quinta-feira, janeiro 14, 2010

O título, por escolha

Na escolha dos livros que leio, com excepção dos que me são recomendados ou de autores que já conheço, procuro sempre encontrar nos títulos a razão de o fazer. Os títulos sugerem-me o alor de quem o escreve e a mensagem que pretende passar.
Foi provavelmente por isso que terei escolhido este livro de poesia que hoje reencontrei, depois de largo tempo de espera, na prateleira de uma estante que há anos não visitava.
Respingos de Maresia”, saltam dele e entram pelos olhos e pela alma, inundando-nos de sons, de cheiros, de contemplações, de queixas e lamúrias, de encantos e desencantos, de longas esperas e abraços.
Não conheço a autora, Sylvia Helena, brasileira do Pará, mas sinto nela o botão de âncora e o suave arfar das marés se sucedendo no seu peito.
“…
quero ser livre como a gaivota
que voa sem rumos certos…

Os oceanos da sua imaginação reflectidos em cada estrofe, em cada verso, em cada emoção e no romantismo que lhe está subjacente.
Em "O homem que veio do Mar", há um despojo que o mar lançou na areia e que dela o cobrou de novo.
Vem de lá, de bem distante,
De um horizonte perdido,
De um mundo desconhecido,
Esse homem assim errante,
Que tem no andar o balanço
Da maré quando em remanso
.”
Em “Maresia”, volta o sentimento de chegada e partida, de achado e de perda.
A maré que enche, vaza,
O que traz torna a levar.”

Nas “Evocações”, os mesmos salpicos de ternura encontrada e perdida.
A vida não é mais do que um
Intervalo entre duas lágrimas sentidas
Choramos na chegada.
Choramos na partida.”
Não é uma obra de arte mas tem arte na obra. Tem a sua autora, sobretudo, uma queda muito grande para os amores que o mar traz e o mar leva, num jogo ao mesmo tempo desejado e plangente, que ao marujo também apraz.

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