sábado, julho 25, 2009

Canal 30 descodificado

Como adepto fervoroso das actividades de ar livre, nomeadamente pesca e caça, não podia deixar de subscrever o canal televisivo do mesmo nome, não sem alguma contestação familiar, pelo facto de ocupar um televisor grande parte do tempo com uma emissão que praticamente só a mim interessa.
Mas achei que desta vez tinha direito a poder desfrutar deste poder discricionário que a idade vai concedendo.
E ainda bem que o fiz já que me tem sido proveitoso não só em termos de contacto com técnicas diferentes de pesca e caça, como também pelo facto de me ter mostrado uma realidade que é a espanhola, que nos estando tão próxima em termos geográficos, nos está tão distante em termos culturais e éticos.
Claro que o canal explora e dá realce aos aspectos mais positivos da actividade venatória e piscatória, mas não deixa de veicular de forma directa ou indirecta o sentir de uma grande parte do povo espanhol muito mais ligado à terra e a natureza do que nós.
O desfrute dos espaços ribeirinhos marítimos ou fluviais pelas populações, o empenho das autoridades regionais e locais na melhoria da qualidade das águas dos rios que permitem usá-los para actividades lúdicas, desportivas e até turísticas, são de fazer inveja.
O empenho dos pescadores na modalidade de pesca sem morte, quer nos rios quer no mar tem feito de mim um pescador cheio de remorsos.
Hoje, mostraram um documentário sobre a cidade de Burgos, atravessada por um rio que foi recuperado em termos de depuração das suas águas e de limpeza das suas margens, permitindo à população da cidade fazer desse espaço um lugar de passeio e convívio com a natureza e até pescando trutas que passaram a frequentá-lo em grande número. A pesca naquele local é livre e pode ser praticada por toda a gente desde crianças de tenra idade a idosos que já têm dificuldade em se deslocar para outros locais mais distantes.
Uma única obrigação: pescam e largam. As crianças aprendem assim a não degradar os recursos vivos do seu rio, permitindo-lhes poderem perpetuar o prazer de o desfrutar. As preocupações aqui mesmo ao lado parecem, pelo menos, reais e, a acreditar naquilo que naquele canal é dito e mostrado, a recuperação de todos os rios espanhóis está em marcha, tendo começado pelos dos salmões e trutas e continuando-se por todos os outros.
Será que sou só eu neste país que vê aquele canal?
Não haverão por aí uns senhores secretários de estado ou uns senhores directores gerais dos recursos florestais e dos recursos hídricos ou do ambiente, ou do que quer que sejam, que acabem de vez com as fossas em que os nossos rios se estão tornando e devolvam à natureza a capacidade que tem de se regenerar?
Já agora, incluam nos currículos escolares visitas obrigatórias a locais onde se esteja a fazer algum esforço para reabilitação dos nossos tão maltratados recursos naturais.
Se não encontrarem nenhum itinerário interessante neste país, experimentem aqui ao lado.

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terça-feira, julho 14, 2009

Passeio Ribeirinho

Volvidos vinte e cinco anos passei junto à Capitania de Portimão, agora como turista. As diferenças são substanciais nas redondezas.
Uma larga avenida marginal, ao estilo de “Paseo Maritimo” que "nuestros hermanos" tanto gostam e tão bem sabem utilizar, que se estende ao longo de praticamente toda a orla do Rio Arade, salpicada de palmeiras e namorados .
Que pena o poder central não ter conseguido, ao longo destes anos todos, resultados tão palpáveis como o poder local.
As redondezas da Capitania, no tempo em que ali estive, eram constituídas por baldios, durante a semana utilizados como parque de carros para pessoas que ali iam tratar de alguns assuntos e ao fim de semana como parque dos autocarros de excursões, que ali merendavam e às vezes até dormiam.
É claro que, na falta de equipamento sanitário próprio e próximo, as imediações da Capitania acordavam na segunda-feira com uma cercadura adequada. Acontecia que por vezes o próprio jardim da Capitania também ele se apresentava bem estrumado.
Daí a necessidade que houve de limitar o acesso a este espaço a veículos, com correntes e sinalização de acordo, no entanto facilmente transponíveis pelas pessoas. Foram também dadas instruções ao militar que ficava de serviço às comunicações para vigiar a zona, impedindo que o espaço fosse mal utilizado.
Uma certa segunda-feira, o marinheiro sinaleiro que havia estado de serviço durante a noite, foi dar com um excursionista agachado dentro do jardim. Deixou-o terminar a sua função e depois, quando este se preparava para abandonar o local, apareceu-lhe de rompante de pistola em punho, facto que terá deixado o prevaricador com vontade de repetir a função recém-terminada. Ter-lhe-á dito então para recolher a prenda que ali deixara ao que o nosso homem replicou que o faria de imediato com um papel.
Resposta do marinheiro – “com a mão e já” - tendo sido de imediato obedecido!

PS. Tomei apenas conhecimento desta estória quando terminava a minha comissão, durante o jantar de despedida através de um camarada do tal marinheiro.

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domingo, julho 12, 2009

Por águas turvas...


Já sabia, mas hoje a notícia no jornal tirou-me qualquer dúvida que pudesse ter.
Qualquer indivíduo que tenha o interesse e o dinheiro necessários, poderá alugar uma embarcação-casa, com capacidade para doze pessoas e fazer-se passear pelo Alqueva sem que para isso seja necessária qualquer qualificação profissional ou desportiva para o efeito.
Em todos os outros casos, ou seja, quem for detentor ou possa dispor de uma embarcação para pescar ou passear pelas mesmas águas, ainda que a embarcação não passe dum simples dinghy de 8 pés, ou dum bote pneumático, terá necessariamente de ser possuidor de habilitação como desportista náutico para o efeito.
É de facto uma aberração legal que se não entende de todo.
Se para viabilizar um negócio se permite a utilização de embarcações, como as já referidas, sem necessidade de qualquer habilitação específica, só poderia ter sido utilizado o mesmo critério em relação a todos os outros utilizadores do mesmo espaço hídrico.
Não que eu esteja de acordo com esta solução, mas não posso deixar de me arrepiar com a solução encontrada, que pode pôr em risco a vida de pessoas até ao número de doze.
Isto é o que se chama navegar por águas turvas!

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quinta-feira, julho 09, 2009

O Sopro

Regressei ao meu companheiro de férias Haruki Murakami, desta vez numa estória de amores fatais e impossíveis, com personagens estranhas, situações e ambiências esotéricas muito ao seu gosto e passagens obrigatórias pelo jazz, de que é um conhecedor e apaixonado.
Também neste aspecto as férias têm sido profícuas com leituras variadas e interessantes. Tem sido o que se chama tirar a barriguinha de misérias.
Não que a falta de tempo me limite as leituras noutras ocasiões, mas falta-me a disposição. A leitura requer
uma serenidade e paz de espírito que só as férias me conseguem fazer alcançar. Não sei explicar as razões, mas normalmente estou mais virado para actividades físicas como a caça, a pesca, a jardinagem, o cuidar do pomar, além de outras actividades complementares todas a puxar para o físico.
As férias, apesar de partilhadas com os netos, dão-me alguma margem de manobra para ler, contemplar, repousar o espírito e o corpo.
Outra das vantagens das férias é o repouso de ver televisão também. Temos a nossa vida condicionada e muitas vezes espartilhada por construção própria. Vamo-nos deixando enredar por obrigações que criamos e que temos de desembrulhar de vez em quando para nos podermos ir mexendo. O vício da televisão é um deles, o do computador é outro que não consigo descolar por mais que tente.
Vou ter um dia destes de me isolar num local onde não haja corrente eléctrica. Quando acabar a bateria não terei mais possibilidade de o utilizar por uns tempos. Só deste modo poderei fazê-lo.
Ele funciona para mim como um pulmão. Por ele respiro e por ele sopro!

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Menina "Estrudes"

Não sei porque carga de água me lembrei hoje da Menina Gertrudes ou,como era chamada, Menina Estrudes.
Era uma “jovem”, como eu agora, que devia rasar os seus setenta anos, sempre ao serviço desde “menina” da Dona Teresa e do Senhor Correia, que acompanhou até aos seus destinos finais.
Por aquela casa lhe secaram os ânimos e as carnes. Só me lembro dela muito pequenina e mirradinha, chamando-me às escondidas à cozinha, para me dar guloseimas, que ali havia sempre guardadas em caixas de latão, que eu bem conhecia. Era meiga e muito minha amiga.
A menina Estrudes representava bem uma geração que viu as suas vidas condicionadas pela pobreza, obrigando-se servir de muito nova em casa de gente abastada, aí deixando estiolar a sua juventude e eventuais ambições, se é que isso lhes era permitido.
Assim, acabou por afeiçoar-se aos seus “benfeitores” e “ingressou” na família para a servir denodadamente, a troco de algum aconchego e afecto, que lhe fora vedado no exterior.
Depois da morte da família Correia, não sei o que lhe aconteceu, mas por certo não foi incluída na herança, que bem teria merecido. Uns sobrinhos do casal caíram na casa como abutres, após a morte da tia, última a falecer, levando o que por lá encontraram, que julgo não ter incluído a minha amiga Menina Estrudes.

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terça-feira, julho 07, 2009

No País das Minhocas


A notícia vem no Expresso.
O Parque Ambiental da Amalga, em Beja, vai receber minhocas em quantidade industrial para fazer húmus do lixo sólido e das lamas das ETAR.
O processo não vem descrito mas admite-se que haja que triturar os resíduos sólidos e eventualmente sujeitá-los a mais alguma operação antes de passarem pelo aparelho digestivo das minhocas que os tornarão aptos a fertilizar as nossas terras ou as dos outros.
Segundo a mesma notícia, a AMALGA vai transformar, desta forma, cerca de 15000 toneladas de lixo em 1500 toneladas de bionutriente por ano.
Ou seja, vamos finalmente aproveitar o lixo que fazemos.
Se este valor representa apenas o lixo produzido na área de Beja, veja-se bem o desperdício que temos feito e que pelos vistos continuaremos a fazer de não aproveitar a merda toda que se faz por esse país fora, com especial incidência para a área metropolitana de Lisboa, onde se situa, seguramente, a maior fábrica deste produto, que agora se viu transformado em matéria-prima.
Uma espécie de moto-contínuo.

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sábado, julho 04, 2009

O calor algarvio

Não tem estado nem mais calor nem menos do que aquilo que tem sido normal para esta época do ano aqui no Sotavento Algarvio.
A água, de facto, está uns graus abaixo do habitual, mas com a ajuda de umas raquetadas não inviabiliza o banho.
Nas minhas caminhadas praia fora tenho vindo, no entanto, a constatar um aumento significativo de temperatura à medida que me vou afastando da zona de banhos concessionada, pois que se nota que os veraneantes vão usando cada vez menos roupa para se cobrir.
Não é por isso que faço estas caminhadas mas, já que as faço, não quer dizer que feche os olhos.
Hoje, porém, quando alonguei a vista até junto das dunas deparei com uma cena que, no mínimo, me pareceu insólita.
Uma jovem, presumivelmente mãe de duas crianças que se encontravam debaixo dum toldo, fotografava sozinha a sua nudez perante uma máquina instalada num tripé, usando um véu transparente que fazia esvoaçar ao vento, assumindo posições bastante vistas nas revistas da especialidade.
Por que não pediu ela ajuda a toda uma plateia de admiradores que assistiam embevecidos a este espectáculo surpreendente nas nossas praias, para que lhe disparassem a máquina, escusando-se ela a ter os dois trabalhos de modelo e fotógrafo.
Como é bom este calor algarvio! E ainda bem que a água está tão fresquinha!

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O Totem do Lobo

A minha leitura de férias introduziu-me no mundo do lobo. As estepes mongóis e o idolatrar do lobo.
A luta entre o equilíbrio da Natureza pela sabedoria e cultura populares e o desequilíbrio civilizacional.
A defesa das pastagens como principal preocupação das gentes das estepes. O ecossistema perfeitamente dependente da vitalidade da pastagem. O lobo como fiel da balança. Matando os herbívoros excedentários, garantindo a sobrevivência da pastorícia e da população nómada a ela dedicada.
Há milénios. Num respeito mútuo.
O desconhecimento chinês desta realidade e o forçar da vontade popular.
A luta dos descendentes de agricultores contra os pastores e caçadores indómitos das estepes.
A luta entre os vegetarianos e os comedores de carne. Entre carneiros e lobos. A fraqueza dos primeiros contra a força destes.
Entre os seguidores de Mao e os descendentes de Gengis Khan.
Tudo isto vivido e contado por um chinês convertido.

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quinta-feira, julho 02, 2009

Mudança de Sol

Troquei temporariamente o sol alentejano pelo algarvio. Não que a diferença seja grande, apenas para este há a compensação fresca da brisa marítima.
A mudança traz sempre porém uma mudança de hábitos e rotinas e isso, só por si, já é bom.
Retomei as minhas leituras interrompidas há quase um ano. Comecei devagarinho com umas historietas fantásticas do Senhor Conan Doyle, que me souberam bastante bem. Vamos a ver a que me abalanço agora.
Ando bastante, nado um pouco e refresco-me de memórias de outros mares e de outras gentes. Os banhos no Pópulo, na Matiota, no Bilene ou no Chai-Chai, em Santos. Águas quentes, transparentes, cheias de vida por dentro e por fora.
Desta vez não trouxe apetrechos de pesca. Vim numa de contemplação. Mas o bichinho cá dentro não morreu, está apenas adormecido.
Partilho o computador e a net com os meus parceiros sociais – os netos. Tenho que esperar pela noite, também ela morna e calma.

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