quinta-feira, agosto 28, 2008

O Sangue da Terra


Já cheira a vindimas, por tudo que é sítio, neste Alentejo monocultural.
Dantes, eram as ceifas, as debulhas e os palheiros, hoje as vindimas, as adegas e os vinhos. Tudo, fruto do Sol. Deste sol escaldante que aloira o trigo adoça a uva e tempera a alma deste povo transtagano.
Como na Última Ceia, celebra-se o pão e o vinho. O corpo e o sangue desta gente, tantas vezes crucificada e sangrada.
As vindimas começam aqui mais cedo. A maior parte das adegas já abriu as suas portas ou está em via de as abrir. Embora grande parte das vindimas já se faça de forma mecânica, perduram ainda as que são feitas pelo processo tradicional de apanha manual, que animam as pequenas aldeias, chegando mesmo a ter que ser recrutada mão-de-obra de fora.
A azáfama nas adegas cooperativas é enorme, sendo necessário estabelecer prioridades na apanha e entrega da uva, para que não caia ali toda em simultâneo e crie entropia no sistema.
Nas adegas particulares tudo se faz de forma mais calma e ordeira, começando pelas castas mais precoces no amadurecimento até àquelas mais tardias, permitindo uma gestão mais eficaz dos meios humanos e materiais.
As minhas uvas ainda estão num estádio de amadurecimento incipiente, necessitando de mais um mês em cima para que se lhes conheça o açúcar.
Não vou poder esperar para adquirir a uva com que vou fazer o vinho este ano, que espero venha a ser bem melhor do que o do ano que passou.
Espero bem, que nos finais de Novembro, e parafraseando mais uma vez um camarada já desaparecido, possamos reunir-nos em torno das nossas crenças e descrenças, erguer os nossos copos e, em uníssono, dizer: - Oremos e decilitremos!

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terça-feira, agosto 26, 2008

O Último Passeio

Foto daqui

Após muitos anos de afastamento da vivência da minha cidade natal por razões que se prenderam com as opções profissionais, retomei-a há pouco tempo, duma forma mais ou menos regular.
Obviamente, que se notam imensas diferenças comportamentais e de hábitos das pessoas, em parte motivadas pela reinstalação da Universidade que trouxe muita gente jovem, com mentalidade e atitudes que, a pouco e pouco, foram influenciando a cultura residente.
A democracia também pressionou e ajudou a abrir mentes e a repor tolerâncias esquecidas.
A televisão veio compor o ramalhete, fazendo os homens ficar em casa e miscenizando a cultura local com culturas externas, primeiro a brasileira através das telenovelas, coisa que assolou todo o país, depois a cultura de violência com carimbo norte-americano, sobretudo.
Deixei uma sociedade essencialmente rural e machista, com um pequeno comércio tradicional, nada competitivo, sem vida cultural e com interesses reduzidos a futebol, copos e conversas de café para os homens e vida exclusivamente doméstica para as mulheres.
Os pais ainda fiscalizavam a vida privada dos filhos, sobretudo das filhas, velando para que conseguissem manter a virgindade até ao casamento que, na altura, era praticamente o único objectivo e asseguraria a tranquila continuidade e a sensação do dever cumprido.
Retornei a uma sociedade urbana de comércio e serviços altamente competitiva, com seis ou sete grandes espaços comerciais, algumas empresas agrícolas viradas especialmente para a vitivinicultura em detrimento dos cereais, praticamente sem campesinato, e com alguma animação cultural.
Ficaram porém alguns hábitos que julgo têm que ver com a própria configuração da cidade que tendo aumentado em dimensão, se não alterou muito a nível de centro vital do burgo, onde ficam os serviços camarários, os bancos, os principais cafés e restaurantes, o próprio centro histórico. Pois é aqui que todas as manhãs se reúnem os homens, sobretudo velhos e desempregados, para conversar e dar conta do que se passa.
É também aqui, na Praça do Geraldo, que todos os dias, se afixam num placard, que já vinha do meu tempo, os óbitos registados no dia, substituindo o toque dos sinos das igrejas que antes se faziam ouvir e que ainda soam pelas pequenas aldeias e vilas.
É este, o derradeiro passeio e encontro das gentes da cidade, ali mesmo no centro histórico, por onde toda a gente passa ao longo da vida.

