domingo, janeiro 07, 2007

Os Ventos da História

Aqui há uns anitos atrás, alguém avisou o Capitão do Porto de que andavam uns “guardas republicanos” a multar os pescadores que se entretinham à pesca na extremidade do molhe.
Foram, de imediato, os agentes da autoridade em causa intimados a pararem com a sua actuação, por não estar de acordo com a lei, que não onerava de qualquer forma, nem obrigava a fazer uso de qualquer licença, aquela prática desportiva quando exercida no mar ou em áreas ribeirinhas, salutar para todos e de sobrevivência para alguns.
Apercebo-me hoje, que os nossos amigos da GNR estavam a antecipar a História.
A partir do princípio deste ano isso acabou. Quem quiser dar banho à minhoca terá de fazê-lo em moldes diferentes.
Agora que os serviços públicos, aliviados dos funcionários que não faziam nada, porque pertenciam a uma geração rasca, mas com a experiência e sabedoria dos funcionários mais antigos, que só irão reformar-se quando as cataratas os não deixarem ver as letras tamanho 72 do Times New Roman dos computadores ou a Alzheimer os faça esquecer o local do seu posto de trabalho, dizia eu, estão os serviços mais aptos a darem resposta pronta e rápida a cerca de um milhão de maluquinhos da pesca, que afinal andavam era a dar cabo da fauna piscícola nacional ou a exercerem actividade económica paralela, sem dar cavaco ao fisco.
Agora terão que tirar a sua licençazinha e terão a sua actividade regulada.
Só poderão pescar até dez quilos de peixe por questões dietéticas e nunca a menos de cem metros dos esgotos para não sujar as águas.
Não poderão colocar-se a menos de dez metros uns dos outros para evitar rixas, não vá algum cair ao mar.
Também terão a vida facilitada, pois poderão tirar uma licença por três anos. Ahn?! Quem é amigo, quem é?!
Com a desburocratização dos serviços, que rendeu encómios nas tertúlias europeias, poderão, esses causadores da desgraça da economia, transformarem-se rápida e facilmente em empresários em nome individual ou colectivo e, porque não, verem um dia as suas acções vendidas em bolsa de valores, em concorrência com as do Belmiro de Azevedo ou as do Amorim.
Pode muito bem acontecer um dia algum agente da autoridade lembrar-se de antecipar novamente a História, começando a exigir aos carteiristas e amigos do alheio uma licença para o exercício da actividade - diurna ou nocturna, urbana ou rural, com arma ou sem arma.
Afinal, há que deixar funcionar o Mercado! Pagando…é claro!

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