terça-feira, junho 30, 2009

Madoff ou Badoff?

Não sei se conhecem o termo “badofe”? Nem sequer sei se se escreve assim!Seria Badoff? Mas em minha casa, quando era miúdo e me portava mal, a minha mãe dava-me duas palmadas no badofe, que é como quem diz no rabiosque, que é como quem diz no rabo.
Isto surgiu-me a propósito do Madoff. Soou-me ao mesmo e nem sequer há assim muita diferença. Só que a funcionar ao contrário.
Enquanto pelo badofe saem os dejectos depois de transformados os produtos originais de boa qualidade, nele, Madoff, saíam os produtos lavados, como novos, depois de lhe terem sido injectados dejectos produzidos pela sociedade financeira sem escrúpulos e a quem prodigalizou lucros colossais.
Todos sabiam como funcionava o esquema e dele se aproveitaram enquanto puderam.
Agora somente ele assumiu e teoricamente irá pagar a quota-parte de responsabilidades no processo, havendo quem ainda reclame prejuízos sofridos.
Se fosse a ele, mandava-os todos à Merdoff.

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terça-feira, junho 23, 2009

MúsicaVivaMúsica

Toda a minha vida está balizada por músicas que na altura estavam em voga ou me marcaram de tal forma que, ao ouvi-las, sou transportado de imediato para aquelas situações.
Isto, a propósito de um mail recebido com um link que permite acesso a uma listagem de 100 músicas mais ouvidas um pouco por todo o mundo em 100 anos de música, embora com ênfase para a música brasileira ou o link não fosse originário daquele país.
De qualquer modo encontrei nele todas as minhas referências musicais que me permitiram um reconstituir de grande parte da minha vivência ligada a datas, locais, romance, situações profissionais e tantas outras que marcaram sobretudo a minha juventude.
O rock da pesada do Bill Halley e os seus cometas, os Platters e os Tijuana Brass eram música obrigatória em todas as picapadas e festas de garagem.
Os anos sessenta trouxeram os Beatles, Rolling Stones e tantos outros que nos enfeitaram a década com músicas de que ainda se fazem novas versões hoje e que preencheram os dez anos mais importantes da minha juventude.
Foi aí que tudo aconteceu. A Escola Naval, as viagens de instrução, a primeira comissão em Moçambique a bordo do Bartolomeu Dias, o meu casamento e o nascimento das minhas filhas mais velhas.
Não posso deixar de referir o Zeca Afonso como marco duma época contestatária a que não podia ter acesso directo. Lembro-me de ter aparecido um single de 45RPM com “Os Vampiros”, na sala de estar dos cadetes, que foi rapidamente retirado de circulação.
Do Brasil chegavam-nos embora de forma muito dissimulada e misturada com artistas menos contestados pelo regime, Chico Buarque, Vinicius de Morais e Carlos Jobim.
Depois de Moçambique a comissão nos Açores a bordo do Fogo, em que pontificavam os BeeGees, a Mireille Mathieu, O Scott Mckenzie, o John Fred e o Otis Redding, o Caetano Veloso e se dançava o Twist, o Hully Gully e o Shake.
Numa viagem ao Brasil em 1969, a bordo da Sagres imperavam o Wilson Simonal e Jair Rodrigues, o tal de todos os sambas.
Mais tarde, na Guiné, e através do leitor de cassettes dum camarada da RN, que comprei quando terminou a sua comissão, vêm-me à memória músicas do Leonard Cohen, da Aretha Franklin, do Cat Stevens, dos Crosbby, Stills & Nash. Ainda durante esta comissão, foi-nos imposta uma música dos Peter, Paul & Mary pelo imediato do DFE12, de que decorámos a letra, só mais tarde nos dando conta da mensagem que nos estava a transmitir e que começava assim: I´m leaving on a jet plane and I don´t know if I come back again”.
O camarada foi de férias e não voltou mesmo.
Depois disso, só mesmo as músicas que o 25 de Abril fez voltar de novo aos nossos ouvidos e aos nossos corações.
Talvez tenha sido a última vez que a música balizou de forma peremptória a minha vida. A música não saiu dela porque ainda hoje carrego estas teclas a compasso duma música qualquer que estou a ouvir no Radio Cotonette, instalado neste blogue.
Mas não importa qual seja! Basta que seja bonita, que me faça sentir bem, que me recorde alguma coisa de bom, que me descontraia, que me empolgue, que me …
Infelizmente, somos um povo que não canta. Tristonho como só nós!
Descobrimos terras longínquas e gente diferente e não fomos capazes de descobrir a música que há em nós ou, no mínimo, de copiar a vontade de cantar doutros.
Talvez a tenhamos deixado toda no Brasil.
Já agora, experimente este link.

