segunda-feira, março 31, 2008

Eutanásia Castrense - Sim ou Não


Porque é que eu não consigo deixar de ser militar, por muito que disso tenha andado arredado?
Os valores da lealdade, do respeito pela hierarquia enquanto reconhecida como tal, da disciplina própria e do grupo, da verdade e da frontalidade, da camaradagem e do espírito de emulação, da assunção das responsabilidades, da capacidade de decisão, da coragem física e moral, do empenhamento e do espírito de sacrifício que pode levar, em casos extremos, à perda da vida, não consigo fazer deles coisa morta.
Apesar de afastado das bocas de cena, é com tristeza que vejo alguns actores principais não terem todos estes valores bem presentes e deixarem-se cair na tentação do politicamente correcto, fazendo tábua rasa dos valores acima enunciados, correndo o risco de não merecerem representar o papel que lhes coube em cena. Mais do que revolta sinto pena que assim seja.
Chego a pensar se terá mesmo valido a pena todos os sacrifícios pessoais físicos, afectivos e morais, desperdiçando vivências possíveis bem mais fáceis, mais bem remuneradas e com projecção social mais provável.
Às vezes sinto que estão a fazer aos militares aquilo que o meu clube fez e faz a um dos seus mais devotados e briosos jogadores de sempre, que perdido no seu mundo de desventura e esquecimento, se vê afastado do reconhecimento dos serviços prestados, restando-lhe o carinho da companheira de sempre e a lembrança de quando em vez num ou noutro programa televisivo.
Não há guerra, não são precisos militares! Haja, pois, a coragem de com eles acabar!

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domingo, março 30, 2008

Meio Bilhete para Lloret de Mar

Ontem fui ao Teatro. Bilhete de Idoso.
Pela primeira tive que reconhecer publicamente o facto que tanto temia se viesse a descobrir. Ingressei na categoria social dos velhos. Daqueles de quem já se não espera coisa alguma. Que estão a cair da tripeça. Que são um peso para a sociedade com as suas doenças, as suas lamúrias, as suas memórias.
Daqueles que não entendem a necessidade de ir a Espanha, numa excursão de finalistas do ensino secundário, para agarrar uma cardina e ser manchete de jornais e televisões. Porque não fazê-lo cá em casa? Saía mais barato e o resultado o mesmo. Bebedeira é igual em qualquer parte do mundo. Só a ressaca é que varia.
Mas, pergunta o coroa chato, qual o prazer de apanhar uma “cadela”, uma “perua”, um “pifão”? Ficar com a vista toldada, com as faculdades mentais diminuídas, náuseas e vomitórios…
Eu sei, eu sei que para estar aqui a falar nestes termos também já devo ter passado por ela. Claro! Mas não foi preciso ir a Espanha!
Todos os anos, no 1º de Dezembro, em Évora, se fazia uma noitada prolongada até ao nascer do Sol, com ceia, guitarradas, serenatas e copos, muitos copos.Às vezes o caldeirão entornava.
Recordo uma dessas vezes, em que já meio tocado me lembrei de tomar uma pastilha de AlkaSeltzer, efervescente, que era suposto deixar derregar em meio copo de água antes de fazer a lavagem estomacal.
Era, de resto, uma pastilha de dimensões bastante grandes, para não ser confundida com uma qualquer aspirina, mesmo em tempo de "percepções" difíceis. Mau grado isso, tomei-a como se de um comprimido vulgar se tratasse, tendo ficado encalhada no gorgomilo, efervescendo com a água usada para a engolir, largando bolhas que me saíam pelas narinas, quase me sufocando.
Não, definitivamente, não é uma coisa bonita de se fazer essa de beber excessivamente.
Os portugueses sempre beberam mal. Isto é! Sempre beberam em demasia, para além daquilo que é razoável em termos de prazer retirado do acto, descurando levianamente as consequências dolorosas para si, para a família e duma forma geral para a sociedade onde estão inseridos.
Desde muito novo criei uma regra, que cumpro quase religiosamente. Só bebo em companhia. Tento não beber para além daquilo que me dá prazer e gosto e não me inibe do desfrutar a companhia.
Bebam bem! É o conselho dum idoso!

