quarta-feira, dezembro 05, 2007

A semente à terra


A terra úbere espera ansiosamente a semente que regenera a vida.
Nunca percebi porque razão a maioria das sementes tem que passar pelo estágio da secura, para poder germinar e retomar as características da planta mãe.
Tão diferente da “semente” humana, que quando seca já não consegue cumprir a sua missão criativa e renovadora.
É tempo de semear os alhos, favas e ervilhas e de fazer o criadouro do cebolo. É tempo de podar a vinha e as roseiras.
O calendário biológico natural assim ordena ou ordenava, porque o homem que tudo manipula, altera-o a seu belo prazer, com as modernas técnicas de que se fez rodear. O Borda d’Água para pouco mais serve do que para garantir uns cêntimos aos seus vendedores, constituído na sua maioria por deserdados da mãe natureza.
Fico muitas vezes a pensar se este blog não deveria ter esse nome, em vez do pomposo Bolina.
Não há frio este ano. Será o tal de aquecimento global a mostrar-se em toda a sua dinâmica devastadora? A chuva substituída por nevoeiros, que duram quase o dia inteiro!
E os lábios gretados do cieiro? E as frieiras nas mãos e nas orelhas? E as cabras nas pernas das mulheres de se sentarem à braseira? Onde está o frio seco característico deste Alentejo?
Acendo a lareira apenas porque gosto de ver as chamas tremelejando, sentir o cheiro do azinho queimando, assar umas boletas ou umas castanhas no brasido.
É uma companhia que não dispenso mesmo que o tempo a não imponha. Já não faço acompanhar este prazer dum outro que não dispensava de todo – um cigarro bem fumado, eventualmente, em simultâneo com um bagacinho caseiro.
Fica a imagem, sem saudade!

Etiquetas: