sábado, dezembro 01, 2007

As jornadas de luta e consumismo

Não ponho minimamente em causa as razões que terão estado na base desta jornada sindical contra os aumentos salariais impostos pelo executivo de Sócrates, pois a perda de pé nestas águas profundas dos aumentos causados por mil e uma artimanhas, desde os impostos indirectos, à redução de apoios sociais, há muito que vem retirando flutuabilidade à gestão familiar dos portugueses.
Para sobreviver, grande parte dos portugueses foi-se agarrando a falsas bóias, que não só não garantiram a desejada emersão como estão agora em vias de os afundar de vez e com elas toda a esperança e estoicismo de que têm dado provas.
Ao mesmo tempo que tudo isto acontece, nesta quadra de consumismo exacerbado, multiplicam-se as solicitações para o aumentar, com apelos a pagamentos diferenciados, com a banca a dar créditos a quem os já não pode assumir.
Existe em todo este processo uma incoerência inexplicável para um leigo nestas andanças. Os bancos não param de falar em créditos mal parados. A DECO tem há muito um departamento de apoio aos sobrendividados. O Governo, através da Direcção Geral do Consumidor, estabeleceu um protocolo com o Instituto Superior de Economia e Gestão, criando o designado Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores no sentido de evitar o aumento desta praga e depois mantém-se esta guerrilha, esta corrida entre os bancos e os comerciantes num apelo à sua manutenção e até aumento?!
Em que ficamos? Quem põe um fim a isto? O mercado, quando já não houver portugueses com carro, com casa própria, com família minimamente organizada, com sonhos não desfeiteados?
Tenham dó!
O liberalismo económico não tem regras e não pode garantir o funcionamento normal duma democracia que se quer regida pelos normativos que a atestam como um Estado de Direito, tão apregoado, em que as relações entre os agentes económicos e restantes parceiros sociais se devem pautar entre baias de respeito mútuo.
Os atropelos são tantos e tão graves que se teme pela sua sobrevivência como democracia e como estado.
Quando se deixa de acreditar nas instituições, a tendência é para se procurar apoio e pôr crédito em pessoas. É normalmente nestes casos, que aparecem os salvadores da pátria.
Era bom que, sobre isto, se reflectisse um pouco!

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