sexta-feira, junho 01, 2007

Num rasgo de...avô

Talvez seja doença, ou talvez não.
Estou a pensar na escrita. Dizer coisas para o papel. Para que conste. Para que fique. Para que perdure para além da efeméride duma vida vivida, nem sempre da melhor forma, nem sempre da forma mais fácil, nem sempre do lado certo, mas sempre, sempre, com uma grande vontade de viver. E de acertar. Não nas coisas certas, mas nas devidas. Naquelas em que acreditamos, ou melhor, naquelas em que vamos acreditando, porque isto do acreditar, também muda. E é bom que mude. Para melhor. Para que seja possível evoluir. Para quê? Para onde? Não sei. Para melhor. Para que as crianças possam ter meninice. Para que os pais das crianças possam desfrutar das suas traquinices, possam testemunhar o seu crescimento, possam indicar destinos, sinalizar rotas, mas nunca impor caminhos. Para que as deixem aprender, errando, mas que se encontrem, querendo.
Não devia haver dia das crianças, porque todos os dias deveriam sê-lo. Para quem as tem e para quem espera que sejam elas um dia a mudar o mundo. Que nós não conseguimos. Que não fomos capazes. Que não quisemos. Que não soubemos.
Escrever pode ser doença, mas também pode ser cura. Pode ser esperança como pode ser desespero. A escrita faz de nós caracóis ou lesmas, se se quiser. Vamos deixando rasto. Vamos, às vezes, deixando odores bons a frutos silvestres, perfumando a esteira. Outras, apenas delimitamos o espaço, excrementando-o como os animais, com o cheiro do nosso orgulho ferido, das penas que nos vão na alma, com a raiva que nos range os dentes.
Em dia, de calendário universal, da criança, aceno apenas com um traço de luz, uma réstia de esperança, uma nesga de ternura.
Faço um voto sincero: - não cresças, podendo!

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