domingo, maio 06, 2007

Inhaca

Em 1993 integrei uma equipa técnica que se deslocou a Moçambique para avaliar as condições de laboração e sobrevivência económica duma empresa de transportes marítimos de passageiros e carga, que operava nos portos de Maputo, Inhambane, Beira e Quelimane.
Essa deslocação confrontou-me com a memória que eu tinha de anos passados naquelas paragens, com outros propósitos, com outras gentes, com outra realidade.
Foi-me dada a possibilidade de retornar à Ilha da Inhaca, à entrada da barra de Maputo, antes Lourenço Marques, fazendo a viagem numa embarcação da tal empresa a auditar.
Foi muito curioso.
A viagem foi longa, apesar da embarcação andar bem. O custo da viagem para a empresa, era elevado dado o pequeno número de passageiros a transportar. Não podia praticar tarifários adequados, sob o risco de não ter passageiros, tendo optado por preços dos bilhetes quase simbólicos.
Era o custo social.
Na Inhaca, não havia pontão para atracação de embarcações com o calado daquela, sendo a mesma obrigada a ficar fundeada a cerca de 150 metros da praia, onde existia uma pequena plataforma assente sobre bidons vazios, que flutuava ou não consoante as marés, onde podiam atracar embarcações a remos ou com motor fora de borda, sem quilha. Assim que fundeámos, mais duma dúzia dessas pequenas embarcações se aproximaram, negociando com os passageiros o preço para os porem em terra. Nalguns casos, o preço a pagar triplicou o preço pago à empresa transportadora que nos trouxera do Maputo e, como foi o caso, fui despejado a cerca de 20 metros do areal, fazendo o resto do percurso com água pelo joelho e com a trouxa às costas.
A Inhaca é um espectáculo de colorido humano e paisagístico.
A água duma transparência total, com os cambiantes que os corais e o reflexo da vegetação lhe emprestam.
Uma empresa sulafricana explorava uma instalação hoteleira de reduzida dimensão, fazendo transportar os turistas, na maioria da sua nacionalidade, em helicópteros, de e para o Maputo.
Na redescoberta, ficou a certeza do futuro turístico da Ilha e a incerteza da operação da embarcação em que nos fizemos deslocar para lá.
O nosso compatriota Pestana, descobriu lá o Paraíso.
Não sei como hoje é feito o transporte, mas que merece uma visita, isso merece!
Na impossibilidade de o fazerem doutra forma, façam-na como eu aqui

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