sábado, dezembro 19, 2009

Uma prenda de Natal diferente

Já lá vão uns anecos bons desde a primeira vez em que tive um aquário com peixes tropicais que muito gozo me deu.
Tudo começou a bordo do Bartolomeu Dias. Salvo erro, na África do Sul aquando da nossa docagem em Durban, um camarada lembrou-se de arranjar um aquário que construiu com vidro acrílico colado com acetona a que juntou uma geringonça do mesmo material onde havia sido fixado um suporte de lâmpada fosforescente para iluminação, que servia de tampa.
Escusado será dizer que a navegar era necessário reduzir a água do aquário a metade por causa do balanço não a entornar e, com ela, os peixinhos.
A moda pegou e já não sei quantos de nós adoptámos a ideia e construímos também o nosso próprio aquário, melhorando cada vez mais não só o processo de fabrico como as técnicas de tratamento da bicheza, com sistema de filtragem muito artesanal, constituído essencialmente por um compressor de ar, tubagem plástica transparente que passava por reservatório sifonado onde colocávamos algodão que mudávamos com frequência, que servia de filtro. Adicionámos também um difusor de ar através duma pedra porosa, que servia para oxigenar a água que com o calor ia perdendo o ar dissolvido, necessário para os peixes.
Mais tarde, acrescentámos um aquecedor de água com termostato para garantir que a temperatura se mantivesse mais ou menos constante, à volta dos 75ºF.
Com a descoberta de que alguns dos peixes se reproduziam e que os nascituros eram papados sistematicamente pelos outros, introduzimos uma maternidade no próprio aquário, que consistia numa caixinha de perspex mais fino toda esburacada com orifícios pequenos que não davam para os alevins saírem, mas garantiam a renovação da água.
A introdução de plantas naturais foi um passo fundamental no equilíbrio do meio, pois que contribuíram para a oxigenação da água e utilizavam os detritos dos peixes para o seu desenvolvimento. Apesar de muitos esforços nunca consegui ter plantas em quantidade e qualidade como desejava. Umas, porque morriam rapidamente, outras porque eram demasiadamente caras.
Meses depois de chegar de comissão e já com o aquário instalado na casa para onde fomos morar, tivemos que socorrer-nos dos cuidados médicos a que as duas filhas obrigavam do único pediatra da zona de residência.
A primeira vez que entrei no seu consultório chamou-me a atenção um enorme aquário que tapava a quase totalidade duma parede, com peixes lindíssimos e sobretudo com uma vegetação luxuriante, que fazia dele um espectáculo de cor e animação.
A minha admiração não foi estranha ao médico que de imediato passou a explicar-me a razão de toda aquela exuberância vegetativa.
Segundo ele, estava relacionada com uma ampola de raio X, que tinha na sala e que se destinava a radioscopia.
Nunca antes conseguira um tal desenvolvimento de plantas quando o aquário se encontrava noutra sala que não aquela.
A partir dali tornámo-nos comparsas neste passatempo trocando peixes e plantas.
Foi um tempo curioso. Ainda não havia programas televisivos que nos desviassem doutros interesses culturais ou de entretenimento, tendo o aquário servido também de mostruário de vida para as minhas filhas que embora pequenas e muito dispersas em termos de atenção, não deixavam de ter pelo aquário e pelos peixinhos um carinho que terá eventualmente custado a vida a alguns, dando-lhes a comer pão e outras coisas não muito consentâneas com a sua dieta.
Quarenta anos depois, vou presentear um dos meus netos com um miniaquário, comprado com todos os apetrechos que fazem dele uma máquina perfeita para a criação e desfrute de peixes e plantas, um mundo de silêncio e calma que tanto precisamos nestes tempos atribulados. Espero bem que ele o aprecie tanto, quanto o prazer que me deu oferecer-lho neste Natal.

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3 Comments:

Anonymous Ana jr. said...

Que giro!!! Vai adorar
Bjs

19/12/09 19:46  
Anonymous Anónimo said...

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semelokertes marchimundui

22/12/09 09:29  
Blogger platero said...

boa prosa, patrão.
sinal de sentimentos ricos

abraço

22/12/09 22:36  

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