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segunda-feira, agosto 25, 2008

Black & White

Não é o néctar escocês, de que perdi o rasto no mercado faz tempo. Também não se trata duma vaquinha holandesa, nem do Boavista Futebol Clube, em maré baixa agora.
Trata-se apenas duma imagem de contraste como azeite e vinagre ou cão e gato. É, também, em termos de luz, a luz total e a falta dela (leia-se invertido).
Existem pessoas em que o contraste também é preto e branco.
Umas, de alegria transbordante, contagiam tudo e todos, fazendo do viver uma festa em que todos são convidados a participar. Outras, remetidas à convivência consigo próprias, fazem do recolhimento a sua alegria de viver.
Algumas, são a imagem do tempo que vivemos, numa perfeita sintonia com o despesismo, a moda e o faz de conta, enquanto que outras não entram nestas jogadas de marketing nem de exibicionismo, confinando-se pelo necessário, o prático e o sóbrio.
Pessoas há, que não distinguem o mundo real da realidade virtual. Estou a lembrar-me de algumas com elevadas responsabilidades nos destinos deste país, adiado desde Alcácer-Quibir, sempre à espera do Salvador. Por outro lado, também há as que não conseguem entender a virtualidade de algumas realidades, arreigadas que estão a conceitos já julgados pela História.
Em contraste permanente aparece a China, mascarada agora de capitalismo de estado, em que o vermelho virou azul e a fantasia se tornou real.
A abertura e encerramento dos J.O. como espectáculo, embora não fazendo o meu género, um espanto!
Como fotografia dum país e dum povo, prefiro a que conheço a “black & white”.

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sexta-feira, agosto 22, 2008

O Gesto

Imagem daqui

Não é que aprecie a festa brava. Tão pouco a recrimino ou a não suporto. Habituei-me a vê-la desde miúdo e reconheço que existe muita gente que gosta e que faz dela um modo de vida ou, melhor, uma forma de estar na vida. Normalmente, bem!
Hoje, num noticiário sobre uma corrida de touros, não sei onde, os grupos de forcados foram desbaratados, e bem, pelos touros, tendo alguns deles ido parar ao hospital.
Queriam festa? Aí a tiveram!
No meio das imagens de forcados a ir ao ar, a rebolar pelo chão da praça empurrados pelos brutos, uma cena houve que me tocou bem fundo, pelo que encerra de brio, espírito de entreajuda, camaradagem, coragem, abnegação.
O forcado da cara saíra mal tratado pelo touro, tendo ficado caído por terra sem dar acordo de si e o animal, que já o pisara, preparava-se para investir sobre ele de novo. É então que salta um homem do grupo, que se deita sobre ele, protegendo-o, tendo sofrido várias marradas, algumas com bastante violência, que teriam sido recebidas pelo companheiro maltratado.
Não é vulgar na vida alguém expor-se por nós, protegendo-nos das investidas dos nossos inimigos, sobretudo com risco da própria vida.
Só as situações de grande apuro fazem surgir atitudes desta natureza, que de alguma forma nos reconciliam com a nossa condição humana e solidária, tão afastada da nossa vivência diária de intriga, de paz podre ou violência criminal.
Da festa brava, à portuguesa, veio o gesto!

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quinta-feira, agosto 21, 2008