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quinta-feira, março 27, 2008

Pancadinhas de Molière


O que as pessoas já fizeram ao longo duma vida é impressionante.
Por ser dia de se falar e lembrar o Teatro, fui buscar ao baú um monte de recordações desses tempos de descoberta e aventura, em que o experimentar me levou, por exemplo, até ao teatro. Pelo lado de dentro.
Participei desde muito novo em actividades de animação escolares, com declamações e cantares. Com cerca de dez anos, fui levado a participar numa peça de teatro no Seminário Maior de Évora, desempenhando o papel de anjinho, presumo que por ter uma “voz angelical”, papel esse que nunca mais deixei de interpretar ao longo da vida.
Não faço ideia qual o teor da dita nem quem era o seu autor. Palpita-me ter sido uma daquelas historietas de evangelização, concebida para eternizar o fogo do inferno, nas almas ímpias ou menos piedosas.
Mais tarde e já no liceu, participei com papeis muchurucas na peça “O Morgado de Fafe em Lisboa”, de Camilo Castelo Branco e no “Auto do Fidalgo Aprendiz” de Francisco Manuel de Melo e, por último, como figura de “primeiríssimo plano”, desempenhei o papel d’El Rei Sebastião, na peça do mesmo nome de José Régio.
É curioso como naquelas idades é possível pisar um palco sem estremecer para além do aceitável, claro. Hoje só de pensar nisso, não seguro a barriga das pernas.
Já depois do 25 de Abril, como representante e em nome dos clubes de Oficiais, Sargentos e Praças da Armada, tive que ler umas palavras de circunstância que havia preparado previamente, no palco do Coliseu dos Recreios. O nervosismo atacou-me de tal maneira, que acabei por ter que fazer um discurso de improviso, pois que o papel onde assentara as minhas notas saltava de tal modo nas minhas mãos, que não tinha como lê-lo.
Toda a nossa vida é feita de representações mais ou menos conseguidas, de plateias maiores ou menores, de luzes da ribalta mais ou menos brilhantes, de aplausos ou apupos, até que o pano baixe de vez.

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Dr.Zé Portuga, muito prazer

De entre os papéis que hoje remexi, uma vez que o tempo não estava de forma a que pudesse dedicar-me a tarefas de exterior, saltou-me um livro de textos simples mas extremamente incisivos, anarcas na marca e no estilo, impressos em papel reciclado, com ilustrações sarcasticamente lúgubres a carvão, da autoria de João Viegas e publicado pela Moraes Editores.
Resultou duma compilação de textos difundidos no Programa “As noites longas do FM Estéreo da Rádio Comercial”, entre Fevereiro e Novembro de 1982.
Não resisti a reproduzir um que reputo de ilustrativo e de sempre actual para a maneira de ser do Zé Portuga.

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quarta-feira, março 26, 2008

O Raio Verde

Sempre gostei de largos horizontes, de janelas abertas, da companhia das estrelas e dos faróis.
Na paisagem como na vida, é preciso procurá-los. Os meus espalharam-se um pouco pelo mundo, mas também se abriram onde nasci, espraiando o olhar pela charneca de todas as cores, na busca duma sombra acolhedora e repousante.
Hoje de volta a ela, sinto-lhe o pulsar enfermo da indiferença a que foi votada. As cores desbotadas de mil prantos enfeitam-lhe o entardecer brumoso.
Os ventos da destemperança sufocam-lhe os anseios de fortuna, a que se arrola por direito.
Já não se encontram papoilas que não seja nos valados. Os grilos substituídos pelos ralos, em jeito de choro fúnebre, lançam os seus trinados lúgubres pela campina deserta.
No mar, um pouco como na vida só existe horizonte virtual. No mar assim como na vida, é preciso fazer baixar as estrelas até ao horizonte, para que se banhem nas águas da verdade e sirvam de referência nas rotas do futuro. Só desse modo elas servem para algo mais do que descobri-las e admirá-las. Só desse modo se cumprem na nossa exaltação com supremo agrado.
Perscrutar o horizonte, ver nele despontar o sol nascente, o mergulhar da estrela mais brilhante ou ainda o tremeluzir dum farol de esperança é tarefa de porfiada procura, diferente na forma, sedutora na incerteza, incómoda na postura e raramente compensadora nos resultados.
Alargar o horizonte, impõe subir ao cesto da gávea ou do traquete ou ainda aos sobres, para descortinar porto de abrigo ou simplesmente assistir ao deitar do raio verde no ocaso da nossa imaginação.

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Penso eu de que...

Imagem daqui

Por razões variadas, num curto espaço de tempo tive que deslocar-me a Lisboa uma série de vezes, o que me deixa sempre deprimido e extenuado. Já não estou habituado a bichas intermináveis de carros nos acessos e nas saídas da cidade.
Não tenho paciência e pergunto-me como fui capaz de o fazer anos a fio.
O tempo que as pessoas perdem nas suas deslocações diárias de e para o emprego, utilizado de outro modo, poderia converter-se numa fonte de rendimento para o país e para o bem-estar das famílias.
As mulheres chegam a casa e ainda têm, maioritariamente, o ónus dos trabalhos domésticos, prolongando a sua actividade laboral e o seu cansaço para além do aconselhável, quer em termos de saúde quer em termos de vivência própria. Ler um livro, ir a um teatro, fazer amor ou simplesmente ter sexo, passam a ter o sabor amargo do impraticável ou do sacrifício.
As relações deterioram-se e as roturas acontecem com uma frequência preocupante. Até já se podem fazer divórcios pela Net. Os filhos entregues a si próprios procuram muitas vezes distracções delituosas que se reflectem na forma de estar na escola e na vida.
A modernidade deixou de ter o sentido do equilíbrio natural, em que as pessoas se procuravam e se encontravam, para passarem a desencontrar-se de si e dos outros. Tudo se resume a uma espécie de jogo de computador, sem sentimentos, sem emoções, apenas com níveis diferentes de dificuldade, até a um limite impossível de atingir mas que obriga a muitos erros, muitas interrupções e muitos recomeços.
A vacuidade de espírito e de interesses é manifesta. Importa apenas parecer que se é importante, que se tem poder e dinheiro, que se gosta do mais caro mesmo que seja o mais feio e não seja o melhor. Importa ter uma pele esticada, uns lábios de não sei quê e umas mamas de silicone.
Importa parecer de que…

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sexta-feira, março 21, 2008

Dia Mundial da Árvore

A propósito do Dia Mundial da Árvore, ouvi dizer, na RTP, um poema de Ruy Belo sobre as árvores, de que não esqueço uma das imagens que me pareceu das mais bonitas – Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros…
Não se pode imaginar uma árvore sem pássaros, em cima, no meio, em baixo.
Árvore sem pássaros, é como árvore sem folhas. É Outono permanente.
Celebrar a árvore não é só poesia, porém. Celebrar a árvore, terá que ser o garantir a sua sobrevivência, protegendo-a do processo civilizacional, substituindo-a quando morre, tratando-a quando está doente.
Precisamos mais da sua sombra protectora, do seu respirar e transpirar sadios do que da sua madeira. Precisamos mais das suas raízes do que de mil retroescavadoras, para segurar as águas e as terras onde estão agarradas. Precisamos mais da sua copa frondosa do que de mil paredes, contra os ventos da erosão.
Infelizmente ninguém a protege a ela dos ventos da História e da enorme estupidez humana.

