quarta-feira, março 26, 2008

O Raio Verde

Sempre gostei de largos horizontes, de janelas abertas, da companhia das estrelas e dos faróis.
Na paisagem como na vida, é preciso procurá-los. Os meus espalharam-se um pouco pelo mundo, mas também se abriram onde nasci, espraiando o olhar pela charneca de todas as cores, na busca duma sombra acolhedora e repousante.
Hoje de volta a ela, sinto-lhe o pulsar enfermo da indiferença a que foi votada. As cores desbotadas de mil prantos enfeitam-lhe o entardecer brumoso.
Os ventos da destemperança sufocam-lhe os anseios de fortuna, a que se arrola por direito.
Já não se encontram papoilas que não seja nos valados. Os grilos substituídos pelos ralos, em jeito de choro fúnebre, lançam os seus trinados lúgubres pela campina deserta.
No mar, um pouco como na vida só existe horizonte virtual. No mar assim como na vida, é preciso fazer baixar as estrelas até ao horizonte, para que se banhem nas águas da verdade e sirvam de referência nas rotas do futuro. Só desse modo elas servem para algo mais do que descobri-las e admirá-las. Só desse modo se cumprem na nossa exaltação com supremo agrado.
Perscrutar o horizonte, ver nele despontar o sol nascente, o mergulhar da estrela mais brilhante ou ainda o tremeluzir dum farol de esperança é tarefa de porfiada procura, diferente na forma, sedutora na incerteza, incómoda na postura e raramente compensadora nos resultados.
Alargar o horizonte, impõe subir ao cesto da gávea ou do traquete ou ainda aos sobres, para descortinar porto de abrigo ou simplesmente assistir ao deitar do raio verde no ocaso da nossa imaginação.

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