No Pódio da Memória


Hoje assistiu-se a uma situação insólita nos Jogos Olímpicos de Pequim. Não foi a medalha do Nelson Évora, porque essa estava mais ou menos nas expectativas, senão nossas, pelo menos dos seus antagonistas na peleja.
Mas dizia eu, que aconteceu o impensável. Duas equipas dos E.U. das estafetas de 4x100m, masculinas e femininas, falharam a passagem do último testemunho comprometendo em ambos os casos a sua qualificação para a final e de certeza para a medalha de ouro. Quantas horas terão treinado? Quanto terá custado a sua preparação? Foi mau para a competição, foi para os atletas, foi mau para a comitiva norte-americana que contava com mais essas duas medalhas na bagagem.
Mas será que o Chefe da Delegação se demitiu? Não creio. E porque haveria de o fazer? Também não enxergo.
O que aconteceu com a Naide Gomes é em tudo semelhante a uma passagem errada do testemunho. O quarto lugar a um ponto de diferença da medalha de bronze na vela do Gustavo Lima, parece-me brilhante embora o próprio preferisse naturalmente ficar na terceira posição ou na quadragésima quarta, já que esta tem um sabor muito amargo.
E os atletas do remo? E os atletas da marcha? Entendo que se portaram bastante bem. São modalidades menos visíveis. Mas também não me parecem muito visíveis as do judo e da esgrima. Criaram-se expectativas apenas a pensar nos nossos atletas esquecendo os seus adversários que também tinham uma palavra a dizer.
Se se soubesse, à partida quem ganhava, que interesse teriam as Olimpíadas?
Julgo que nas condições actuais do desporto em Portugal e face à escassa”matéria-prima” para selecção dos nossos representantes, só poderemos estar satisfeitos com os resultados obtidos.
Ao Vicente Moura, a solidariedade de quem conhece o peso da responsabilidade.
A toda a comitiva portuguesa os meus parabéns e, em particular, ao Évora e à Vanessa!

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quarta-feira, agosto 20, 2008

Hoje, sinto-me bem

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terça-feira, agosto 19, 2008

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segunda-feira, agosto 18, 2008

Redescoberta de Évora

Panorama de Évora no século XVI, segundo um desenho da época.

Carcomido pela formiga branca ou qualquer outro bicharoco, descobri entre o espólio de casa dos meus pais, um livro, a que chamarei de caderno publicitário sobre a cidade de Évora, da autoria de Matos Sequeira e Alberto de Souza, editado pela "Emprêza Nacional de Publicidade", presumivelmente nos anos 30, que aborda a cidade, no dizer dos seus autores, de forma íntima.
O caderno retrata a cidade duma forma radiográfica, tentando identificar-lhe as origens, como se duma pintura antiga se tratasse e as alterações que a História lhe foi impondo ao longo dos séculos, através das marcas deixadas sob a forma de arruamentos, edificações, pormenores de vida intimista duma metrópole por onde desfilaram muitos povos, onde algumas culturas se instalaram e que muitas vezes só são visíveis a quem procura.
Se romanos deixaram vestígios sólidos, já árabes apenas se reconhecem nos hábitos das gentes e nalguns artefactos e técnicas que foram ficando.
Da judiaria ainda vestígios nas ruelas e dos seus nomes.
A História atravessou-a em todas as direcções e aqui se escreveram páginas de sangue e lutas e também de trabalho árduo e sofrido.
Toda essa herança estampada em cada esquina, em cada janela, em cada miradouro, em cada pátio de casas senhoriais ou em cada claustro de conventos.
Os poços, os aquedutos, as fontes apontam as necessidades sempre sentidas e mostram a vontade de as satisfazer ao longo dos tempos.
Portas góticas e manuelinas abriram-se para deixar entrar as modas e as escolas arquitectónicas, que se entrecruzam no branco imaculado da cal das paredes e no empedrado romano das calçadas.
Évora, Yeborah ou Ebura, sem regrado de linhas, em que tudo é esquinado, reentrante, irregular, caprichoso, cidade de inspiração árabe e alma cristã, painel de culturas e religiões, mostrada pela mão primorosa do ilustrador Alberto de Souza e pela prosa saborosa do narrador Matos Sequeira.
Uma pepita encontrada no sequeiro deste Alentejo.

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domingo, agosto 17, 2008

O meu poeta eleito

O prazer de estar sentado, à saída dos que entram...(Autor desconhecido)

A poesia assume as formas mais diversas, em prosa ou rima, escrita ou declamada ou, tão simplesmente, vivida.
Portugal tem sido disso um exemplo flagrante desde o nosso ancestral mentor, Camões, passando por outros mais recentes como Pessoa, Florbela Espanca, Cesário Verde, Manuel Alegre para só falar nos que são mais próximos em termos afectivos e temporais.
António Aleixo e os poetas populares que, com as suas penas afiadas como lâminas, tão bem souberam e sabem escalpelizar os males de que a gente enferma no dia a dia das nossas vidas atribuladas.
Por último, os que fazem da vida um poema épico ou fantástico, uma elegia ou, muito simplesmente, vivem uma farsa satírico-grotesca de que simultaneamente são autores e intérpretes.
Dentro destes, quero destacar aquele que considero o cavaleiro andante das quimeras altaneiras, uma verdadeira tuba de clangor sem fim.
Ele é o equívoco total e absoluto. Ele consegue convencer-se a si mesmo e aos outros. Nem sempre com êxito, mas sempre, sempre, com a imaginação do criativo, como a beleza dum poema inacabado, como a certeza dum amanhã inesperado.
Não, não estou a falar do Sr. Major, estou a falar do suprassumos e glória nacional que bem pode engalanar ao lado dos poucos que conseguiram amesquinhar os nossos aliados de antanho, que tanto nos têm desprezado e espezinhado nas andanças do Mundo.
Certo! Estou a falar de Vale e Azevedo! O meu poeta eleito, de hoje!