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quarta-feira, março 19, 2008

Em Dia do Pai

Imagem daqui
À Primavera antecipada sucedeu um Inverno retornado, com vento frio e chuva q.b., que obrigou a repor as roupas já guardadas e a reacender os caloríficos a gás e eléctricos.
Até a passarada, apanhada desprevenida, desapareceu.
Para quem tem a agricultura como ocupação primária, julgo estar satisfeito do jeito que as coisas correm, com chuva e sol alternando-se em doses próprias e adequadas. Quem necessite de reservas de água para culturas gastadoras, de arroz e milho, terá que procurar nos confessionários perdão para os seus pecados e meter requerimento nos altares da sua devoção para que a Primavera se mostre chuvosa de feição.
Nos hortejos, quem já plantou o cebolo bem pode entreter-se a colher uns canudos pequenos de favas para juntar ao cozido de grão ou para se regalar com uma tortilha das ditas, cortadas fininhas com casca.
A idade e o contacto com a Natureza atira-nos para os braços do Borda d’Água e para os maus tratos da gastronomia, coisas que sempre andaram de mão dada, nos despiques da vida.
As minhas actividades de ar livre estão agora comprometidas, tendo por isso regressado ao convívio das letras, dos sentires e dos sabores.
Em Dia do Pai, lembrado pelos filhos, no aconchego desse afecto partilhado, bem posso fechar os caloríficos e ficar ouvindo a chuva a bater na vidraça.

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sábado, março 15, 2008

Alentejo vivo!


Sábado, dia de mercado em Estremoz.
É espantoso o número de pessoas que ali se desloca para vender, comprar ou somente apreciar o colorido de tudo aquilo.
Pelo chão em cima de mantas ou plásticos, em bancas improvisadas, em carrinhas abertas, de qualquer maneira e feitio, por ali se estendem velharias, bijutarias, artesanato, flores, plantas de ornamentação, árvores de fruto, produtos hortícolas para plantio misturados com pintos de primeiro dia e poedeiras pedreses. Ali funciona também um verdadeiro mercado de abastecimento de legumes e hortaliças, ovos, aves de capoeira e coelhos.
No café próximo, os quintaneiros e lavradores, em seu traje melhorado com bota de atanado e boné descaído sobre um dos sobrolhos, fazem negócios sobre as mesas, numa algazarra de vozes cantantes e curtidas por mil sois.
Já não via uma cena assim desde os meus verdes anos, às terças-feiras de manhã na Praça do Geraldo e no Café Arcada, em Évora.
Levava a incumbência de adquirir 1200 pés de cebolo tardio para plantio. Não foi fácil já que a quase totalidade dos fornecedores deste tipo de produtos, só tinha para venda cebolo temporão. Mas dada a quantidade, um deles mandou a mulher ir a casa (suponho que à estufa), apanhar e trazer a quantidade solicitada, tendo para isso que esperar cerca de hora e meia que gastei apreciando o latejar daquele coração vigoroso.
As camélias rubras, brancas, matizadas, singelas e dobradas, ressaltavam dos verdes escuros da folhagem. Mais atrás espreitavam timidamente as sempre noivas brancas, franzinas, delicadas.
As murtas, o rosmaninho, o alecrim espalhavam-se por todos os cantos em pequenos vasos.
As bancas dos legumes, hortaliças e fruta, além de nos presentearem com o seu colorido, ofereciam-nos odores dos orégãos, dos poejos, da erva-cidreira, da hortelã e dos coentros. Podiam ver-se por todo o lado os mimos da época como os espargos verdes do campo e as "silarcas".
Entre as velharias destacavam-se os cobres na forma de objectos de uso esquecido nas lides domésticas ou do campo. Aqui e ali algumas faianças, imagens e objectos de arte sacra em talha. Mais adiante um conjunto de seis ou sete grafonolas, com as suas cornetas amplificadoras e manivelas de dar corda. Uma, tocava uma música de jazz pela orquestra de Benny Goodman, em disco de 78 RPM.
Fartei-me de dançar ao som do rock’n roll do Bill Halley ou dos slows dos Platters, saídos destes engenhos, mais tarde substituídos por pic-ups, estes já eléctricos e com velocidade controlada, que permitiam rodar discos de vinil a 45 e 33 RPM.
Depois de mercar uma machadinha e um crivo, além dum cata-vento com a forma de um cão e, já na posse do meu cebolo tardio, regressámos com passagem pela Serra d’Ossa e almoço num restaurante da Aldeia da Serra – O Chana – onde degustámos verdadeiras preciosidades da cozinha alentejana, acompanhadas dum tinto do Redondo, agradável. Valeu a pena ir ao Mercado!

