quarta-feira, dezembro 26, 2007

O Natal de Pom Pom


Veio de Jeep, melhor de SUV, no aconchego do ar condicionado e embalado pela música da rádio, naquele horário com pouco palavreado e poucos anúncios.
Lá fora o frio, começava a anunciar a chegada do Alentejo, que já se ia vislumbrando nas silhuetas dos sobreiros recortadas no céu enegrecido pelo cair da noite. Apenas algumas réstias de vermelhos, lá para as bandas do mar.
À chegada, saiu correndo,enfiando-se nas palhinhas que já o aguardavam havia tempo. Pom pom ronronava sereno, ao abrigo de todas as intempéries. A sua vida de fantasia, faziam dele herói e vilão, pai, irmão, talvez namorado irresistível.
Esta época era especialmente marcante para ele. Fazia anos, quase ao mesmo tempo que Jesus. Por um lado era bom, porque conseguia sempre o calor humano tão pródigo nesta quadra festiva.Por outro, arriscava-se a ter uma única prenda de anos e natalícia em simultâneo. Ainda por cima os tempos não estão nada por aí além para estas coisas de prendas e festejos…
Mas não, os anos foram festejados com arroz doce, o habitual cantar dos anos e um cachecol de prenda, à maneira, listado de azul, vermelho e verde, como se fosse adepto dos três clubes mais conhecidos dos portugueses.
Estava feliz de todo, com tanta gente à sua volta.
Mas não há bem que sempre dure!
Na noite de Natal, em que se preparava para abrir as suas prendas e que o haviam trazido de tão longe, tão feliz se encontrava que se não apercebeu do que à sua volta ia acontecendo. A música deixara de se ouvir, lá fora o sino da Igreja deixara de repicar e as suas batidas pareciam agora dobradas.
Ouvia pessoas a gritar que já não havia Natal, porque o Menino Jesus nascera morto!
Não podia ser estarem a estragar-lhe a festa! Era maldade demais!
Que raio de galo! Só a ele lhe aconteciam destas!
Começou a suar e o coração parecia que lhe ia saltar do peito tão rápidas e tão fortes eram as batidas!
De súbito, bateram à porta e acordou em sobressalto. Tudo não passara dum terrível pesadelo.
Rita pegou no Pom Pom e sentou-o ao lado dos outros bonecos de peluche e começou a distribuir-lhes as prendas!
Para ti, Pom Pom, a minha prenda de Natal! – disse ela, dando-lhe um grande beijinho, no seu focinho felpudo.

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