sexta-feira, janeiro 29, 2010

Namoros e Relações Coloridas

Hoje, acrescentei mais uma designação ao meu vocabulário anquilosado de “coroa” ou “cota”: Relações Coloridas.
Acho o termo uma beleza, sobretudo quando confrontado com o de namoro. Mesmo aquilo que, hoje, é considerado de namoro tem já diferenças substanciais de conteúdo em relação ao mesmo que pela maioria de nós era entendido, há uns anitos atrás.
Mas, relações coloridas, acho o máximo! E se tiverem as cores do arco-da-velha, ainda melhor!
Todo o espectro luminoso cabendo dentro duma relação, convenhamos que não haveria nada de mais belo e mais fulgurante da vida!
Suponho, no entanto, que a designação está mais relacionada com uma paleta de cores, sem ordem nem estética definidas, a que a variedade e o número interessarão mais do que porventura, a beleza.
Hoje, interessa muito mais o número do que a qualidade, uma vez que tudo na vida é praticamente descartável.
Mudam as marcas, mudam os modelos, muda a moda, ou seja, de tudo resta apenas a mudança.
Só temo, porém, que a maioria dessas relações coloridas, o sejam carregadas de tonalidades pastel ou, pior ainda, carecidas de luminosidade e tendencialmente cinzentas e opacas.

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sábado, janeiro 16, 2010

Ai de ti, Haiti


Há coisas que não se entendem nesta catástrofe do Haiti.
Porque razão é que as consequências do sismo só se fizeram sentir nesta parte da ilha e nada parece ter acontecido na outra?
Porque razão não se arranjou processo de estabelecer uma ponte aérea que levasse mantimentos e outros equipamentos de emergência para lá e trouxesse no regresso feridos para um país da região onde fosse disponibilizada assistência médica adequada?
Estou a lembrar-me que Cuba que se situa bem perto e dispõe duns magníficos serviços médicos. Pode não ter a capacidade em medicamentos e em dinheiro para cobrir os custos duma operação deste género, mas aí entraria a comunidade internacional.
Mas se Cuba não tem, têm os Estados Unidos, que também são ali ao lado.
Levar hospitais de campanha para um local onde nem ainda os mortos foram enterrados, nem existe água potável em condições de poder ser utilizada sem risco de contaminação, não me parece a melhor solução.
O risco de morrerem pessoas com pernas e braços partidos só por falta de assistência deixa-me perplexo, num mundo onde já tudo parecia possível e ao alcance da nossa mão.
Sabemos agora o quanto somos frágeis e dependentes.
Por outro lado é curioso verificar que a única forma do mundo se unir é para matar ou para acudir a catástrofes deste tipo.
Pelas imagens que nos chegam, as pessoas nem tempo tiveram para chorar os seus mortos. Têm que pensar na sua própria sobrevivência e é vê-las a saltarem por cima umas das outras, roubando os parcos meios alimentares que vão chegando e que estão a ser distribuídos pelas agências humanitárias no terreno.
Raio de mundo este em que vivemos.

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quinta-feira, janeiro 14, 2010

O título, por escolha

Na escolha dos livros que leio, com excepção dos que me são recomendados ou de autores que já conheço, procuro sempre encontrar nos títulos a razão de o fazer. Os títulos sugerem-me o alor de quem o escreve e a mensagem que pretende passar.
Foi provavelmente por isso que terei escolhido este livro de poesia que hoje reencontrei, depois de largo tempo de espera, na prateleira de uma estante que há anos não visitava.
Respingos de Maresia”, saltam dele e entram pelos olhos e pela alma, inundando-nos de sons, de cheiros, de contemplações, de queixas e lamúrias, de encantos e desencantos, de longas esperas e abraços.
Não conheço a autora, Sylvia Helena, brasileira do Pará, mas sinto nela o botão de âncora e o suave arfar das marés se sucedendo no seu peito.
“…
quero ser livre como a gaivota
que voa sem rumos certos…

Os oceanos da sua imaginação reflectidos em cada estrofe, em cada verso, em cada emoção e no romantismo que lhe está subjacente.
Em "O homem que veio do Mar", há um despojo que o mar lançou na areia e que dela o cobrou de novo.
Vem de lá, de bem distante,
De um horizonte perdido,
De um mundo desconhecido,
Esse homem assim errante,
Que tem no andar o balanço
Da maré quando em remanso
.”
Em “Maresia”, volta o sentimento de chegada e partida, de achado e de perda.
A maré que enche, vaza,
O que traz torna a levar.”

Nas “Evocações”, os mesmos salpicos de ternura encontrada e perdida.
A vida não é mais do que um
Intervalo entre duas lágrimas sentidas
Choramos na chegada.
Choramos na partida.”
Não é uma obra de arte mas tem arte na obra. Tem a sua autora, sobretudo, uma queda muito grande para os amores que o mar traz e o mar leva, num jogo ao mesmo tempo desejado e plangente, que ao marujo também apraz.

