quarta-feira, outubro 18, 2006

O Velho Solitário

Cai o pano sobre o calor alentejano. Para trás ficam os amarelos e castanhos e o verde parece agora tomar conta das planuras, desdobrando-se em mil tonalidades. O céu embrulhado em cinzentos ameaça fazer desabar sobre a campina a sua ira molhada, alagando prados e restolhos. É uma fúria cada ano renovada. Um carpir de mágoas antigas, em que o suor empapava a terra, na esturrina das colheitas de Verão ou das lavradas para as sementeiras de Inverno. Hoje, os charnequeiros, pegas e gralhas abanam as caudas nas vedações de arame, substituindo os trigueirões, as cotovias e os picanços. Mas o Alentejo continua sempre bonito, pelo menos para os olhos saudosos de vastidão, de larguras e comprimentos só igualadas no mar. Tal como no mar, tem a planura as suas conhecensas, as suas marcas, que permitem uma navegação segura aos arrojados que enfrentem a aspereza das vagas ou as dobras rijas das colinas e valados. O sobreiro – a sobreira no dizer das gentes – lá está como um farol que alumia a rota , que mede a singradura do caminhante e lhe dá a paz e a frescura na jornada, para além da sombra que lhe possa vir do Céu. Só mais um pouco, mal um bocadinho até àquele "chaparro". Haverá por ventura maior elegância de linhas? Mais belo que um sobreiro solitário… talvez… uma mata de castanheiros!

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