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Ventos de Bolina

O Bolina tem andado mais com ventos de Suão do que com refregas frescas de Nortada.
E por falar em nortadas rijas de Verão junto à costa ocidental, relembro um episódio que, não tendo vivido, é do conhecimento de todos os que tiveram o ensejo de passar pelo Navio-Escola Sagres.
Em ano que não posso precisar, a Sagres fazia o seu período de adestramento básico antes de iniciar uma viagem de instrução de cadetes e foi determinado que uma equipa de televisão ou cinema, talvez, embarcasse na “Gina”, Fragata Pero Escobar, que na altura era capaz de atingir os seus trinta e dois ou trintas e três nós de velocidade, afim de tomar imagens da Sagres a navegar.
É preciso referir que esta Sagres tinha ainda pouco tempo ao serviço da Marinha Portuguesa e não havia grande documentação fotográfica sobre ela.
Assim, depois de várias tentativas da equipa que seguia a bordo da fragata para recolher as imagens para a posteridade sem êxito, já que a Gina era navio pouco cómodo para esta tarefa, sobretudo com nortada forte, que ocasionava um forte balanço proa-popa, pondo os operadores de câmara do avesso, estes foram falar com o comandante para diminuir a velocidade do navio.
Na impossibilidade de o fazer sem correr o risco de se afastar demasiado da Sagres, o comandante sem se dar bem conta de estava a escrever uma mensagem para a história daquele navio, pede-lhe que diminua a velocidade para o poder acompanhar.
Claro que o navio mais rápido da Armada a pedir à Bela Barca para reduzir velocidade, teve direito a ver a sua mensagem encaixilhada e exposta na Câmara de Oficiais como troféu.

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segunda-feira, junho 22, 2009

Isto da gente ser surda, é muito triste!

Tramoia, tem agora à volta de setenta anos, muito longos e sofridos. Duma infância que não teve, de ter andado na escola apenas o tempo para soletrar algumas palavras e escrever o nome, o mais do tempo gastando-o atrás das ovelhas, matando lebres à paulada na cama ou quando se levantavam à sua aproximação, para melhorar a fraca dieta. De vez em quando ficava zonzo de comer tantas amoras e medronhos fermentados.
Não faltavam também os puxões de orelhas por deixar as ovelhas entrar na seara por ter adormecido debaixo dum freixo junto à ribeira ou por andar de fisga a apanhar rãs que variassem a janta, constituída as mais das vezes por um bocado de pão duro e dumas azeitonas retalhadas, ou dum rábano e dum pedaço de toucinho salgado, que espetava num pau afiado e assava na fogueira.
No campo, pegou em tudo o que era trabalho de homem, ainda gaiato. Depressa percebeu que deste modo não haveria de arranjar fortuna que o gato não comesse. Assim, logo que teve oportunidade, para já não falar da tropa que se aproximava e que o podia levar para a Índia ou para África, resolveu emigrar para a Suíça, onde já havia conterrâneos seus.
Aí, também teve que fazer um pouco de tudo e de se habituar a falas estranhas e comidas a que faltava o sabor dos coentros e dos poejos.
Com a primeira vinda de férias, palavra que nunca fizera parte do seu vocabulário, não deixou de levar uma mão cheia de sementes das coisas boas que lhe faltavam.
O frio não é bom conselheiro para quem vem do sequeiro e em breve arranjou achaques que o trouxeram de volta um par de anos passados.
Por aqui se entreteve a trabalhar num terreno que comprara com as poupanças feitas, coisa que ainda hoje vai fazendo, com as dificuldades ,que o peso dos anos e do muito toucinho que foi pondo à volta da cintura, acarretam.
Para apanhar do chão qualquer coisa, tem que se ajoelhar como que para cumprir uma promessa. A luz dos olhos já não é o que era e os sons vão-se-lhe escapando dia a dia. Mal consegue ouvir o barulho ensurdecedor da sua motocultivadora, que continua a usar religiosa e afincadamente como companheira fiel destes anos todos.
A surdez tem-no isolado do mundo que o rodeia e só aos gritos se consegue uma conversa capaz. De vez em quando, escapa-se-lhe um traque de que se não dá conta do barulho.
Tanto que ele gostava de os dar bem sonoros e agora só lhe saem mesmo é surdinas malcheirosas.
Isto da gente ser surda… é muito triste!

