quarta-feira, janeiro 31, 2007

A Descoberta

Se alguém me dissesse há algum tempo atrás que eu me havia de imbuir nas artimanhas da tecnologia digital, não acreditaria por certo.
Há muito, porém, que já havia descoberto em mim, aspectos que não descreveria como qualidades, mas que acabam por tornar-nos a vida menos dura em termos de sofrimento.
Um deles é a resistência física ao cansaço, à dor, ao sono, à fome e à sede. A Guiné ensinou-me que é possível ultrapassar muito do que fisicamente nos diminui até um ponto para além do qual a vida se torna impossível. Mas só as situações extremas o conseguem provar e definir. Nós nem sequer fazemos uma pequena ideia do muitíssimo de que somos capazes.
Já os aspectos psicológicos não podem aferir-se do mesmo modo, havendo alturas em que os limites parecem não existir de todo para logo depois nos sentirmos encurralados pelos nossos receios, as nossas dúvidas, as nossas fraquezas, os nossos terrores.
Em relação às novas tecnologias eu vivi muito tempo num grande desconforto interior, com a sensação de que nunca conseguiria carregar uma tecla de computador sem que daí resultasse alguma coisa de mau para alguém ou para o mundo.
Sempre achei que eram coisas de gente que falava com os dedos em vez de o fazer com a boca ou com a alma.
A linguagem fria das máquinas sempre me intimidou. Tive dificuldade em me adaptar ao dinheiro de plástico bem como ao deixar recados no Voice Mail. Nem tão pouco gosto de telefonar.
Mas a necessidade é mestra de engenhos e aqui estou eu a falar com coisa nenhuma, num monólogo vazio de conteúdo, mas cheio de afectividades. Por mim, claro, porque fui capaz, pelos outros por não me agredirem com os seus insultos ou com as críticas destrutivas e por fim, pelo equilíbrio de forças que a Natureza põe em confronto, que nos permite sobreviver ao fracasso, repeti-lo vezes sem conta até uma eventual vitória.
Chiça! Até parece um dos preceitos do “Bom Filiado da Bufa”.

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segunda-feira, janeiro 29, 2007

O Palco Virtual

Aqui todos somos bons actores, cobertos ou não pelo anonimato, encandeados pela nossa própria ribalta, defendidos da resposta da plateia.
Bebemos as palavras que escrevemos, como o néctar encantado da longevidade que sabemos não ter. Elas nos servirão de epitáfio e nos sobreviverão. Apelamos a que nos prolonguem a memória.
Damos largas às nossas fantasias, aos nossos desvarios, às nossas frustrações. Neste palco encenamos, montamos, dirigimos. Somos donos da verdade total, senhores absolutos do nada real.
Desta cátedra, espargimos sabedoria mal contida, diagnosticamos tendências que nos enfeitiçam, designamos mestres e seguidores que nunca tivemos.
Deste púlpito exacerbamos, invectivamos, apontamos, escarnecemos, endereçamos recados.
Registamos, “on the stage”, a memória perdida juntamente com os nossos sonhos. Damos-lhes o enterro digno que merecem e que alimente a nossa auto-estima deambulante.
Entre a arteriosclerose e a Alzheimer, regurgitamos o vómito da solidão, agora assistida por computador.

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domingo, janeiro 28, 2007

VIVA_MÚSICA_VIVA

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sábado, janeiro 27, 2007

Nós, os privilegiados!

Já me não lembrava como é bom andar de comboio.
Retomei um prazer que sempre me assistia quando apanhava regularmente aquele meio de transporte, para me deslocar semanalmente de e para Lisboa.
Viagem um pouco mais confortável do que então!
Muito menos gente agora. São todos ricos e fazem-se deslocar de carro. Chateiam-se nas filas de trânsito, correm riscos nas estradas, perdem a oportunidade de aproveitar duas horas, neste caso, para pôr a leitura em dia, para preparar trabalhos, para desfrutar a paisagem ou muito simplesmente dormir uma soneca reparadora.
Faltou-me, no entanto, aquele doce balançar do pouca terra, pouca terra. Agora é apenas um zumbir tornado rosnar, de vez em quando, ao passar entre margens mais altas.
Como privilegiado que sou, tenho direito a pagar apenas 25% do bilhete, em 1ª classe. Na bilheteira, apresento o cartão de identidade e, depois duma grande seca por parte do funcionário, este dá-me meio bilhete (o mesmo que pagam os felizardos dos velhadas com mais de 65 anos).
Não reparei logo. Já a bordo, o revisor que tem outro nome na CP que não me lembro agora, pediu-nos os bilhetes a mim e à minha mulher e os BI´s. Devolveu-nos tudo, depois de ter picado os bilhetes.
Mais tarde, abordou-me de novo, perguntando-me se a minha data de nascimento não era posterior a 42. Respondi que sim e então o revisor pediu-me de novo o bilhete e disse-me que afinal eu teria que pagar um adicional, já que o meu tarifário de 25% me obrigava a pagar mais 8 euros do que o valor que correspondia ao meio-bilhete. Perguntei, como assim?
E a resposta foi de que nos comboios rápidos, como o Intercidades, em que me deslocava, obrigava a que pagasse esse acréscimo.
Afinal o funcionário que me havia vendido o meio-bilhete até tinha querido ser meu amigo.
Não há dúvida, que nós os privilegiados, somos assim!
Quando se é, é-se em tudo. Até ¼ é superior, e bem, a ½.
Presumo que se um dia vier a andar no TGV, um quarto de bilhete deve custar o correspondente ao valor de três e meio atenta, que seja, a velocidade do dito!

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sexta-feira, janeiro 26, 2007

Papiá Cristan de Macau

Os quatro anos que passei em Macau terão sido porventura dos que mais me marcaram em termos de experiência vivida.
Macau constituiu durante séculos um ponto de encontro e de cruzamento de culturas, de convivência pacífica entre comunidades que nem a língua partilhavam.
A sobrevivência dos primeiros portugueses naquelas paragens passou certamente por entender e ser entendido, o que não deve ter sido tarefa fácil. A grande maioria seria provavelmente iletrada, sem capacidade para registar, a não ser de memória os sons complicados da linguagem falada.
Terão criado, com a ajuda dos Missionários, uma “língua crioula”, o designado”Papiá Cristan”, suportada inicialmente apenas pelo ouvido, como se fora uma canção.
Com ele terão lançado as raízes duma permanência de mais de quatro séculos.
No final da década de Setenta, lembro-me de ter pensado como fora feliz o slogan então em uso como cartão de visita turística – Venha a Macau! Macau esperou quatro séculos por si!
Na altura, eu teria acrescentado um outro que teria como pano de fundo a Fachada das Ruínas de S.Paulo, aliás, ex-Libris da Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, a que acrescentaria o seguinte texto - Macau é só fachada. E era de facto, mas agora penso que ainda bem.
Entendo, mas é para mim doloroso ver as imagens que diariamente nos chegam daquelas paragens, em que se não distingue esse Macau, completamente soterrado pelo desenvolvimento urbano incaracterístico, resultado duma aculturação de conveniência com os dinheiros fáceis dos Casinos, que o travestiram de “Vegas de olho rasgado”, como numa fantasia de Escola de Samba Brasileira.
Dentro em pouco ficará para sempre igualmente afundada a memória do Português em Macau, do Macaense e do seu Papiá Cristan.

Crioulo Português de Macau (”Papiá Cristan”)

MACAU JÓVI

Macau sã unga téra,
De tánto fantasia;
Qui na paz, qui na guéra,
Tudo sã alegria.
Su gente sã capaz,
Sã gostá divertí.
Non têm siúm de cartaz,
Qui nádi vêm aqui.
Nôs têm unga “Ministro”,
Qui tudo sá fazê.
Têm cara de calistro,
Co sorte pa vendê.
“Ministro” já cartá,
Quelê tánto artista
Pa vêm repesentá,
Insaguá nôs sua vista.
Têm tánto musiquero,
Têm mágico chistoso;
Têm dotôr gatunero
Têm cáfri habilidoso.

Mas má-língu falá,
Êle sã chuchuméca !
Buscá sarna cuçá,
Pa nôs gastá sapéca.
Si nunca sã assi,
Únde Cugat,
Pashá,
Sabe vêm nôs aqui,
Dá brinco nôs olá?
“Ink’spot” co trê Latino,
Iturbi co Giováne,
Sã “Ministro” ladino
Já virá fazê gránde.
Gente qui ta Papiá,
Sã têm mau coraçám.
Nhum qui más invejá,
Sã nhum de pôco açám !
N’unga mundo de treva,
Têm laia-laia gente.
“Ministro” nádi reva,
Lôgo ri, mostrá dente.

(do livro Macau sã assim,
de José dos Santos Ferreira -”Adê” -,
Macau, 1967)

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quinta-feira, janeiro 25, 2007

A História do Futuro contada em Alentejano

Não sei porque sou tentado a escrever sobre o passado esquecendo o que se passa neste momento à minha volta.
Será que já não tem interesse para mim? Que já morri? Ou que o passado foi esplendoroso? Que não tenho futuro?
Que tudo isto é uma treta?
Deve ser um pouco de tudo junto.
Há dias escutei uma narrativa que, se bem que curta, me pareceu empolgante pela forma como foi contada, pela calma que dela exalava, pelo suave emanar dum crédito que eu supunha perdido entre os jovens, entre empresários e sobretudo entre agricultores e produtores pecuários.
Uma nova abordagem da temática empresarial, em alentejano confesso. Ouvi falar com serenidade em propriedades ocupadas e reentregues, sem rancor aparente. Em relacionamento amigável com os antigos ocupantes e gestores da Cooperativa, que já era, do tipo de exploração que se fazia e que continua a ser corrente fazer-se na generalidade das empresas agro-pecuárias.
Mais importante foi ter ouvido falar quase com amor da exploração equilibrada que já se vai fazendo ali e acolá, com resultados encorajadores para os empresários, para os trabalhadores em número apreciável, para os consumidores que usufruem daqueles produtos isentos de químicas e para o meio ambiente, assim acarinhado e com futuro garantido.
Ouvi falar do Montado, como duma pessoa de família, idosa, a quem se quer bem e a quem se deseja que tenha um resto de vida salutar, fraterno, com amigos à sua volta com quem possa interagir, acarinhar e ser conivente – os porcos, as vacas e os borregos. De raças autóctones, em números que não excedam a capacidade de partilha.
Ouvi ainda falar com ternura das cegonhas, das garças, dos corvos marinhos perdidos na campina alentejana, dos milhafres reais, da biodiversidade, do equilíbrio retornado.
Senti trabalho árduo, empenhado, diligente, conhecedor, executado sem esforço, também ele em equilíbrio.
Saudável.
Que bela história de futuro!

http://www.sousacunhal.pt/menu4_1.html

http://biorege.weblog.com.pt/arquivo/2006/04/encontro_de_pri.html

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quarta-feira, janeiro 24, 2007

Animação Nocturna (Continuação)

A mim já me bastava o fumar. O pior era à noite, no mato, em operações, não podia fumar e não conseguia dormir. Eram noites intermináveis.
Havia quem fumasse com o cigarro dentro do cano da G-3, para se não ver o clarão. Mas e o cheiro? Sabia-se da presença dum fumador a mais de cem metros de distância. E não era preciso perdigueiro.
Pior que isso para se ser detectado, no mato, à noite, era o ressonar. O imediato que em estacionamentos nocturnos, em operações, ficava a uma distância minha de cerca de 100 metros, ouvia-se a ressonar como se estivesse ao meu lado. Calculo se ouviria a mais de duzentos. E não era sozinho neste concerto. Houve noites em que se não era só eu o acordado, pouco deveria faltar. Mas voltemos à nossa noite de cavaqueira junto ao abrigo.
De repente, entre duas passas no cigarro e um gole no Whiskey, ouviu-se um assobiar fortíssimo como se um avião a jacto nos sobrevoasse a baixa altitude. Logo seguir outro e mais outro.
Fiats àquela hora não voavam e os morcegos não assobiavam assim!
Atirámo-nos para dentro do abrigo, eu e o imediato em simultâneo. Ficámos entalados na ombreira de entrada, no preciso momento em que o primeiro rebentamento soou.
Eram os chamados foguetes de 122 mm, autopropulsionados que tinham alcances enormes. Felizmente não eram muito precisos! Esperámos que acabassem os rebentamentos e só então largámos o abrigo e viemos tentar saber onde tinham caído e se houvera estragos.
Parecia hora de formatura para serviços.
Estava todo o pessoal cá fora e soube-se pelo terceiro oficial que subira à torre de vigia, com uma altura de 7 ou 8 metros, donde havia assistido ao “festival aéreo”, que haviam caído entre Ganturé e Bigene, a cerca de 400 metros do nosso aquartelamento, a 600 talvez do local onde nos encontrávamos.
- Não sabem o espectáculo que perderam, dizia ele eufórico!

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terça-feira, janeiro 23, 2007

Animação Nocturna


Já passava das dez da noite. O gerador já estava parado. O sossego era total, só entrecortado pela conversa em que nos encontrávamos embrenhados, que já não sei qual era, mas que não será difícil imaginar. Mulheres ou guerra. Não havia muito por onde escolher. Eram as preocupações dominantes de quem tem vinte e tal anos e está isolado no meio do mato, rodeado pela guerra.
A noite começava a esfriar e nós prolongávamos a nossa estadia fora dos abrigos que tinham retido todo o calor do dia africano, em época seca, esperando por um lado que eles refrescassem um pouco, por outro que o cansaço nos atirasse para um sono imediato e profundo, quando neles entrássemos.
Tínhamos feito uma roda com as cadeiras à frente do abrigo, como se estivéssemos a volta da fogueira. Nessa noite, estava eu, o imediato, o terceiro oficial e julgo que mais ninguém. Os outros, já dormiam.
De quando em vez, ao longe soava o ribombar de armas pesadas. Muito provavelmente algum aquartelamento do Exército a enfardar. Depois parava. Algumas vezes fazíamos apostas sobre quem seriam os “afortunados”. Não foi o caso nessa noite. A ninguém apetecia mexer-se para ir ao posto rádio ouvir as comunicações para saber.
Bebia um whiskey vagarosamente para fazer render o peixe como se me encontrasse num cabaret e tivesse que o pagar a preço de oiro. A razão era outra. Não queria cair na tentação de beber um segundo, um terceiro e não sei quantos mais. Era sempre assim que as coisas começavam. O organismo debilitado pelo esforço, pelo clima e pela deficiente alimentação, tem no álcool um óptimo reforço energético, mas quem paga acaba sempre por ser o fígado.
Já vira acontecer isso com alguns
(A continuar)

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segunda-feira, janeiro 22, 2007

Uf!!

A sorte que eu tenho em ser velho e não ter que frequentar o ensino básico e secundário, a breve trecho.
Aquilo que os desgraçados dos putos vão sofrer a aprender Português.
Na verdade, é até capaz de não ser muito difícil para eles!
Era raro chamarem as coisas e as pessoas pelos nomes. Mas chamavam já nomes, que eu me coíbo daqui reproduzir, a muitas coisas e a muitas pessoas!
Agora vão fazê-lo de forma linguisticamente correcta.
Estou ansioso por ver a reacção de alguns políticos à forma como vão ser classificados por esta nova nomenclatura, digamos assim!
- "Seus epicenos duma figa!"

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Porto Interior de Macau em 1977 - Ano Novo Chinês

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sábado, janeiro 20, 2007

Olhar para cima

E Jesus disse:

- quem nunca pecou que atire a primeira pedra
- ide e dai conhecimento de mim


Estas duas citações podem não ser”ipsis verbis” as palavras do Filho de Deus como as escritas nos Livros Sagrados, mas são-no na sua essência.
Com a primeira terá evitado a morte por apedrejamento duma mulher adúltera.
Com a segunda terá ordenado aos Seus Discípulos para irem por esse mundo espalhar a Sua Palavra e o Seu Gesto.
Deus perdoa, porque não hão-de perdoar os homens?
Porque não hão-de os seus discípulos seguir o seu exemplo e perdoar? Porque hão-de inquisitorialmente vir à praça pública juntar-se à gentinha que apedreja de forma ignóbil e farisaica, quem já se esquartejou e autoflagelou?
Se acreditam em Deus e Dele se dizem Seus seguidores, orem e perdoem. Terá sido essa a Sua vontade!

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Música para todos

Uma gota de amor

A vida deixa pé
como o vinho

Decanta-se
e serve-se morna

Saboreia-se pausadamente
ou bebe-se de um só trago

Deixa na boca um travo suave a morangos silvestres
se partilhada com amor

Ou acre de madeiras verdes
se vivida só

Embebeda
se vivida com sofreguidão

Prolonga-se
com conservantes

Esvai-se se entornada
ou azeda se mal contida

Mas acaba-se sempre como um bom vinho
ao crepúsculo vespertino...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Kong Hei Fat Choi

Kong Hei Fat Choi (Fonetização da saudação Cantonense -Língua de Cantão- de Feliz Ano Novo)

Este ano, no Calendário Gregoriano, celebra-se a entrada do novo ano chinês de 17 para 18 de Fevereiro. Falta um mês.
O Ano do Porco sucederá ao Ano do Cão no Calendário Lunar Chinês.
As festividades prolongam-se por vários dias e neste período é de tradição juntar-se a família, saldarem-se dívidas, fazer oferendas aos mais novos (lai si) e rebentar panchões para afastar maus augúrios.
Durante cerca de 15 dias não era uso pensar-se em trabalho ou negócios. Não sei se esta parte da tradição se manterá face ao desenvolvimento económico da China, que não deve permitir este tipo de displicências.
Na noite de mudança de ano, os trastes velhos são deitados fora, a maior parte das vezes pela janela, havendo riscos sérios de passar debaixo de edifícios muito altos. Há uns anos atrás, o Porto Interior de Macau chegava a abrigar mais de três mil juncos neste período. As suas águas após a saída daquelas embarcações, ficava pejada de toda a espécie de lixo que se possa imaginar.
O massame velho dos navios, redes e outros artefactos de pesca estragados, constituíam uma preocupação dos Serviços de Marinha nos dias seguintes dos festejos, por constituírem sério embaraço para a navegação de comércio.
A comunidade de origem portuguesa, juntava-se aos chineses nas celebrações, durante três dias. Os Casinos abriam as suas portas aos funcionários públicos e militares ali em serviço, que podiam nesse período perder esperanças, acumuladas durante doze meses, de ver a sua vida mudada de vez, por um golpe de sorte em jogos de azar.
Esse atestado de menoridade era celebrado com sofreguidão e desatino. O próprio Governador dava o pontapé de saída. Havia quem não dormisse durante esse período de desfadiga libidinosa.
A árvore das patacas sempre foi e continua a ser um sonho dos Portugueses lá, como cá.

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quarta-feira, janeiro 17, 2007

As Reformas do Ensino

É raro o ano lectivo sem uma alteração! De estrutura dos cursos, de currículo, de metodologias de ensino, de livros escolares, de professores, de qualquer coisa. E governo que se preze, senão fizer duas ou três reformas do ensino, não é governo! É raro ouvirmos falar em reformar a aprendizagem. Porque será? Por duas razões essencialmente. A primeira porque se não pode reformar o que não existe. A segunda porque não se ganha nada com isso! Reformar o ensino ainda permite pôr uns professores na rua, agora reformar a aprendizagem provavelmente aumentaria custos. Custos com professores, cursos com apoios escolares que não existem, como o acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos de forma dinâmica, alterando e corrigindo o que se manifestar contrário à progressão da aprendizagem. É um processo interminável, nunca concluído, obrigando a uma revisão sistemática de objectivos ou metas de aprendizagem, com eventual ajustamento de currículos, de metodologias, num aperfeiçoamento permanente. É uma pescadinha de rabo na boca. Nunca desiste dos alunos, nem nunca deixa os alunos desistir. Uma preocupação assim implica olhar o mundo de forma diferente. Tem que se ter uma vontade enorme de querer mudar as pessoas, através primeiro das crianças, depois dos jovens, levando-os a acreditar que são bons e podem ser melhores em cada dia que passam na escola. Que a escola é feita à medida da sua necessidade e ambição. Que o seu País olha para eles com amor e orgulho paternais e não como quem consulta os resultados da lotaria em busca de vigésimos premiados. Interessa ao país e à sociedade ter cidadãos responsáveis e competentes capazes de descortinar rumos adequados ao desenvolvimento equilibrado e humanizado, garantindo um futuro, em vez de presentes plangentes. Eu cá me vou reformando como posso…

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domingo, janeiro 14, 2007

Há Mar e Mar... (Continuação)

A exploração das plataformas petrolíferas, em mar aberto, apesar da segurança rigorosa das operações, tem sido já palco de desastres ecológicos, sendo o mais conhecido o da Piper Alpha.
Os derrames produzidos pelos navios tanques, transportadores de ramas e de produtos tóxicos, têm sido notícia de primeira página de jornais e de abertura dos telejornais, como o do Torrey Canyon no Reino Unido em 1967, o do Amoco Cadiz em França em 1978, o do Exxon Valdez no Alasca em 1989 e o do Prestige bem pertinho de nós, em 2002.
O rebentamento subaquático de bombas nucleares, de que o mais mediático terá sido o realizado pelos Franceses no Atol de Mururoa, em 1971, acidentes com submarinos nucleares, como o que aconteceu com o submarino russo Kursk em 2000 e despejos continuados de lixo nuclear, tem contribuído certamente para o nulo total de vida marinha, em muitos pontos do globo.
A agressão ambiental causada pelos rebentamentos submarinos potentes, pode produzir sismos induzidos de magnitude elevada.
Palco de controvérsias entre os que afirmam e os que negam o aquecimento global por efeito de estufa, este a ser como se diz, poderá produzir alterações climáticas profundas em todo o globo, com maior incidência no hemisfério norte.
Degelos e aumento da massa de água dos oceanos e alteração da sua temperatura, provocarão, no dizer de muitos, mudanças das correntes marítimas que se reflectirão em perturbações cada vez mais frequentes e gravosas nas massas de ar em movimento, conferindo-lhes energia destrutiva acrescida.
A invasão e destruição de dunas e arribas já está na origem de muitos desastres nas zonas urbanas ribeirinhas, e bem pode comprometer a indústria turística de veraneio de forma definitiva.
Sem me fazer arauto da desgraça, julgo que tudo isto requer uma reflexão profunda.
Há Mar e Mar, há vir e não voltar!
A geração a que pertenço tem culpas no cartório em muitas das situações enumeradas, mas foi ela também que esteve ocupada em fazer as guerras por outros iniciadas, que conseguiu acabar com algumas e é solidária com aqueles que desejam salvar este planeta duma destruição anunciada. Não sei se haverá tempo para isso! Mas vale a pena tentar!

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sábado, janeiro 13, 2007

De luva branca

Numa ida a Moçambique em 1993, em equipa de auditoria, eu e a minha companheira economista, caímos inadvertidamente num restaurante de luxo, próximo do Hotel Polana, onde nos hospedávamos.
Fomos recebidos por um criado vestido de libré, que nos serviu, ainda no hall, uma taça de D.Perignon.
Não adiantou recusar. De seguida aparece-nos um jovem português de traje informal, mas de bom gosto, que como gerente teria imenso gosto em nos mostrar o restaurante, referiu. Disse pertencer o mesmo à esposa do Presidente Chissano, que era utilizado por homens de negócios, especialmente alemães, e cuja receita era destinada às obras de caridade da Primeira Dama.
As salas de refeições estavam decoradas em estilo Vitoriano, cada uma de sua cor, em que os cor-de-rosa velhos, os azuis-turqueza, os verdes secos e os beje imperavam, com lustres, apliques e grandes espelhos dourados nas paredes que lhes davam dimensão irreal.
Uma era a sala Maputo, outra a sala Nacala, uma terceira a sala Beira, a sala Sofala, etc. Não havia um único cliente. Era hora de almoço e não foi fácil descartarmo-nos. Acabámos na sala Nampula sentados numa mesa para quatro, com toalha de linho duma alvura imaculada, com faiança inglesa antiga, copos de cristal e talheres de Christoffle.
O cardápio obrigava a falar francês e a pagar em dólares. Lá escolhemos, obviamente, o prato que conciliava as duas linguagens em questão. Um “fillet mignon” com um acompanhamento qualquer. Para beber um Dão tinto, que era o único vinho português e também o mais barato.
Esperámos cerca de meia-hora até que o nosso criado de libré e luva branca empoleirado no seu metro e noventa de altura, trouxesse numa mão dum tamanho descomunal, em bandeja de prata, dois pratos tapados por campânulas de casquinha. Rodopiou mostrando a bandeja, como num espectáculo de magia antes de tirar os coelhos da cartola e pousou-a na mesa, entre nós.
Preocupado com as horas e com o estômago já a queixar-se também, preparava-me para retirar a câmpanula do meu prato, quando senti uma tremenda duma palmada na mão, de luva branca, duma potência perfeitamente de acordo com o seu tamanho, que estalou como se tivesse caído da altura do tecto, ao mesmo tempo que um olhar, não só reprovador mas também ameaçador, e um “espéra pá”, me fez parar o gesto e assistir ao espectáculo ensaiado não sei quantas vezes e, provavelmente nunca praticado, de retirar em simultâneo as duas campânulas, escapando-se delas o vapor em duas bolas que se elevaram e desfizeram no ar.
A cara da minha companheira espelhava um misto de riso contido, espanto total e medo quanto baste, visível, este, no tremelicar das mãos quando pegou nos talheres para começar a comer.
Terminado o repasto, paga a dolorosa em dólares mais do que seria aceitável, apeteceu-me pedir que discriminassem o custo em dólares de cada palmada nas mãos e nas carteiras dos clientes.
Para obras de caridade, é claro!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Há Mar e Mar...

shuanathoughts.wordpress.com/2005/01/

Tudo começou no Mar e tudo nele parece vir a acabar. Todos os dias deparamos com indícios de que assim possa vir a acontecer, pelo mau uso que dele tem sido feito. Julgou-se que o Mar poderia suportar toda a carga de detritos sólidos e líquidos sem se queixar. A sua imensidão parecia de facto calhada para fazer dele o colector de esgoto universal. Os resultados começaram a sentir-se nas plataformas continentais com a escassez de recursos piscícolas. A causa não sendo exclusivamente da poluição directa dos esgotos urbanos e industriais tem neles um elemento perturbador do equilíbrio dos ecossistemas envolvidos. A captura de muitas espécies poderá estar comprometida pela elevada quantidade de metais pesados que as incorpora. A sobrepesca, a apanha de algas indiscriminada e as redes assassinas perdidas, ajudaram a compor o ramalhete. E não se pense que estamos a falar só do velho continente. Nada disso! O Continente Africano, que não pode queixar-se muito de desenvolvimento industrial, também começa a ter as suas águas desprovidas desses recursos. As frotas de pesca de vários países desenvolvidos instalaram nele os seus arraiais e começaram a limpeza dos fundos. A necessidade dos países africanos ribeirinhos em contrapartidas para as importações inevitáveis de quase tudo o que consomem, obriga-os a abrir as suas portas, sem capacidade para impor regras nem para as fiscalizar quando existem. Uma embarcação de pesca do camarão, em Moçambique, que na década de setenta, não precisava mais do que cem ou duzentos metros de cabo de arrasto, para encher os seus porões numa jornada de pesca diária, tem hoje que largar mais dum milhar para pescar a mesma quantidade numa jornada de três ou quatro dias, de menor calibre e valor comercial. O arrasto continuado nas mesmas áreas vai produzindo uma desertificação dos fundos arrancando algas que eram alimento de muitas espécies e protecção de posturas e de alevins.

(A continuar)

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quarta-feira, janeiro 10, 2007

A Saga do "Barco Negro"

É muito difícil abordar esta questão sem ferir a susceptibilidade das partes envolvidas. Embora a minha distanciação da vida activa da Marinha, permita uma leitura menos apaixonada, temo que mesmo assim possa ser afectada por ser parte interessada, que sou e que sempre fui pelas coisas do Mar e pela segurança marítima em particular. Este aspecto parece-me relevante na medida em que a parte final da minha actividade profissional esteve directamente relacionada com a segurança das operações em embarcações de transporte de passageiros. Sei o esforço que é necessário para fazer entender aos marítimos que a segurança das embarcações, dos tripulantes e dos passageiros, no caso, passa por coisas tão simples como estar atento, conhecer bem o material (a embarcação, o equipamento, a ferramenta, os meios de salvação, a zona onde desenvolve a sua actividade), saber utilizá-lo e ter respeito por si e pelos outros. Sei também que a rotina é a principal inimiga. Em trabalho, especialmente no mar, não se pode facilitar. A formação profissional é elemento importante, mas tem que ter regularidade e continuidade. Só assim é possível garantir que aquilo que hoje é aprendido, não é esquecido amanhã, morto pela mornaça do dia a dia.
É uma luta que tem outro inimigo cruel, que é a cultura do mar, isto é, "sempre se fez assim, é assim que deve e tem de ser feito". "Os marinheiros fazem-se no Mar, não é lá nas escolas."
A existência de seis vítimas mortais a lamentar, impede a frieza de análise necessária.
Quando e quem deu o alarme? Quanto tempo mediou entre a recepção da notícia e o ínico das operações de socorro? Que meios foram usados e que meios haveria para disponibilizar? Como foi tentada a salvação dos tripulantes e como poderia ter sido?
Um dos elementos que de imediato ressalta é o da posição da embarcação numa zona de rebentação, que dificulta grandemente as operações de resgate.
Outro, é o do tempo em que as acções de salvamento têm que ocorrer. O tempo é sempre escasso para quem está em perigo de vida, em pânico senão em choque, com frio e a perder as forças e a esperança.
Por fim é o dos meios a utilizar naquelas circunstâncias, em pessoal e em material. Não me parece que houvesse à mão cabos susceptiveis de poderem ser passados entre a embarcação e terra em tempo oportuno, para ajudar os tripulantes a vencer a força das ondas e o eventual enleio nas redes.
Depois quem levaria os cabos? Ou como se fariam chegar à embarcação? Espingarda lança-cabos? Quem na embarcação estaria em condições de os receber e fazer arreigada? Não se pode obrigar ninguém a morrer para tentar salvar outros!
Custa muito ver morrer pessoas a uns escassos metros de poderem ter tido outro destino que não aquele, mas temos que entender que o tempo e as condições para que isso pudesse ter acontecido não parece terem existido.
As acções de socorro devem ser feitas por profissionais, embora na sua ausência possam e devam ser tentadas por quem se sentir mais habilitado para o fazer. Mas não se pode obrigar ninguém a fazê-lo se para isso não tiver preparação e habilitação específicas.
Os acidentes previnem-se - essa é a solução. Tudo o resto são remedeios mais ou menos bem ou mal sucedidos.

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segunda-feira, janeiro 08, 2007

Ponto de Encontro com a Música

domingo, janeiro 07, 2007

Os Ventos da História

Aqui há uns anitos atrás, alguém avisou o Capitão do Porto de que andavam uns “guardas republicanos” a multar os pescadores que se entretinham à pesca na extremidade do molhe.
Foram, de imediato, os agentes da autoridade em causa intimados a pararem com a sua actuação, por não estar de acordo com a lei, que não onerava de qualquer forma, nem obrigava a fazer uso de qualquer licença, aquela prática desportiva quando exercida no mar ou em áreas ribeirinhas, salutar para todos e de sobrevivência para alguns.
Apercebo-me hoje, que os nossos amigos da GNR estavam a antecipar a História.
A partir do princípio deste ano isso acabou. Quem quiser dar banho à minhoca terá de fazê-lo em moldes diferentes.
Agora que os serviços públicos, aliviados dos funcionários que não faziam nada, porque pertenciam a uma geração rasca, mas com a experiência e sabedoria dos funcionários mais antigos, que só irão reformar-se quando as cataratas os não deixarem ver as letras tamanho 72 do Times New Roman dos computadores ou a Alzheimer os faça esquecer o local do seu posto de trabalho, dizia eu, estão os serviços mais aptos a darem resposta pronta e rápida a cerca de um milhão de maluquinhos da pesca, que afinal andavam era a dar cabo da fauna piscícola nacional ou a exercerem actividade económica paralela, sem dar cavaco ao fisco.
Agora terão que tirar a sua licençazinha e terão a sua actividade regulada.
Só poderão pescar até dez quilos de peixe por questões dietéticas e nunca a menos de cem metros dos esgotos para não sujar as águas.
Não poderão colocar-se a menos de dez metros uns dos outros para evitar rixas, não vá algum cair ao mar.
Também terão a vida facilitada, pois poderão tirar uma licença por três anos. Ahn?! Quem é amigo, quem é?!
Com a desburocratização dos serviços, que rendeu encómios nas tertúlias europeias, poderão, esses causadores da desgraça da economia, transformarem-se rápida e facilmente em empresários em nome individual ou colectivo e, porque não, verem um dia as suas acções vendidas em bolsa de valores, em concorrência com as do Belmiro de Azevedo ou as do Amorim.
Pode muito bem acontecer um dia algum agente da autoridade lembrar-se de antecipar novamente a História, começando a exigir aos carteiristas e amigos do alheio uma licença para o exercício da actividade - diurna ou nocturna, urbana ou rural, com arma ou sem arma.
Afinal, há que deixar funcionar o Mercado! Pagando…é claro!

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sábado, janeiro 06, 2007

Países que cantam

China 1978 – Comuna nos arredores de Cantão. Na visita que nos foi proporcionada, entre outras coisas fomos ver uma escola do ensino básico.
Grande parte da aprendizagem da língua falada é feito por intermédio de canto, onde os alunos apanham as entoações complicadas do Cantonense (na altura, uma das duas línguas oficiais da China) ou do Mandarim (actualmente, língua nacional de ensino obrigatório).
Entrámos numa sala velha, com a caliça a saltar das paredes, com uma daquelas entradas ovais, abertas aos rigores do frio e do calor, apenas decorada com posters de Mao Tse Tung e Chu en Lai. Fazia lembrar a escola onde aprendi as primeiras letras que tinha também penduradas as fotos de Salazar e Carmona primeiro, depois substituída pela do General Craveiro Lopes e mais uma série de quadros na parede com as obras do estado Novo.
Antes do Estado Novo – Depois do Estado novo.
Fomos recebidos com uma canção divinamente entoada pelas vozes afinadas dumas vinte e tal crianças vestidas com cores bizarras para o gosto ocidental, entre os cor de rosa desbotados, verdes alface, vermelhos sangue e azuis ferrete. De faces tisnadas com bochechas gordas avermelhadas, saídas dos cartazes da Revolução Cultural, lá nos brindaram com uma cantiga ou duas.
Depois a professora, com ar saudável de camponesa, fardada a rigor de calças e dolman azul abotoado até ao pescoço, oferecendo um sorriso de orelha a orelha começou por falar com a nossa intérprete. Após alguma discussão em que a nossa anfitriã ainda ficou com as faces mais rosadas, interpelou-nos num inglês perfeito, pelo menos para mim. O espanto de a ouvir falar inglês foi quase tão grande como a interpelação que nos fez no sentido de retribuirmos a amabilidade, cantando uma canção tradicional portuguesa, para a miudagem ouvir.
Aí, ela borrou a pintura definitivamente! Uma cantiga? Que cantiga? Tradicional? Só o Vira! Mas ninguém sabe a letra!
Oh! Caraças! Agora é que ela nos tramou!
Tentámos em vão arranjar uma cantiga, um fado qualquer de que soubéssemos a música e a letra, mas ninguém se lembrava! Uma gaivota voava, voava, mas.….e o resto?
Grândola vila morena… e a seguir?
Até que um de nós qualquer se lembrou – e o hino da bufa?! Eu sei, eu também! Não é que o sabíamos quase todos!
Desculpem mas eu não canto! Nego-me terminantemente a cantá-lo.
Ah e tal, é só uma música, ninguém sabe o que é.
Não, desculpem, eu não canto.
Bom e não cantámos!
Eu, hoje, vão desculpar-me mas também não canto as Janeiras! Nem os Reis! Cheira-me a peditório para a Igreja ou a Natal requentado!
Mesmo que quisesse, também não sabia!

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sexta-feira, janeiro 05, 2007

Ponto ao Meio Dia

Não acredito que quem semeia tantas guerras, nunca tenha lido um pequeno manual de guerrilha, que começa com uma frase simples, que é como um mandamento ou somente uma constatação – enquanto houver um guerrilheiro, há guerrilha!
Uma guerra em que um dos lados é muito forte, não permitindo confrontações, obriga a este tipo de jogo por parte do mais fraco, do bate e foge que, teoricamente, não terá nunca um fim à vista.
É possível tornar este tipo de conflito uma constante da vida, com uma logística mínima.
Só existe uma arma de morte para ele! Retirar-lhe o apoio popular, onde se alimenta de meios humanos e materiais. Para isso há que retirar as razões que lhe assistem.
Quem tem como ambição impor a sua vontade, os seus métodos, as suas ideias, não é fácil entender esta linguagem, que obriga a uma leitura desapaixonada da situação, um pesar de prós e contras, um aceitar de que, deste tipo de guerras, ninguém sai vencedor.
Todos os dias se enterram vencidos dos dois lados.
Todos os dias se removem escombros do que já foi.
Em cada momento se pensa no que deixará de ser a seguir.
Existe o risco de se perpetuar a situação, por receio das partes em demonstrar fraqueza ao tentar o diálogo.
Quanto tempo durarão as cicatrizes de tanta ferida aberta?!
Esta posição, parece a única conhecida, face às nuvens cinzentas que se fazem sentir nesta passagem meridiana do Sol ao Meio-Dia.

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quarta-feira, janeiro 03, 2007

Ponto final! Isto, é a gente a falar...

Não sei se os filmes hoje ainda acabam com o The End, Fin, Fim, em cada língua em que são realizados. Filmes de trinta e uma partes e quinze episódios! Lembram-se? Eram os filmes de Tarzan, do Sandokan e do Sabú! Papávamos aquilo tudo até que aparecia lá a palavra mágica e trágica - The End.
É costume dizer-se que tudo tem um fim, etc e tal.
Segundo o Sr.Lavoisier, “na vida nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma”. Não será bem assim, pelo menos para o Benfica, mas está bem!
Isto para dizer que um blogue que eu visitava com alguma regularidade e no qual descobri tecnologias que ajudam a dar colorido e emprestam algum dinamismo aos blogues e portais, pôs um fim à sua existência, para eventualmente renascer com outro nome e com outro formato e conteúdo.
Tenho pena, mas a vida é feita de ON/OFF’s.
Houve uma altura em que cheguei a pensar que era imortal. Quando voltei da Guiné e depois de tanto ferro quente à minha volta por tiros e estilhaços e nenhum ter tido como destinatário este vosso amigo, convenci-me, de facto, que nada mais poderia tirar-me o halo da vida.
Quem mais quereria o meu mal? Não reconheci e tenho hoje ainda dificuldade em imaginar quem me queira mal ao ponto de me desejar a morte. Mas esqueci-me que existe um parceiro indefectível e inexorável chamado Tempo.
Nem sempre ataca de rompante. Vem às vezes de mansinho, roubando-nos aos poucos tudo o que nos agarra a esta vida. Nem sempre por esta ordem, mas muitas vezes começa por tirar-nos a juventude com a sua ingenuidade e generosidade para depois ir mais fundo arrebanhando-nos as convicções, rasgando-as como se fossem bandeiras clubistas, depois duma derrota sofrida. Vai-nos substituindo os prazeres de baixo para cima deixando-nos apenas com a memória, que um dia acabará por limpar.
Pé ante pé, vai construindo a derrocada do que foi um jovem, bom rapaz, com um futuro bonito à sua frente, que percorreu meio mundo e que um dia teve a ousadia de querer ser feliz.
Não há como nos aliarmos a ele e obrigá-lo a gastar mais algum “tempo” connosco, confundindo-o, baralhando-o, encontrando à nossa volta razões que nos obriguem a dizer-lhe que ainda é cedo, que espere, que não temos pressa, que ainda temos imensas coisas para fazer e que queremos fazê-las!
Eu falo por mim, claro! Isto é a gente a falar...

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segunda-feira, janeiro 01, 2007

Foguetes de Lágrimas

Sabemos que a humanidade tem sobrevivido à custa das proteínas animais, conseguidas em cevadouros naturais ou artificiais ou em explorações intensivas de gado, de tipologia e raças eleitas para engorda e abate.
Ou seja, existe uma perfídia interiorizada e sublimada pelo justificativo da sobrevivência, que esconde as imagens plangentes do sacrifício diário de milhões de animais.
Tudo bem! Eu até não sou vegetariano!
Mas que a perfídia me entre em casa através dos canais públicos e privados de TV, mostrando ao pormenor a execução dum ser humano, merecesse ele ou não a morte, sendo o Estado Português contrário à pena capital, tendo sido um dos primeiros da Europa a aboli-la, já me parece demais!
Onde está a repulsa da Igreja Católica por tal prática? Ou, em relação a Saddam já a questão de ser apenas DEUS a decidir da vida e da morte, não se coloca?
Não tenho pena do ditador que terá mandado executar, também ele, concidadãos seus, por credos, interesses políticos ou outros diferentes!
Pouco me preocupa se foi mandado executar pelo filho daquele que há uns anos atrás lhe poupou a vida por razões talvez hoje entendíveis, mas incompreensiveis na altura! Nem tão pouco me inquieta o facto de poder ter morrido à ordem de quem, há mais alguns anos atrás, dele se serviu e o apoiou na guerra que travava contra o Irão!
Sempre que um ditador cai, outro se “alevanta”, infelizmente!
Depois que foi arredado do poder, muitos mais já morreram do que aqueles por que era culpado, em julgamento!
Do único país laico da região não resta mais do que a triste memória. O que nos entra diariamente em casa através dos noticiários, é um país ocupado, de atentados permanentes, de selvagens perseguições políticas e religiosas e a certeza de mais um estado islâmico fundamentalista em formação! As ditaduras normalmente são criadas de fora para dentro e as democracias de dentro para fora!
As democracias não podem correr o risco de ser impostas!
De qualquer forma, acredite eu ou não na “justeza da justiça”, como vivo num país democrático, tenho obrigação de manifestar o meu desconforto, o meu desagrado, a minha repulsa, a minha indignação por, em época de festividades pelo Novo Ano que se aproximava, me ver envolvido e quase obrigado a celebrar a morte de alguém!
Nem a Paixão de Cristo eu celebro!

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