quarta-feira, janeiro 13, 2010

Um outro olhar sobre o Rio

O Rio Tejo esteve desde sempre ligado ao estabelecer da nacionalidade, que se iniciou a partir do Norte, mas que nele se fixou definitivamente com a conquista do Sul e o empurrar dos Sarracenos para África. Havia que garantir a administração do território e nada melhor do que a partir do centro, com um rio que permitia facilmente reforçar a defesa das instituições aí estabelecidas para o efeito, se necessário.
Lisboa passou a ser desde muito cedo o coração deste País que se atreveu a enfrentar as iras do Mar Oceano desconhecido e temeroso. E tudo se fez a partir do Tejo, que constituía rada perfeita e segura contra ventos e intempéries e possuía largo e fundos adequados para demanda e manobra. Lá, se prepararam as armadas que partiram em busca do novo mundo. Aí, chegam e partem hoje os navios que ligam o novo e o velho mundos. Nele, se espraiam os nossos olhos e a cidade que embala como um bebé.
Rio de uma só margem, por ela se enfeitiçou e nela derramou o odor do manjerico e a cor do Sol poente, numa aguarela de luz e som, que nos acalenta a alma e embeleza o olhar.
Olhares que sobem aos telhados vermelhos do casario entalado entre igrejas e ameias e descem escadarias que se atiram ao Rio, que correm para o Mar.
O fado que se escuta pelas vielas, que os rufiões transportam no seu andar gingão e na voz rouca das imprecações que os precedem, afoga-se no Rio com as mágoas do amor traído e os arranhões da alma, ferida pelo ciúme.
Tudo o Rio lava e branqueia como em barrela.
Tudo o artista deixa na tela, num espectáculo feito de luz e amor.
(Aguarelas de Martins Pereira, edição da Transtejo)

Etiquetas: