terça-feira, junho 16, 2009

Água de lavar

Uma das vantagens de quem se afastou da grande urbe e se refugiou no aconchego e calmaria da ruralidade, é o olhar para o que à sua volta acontece e fazer de conta que se trata de ficção televisiva, de telenovela brasileira mal representada ou de talentosa garraiada à portuguesa.
Real, só a chuva espessa como o enxovalho da rosa nesta campina ardente e sequiosa. A água caiu em jorros, como se o céu estivesse roto. O pó, tornado lama num repente, encheu valetas e coxias, galgando patamares e soleiras, esgueirando-se por frinchas e sarjetas.
Da tempestade, só o ribombar dos trovões se prolongou bem para mais duma hora, lembrando aos pecadores a necessidade de manter limpos riachos e ribeiros.
O ar lavado, ar festivo e domingueiro tomou conta da aldeia, pintando de sol o branco das suas paredes, onde se não escrevem slogans políticos e onde apenas se afixam reclamos de festanças.
Sei que tudo vai secar num instante, mas sei também que as águas novas são sempre uma esperança de sementeira.
De memórias lavadas e refrescada a razão, olho de novo para o faz de conta da televisão.

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