sábado, maio 12, 2007

Ele chamava-se assim...

Este postal é dos Açores, nos finais dos anos sessenta, em que se ouvia na rádio e se dançava no Solar da Graça música dos BeeGees, do Adamo, dos Beatles. O Twist e o Hully Gully estavam no fim e o Shake arrancava em força.
Casado, embora geograficamente solteiro, tinha algumas dificuldades de relacionamento com a juventude da terra.
Era, pois, complicada a vida para um jovem segundo tenente.
Frequentava um café muito na moda, o Gil, onde se juntava todo o pessoal mais jovem, durante as tardes de chuva e vento, do interminável Inverno açoreano.
Foi lá, que travei conhecimento com dois continentais, como eram designados todos os não indígenas, um deles que trabalhava no Emissor Regional da Emissora Nacional e o outro que ali cumpria o serviço militar, como furriel miliciano.
Eram bons companheiros e, sobretudo, abriram-me as portas, até então fechadas, da sociedade feminina local, com quem mantinham um bom relacionamento.
A partir daí tive a vida facilitada, integrando um grupo de gente jovem, bem para a frente nesta época e neste lugar.
Iniciei aquilo que já designei, neste blogue, como os meus tempos loucos dos Açores.
O nosso amigo furriel miliciano, era um característico alfacinha de gema, com a verbeagem e os trejeitos próprios. Tratava-me com uma cerimónia desajustada à situação vivida e procurava mostrar publicamente que o honrava a minha companhia, o que me incomodava sobremaneira.
Era jogador de futebol dum clube inscrito na distrital de Lisboa e usava marrafa ao meio.
À paisana, vestia calças de boca de sino, camisa com grandes virados ao bom estilo Elvispresliano e calçava sapato afiambrado.
Parafraseando o refrão duma música em voga, do designado nacional cançonetismo, antecessor da actual música pimba, dizia ele que o seu nome era Josef com efe no fim.
Tinha alguma saída com as garotas e não deixava nunca de referir que era meu amigo, facto que lhe devia granjear alguma credibilidade no meio.
Um dia, estou no navio e vem o cabo de quarto dizer-me que estava ali um senhor, que queria falar comigo.
O senhor entrou no meu gabinete e disse-me que desejava colher algumas informações sobre o nosso amigo Josef, com efe no fim, pois que, namorando ele uma filha sua, me tinha indicado como seu amigo de longa data, que podia muito bem atestar da sua condição de pessoa íntegra e da seriedade dos seus propósitos.
Respirei fundo três vezes, disse ao senhor que, tanto quanto o conhecia, me parecia uma boa aposta da sua filha.
O homem saiu encantado e eu fiquei em completo desespero de causa, porque sabia de antemão o que esperava a moça em questão.
Durante uma semana não lhe pus a vista em cima. Fugia de mim como de gato a bofe. Quando finalmente nos confrontámos, agarrou-me no braço e abanou-o obrigando a minha mão desprevenida a dar-lhe uma bofetada com alguma força.
À segunda vez, já com a minha mão prevenida, andou uma semana de cara à banda.

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