quinta-feira, agosto 07, 2008

Contadores de Estórias


Há diferenças abismais entre jornalistas na forma de dar as notícias, uns cingindo-se aos factos publicamente conhecidos, outros procurando explicações para os mesmos e ainda os que, não tendo conhecimento no todo ou em parte dos ditos, conseguem sobre eles discorrer e muitas vezes fazer notícia.
Os contadores de estórias, entre os quais me pretendo incluir, também têm as suas particularidades na forma como abordam as questões que são o cerne da sua existência enquanto tal.
Assim, existem contadores com um particular jeito para a oralidade, preferindo as tertúlias e assembleias para, com o seu verbo fácil, as empolgarem, enternecerem ou somente divertirem, usando formas gestuais de complemento discursivo, dando espaços para aplauso, reprimir uma lágrima ou dar uma risada. Enfatizam, por entoações melódicas vocais, silêncios suspensivos ou repetições pontuais, aqueles aspectos que hão-de marcar a estória, seja ela a da nossa vida ou da vida dos outros, ou uma simples anedota picante.
Contadores há, que preferem grafismos de grande efeito visual para tratar os assuntos que vão querer partilhar com os outros, como a banda desenhada, a caricatura, esboços e desenhos a carvão ou tinta-da-china, ou quaisquer outras formas de expressão visual.
Entre nós, o fado aparece como uma forma musical de contar estórias. É também uma forma muito usada pela música folk, nomeadamente a norte-americana.
No registo escrito de estórias, aparecem formas rigorosas como os relatos e as crónicas e outras menos literais, em prosa ou verso, emprestando condimento à escrita através de adereços literários, como as figuras de estilo ou das liberdades de linguagem poética.
São estórias que não sofrem a influência directa de espectadores, requerendo antes algum recolhimento reflectivo sobre o uso da palavra escrita.
O maior contador de estórias da História, usando o Português como suporte, terá sido Camões, versejando em redondilhas, sonetos, canções, odes, oitavas, tercetos, sextinas, elegias e éclogas, com a arte por todos reconhecida.
Antes dele, Gil Vicente, primeiro dramaturgo português, também contou estórias, a que ainda, hoje, se lhe reconhecem actualidade.
Claro que a literatura está cheia de bons contadores de estórias, nas formas de conto, romance e teatro.
Aqui, na Igrejinha, na noite de sábado que antecede o dia principal dos festejos anuais da Sra. da Consolação, é uso os poetas populares e contadores de estórias, dedicarem à padroeira, umas estórias contadas em rima, sobre a forma de décimas, agradecendo-lhe as benesses e o seu atento olhar sobre esta terra, que envolve e tomou o nome da sua morada.
Julgo que nenhum ficará perturbado e muito menos preocupado com a minha concorrência.

Vais em breve Senhora
Estar rodeada do calor
Sentindo o seu ardor
Como símbolo e penhora
Deste povo que Te adora
Que p’ra manter a tradição
Alguns deles por devoção
Muitos outros por fé
Põem as décimas de pé
Senhora da Consolação

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