quinta-feira, novembro 29, 2007

O Prazer de Bolinar


O nome deste blog, pode por vezes enganar quem faça busca temática na Internet ou na Blogosfera.
De facto, quem espere aqui encontrar notícias sobre vela, para o que o nome aponta, pode sentir-se defraudado. Quem entenda esta prática de vela, como rumar contra o vento, julgo que já poderá não se sentir tão traído nas suas expectativas.
Reconheço a minha pouca vocação para a vela como desporto, mau grado achá-lo uma escola fundamental de “endurance” para a vida, de perícias, de escolhas, de sacrifícios, de decisões, de rumar contra ventos e marés, de chegar depois de ter partido.
Impõe conhecimentos náuticos, cartográficos, meteorológicos, logísticos além de uma boa formação humana e têmpera rija.
Para mim, andar no mar, sempre o entendi como serviço. Muito raramente senti nele o prazer da prática desportiva, mesmo quando oficial de guarnição da Sagres numa viagem ao Brasil.
O melhor que me aconteceu, como marinheiro, foi chegar a um porto. Há quem diga e eu subscrevo, que navegar só tem sentido para chegar a um porto. Por outras palavras, o melhor que o marujo embarcado tem, é a chegada aos portos onde desembarca.
Mesmo que a paisagem seja lunar, como em S.Vicente (Cabo Verde) a alegria da chegada sobrepõe-se sempre à agrura da paisagem e o marujo encontra sempre razões de júbilo nas suas incursões por terra adentro.
Neste blog já se tem falado mar, da Sagres e do linguajar do marinheiro.
A vela nem sempre foi um desporto. Tempos houve em que nisso fomos mestres e pioneiros, empoleirados em cima de cascas de noz, levados por ventos nem sempre de feição, ao encontro do desconhecido. Na altura, julgo que ainda se sabia pouco sobre a designada adrenalina, mas talvez tenha sido ela que para aí nos empurrou como hoje empurra os jovens aventureiros que se lançam de avião em queda livre, se atiram de pontes e gruas com elásticos ou se fazem voar em asas delta, para só citar algumas das muitas loucuras que todos os dias vamos descobrindo na Internet ou na TV.
Fazer vela não é, nunca foi o meu forte, mas falar dela e de uma das suas “nuances”, o bolinar, é das poucas coisas que hoje me serenam.
Existe na blogosfera um blog que tem como orientação, segundo o seu autor, bolinar na República do Gerúndio. Eu diria que bolinar é sempre excitante e difícil, quanto mais naquela república.
Há alguns anos, "prestando" serviço na Direcção de Faróis, conheci um médico que ali também "estava dando" serventia. Lá guardava o seu barco que, nos quatro anos que ali estive, nunca vi utilizar. Perguntei-lhe certa vez porque o não fazia e ele respondeu-me: - Sabe, há dois bons momentos na vida de quem tem um barco – o dia em que o compra e o dia em que o vende!

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