quinta-feira, julho 09, 2009

Menina "Estrudes"

Não sei porque carga de água me lembrei hoje da Menina Gertrudes ou,como era chamada, Menina Estrudes.
Era uma “jovem”, como eu agora, que devia rasar os seus setenta anos, sempre ao serviço desde “menina” da Dona Teresa e do Senhor Correia, que acompanhou até aos seus destinos finais.
Por aquela casa lhe secaram os ânimos e as carnes. Só me lembro dela muito pequenina e mirradinha, chamando-me às escondidas à cozinha, para me dar guloseimas, que ali havia sempre guardadas em caixas de latão, que eu bem conhecia. Era meiga e muito minha amiga.
A menina Estrudes representava bem uma geração que viu as suas vidas condicionadas pela pobreza, obrigando-se servir de muito nova em casa de gente abastada, aí deixando estiolar a sua juventude e eventuais ambições, se é que isso lhes era permitido.
Assim, acabou por afeiçoar-se aos seus “benfeitores” e “ingressou” na família para a servir denodadamente, a troco de algum aconchego e afecto, que lhe fora vedado no exterior.
Depois da morte da família Correia, não sei o que lhe aconteceu, mas por certo não foi incluída na herança, que bem teria merecido. Uns sobrinhos do casal caíram na casa como abutres, após a morte da tia, última a falecer, levando o que por lá encontraram, que julgo não ter incluído a minha amiga Menina Estrudes.

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