domingo, março 02, 2008

A Revolução da Palha e a Agricultura Selvagem


Depois que o homem se virou para a terra e começou a tirar dela, de forma deliberada, os produtos de que se alimenta, forçando-a a produzir quantidades elevadas do mesmo tipo de produtos no mesmo espaço físico, alterou-lhe o seu equilíbrio natural, perturbando-o tanto mais, quanto a tecnologia de apoio foi evoluindo.
A camada superficial do solo, é aquela onde se concentram os elementos que a maior parte das plantas utiliza para o seu desenvolvimento vegetativo, isto é, a zona do solo mais fértil em sais minerais e produtos orgânicos por elas assimiláveis e que são determinantes no seu crescimento, floração e infrutescência.
Essa fertilidade é consequência da acumulação, prolongada no tempo, de materiais trazidos por chuvas e ventos. Esses materiais dão origem a uma cobertura vegetal pelo trabalho de um número elevado de seres vivos – bactérias, protozoários, vermes, insectos, aves, mamíferos, etc, que fixam azoto do ar, que os excrementam e que os transformam em matéria hidrossolúvel assimilável pelas plantas. Estas depois morrem e se transformam, num ciclo interminável de vida e morte, só interrompido por cataclismos naturais ou por intervenção directa do homem.
Este, ao lavrar a terra, vai destruindo essa cobertura rica em húmus, desfazendo o habitat de imensos bicharocos que ajudam nas tarefas antes enunciadas e abrindo caminho à erosão dos solos, pela chuva e pelos ventos.
Não contente com isso, vai-lhe adicionando produtos sintéticos para a fertilizar, para a mondar, para controlo das pragas que se instalam.
Todas estas coisas vão alterar as características dos solos, vão introduzindo desequilíbrios no sistema, vão produzindo o esgotamento do solo arável.
Nos princípios do século passado, no Japão, um senhor chamado Fukuoka, biólogo, que, tendo trabalhado num laboratório na pesquisa de produtos químicos de síntese para combater as pragas que assolavam várias culturas no seu país, resolveu abandonar esta actividade, onde colheu ensinamentos fundamentais, e dedicar-se a demonstrar que é possível conseguir colheitas de qualidade e em quantidade, sem recorrer à quase totalidade das práticas agrícolas comuns.
Acreditando que a Natureza procura e gera equilíbrios, que o Homem procura e gera desequilíbrios, colocou a questão –
que não fazer, para deixar a Natureza funcionar?
E, com o andar dos anos e com a experiência colhida, criou um tipo de agricultura que designou por selvagem, assentando em quatro princípios fundamentais:

1º - Não cultivar a terra, ou seja, não utilizar qualquer tipo de lavra, que faça perigar a protecção vegetal do solo
2º - Não utilizar fertilizantes químicos nem compostos preparados
3º - Não mondar nem mecânica nem quimicamente
4º - Nenhuma dependência de produtos químicos

No livro em que o Sr. Fukuoka dá a conhecer a sua experiência de mais de trinta anos de fertilidade dos solos e colheitas sempre a aumentarem, ele aconselha a sementeira directa, coberta com palha inteira espalhada de forma aleatória, que a protege dos pássaros, que serve de suporte e protecção a alguns aracnídeos predadores de insectos que atacam as culturas. Mais tarde a palha apodrece, transforma-se e enriquece de matéria orgânica o solo, fertilizando-o. Por isso ele designa este método como a revolução da palha.
O Sr. Fukuoka adiciona a algumas das sementeiras de cereais de Inverno, sementes de trevo branco ou outra leguminosa qualquer, que ajuda a fixar o azoto do ar.
Faz coincidir a altura das sementeiras com o início da época das chuvas, por forma a garantir humidade suficiente e necessária às culturas a instalar.
No mesmo terreno faz depois uma sementeira de primavera, que se enraíza à sombra da cultura de Inverno, antes desta ser ceifada. Depois da sua ceifa, volta a espalhar a palha sobre a cultura de primavera, entretanto já em crescimento.
Com ciclos consecutivos de duas culturas anuais, não só os terrenos melhoraram a sua produtividade, como esta foi sempre igual ou superior à dos seus vizinhos, que utilizavam práticas agrícolas normais, servidas por tecnologias modernas.
Enquanto eles viam todos os anos a sua factura de despesas com equipamento agrícola, adubos e pesticidas aumentar, o Sr. Fukuoka mantinha os seus gastos de sempre, sem trabalho de maior e com produtos naturais, desprovidos de qualquer tipo de contaminação química.
Eu chamaria a este método "Agricultura sem mexer uma palha" ou "Agricultura mexendo apenas uma palha". É sem dúvida alguma o meu método preferido.

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