quarta-feira, janeiro 31, 2007

A Descoberta

Se alguém me dissesse há algum tempo atrás que eu me havia de imbuir nas artimanhas da tecnologia digital, não acreditaria por certo.
Há muito, porém, que já havia descoberto em mim, aspectos que não descreveria como qualidades, mas que acabam por tornar-nos a vida menos dura em termos de sofrimento.
Um deles é a resistência física ao cansaço, à dor, ao sono, à fome e à sede. A Guiné ensinou-me que é possível ultrapassar muito do que fisicamente nos diminui até um ponto para além do qual a vida se torna impossível. Mas só as situações extremas o conseguem provar e definir. Nós nem sequer fazemos uma pequena ideia do muitíssimo de que somos capazes.
Já os aspectos psicológicos não podem aferir-se do mesmo modo, havendo alturas em que os limites parecem não existir de todo para logo depois nos sentirmos encurralados pelos nossos receios, as nossas dúvidas, as nossas fraquezas, os nossos terrores.
Em relação às novas tecnologias eu vivi muito tempo num grande desconforto interior, com a sensação de que nunca conseguiria carregar uma tecla de computador sem que daí resultasse alguma coisa de mau para alguém ou para o mundo.
Sempre achei que eram coisas de gente que falava com os dedos em vez de o fazer com a boca ou com a alma.
A linguagem fria das máquinas sempre me intimidou. Tive dificuldade em me adaptar ao dinheiro de plástico bem como ao deixar recados no Voice Mail. Nem tão pouco gosto de telefonar.
Mas a necessidade é mestra de engenhos e aqui estou eu a falar com coisa nenhuma, num monólogo vazio de conteúdo, mas cheio de afectividades. Por mim, claro, porque fui capaz, pelos outros por não me agredirem com os seus insultos ou com as críticas destrutivas e por fim, pelo equilíbrio de forças que a Natureza põe em confronto, que nos permite sobreviver ao fracasso, repeti-lo vezes sem conta até uma eventual vitória.
Chiça! Até parece um dos preceitos do “Bom Filiado da Bufa”.

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