terça-feira, junho 23, 2009

MúsicaVivaMúsica

Toda a minha vida está balizada por músicas que na altura estavam em voga ou me marcaram de tal forma que, ao ouvi-las, sou transportado de imediato para aquelas situações.
Isto, a propósito de um mail recebido com um link que permite acesso a uma listagem de 100 músicas mais ouvidas um pouco por todo o mundo em 100 anos de música, embora com ênfase para a música brasileira ou o link não fosse originário daquele país.
De qualquer modo encontrei nele todas as minhas referências musicais que me permitiram um reconstituir de grande parte da minha vivência ligada a datas, locais, romance, situações profissionais e tantas outras que marcaram sobretudo a minha juventude.
O rock da pesada do Bill Halley e os seus cometas, os Platters e os Tijuana Brass eram música obrigatória em todas as picapadas e festas de garagem.
Os anos sessenta trouxeram os Beatles, Rolling Stones e tantos outros que nos enfeitaram a década com músicas de que ainda se fazem novas versões hoje e que preencheram os dez anos mais importantes da minha juventude.
Foi aí que tudo aconteceu. A Escola Naval, as viagens de instrução, a primeira comissão em Moçambique a bordo do Bartolomeu Dias, o meu casamento e o nascimento das minhas filhas mais velhas.
Não posso deixar de referir o Zeca Afonso como marco duma época contestatária a que não podia ter acesso directo. Lembro-me de ter aparecido um single de 45RPM com “Os Vampiros”, na sala de estar dos cadetes, que foi rapidamente retirado de circulação.
Do Brasil chegavam-nos embora de forma muito dissimulada e misturada com artistas menos contestados pelo regime, Chico Buarque, Vinicius de Morais e Carlos Jobim.
Depois de Moçambique a comissão nos Açores a bordo do Fogo, em que pontificavam os BeeGees, a Mireille Mathieu, O Scott Mckenzie, o John Fred e o Otis Redding, o Caetano Veloso e se dançava o Twist, o Hully Gully e o Shake.
Numa viagem ao Brasil em 1969, a bordo da Sagres imperavam o Wilson Simonal e Jair Rodrigues, o tal de todos os sambas.
Mais tarde, na Guiné, e através do leitor de cassettes dum camarada da RN, que comprei quando terminou a sua comissão, vêm-me à memória músicas do Leonard Cohen, da Aretha Franklin, do Cat Stevens, dos Crosbby, Stills & Nash. Ainda durante esta comissão, foi-nos imposta uma música dos Peter, Paul & Mary pelo imediato do DFE12, de que decorámos a letra, só mais tarde nos dando conta da mensagem que nos estava a transmitir e que começava assim: I´m leaving on a jet plane and I don´t know if I come back again”.
O camarada foi de férias e não voltou mesmo.
Depois disso, só mesmo as músicas que o 25 de Abril fez voltar de novo aos nossos ouvidos e aos nossos corações.
Talvez tenha sido a última vez que a música balizou de forma peremptória a minha vida. A música não saiu dela porque ainda hoje carrego estas teclas a compasso duma música qualquer que estou a ouvir no Radio Cotonette, instalado neste blogue.
Mas não importa qual seja! Basta que seja bonita, que me faça sentir bem, que me recorde alguma coisa de bom, que me descontraia, que me empolgue, que me …
Infelizmente, somos um povo que não canta. Tristonho como só nós!
Descobrimos terras longínquas e gente diferente e não fomos capazes de descobrir a música que há em nós ou, no mínimo, de copiar a vontade de cantar doutros.
Talvez a tenhamos deixado toda no Brasil.
Já agora, experimente este link.

Etiquetas:

2 Comments:

Blogger platero said...

esplenético
- o termo mais adequado para designar aquilo que somos

abraço. atire na nostalgia, homem

24/6/09 16:27  
Blogger JR said...

Para já, obrigou-me a ir ao dicionário para saber o significado de esplenético. Aprender até morrer. Mas não acho que seja nem melancólico nem saudosista. Sou apenas velho a que o tempo deixou marcas. Que não renego.
Abraço

24/6/09 18:41  

Enviar um comentário

<< Home