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terça-feira, junho 16, 2009

Água de lavar

Uma das vantagens de quem se afastou da grande urbe e se refugiou no aconchego e calmaria da ruralidade, é o olhar para o que à sua volta acontece e fazer de conta que se trata de ficção televisiva, de telenovela brasileira mal representada ou de talentosa garraiada à portuguesa.
Real, só a chuva espessa como o enxovalho da rosa nesta campina ardente e sequiosa. A água caiu em jorros, como se o céu estivesse roto. O pó, tornado lama num repente, encheu valetas e coxias, galgando patamares e soleiras, esgueirando-se por frinchas e sarjetas.
Da tempestade, só o ribombar dos trovões se prolongou bem para mais duma hora, lembrando aos pecadores a necessidade de manter limpos riachos e ribeiros.
O ar lavado, ar festivo e domingueiro tomou conta da aldeia, pintando de sol o branco das suas paredes, onde se não escrevem slogans políticos e onde apenas se afixam reclamos de festanças.
Sei que tudo vai secar num instante, mas sei também que as águas novas são sempre uma esperança de sementeira.
De memórias lavadas e refrescada a razão, olho de novo para o faz de conta da televisão.

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quinta-feira, junho 11, 2009

Dia do Patrono do Meu Curso da Escola Naval

Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades.
Dia repleto de eventos, com homenagens, discursatas, condecorações e eleição das sete maravilhas portuguesas espalhadas pelo mundo.
Isto faz ter pena de mim, porque não consigo entender como é possível termos sido tão bons e deixarmo-nos cair tão baixo.
Metemos ombros a uma empresa extremamente difícil e arriscada, tivemos êxito, ganhámos ouro e honrarias e não conseguimos guardar delas, um pouquito que fosse, até aos nossos dias!
Além dumas ruínas que nos assinalam a passagem pelos quatro cantos do mundo, da língua que nalguns pontos ficou e da mestiçagem que por lá deixámos, pouco mais fica por dizer e por contar, que nos não envergonhe de verdade.
Introduzimos uma religião estranha e, em seu nome, matámos e pilhámos.
Hoje, vivemos de memórias que, em muitos casos, não passam de imaginação e talento do poeta que, ainda assim, nos deixa alguns ensinamentos e avisos.

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A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.
(Canto X – CLIII)

terça-feira, junho 09, 2009

O Caldo Alentejano


O Santo António afinal sempre vai fazer o milagre de trazer de volta o Verão.
Por estas bandas, lá para sexta-feira, o termómetro deve rondar os 40ºC com ventos fracos, o que vai impor um semicúpio em toda a tarde.
Já cá faltava este calorzinho de Junho que o meu imaginário atirava lá mais para o S.João, durante os festejos da cidade de Évora, que culminam no S.Pedro.
A idade para o suportar é que é outra.
Há mais de meio século, com o finar das aulas por esta altura, para quem não tinha exames, começavam as idas ao Degebe, aos poucos pegos que nesta altura ainda tinham alguma água para dar umas braçadas, forma iniciática da natação naquela época.
Em alternativa só o tanque de rega do Albergue Distrital, nos Canaviais, com a sua água coalhada de limo verde e com alfaiates navegando sobre ela.
Quem lhe sobrevivia, estava vacinado para o resto do ano.
O veraneio, naquele tempo, era só para alguns felizardos, cuja abastança e disponibilidade familiares, lhes permitia essas mordomias. A maioria quedava-se pelas redondezas com idas à pesca nas poucas barragens existentes e refrescando-se como podia nos rios e nas ribeiras.
De qualquer forma é tempo de calor e em vésperas solsticiais é de esperar que assim seja. Cumprem-se os desígnios da Natureza e só temos que nos alegrar pela possibilidade de os ir acompanhando, enquanto nos for permitido.