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terça-feira, março 11, 2008

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Universidade da Vida


Uma das prerrogativas dos velhos é o facto de já terem vivido muito e, como tal, terem aprendido muito, por muito burros que o tenham sido.
Quando a vida é aquela que quisemos viver, quando nela corremos alguns cantos do mundo, quando tivemos a oportunidade de a viver com grande intensidade, então estamos formados pela Universidade da Vida, em Cidadania do Mundo.
O canudo está na alma e pode ser lido em cada ruga da cara. A sabedoria é a que vamos aplicando diariamente, fermentada pelo calor humano que nos rodeia e servida com a temperança da idade.
As estórias que contamos, mesmo se imaginadas, mais não são do que reflexo do que já fomos e já vivemos.
Podemos ter mais ou menos jeito para pintar o quadro, mas a paisagem é facilmente reconhecida como já vista ou sonhada.
Os personagens, ainda que ficcionados, podemos vê-los todos os dias passar ao nosso lado na rua, olhá-los na TV ou reconhecê-los nos escaparates dos jornais.
Por muito que queiramos inventar, mais não conseguimos do que inventariar.
Em Macau, pouco tempo depois do 25 de Abril, conheci um médico do Exército, que deixou escapar esta pérola de sabedoria – “Ainda ontem era fascista e querem que hoje já seja comunista? Deixem-me ao menos ler os livros!”
Pois é! Os livros que já lemos e, sobretudo, os que não conseguimos ler! Por falta de tempo, por falta de vontade, por não os sabermos ler!
Já pensaram que a maioria dos livros que se publicam, são-no em línguas de que nem sequer conhecemos os símbolos gráficos ou os ideogramas que as materializam na escrita, que não tiveram tradução, ou mesmo que a tenham tido, não chegou ao nosso conhecimento a sua existência.
Se repararem, há medida que o tempo passa por nós as crispações vão-se atenuando. Porque há mais elementos de informação para apreciar as situações e, por conseguinte, as coisas não se nos apresentam só como inconcebíveis, intoleráveis, inadiáveis e tantos outros qualificativos começados por "in".
A Universidade da Vida ensinou-nos a reconhecer o mérito e o demérito de tudo o que nos rodeia, como forma de defesa e sobrevivência.
Havia velhos lobos do mar que à aproximação de terra já lhe sentiam o cheiro muito antes que a vista a alcançasse.
Os velhos são, pois, uma reserva de conhecimentos que a maior parte das civilizações milenares, como as orientais, respeita e ouve sempre que não encontra nos manuais as respostas de que precisa.
Funcionam aí, como uma espécie de memória colectiva, que há que preservar.
Os ocidentais, atiram-nos para os asilos, para a ignomínia do anonimato mais atroz e só deles se lembram quando querem os seus votos ou constar no seu testamento.
Julgo que o meu diploma da UV, não me confere mais do que um passaporte para esse esquecimento colectivo.

