segunda-feira, agosto 18, 2008

Redescoberta de Évora

Panorama de Évora no século XVI, segundo um desenho da época.

Carcomido pela formiga branca ou qualquer outro bicharoco, descobri entre o espólio de casa dos meus pais, um livro, a que chamarei de caderno publicitário sobre a cidade de Évora, da autoria de Matos Sequeira e Alberto de Souza, editado pela "Emprêza Nacional de Publicidade", presumivelmente nos anos 30, que aborda a cidade, no dizer dos seus autores, de forma íntima.
O caderno retrata a cidade duma forma radiográfica, tentando identificar-lhe as origens, como se duma pintura antiga se tratasse e as alterações que a História lhe foi impondo ao longo dos séculos, através das marcas deixadas sob a forma de arruamentos, edificações, pormenores de vida intimista duma metrópole por onde desfilaram muitos povos, onde algumas culturas se instalaram e que muitas vezes só são visíveis a quem procura.
Se romanos deixaram vestígios sólidos, já árabes apenas se reconhecem nos hábitos das gentes e nalguns artefactos e técnicas que foram ficando.
Da judiaria ainda vestígios nas ruelas e dos seus nomes.
A História atravessou-a em todas as direcções e aqui se escreveram páginas de sangue e lutas e também de trabalho árduo e sofrido.
Toda essa herança estampada em cada esquina, em cada janela, em cada miradouro, em cada pátio de casas senhoriais ou em cada claustro de conventos.
Os poços, os aquedutos, as fontes apontam as necessidades sempre sentidas e mostram a vontade de as satisfazer ao longo dos tempos.
Portas góticas e manuelinas abriram-se para deixar entrar as modas e as escolas arquitectónicas, que se entrecruzam no branco imaculado da cal das paredes e no empedrado romano das calçadas.
Évora, Yeborah ou Ebura, sem regrado de linhas, em que tudo é esquinado, reentrante, irregular, caprichoso, cidade de inspiração árabe e alma cristã, painel de culturas e religiões, mostrada pela mão primorosa do ilustrador Alberto de Souza e pela prosa saborosa do narrador Matos Sequeira.
Uma pepita encontrada no sequeiro deste Alentejo.

Etiquetas: