no seu conjunto, milhares de vidas, parecem estórias de escárneo e maldizer, em que não houve vítimas mas apenas baixas, não ficaram traumas mas apenas más recordações. Numa palavra, uma guerrita, sem importância de maior.
Porque será que não nos esquecemos de Aljubarrota e festejamos o 1º de Dezembro?
E já passou tempito, não foi?

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