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domingo, março 09, 2008

Magistério Cumprido e Comprido

Eu diria que a teimosia deste governo em relação ao ensino e à carreira docente, em particular, teve um efeito curioso e perverso. Conseguiu unir uma classe extremamente complicada e dividida, por razões que se prendem com imensos factores, dos quais há que destacar os diversos graus de ensino e respectivas formações profissionais para cada grupo específico – básico, secundário e superior. Igualmente a dispersão geográfica não ajuda a aglutinar esforços, coisa sempre explorada pelos vários governos.
Mas alguma vez havia de calhar e parece ter sido agora. Infelizmente por razões negativas, como de resto sempre acontece. As pessoas juntam-se quando está em risco a sua sobrevivência física (situações de guerra, calamidade natural) e/ou mental (assalto aos seus direitos e liberdades).
Foi bonito de se ver! Sem mobilização partidária, sindical ou religiosa, ninguém acreditaria ser possível juntar cerca duma centena de milhar de pessoas, saídas em defesa daquilo que entendem ser um atentado ao seu estatuto profissional, fechando escolas, deslocando professores e alunos, fazendo depender progressão nas carreiras de factores alheios ao processo ensino/aprendizagem e avaliação, que consideram inadequada.
As medidas intentadas por este governo em relação a esta classe profissional, fez renascer sentimentos corporativos. É preciso não esquecer que toda a gente tem direito à indignação.
E terá sido este o grande móbil da marcha demolidora de ideias fixas e iluminadas.
Temo que não obtenham o êxito esperado, mas acredito que a partir de agora, nada mais será igual.
As tentativas governamentais de desmobilizar esta marcha pela intimidação policial, e levar a ministra à RTP na véspera, com falas mansas a que não era estranho algum nervosismo emergente, fazem adivinhar o incómodo político que a mesma representou.
Em democracia há que saber ler nas entrelinhas e dialogar.
A educação merece um olhar diferente por ambas as partes, e exige diálogo. Mais do que contar espingardas, há que fazer pontaria para o alvo principal - os alunos.

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sábado, março 08, 2008

O Dia da Mulher

Figura daqui
No dia da mulher, há que evocar o homem. Para que não acredite nesta panaceia, como remédio para todas as curas.
Há muitos pontos conflituais nas relações homem-mulher ou, se quiserem, mulher-homem. Porque os homens abdicaram de tudo o que constituía a sua, designada, supremacia machista, para se deixarem cair no laxismo de pactuar com todas as exigências feministas, bem longe das necessárias convergências de interesses e de formas de estar na vida.
Os antagonismos crisparam essas relações, não só no trabalho mas também, e mais grave, em casa.
Em tudo na vida há que procurar equilíbrios que permitam o normal desenrolar dos acontecimentos, o natural desfecho das coisas, não os provocando de forma arbitrária ou deliberada.
Os desencontros, são hoje mais frequentes do que eram ou, pelo menos, com maior visibilidade. Por intolerância mútua que é preciso combater até onde uma relação saudável merecer.
Sem entrar em avaliações de ordem ética ou moralista, eu diria que os relacionamentos mediatizaram-se ao ponto de se editarem pasquins visando a exploração das fraquezas nos relacionamentos das celebridades, que acabam por servir de modelo para os homens e mulheres “vulgaris de Linaeus”. Acertam-lhes o passo como na tropa.
Que posso eu dizer mais das mulheres? Que gosto tanto delas, que resolvi manifestar aos homens a minha solidariedade na forma como entenderem defender o direito de ser felizes com a mulher que amam.

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quinta-feira, março 06, 2008

Sapateia, meu bem sapateia, ai...

Cada um faz o que melhor sabe, pode e algumas vezes quer.
Quem presenciou, hoje, o sapateado do Presidente dos Estados Unidos à porta da Casa Branca e já o havia visto a protagonizar a "dança da espada" antes, tem que lhe reconhecer o mérito.
Quantos presidentes sapateiam melhor do que ele? Muito provavelmente nenhum! Já tem alguma coisa em seu abono.
O seu regozijo bem visível terá sido reacção à sentença contra ele proferida por um tribunal do Estado do Vermont, condenando-o, conjuntamente com o seu Vice-Presidente, por crimes contra a Constituição dos Estados Unidos?
Nunca o saberemos e ele nunca se descoserá por certo. Mas que tem graça, lá isso tem! E que não foi o Presidente Hugo Chaves nem os outros comunistas sulamericanos, nem tão pouco os malditos iraquianos a julgá-lo, lá isso não foram!
Mas que apetece dançar, lá isso apetece!

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terça-feira, março 04, 2008

Um Peido neste Ensino

A estória que vos vou contar não é ficção, nem contém exagero pictórico.