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sexta-feira, agosto 15, 2008

Os Barbeiros de Sevilha


A vida vai-me tão cheia de movimento, de actividades apelando ao esforço físico, que pouco me resta de energia e tempo para tarefas que requerem mais atenção, maior concentração e disponibilidade mental, como é o caso da leitura ou mesmo o preencher deste espaço de que tanto gosto.
Hoje, optei por pequenas tarefas de manutenção de equipamento social e ornamental, que me obrigou a uma ida à cidade para umas compras.
Aproveitei também para uma tosquia que já se impunha e, este barbeiro para não variar, gosta de meter conversa com os clientes.
Numa cidade pequena, a barbearia costuma ser o local onde se resolvem os problemas da edilidade, onde se corta na casaca do governo e onde se joga muito futebol. Hoje, porque estava um nuestro hermano cortando sus pelos, a conversa decorria em castelhano, puro.
- Conhece usted el nuevo treinador do Benfica? Kiki ou Kike, ou qualquer cosa asi?
- Si, si. Es mui bueno entrenador.
E a conversa decorria entre barbeiro e cliente com uma facilidade que me divertiu bastante. O tom de voz usado pelo mestre levou-me aos meus tempos de criança e de ida ao Circo Mariano, durante a Feira de S.João, em que ansiava pela chegada da parelha de palhaços – o rico e o pobre, este último fazendo disparates e tropelias, com uma voz meio “apiflautada”, com requebros de entoação, falando um português muito parecido com o "portunhol" que este meu Barbeiro de Sevilha utilizava para se fazer entender com o seu cliente galego.
Só faltou a apoteose final com os dois a tocar saxofone.
Deu para perceber o complexo que sempre me acompanha nas tentativas de me fazer entender na língua de Cervantes – a sensação de estar a representar o papel de palhaço pobre.

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quinta-feira, agosto 14, 2008

Os Lilliputianos


Há já alguns anos, Lisboa ainda era uma cidade calma e serena, em que a marginalidade violenta se resumia a uns quantos “filhos maus de famílias boas”, que usavam e abusavam da sua qualidade de meninos ricos a quem tudo era permitido e que o maior risco que corriam era passar uma noite no xelindró até que o paizinho ou a mãezinha o viesse buscar pela manhã, alertado pela Polícia.
Alguns movimentavam-se em grupo pela noite lisboeta, visitando tascas e bares nos bairros castiços, onde se cantava fado e bebia até desoras. Não perdiam a oportunidade de armar o seu salsifré, que acabava normalmente com umas cabeças partidas e uns dentes a menos.
Nesses grupos, normalmente um dos parceiros de baixa estatura era encarregado de promover a desordem, com provocações, levando os incautos a aventurarem-se na réplica por se acharem capazes de lhe aplicar uma correcção. Engano o deles, pois logo aparecia a matilha que os desfeiteava de pronto.
Julgo que será um bocado o que ora ocorre no Cáucaso.
Alguém assolou a Ossétia do Sul a rebelar-se contra a Geórgia ou vice-versa, por forma a criar um conflito que pusesse em causa a disciplina que a Rússia quer manter na sua área de influência e de interesses económicos.
Só que a matilha ainda não apareceu ou só agora começa a fazer soar o seu rosnar ao longe e o baixinho, ou melhor, os baixinhos é que se vão lixando.
Palpita-me, mesmo, que já não saem da liça sem os dentes todos partidos, um olho à Belenenses e não sei quantas costelas fendidas.
Isto tudo, enquanto se batem records olímpicos e mundiais a todo o momento, um pouco mais para leste, noutra contenda, essa muito mais dignificante.

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terça-feira, agosto 12, 2008

É preciso acreditar

Sempre acreditámos nas nossas capacidades para vaticinar resultados sejam eles do Totobola, do Totoloto e mais recentemente do Euromilhões.
Depois, acreditamos sempre que o Benfica ou o Sporting sejam capazes de desfeitear o Porto no campeonato ou na liga, como agora é designada a compita futebolística nacional.
Tudo isto contém muito mais de fé do que razoabilidade, que uma apreciação desapaixonada contrariaria por um lado as probabilidades e por outro a capacidade técnico-futebolística das três equipas em apreço.
Mas, mesmo assim, acreditamos sempre nos milagres de Fátima, ainda que crentes não sejamos.
Pois bem, continuando nesta perspectiva, não deixámos de acreditar que a selecção do Sr. Scolari arrecadaria um título europeu ou mesmo mundial. Agora nas Olimpíadas chegámos a pensar em sete ou oito medalhas, de ouro claro, já que a prata ou o bronze não dão para cobrir o défice orçamental.
E as desilusões não acabam. E outras se lhe seguirão. Porquê?
Se pensarmos, talvez percebamos que somos dez milhões de almas penadas, na sua maioria velhos e reformados, que não servem para participar em competições a não ser de copos, bisca lambida ou vermelhinha. A China por exemplo, tem mais de mil milhões de habitantes para seleccionar quem os represente.
É sina nossa acreditar.
Acreditámos que seria possível fazer um país mais justo e mais fraterno e não conseguimos mais do que, nalguns casos, agravar as situações de desigualdade. Desigualdade de oportunidades, já que se continua a dar preferência a amigos dos amigos. Desigualdade social porque cavamos, cada vez mais fundo, o fosso que separa os ricos e pobres fazendo desaparecer quase por completo a classe média trabalhadora e empreendedora. Desigualdade de tratamento em termos humanos e morais, subvertendo princípios constitucionais de direitos humanos de liberdade de expressão, de acesso à saúde, ao ensino e ao trabalho, obrigando muitos jovens a procurar na marginalidade solução para problemas que os afligem.
Hoje, também deixámos de acreditar nos Serviços Meteorológicos, porque não foram capazes de atinar com uma previsão correcta.
Apesar disto tudo, eu continuo a acreditar em nós! Porquê?
Porque sou teimoso e descendente, como também agora descobri, dos Alanos!

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sábado, agosto 09, 2008

Ainda os Contadores de Estórias


Nem eu li a História da China e quero acreditar também que nenhum chinês, com responsabilidade na preparação da Abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, leu o meu blog e mesmo que o tivesse lido já não ia a tempo de alterar o programa estabelecido.
Foi de facto o contar de uma história milenar, usando praticamente todos os meios que a imaginação ditou e a tecnologia põe, hoje em dia, ao dispor de todos os cidadãos e dos imaginativos em particular.
Ao desenrolar a fita do tempo no pergaminho de palha de arroz virtual, desenrolou também grande parte daquilo que é hoje a China em termos económicos e de tecnologia industrial de ponta mas, também e sobretudo, a forma de ser e de estar dum povo que, depois de liderar cultural e cientificamente durante séculos a Humanidade, se deixou cair no mais profundo esquecimento de si mesmo, para agora se levantar das cinzas e hastear a bandeira do desenvolvimento.
Na estória que nos foi contada faltam imensos relatos da sua longa caminhada, nomeadamente as referências dessa mudança social, que permitiu a China ultrapassar a barreira de guerras fratricidas e de exploração a que era

sujeita pelas potências imperialistas orientais e ocidentais.
O isolamento a que se votou do convívio das nações, ditas livres, não isento de avanços e recuos no processo revolucionário encetado sob a batuta do Grande Timoneiro, permitiu-lhe reacender a esperança de melhores dias, que hoje flameja na Tocha Olímpica, no Ninho dos Pássaros.
Imperdoável para mim esse reconhecimento que era devido e que não foi feito a Mao Tse Tung , a Chou en Lai (Zou Enlai), ao controverso Teng Siao Ping (Deng Xiaoping) e alguns outros que ajudaram na transformação encetada e hoje verificada.
Uma estória magistralmente contada numa História mal relatada.

