segunda-feira, janeiro 29, 2007

O Palco Virtual

Aqui todos somos bons actores, cobertos ou não pelo anonimato, encandeados pela nossa própria ribalta, defendidos da resposta da plateia.
Bebemos as palavras que escrevemos, como o néctar encantado da longevidade que sabemos não ter. Elas nos servirão de epitáfio e nos sobreviverão. Apelamos a que nos prolonguem a memória.
Damos largas às nossas fantasias, aos nossos desvarios, às nossas frustrações. Neste palco encenamos, montamos, dirigimos. Somos donos da verdade total, senhores absolutos do nada real.
Desta cátedra, espargimos sabedoria mal contida, diagnosticamos tendências que nos enfeitiçam, designamos mestres e seguidores que nunca tivemos.
Deste púlpito exacerbamos, invectivamos, apontamos, escarnecemos, endereçamos recados.
Registamos, “on the stage”, a memória perdida juntamente com os nossos sonhos. Damos-lhes o enterro digno que merecem e que alimente a nossa auto-estima deambulante.
Entre a arteriosclerose e a Alzheimer, regurgitamos o vómito da solidão, agora assistida por computador.

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