Trata-se duma fotografia, a preto e branco, no dia a dia duma escola secundária, na área da Grande Lisboa, onde a professora substituta da disciplina de matemática, inicia a sua aula a um curso especial de alunos do 8ºano, a quem é dada a oportunidade de conseguir a escolaridade obrigatória bastando, para o facto, pouco mais do que a sua presença nas aulas para obter a aprovação, mais desejada pelo Estado do que pelos próprios.
Passados uns cinco minutos, um dos “rappers” em curso pede para ir à casa de banho. A professora nega, alegando que o intervalo serve exactamente para esse tipo de coisas.
A pergunta é repetida de minuto a minuto, sendo utilizada uma linguagem cada vez mais grosseira e desabrida, perturbando o normal desenrolar da aula.
Como a resposta é invariavelmente negativa, o aluno dirige-se a uma das janelas, abre-a, empoleira-se em cima duma cadeira, puxa as calças para baixo, põe o rabo de fora e prega um valente peido.
A professora, passa-se e desata num pranto. Entende naquele momento a razão porque está a substituir a colega de baixa prolongada.

Ao que se chegou neste país de faz de conta!
Para que não existam analfabetos confessos, obrigam-se professores, a quem se não dão condições de exercer a sua actividade com o respeito que lhes é devido, a sofrer este tipo de humilhações.
Acaba-se desta forma esplendorosa com o insucesso escolar.
Estes serão os cidadãos de amanhã, bem preparados para a vida, solidários, exemplos gritantes duma sociedade livre e democrática, verdadeiros pilares dum Estado de Direito.

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As cores, os cheiros e os sabores


O campo e a Natureza alimentam-nos o corpo e a alma, com a sua paleta de cores, odores e salivares.
A terra regurgita-os depois de bem guardados durante a Invernia. Começam pelo amarelejar das mimosas e das azedas, para depois se matizarem com os rosas e brancos das amendoeiras em flor e se abrirem num grito de sol nos malmequeres, nas bolbosas e em todas as pomareiras.
Os prados enchem-se de cor que se reflecte no azul do céu, numa prece sempre renovada.
O sabor adocicado dos espargos e do funcho. O estranho e sedutor paladar dos cardos frescos e dos catacuses.
À medida que o Sol se eleva em latitude, eles vão-se multiplicando em tonalidades, em cambiantes, fazendo da vida que nos é dada um laboratório de emoções e de tentações.
As papoilas, as alfazemas e o rosmaninho. A madressilva, o alecrim e a erva-cidreira. As amoras e os mirtilos.
O perfume e gosto activo dos poejos, dos coentros e da segurelha em oposição ao discreto sabor dos agriões, das beldroegas e da valeriana.
Ofertas generosas duma Natureza rica em surpresas que, apesar de tão maltratada, luta e se renova, demonstrando-nos que é possível aliar beleza e equilíbrio nas condições mais difíceis.

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domingo, março 02, 2008

O Mar que em mim vive

De mil cores e facetas
Ligando esperanças e separando afectos
De chegadas e partidas
De dor e lágrimas
Mar de outrora, mar de hoje
Sempre longo e fugidio
Sem dono nem gerente
De descobertas e mistérios
Já foi horizonte, já foi estrada
Já foi génese e destino
Mar de logros e de Musas
Do cantar das sereias
De Camões e de Homero
Mar sem longe nem perto
Espelho de deuses e de estrelas perdidas
No azul imenso sem barreiras…

Por isso te amo
Por isso te respeito e te temo

ZEF 2008

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A Revolução da Palha e a Agricultura Selvagem


Depois que o homem se virou para a terra e começou a tirar dela, de forma deliberada, os produtos de que se alimenta, forçando-a a produzir quantidades elevadas do mesmo tipo de produtos no mesmo espaço físico, alterou-lhe o seu equilíbrio natural, perturbando-o tanto mais, quanto a tecnologia de apoio foi evoluindo.
A camada superficial do solo, é aquela onde se concentram os elementos que a maior parte das plantas utiliza para o seu desenvolvimento vegetativo, isto é, a zona do solo mais fértil em sais minerais e produtos orgânicos por elas assimiláveis e que são determinantes no seu crescimento, floração e infrutescência.
Essa fertilidade é consequência da acumulação, prolongada no tempo, de materiais trazidos por chuvas e ventos. Esses materiais dão origem a uma cobertura vegetal pelo trabalho de um número elevado de seres vivos – bactérias, protozoários, vermes, insectos, aves, mamíferos, etc, que fixam azoto do ar, que os excrementam e que os transformam em matéria hidrossolúvel assimilável pelas plantas. Estas depois morrem e se transformam, num ciclo interminável de vida e morte, só interrompido por cataclismos naturais ou por intervenção directa do homem.
Este, ao lavrar a terra, vai destruindo essa cobertura rica em húmus, desfazendo o habitat de imensos bicharocos que ajudam nas tarefas antes enunciadas e abrindo caminho à erosão dos solos, pela chuva e pelos ventos.
Não contente com isso, vai-lhe adicionando produtos sintéticos para a fertilizar, para a mondar, para controlo das pragas que se instalam.
Todas estas coisas vão alterar as características dos solos, vão introduzindo desequilíbrios no sistema, vão produzindo o esgotamento do solo arável.
Nos princípios do século passado, no Japão, um senhor chamado Fukuoka, biólogo, que, tendo trabalhado num laboratório na pesquisa de produtos químicos de síntese para combater as pragas que assolavam várias culturas no seu país, resolveu abandonar esta actividade, onde colheu ensinamentos fundamentais, e dedicar-se a demonstrar que é possível conseguir colheitas de qualidade e em quantidade, sem recorrer à quase totalidade das práticas agrícolas comuns.
Acreditando que a Natureza procura e gera equilíbrios, que o Homem procura e gera desequilíbrios, colocou a questão –
que não fazer, para deixar a Natureza funcionar?
E, com o andar dos anos e com a experiência colhida, criou um tipo de agricultura que designou por selvagem, assentando em quatro princípios fundamentais:

1º - Não cultivar a terra, ou seja, não utilizar qualquer tipo de lavra, que faça perigar a protecção vegetal do solo
2º - Não utilizar fertilizantes químicos nem compostos preparados
3º - Não mondar nem mecânica nem quimicamente
4º - Nenhuma dependência de produtos químicos

No livro em que o Sr. Fukuoka dá a conhecer a sua experiência de mais de trinta anos de fertilidade dos solos e colheitas sempre a aumentarem, ele aconselha a sementeira directa, coberta com palha inteira espalhada de forma aleatória, que a protege dos pássaros, que serve de suporte e protecção a alguns aracnídeos predadores de insectos que atacam as culturas. Mais tarde a palha apodrece, transforma-se e enriquece de matéria orgânica o solo, fertilizando-o. Por isso ele designa este método como a revolução da palha.
O Sr. Fukuoka adiciona a algumas das sementeiras de cereais de Inverno, sementes de trevo branco ou outra leguminosa qualquer, que ajuda a fixar o azoto do ar.
Faz coincidir a altura das sementeiras com o início da época das chuvas, por forma a garantir humidade suficiente e necessária às culturas a instalar.
No mesmo terreno faz depois uma sementeira de primavera, que se enraíza à sombra da cultura de Inverno, antes desta ser ceifada. Depois da sua ceifa, volta a espalhar a palha sobre a cultura de primavera, entretanto já em crescimento.
Com ciclos consecutivos de duas culturas anuais, não só os terrenos melhoraram a sua produtividade, como esta foi sempre igual ou superior à dos seus vizinhos, que utilizavam práticas agrícolas normais, servidas por tecnologias modernas.
Enquanto eles viam todos os anos a sua factura de despesas com equipamento agrícola, adubos e pesticidas aumentar, o Sr. Fukuoka mantinha os seus gastos de sempre, sem trabalho de maior e com produtos naturais, desprovidos de qualquer tipo de contaminação química.
Eu chamaria a este método "Agricultura sem mexer uma palha" ou "Agricultura mexendo apenas uma palha". É sem dúvida alguma o meu método preferido.

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