sábado, março 15, 2008

Alentejo vivo!


Sábado, dia de mercado em Estremoz.
É espantoso o número de pessoas que ali se desloca para vender, comprar ou somente apreciar o colorido de tudo aquilo.
Pelo chão em cima de mantas ou plásticos, em bancas improvisadas, em carrinhas abertas, de qualquer maneira e feitio, por ali se estendem velharias, bijutarias, artesanato, flores, plantas de ornamentação, árvores de fruto, produtos hortícolas para plantio misturados com pintos de primeiro dia e poedeiras pedreses. Ali funciona também um verdadeiro mercado de abastecimento de legumes e hortaliças, ovos, aves de capoeira e coelhos.
No café próximo, os quintaneiros e lavradores, em seu traje melhorado com bota de atanado e boné descaído sobre um dos sobrolhos, fazem negócios sobre as mesas, numa algazarra de vozes cantantes e curtidas por mil sois.
Já não via uma cena assim desde os meus verdes anos, às terças-feiras de manhã na Praça do Geraldo e no Café Arcada, em Évora.
Levava a incumbência de adquirir 1200 pés de cebolo tardio para plantio. Não foi fácil já que a quase totalidade dos fornecedores deste tipo de produtos, só tinha para venda cebolo temporão. Mas dada a quantidade, um deles mandou a mulher ir a casa (suponho que à estufa), apanhar e trazer a quantidade solicitada, tendo para isso que esperar cerca de hora e meia que gastei apreciando o latejar daquele coração vigoroso.
As camélias rubras, brancas, matizadas, singelas e dobradas, ressaltavam dos verdes escuros da folhagem. Mais atrás espreitavam timidamente as sempre noivas brancas, franzinas, delicadas.
As murtas, o rosmaninho, o alecrim espalhavam-se por todos os cantos em pequenos vasos.
As bancas dos legumes, hortaliças e fruta, além de nos presentearem com o seu colorido, ofereciam-nos odores dos orégãos, dos poejos, da erva-cidreira, da hortelã e dos coentros. Podiam ver-se por todo o lado os mimos da época como os espargos verdes do campo e as "silarcas".
Entre as velharias destacavam-se os cobres na forma de objectos de uso esquecido nas lides domésticas ou do campo. Aqui e ali algumas faianças, imagens e objectos de arte sacra em talha. Mais adiante um conjunto de seis ou sete grafonolas, com as suas cornetas amplificadoras e manivelas de dar corda. Uma, tocava uma música de jazz pela orquestra de Benny Goodman, em disco de 78 RPM.
Fartei-me de dançar ao som do rock’n roll do Bill Halley ou dos slows dos Platters, saídos destes engenhos, mais tarde substituídos por pic-ups, estes já eléctricos e com velocidade controlada, que permitiam rodar discos de vinil a 45 e 33 RPM.
Depois de mercar uma machadinha e um crivo, além dum cata-vento com a forma de um cão e, já na posse do meu cebolo tardio, regressámos com passagem pela Serra d’Ossa e almoço num restaurante da Aldeia da Serra – O Chana – onde degustámos verdadeiras preciosidades da cozinha alentejana, acompanhadas dum tinto do Redondo, agradável. Valeu a pena ir ao Mercado!

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