quarta-feira, novembro 08, 2006

Viagens salgadas

As Aventuras de Sandokan, O Tigre da Malásia, alimentaram o meu imaginário juvenil e atiraram-me definitivamente para a Marinha. O Oriente fascinava-me e queria muito conhecer-lhe os contornos, descobrir-lhe as rotas, esventrar-lhe os mistérios.
Na Escola Naval, um curso acabara de fazer a volta ao mundo. Partiram no Afonso e chegaram no Bartolomeu. O meu chefe de camarata, um desses felizardos, obrigava-nos a chamar-lhe entre outras coisas - Imperador da UMO UMO NUCO NUCO APUALÂNDIA. Sabe-se lá onde isso ficaria ou se existiria de todo. Mas existia na nossa imaginação. Indígenas com penas na cabeça e ossos a atravessarem-lhes as orelhas e o nariz. As nativas de cabeça florida a rebolarem as ancas. Seria aí? Era de certeza.
Mas comecei por África. Na Sagres, senti pela primeira vez a força dos alíseos empurrando-nos para oeste."Seilô, seilô, ê barca Sagres". Não sei se se escreve assim, mas foi assim que eu ouvi e de que guardo memória. Mindelo, o Monte Cara, as mornas, as coladeiras, as crioulas, as noites quentes, os mergulhos nocturnos e as picapadas na Matiota. As cabras a comer papel, o John Paris a beber gins tónicos.- Você se tiver juízo nunca beba Gin, ouviu? Mata mesmo, faz mal ao coração! - Terá sido isso que te matou John? Ou as mulheres que tinhas espalhadas pelas ilhas todas do arquipélago e ainda por Dacar?
- Qué que bô crê?
(A continuar)

Etiquetas: