terça-feira, janeiro 23, 2007

Animação Nocturna


Já passava das dez da noite. O gerador já estava parado. O sossego era total, só entrecortado pela conversa em que nos encontrávamos embrenhados, que já não sei qual era, mas que não será difícil imaginar. Mulheres ou guerra. Não havia muito por onde escolher. Eram as preocupações dominantes de quem tem vinte e tal anos e está isolado no meio do mato, rodeado pela guerra.
A noite começava a esfriar e nós prolongávamos a nossa estadia fora dos abrigos que tinham retido todo o calor do dia africano, em época seca, esperando por um lado que eles refrescassem um pouco, por outro que o cansaço nos atirasse para um sono imediato e profundo, quando neles entrássemos.
Tínhamos feito uma roda com as cadeiras à frente do abrigo, como se estivéssemos a volta da fogueira. Nessa noite, estava eu, o imediato, o terceiro oficial e julgo que mais ninguém. Os outros, já dormiam.
De quando em vez, ao longe soava o ribombar de armas pesadas. Muito provavelmente algum aquartelamento do Exército a enfardar. Depois parava. Algumas vezes fazíamos apostas sobre quem seriam os “afortunados”. Não foi o caso nessa noite. A ninguém apetecia mexer-se para ir ao posto rádio ouvir as comunicações para saber.
Bebia um whiskey vagarosamente para fazer render o peixe como se me encontrasse num cabaret e tivesse que o pagar a preço de oiro. A razão era outra. Não queria cair na tentação de beber um segundo, um terceiro e não sei quantos mais. Era sempre assim que as coisas começavam. O organismo debilitado pelo esforço, pelo clima e pela deficiente alimentação, tem no álcool um óptimo reforço energético, mas quem paga acaba sempre por ser o fígado.
Já vira acontecer isso com alguns
(A continuar)

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