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segunda-feira, junho 08, 2009

Mudam os tempos, mudam as vontades

Pois é!
O tempo é de mudança. Chove quando deveria fazer sol.
Os Santos Populares já não fazem os milagres que faziam e as noivas de Sto António já levam gaiatos agarrados ao vestido.
Tudo muda à nossa volta. Até nós, já não somos o que éramos. Já deixámos de acreditar no Pai Natal, na Dona Branca e no Quique Flores.
Só já acreditamos que não haverá mudanças no campeão da Liga Portuguesa de Futebol.
As mudanças têm sido de tal ordem, que não nos admiraria saber que o Barack Obama teria sido eleito com os votos da KKK.
Estou em crer não faltará muito para que o Deus dos Cristãos se não converta, Ele mesmo, ao Islamismo.

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quinta-feira, junho 04, 2009

Retrato de meio-corpo


Olá!
Eu sou o "Flecha". De meu nome completo, "Flecha do Divor". Não tenho pedigree de papel passado, mas sei que os meus pais são gente, desculpem, cães de bem.
Tenho quatro meses e tal e já faço umas habilidades que o meu dono teima em ensinar-me, mas que eu só vou aceitando fazer por causa do suplemento alimentar que recebo quando acerto. Coisas de gente!
Sou branco salpicado de castanho, mas tenho irmãos brancos sarapintados de preto. Gosto de mim assim. A minha mãe também era assim. Era linda. Ainda sinto nos beiços o sabor bom do seu leite quentinho e doce.
Tive um azar de percurso. Um dos meus irmãos roeu-me a ponta do rabo, de modo que não sei como vou ficar quando a minha pelagem crescer nessa zona. Pouco importa desde que dê para sacudir as moscas.
Já percebi que o meu dono fica aflito quando me vê correr desabridamente, provavelmente a pensar como me vai acompanhar nas jornadas de caça.
Ele que se cuide porque eu sou muito rápido. Não foi por acaso que me puseram o nome de Flecha.
Bem, vou ficar por aqui na minha apresentação. Se tiverem por aí uma “gatinha”, quero dizer uma cachorrinha, preferencialmente da minha marca, isto é da minha raça, por favor avisem o meu dono. Estou mesmo a precisar dumas ternurinhas.
Turrinhas para vocês.

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terça-feira, junho 02, 2009

De asas cortadas

Eu sei que o avião é o meio de transporte mais seguro.
Eu sei que o avião encurta as distâncias e faz o mundo pequeno.
Eu sei que andar de avião é extremamente cómodo.
Eu andei de avião sempre que foi necessário, sobretudo em serviço. Também na guerra andei bastante de avião. No da Marinha, um monomotor da Sud Aviation (Rallye?). Nos DO27. Nos Helis. DC4 e DC6. Sei lá!
Mas não gosto de andar de avião! Julgo que não seja por medo! É uma indisposição permanente desde que entro até que saio do dito.
Porquê? Não sei! Talvez porque não pode parar no ar a não ser o de asa móvel! Mesmo assim é um parar relativo!
Mas o mal estar é maior nos aviões comerciais. Porque não é possível controlar nada do que se passa a bordo. Só sabemos mesmo aquilo que o comandante nos quer fazer chegar através do sistema de comunicação interno do aparelho. Depois aquela macacada das hospedeiras a explicar as acções em caso de emergência, que no meu entender tem um interesse muito relativo e nos faz pensar naquilo que é dispensável.
Não se vê nada, não se sente nada. Não é natural que assim seja. Pelo menos para mim. Preciso de saber.
Nem sequer consigo dormir. Também não gosto de me pedrar seja lá porque razão for. Não sou capaz de me concentrar para ler um livro ou um simples jornal.
Voar, só em sonhos me dá prazer!

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