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quinta-feira, agosto 07, 2008

Contadores de Estórias


Há diferenças abismais entre jornalistas na forma de dar as notícias, uns cingindo-se aos factos publicamente conhecidos, outros procurando explicações para os mesmos e ainda os que, não tendo conhecimento no todo ou em parte dos ditos, conseguem sobre eles discorrer e muitas vezes fazer notícia.
Os contadores de estórias, entre os quais me pretendo incluir, também têm as suas particularidades na forma como abordam as questões que são o cerne da sua existência enquanto tal.
Assim, existem contadores com um particular jeito para a oralidade, preferindo as tertúlias e assembleias para, com o seu verbo fácil, as empolgarem, enternecerem ou somente divertirem, usando formas gestuais de complemento discursivo, dando espaços para aplauso, reprimir uma lágrima ou dar uma risada. Enfatizam, por entoações melódicas vocais, silêncios suspensivos ou repetições pontuais, aqueles aspectos que hão-de marcar a estória, seja ela a da nossa vida ou da vida dos outros, ou uma simples anedota picante.
Contadores há, que preferem grafismos de grande efeito visual para tratar os assuntos que vão querer partilhar com os outros, como a banda desenhada, a caricatura, esboços e desenhos a carvão ou tinta-da-china, ou quaisquer outras formas de expressão visual.
Entre nós, o fado aparece como uma forma musical de contar estórias. É também uma forma muito usada pela música folk, nomeadamente a norte-americana.
No registo escrito de estórias, aparecem formas rigorosas como os relatos e as crónicas e outras menos literais, em prosa ou verso, emprestando condimento à escrita através de adereços literários, como as figuras de estilo ou das liberdades de linguagem poética.
São estórias que não sofrem a influência directa de espectadores, requerendo antes algum recolhimento reflectivo sobre o uso da palavra escrita.
O maior contador de estórias da História, usando o Português como suporte, terá sido Camões, versejando em redondilhas, sonetos, canções, odes, oitavas, tercetos, sextinas, elegias e éclogas, com a arte por todos reconhecida.
Antes dele, Gil Vicente, primeiro dramaturgo português, também contou estórias, a que ainda, hoje, se lhe reconhecem actualidade.
Claro que a literatura está cheia de bons contadores de estórias, nas formas de conto, romance e teatro.
Aqui, na Igrejinha, na noite de sábado que antecede o dia principal dos festejos anuais da Sra. da Consolação, é uso os poetas populares e contadores de estórias, dedicarem à padroeira, umas estórias contadas em rima, sobre a forma de décimas, agradecendo-lhe as benesses e o seu atento olhar sobre esta terra, que envolve e tomou o nome da sua morada.
Julgo que nenhum ficará perturbado e muito menos preocupado com a minha concorrência.

Vais em breve Senhora
Estar rodeada do calor
Sentindo o seu ardor
Como símbolo e penhora
Deste povo que Te adora
Que p’ra manter a tradição
Alguns deles por devoção
Muitos outros por fé
Põem as décimas de pé
Senhora da Consolação

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terça-feira, agosto 05, 2008

Ideias "Au Gratin"

As mentes toldam com o calor. Era melhor o país fechar para férias, porque assim não se faziam nem se diziam tantas tolices.
E o calor está a apertar. Mais uma vez os termómetros rondaram os 40º aqui por estas bandas. Nem dá para pensar.
Não sei se é a temperatura a subir que faz baixar o preço do petróleo. Há qualquer coisa nisto que me escapa.
Que grande salganhada que por aí vai. O Governo admite pagamentos em géneros, mas entretanto faz inventário de bens penhoráveis. Será esta a moeda? Serão estes os géneros?
O Presidente assusta-se com o Estatuto dos Açores e fala ao País. Apesar de votado por unanimidade na Assembleia o projecto de diploma tinha uma série de inconstitucionalidades.
Será que os partidos e os senhores deputados não conhecem a Constituição ou já estavam a pensar nas férias?
Por outro lado o Presidente também parece ter apanhado uma ponta de sol. Preocupado em contrariar todas as bancadas do hemiciclo? Justificar o que a Constituição já justificara?
Podia ter aproveitado para dar umas dicas sobre problemas que não afectam somente os açoreanos e o presidente, mas todos os portugueses, que ainda não conseguiram entender até onde vão chegar os seus sacrifícios e também ainda não viram resultados deles.
Na Madeira “O Copus Night” tentou dançar mais um bailinho, mas parece que desta vez torceu o pé.
Coisas de Baco, que se não dá bem com o calor que por aí vai fazendo!
E assim vamos nós sofrendo com o caloraço que Agosto põe em tudo!

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domingo, agosto 03, 2008

Se o calor que a gente sente, cá dentro...

Sem que nada o fizesse esperar, hoje o dia aqueceu de forma brutal, com os termómetros na Igrejinha a beijarem os 40ºC. Em Lisboa, apesar do céu limpo, a temperatura era muito mais amena, porque corria uma aragem fresca de Norte.
Estas alterações bruscas no tempo promovem o desconforto e, nalguns casos, doenças. Este é, no entanto, o tempo próprio da época. Não é por acaso que a maioria dos portugueses ainda opta por gozar férias em Agosto.
Cá por mim não me importo muito do calor desde que tenha possibilidade de me refrescar. Mas por quanto tempo é possível desfrutar de banho diário e doutras mordomias de arrefecimento e higiene?
Contrariamente àquilo que é voz corrente, não me parece que por cá se tenham feito sentir grandes alterações climáticas, tanto quanto a minha memória me permite avaliar. No entanto, as condições de vida é que se alteraram de forma drástica, tornando-nos a todos muito mais gastadores de recursos energéticos e hídricos, pondo em risco a nossa própria sobrevivência.
O ciclo da água está comprometido, tanto na forma de chuva que arrasta consigo as poeiras tóxicas e gases ácidos, que irão contaminar as florestas e os terrenos de cultura, como depois nos lençóis freáticos e finalmente nas captações de água para consumo doméstico.
Ao aquecermos mais o ambiente com os gases de escape das viaturas, das chaminés das fábricas estamos a aumentar a evaporação da água, desumidificando os solos. Por outro lado, com o buraco do ozono, deixamos a atmosfera mais permeável às radiações solares que, implacavelmente, nos irão atormentar a existência.
Talvez isto seja a forma da Natureza se auto-regular, fazendo com que morramos mais depressa e em maior número, para gastarmos menos recursos naturais e repor dessa forma o equilíbrio que desfizemos.
As pestes resolviam grande parte deste problema. Hoje com as vacinas, a assistência médica e medicamentosa aumentando a longevidade, a coisa ficou preta.
As guerras aparecem assim como outra forma de reequilibrar essa balança natural. Se acontece com os outros animais, porque não havia de acontecer com o bicho-Homem? Os pacifistas não avaliam bem o custo da paz, se comparado com o da guerra!
Os sistemas de segurança social são incapazes de responder com eficácia às solicitações cada vez mais prementes dos idosos, dos inválidos, dos sem-abrigo, dos desempregados, dos refugiados, dos clandestinos.
Uma guerra resolve grande parte destes problemas pela raiz.
Esta conversa toda a partir do calor que se faz sentir. Naturalmente, também ela é fruto desse calor.
Refresquem-se, pois, se puderem!

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sábado, agosto 02, 2008

Amor Felídeo

O temor de ficar com um gato gay, leva o dono a dar um tiro em suposto homossexual que salva o animal de fim triste, de cima de um telhado, só porque o estava a agarrar, presumivelmente de forma carinhosa, para o bicho serenar.
Mas esta coisa de o bicho poder virar bichona, por contágio das mãos dum presumível adepto de sexualidade alternativa, levou o seu dono, possuído de zelo felino, ou roído de ciúmes, a descarregar a sua angústia sob a forma dum tiro dirigido ao nefasto predador sexual de felídeos.
Só que, a sua raiva, o seu descontrolo emocional, fez com que a pontaria se alterasse, acertando numa passante despreocupada ou numa testemunha interessada do salvamento do animal, que acabou por ser conduzida ao hospital ferida gravemente.
Claro que o zelador está agora entre grades e quem sabe se o gato de estimação não se encontra agora à guarda do seu salvador.
Já não se pode ser bicho nem bicha!

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