sexta-feira, agosto 15, 2008

Os Barbeiros de Sevilha


A vida vai-me tão cheia de movimento, de actividades apelando ao esforço físico, que pouco me resta de energia e tempo para tarefas que requerem mais atenção, maior concentração e disponibilidade mental, como é o caso da leitura ou mesmo o preencher deste espaço de que tanto gosto.
Hoje, optei por pequenas tarefas de manutenção de equipamento social e ornamental, que me obrigou a uma ida à cidade para umas compras.
Aproveitei também para uma tosquia que já se impunha e, este barbeiro para não variar, gosta de meter conversa com os clientes.
Numa cidade pequena, a barbearia costuma ser o local onde se resolvem os problemas da edilidade, onde se corta na casaca do governo e onde se joga muito futebol. Hoje, porque estava um nuestro hermano cortando sus pelos, a conversa decorria em castelhano, puro.
- Conhece usted el nuevo treinador do Benfica? Kiki ou Kike, ou qualquer cosa asi?
- Si, si. Es mui bueno entrenador.
E a conversa decorria entre barbeiro e cliente com uma facilidade que me divertiu bastante. O tom de voz usado pelo mestre levou-me aos meus tempos de criança e de ida ao Circo Mariano, durante a Feira de S.João, em que ansiava pela chegada da parelha de palhaços – o rico e o pobre, este último fazendo disparates e tropelias, com uma voz meio “apiflautada”, com requebros de entoação, falando um português muito parecido com o "portunhol" que este meu Barbeiro de Sevilha utilizava para se fazer entender com o seu cliente galego.
Só faltou a apoteose final com os dois a tocar saxofone.
Deu para perceber o complexo que sempre me acompanha nas tentativas de me fazer entender na língua de Cervantes – a sensação de estar a representar o papel de palhaço pobre.

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