quarta-feira, janeiro 24, 2007

Animação Nocturna (Continuação)

A mim já me bastava o fumar. O pior era à noite, no mato, em operações, não podia fumar e não conseguia dormir. Eram noites intermináveis.
Havia quem fumasse com o cigarro dentro do cano da G-3, para se não ver o clarão. Mas e o cheiro? Sabia-se da presença dum fumador a mais de cem metros de distância. E não era preciso perdigueiro.
Pior que isso para se ser detectado, no mato, à noite, era o ressonar. O imediato que em estacionamentos nocturnos, em operações, ficava a uma distância minha de cerca de 100 metros, ouvia-se a ressonar como se estivesse ao meu lado. Calculo se ouviria a mais de duzentos. E não era sozinho neste concerto. Houve noites em que se não era só eu o acordado, pouco deveria faltar. Mas voltemos à nossa noite de cavaqueira junto ao abrigo.
De repente, entre duas passas no cigarro e um gole no Whiskey, ouviu-se um assobiar fortíssimo como se um avião a jacto nos sobrevoasse a baixa altitude. Logo seguir outro e mais outro.
Fiats àquela hora não voavam e os morcegos não assobiavam assim!
Atirámo-nos para dentro do abrigo, eu e o imediato em simultâneo. Ficámos entalados na ombreira de entrada, no preciso momento em que o primeiro rebentamento soou.
Eram os chamados foguetes de 122 mm, autopropulsionados que tinham alcances enormes. Felizmente não eram muito precisos! Esperámos que acabassem os rebentamentos e só então largámos o abrigo e viemos tentar saber onde tinham caído e se houvera estragos.
Parecia hora de formatura para serviços.
Estava todo o pessoal cá fora e soube-se pelo terceiro oficial que subira à torre de vigia, com uma altura de 7 ou 8 metros, donde havia assistido ao “festival aéreo”, que haviam caído entre Ganturé e Bigene, a cerca de 400 metros do nosso aquartelamento, a 600 talvez do local onde nos encontrávamos.
- Não sabem o espectáculo que perderam, dizia ele eufórico!

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