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quarta-feira, janeiro 13, 2010

Um outro olhar sobre o Rio

O Rio Tejo esteve desde sempre ligado ao estabelecer da nacionalidade, que se iniciou a partir do Norte, mas que nele se fixou definitivamente com a conquista do Sul e o empurrar dos Sarracenos para África. Havia que garantir a administração do território e nada melhor do que a partir do centro, com um rio que permitia facilmente reforçar a defesa das instituições aí estabelecidas para o efeito, se necessário.
Lisboa passou a ser desde muito cedo o coração deste País que se atreveu a enfrentar as iras do Mar Oceano desconhecido e temeroso. E tudo se fez a partir do Tejo, que constituía rada perfeita e segura contra ventos e intempéries e possuía largo e fundos adequados para demanda e manobra. Lá, se prepararam as armadas que partiram em busca do novo mundo. Aí, chegam e partem hoje os navios que ligam o novo e o velho mundos. Nele, se espraiam os nossos olhos e a cidade que embala como um bebé.
Rio de uma só margem, por ela se enfeitiçou e nela derramou o odor do manjerico e a cor do Sol poente, numa aguarela de luz e som, que nos acalenta a alma e embeleza o olhar.
Olhares que sobem aos telhados vermelhos do casario entalado entre igrejas e ameias e descem escadarias que se atiram ao Rio, que correm para o Mar.
O fado que se escuta pelas vielas, que os rufiões transportam no seu andar gingão e na voz rouca das imprecações que os precedem, afoga-se no Rio com as mágoas do amor traído e os arranhões da alma, ferida pelo ciúme.
Tudo o Rio lava e branqueia como em barrela.
Tudo o artista deixa na tela, num espectáculo feito de luz e amor.
(Aguarelas de Martins Pereira, edição da Transtejo)

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quinta-feira, janeiro 07, 2010

18 000 Refregas

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sábado, janeiro 02, 2010

Cogitações Natalícias

Fosse eu o Menino Jesus e revoltava-me!
Não contra o mundo, os homens, os crentes,
Mas contra Deus Pai Todo Poderoso!
Porque razão Me teria feito nascer entre palhinhas
Se sabia já que iam ser inventados os condicionadores de ar?
Tinha sido só esperar um pouco menos de 2000 anos.
Qual era a pressa? Medo da concorrência? Uma questão de marketing?
Porque escolheu para Eu nascer aquela terra só de pedras e areais,
Com tanta zona bonita e prazenteira, por esse mundo fora?
Será que era por já saber que havia petróleo na zona e quis tomar posição privilegiada?
Já agora, porque nasceram naquela área do Globo três das maiores religiões?
Parece difícil distinguir entre crenças e interesses petrolíferos!
Porque Me fez nascer filho de pai incógnito,
Se podia ter ajudado o José a fazer melhor os seus trabalhos de casa?
Precisava ter feito de Mim a ovelha negra do seu rebanho, sacrificando-Me,
Para mostrar a maldade do mundo e dos homens?
Hoje, bastar-lhe-ia apontar para os Telenoticiários ou para a 1ª página de qualquer pasquim!
E por falar disso, o que ganhou a Humanidade com este sacrifício do Seu Filho?
Nada, é bom de ver!
Se guerras havia…guerras há!
Se os Judeus eram maus…hoje não parecem melhores!
Se o Islão era concorrência, hoje o que será?
O que fizeram os Meus seguidores ao longo deste dois milénios, senão pactos com o Demo?
E queixam-se hoje dos Islamitas?
E as Cruzadas?
E a Santa Inquisição?

Mas ainda bem que não sou o Filho de Deus Todo Poderoso,
Porque assim não tenho que me queixar do meu pai,
Um tipo pachola que, tendo sido merceeiro,
Nunca conseguiu roubar,nem enganar ninguém
!

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sexta-feira, janeiro 01, 2010

Entrar com Strauss

Entrar e sair.
Não há muitas alternativas. É obrigatória tanto uma coisa como outra.
Há quem saia sub-repticiamente, como quem não quer a coisa, mas também há quem saia aos ombros pela porta grande, cortando orelha e rabo, entre foguetes e fanfarras.
Há quem queira atirar para trás das costas toda a tralha que carregou ao longo dos intermináveis 365 dias. Outros, porém, não sabem como fazer parar a máquina do tempo que os manda inexoravelmente para a cova grande sem largo nem fundo, como canta o poeta.
O último degrau causa sempre apreensão a quem tem que apresentar contas, preferencialmente certas. Há, contudo, quem opte pela escada rolante que rápida e comodamente o atira para o outro lado sem medos nem tensões.
O que faz a grande diferença entre o entrar e sair é o conhecimento do que já foi e a incógnita do que está para vir.
Há quem se empurre ou salte para chegar primeiro, mas também quem entre ao pé-coxinho, para dar sorte ou pé ante pé para não alertar as bruxas.
Entrar tem sempre a carga do desconhecido, a esperança do diferente, a expectativa da mudança. Por isso se faz com abraços e beijos, com brindes e votos que estimulam a confiança eventualmente perdida, a fé em melhores dias muito questionada ou a felicidade dificilmente encontrada.
Assistir ao Concerto de Ano Novo transmitido de Viena é uma forma que tenho de entrar acompanhado duma coisa de que muito gosto e muito prezo – a Música de Strauss, eterna porque bonita e despretensiosa.

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